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Mascarilhas e máscaras

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Mensagem por Viriato Seg Ago 08, 2011 4:49 pm

Mascarilhas e máscaras


O legado de Sócrates para a cultura política nacional está aí à disposição de investigadores, jornalistas, intelectuais, fogareiros e meros curiosos para quem a cidadania em Portugal for parte essencial da sua identidade. Para o aproveitar é preciso abdicar dos juízos de valor ideológico e ousar a intenção da objectividade científica. Claro que será completamente legítimo fazer uma crítica a respeito dos pressupostos, modos e resultados da governação socialista sob um prisma ideológico, qualquer que ele seja. Não só legítima, essa análise seria também útil e bondosa – sendo apenas de lamentar que mal se tenha visto, tendo sido substituída pelos assassinatos de carácter no todo, à direita, e em grande parte, à esquerda. Se a oposição ao PS tivesse sido um confronto de ideias, de projectos e de talentos, Sócrates poderia ter à mesma perdido as eleições em 2011, ou logo em 2009, mas nós estaríamos agora muito melhor e os vencedores também. Mas não foi nada disso que se passou, pois não?

A conjugação de um Governo PS com a necessidade histórica de alterar sectores do Estado e da sociedade anquilosados, porque ineficientes ou ineficazes, provocaria sempre homéricas convulsões políticas. Essa reforma seria inevitavelmente catalogada como de direita pelo PCP e BE, recolhendo a anuência silenciosa, ou avulso protesto hipócrita, do PSD e CDS. E assim andámos enquanto não chegaram as crises sucessivas, nacionais e internacionais. Recorde-se que até aos começos de 2008 foram dadas provas de que Sócrates, apesar da maioria absoluta, podia ceder e aceitar derrotas: casos da candidatura de Soares às presidenciais de 2006, do novo aeroporto em Alcochete e da queda de Correia de Campos, como exemplos maiores. Todavia, o movimento das placas tectónicas do Cavaquismo era imparável e estava disposto literalmente a tudo. Os mandantes das campanhas negras e das conspirações mediático-judiciais não tinham tempo, e muito menos cabeça, para estarem a desenvolver soluções políticas que fizessem sentido, nem das que lançavam se esperava que tivessem real ligação às aspirações dos portugueses. Tanto em 2009 como em 2011, o PSD andou sem programa eleitoral até quase ao dia das eleições, não tendo ele servido como matéria de discussão pública nem tendo sido factor de preferência eleitoral. O que havia a fazer era outra coisa, uma coisa que se faz há milhares de anos em qualquer sociedade onde pulhas e desesperados disputem o poder. Tratava-se de destruir aquele que os ameaçava fáctica e simbolicamente. E foi isto que fizeram:



- Mancharam o percurso escolar e profissional de Sócrates com insinuações e calúnias do foro moral e legal.

- Mancharam o exercício governativo de Sócrates com insinuações e calúnias do foro criminal.

- Mancharam a reputação de familiares de Sócrates com insinuações e calúnias várias.

- Tentaram criminalizar Sócrates a partir de escutas ilícitas e irrelevantes.

- Exploraram as fragilidades cognitivas da população, e as consequências das crises, para manterem um crescente estado de ódio contra Sócrates, Governo, PS ou qualquer um que lhes manifestasse publicamente o seu apoio.

- Usaram a Presidência da República, e o papel do Presidente da República, para o lançamento de uma conspiração mediática contra o Governo nas vésperas de dois actos eleitorais.

- Usaram as prerrogativas constitucionais do Presidente da República para a perversa transformação do seu papel institucional no de chefe da oposição a exigir a queda do Governo na própria Assembleia da República.

- Mantiveram o Governo minoritário apenas para o desgastar até ao momento que considerassem adequado para novas eleições, ao arrepio dos interesses nacionais.

- Denegriram Portugal internacionalmente ao longo de todo o processo de agravamento da crise das dívidas soberanas e dos mercados de financiamento.

Quem fez isto pertence à elite da direita triunfante (que também há uma direita derrotada, mas jamais vencida), não é a arraia-miúda dos jornais e da Internet. São portugueses como todos os outros, sim, embora com um conjunto de vantagens sociais que o centro e a esquerda não possuem. Naturalmente, velam pelos seus interesses, a sua riqueza, a sua família, o seu futuro. Não há nada de errado no que fazem, incluindo o modo como o fazem. Porque eles fazem tão-somente aquilo que sabem fazer, eles são isto: conspiradores furiosos, venenosos, tinhosos. Foi assim que subiram, uns, é assim que se mantêm, outros. E conhecem-se de ginjeira, por isso vivem num mundo de invejas, ressentimentos e vinganças.

Ora, toda esta gigantesca operação, um misto de ataque à outrance por parte de soberbos egos oligárquicos com maquinações de pormenor e longo fôlego planeadas no Palácio de Belém, não teria alcançado o seu objectivo não fosse a preciosa colaboração do BE e PCP, a que se juntou uma parte importante do PS. Estes puros da esquerda pura consideraram, alucinados, que era igual ter o País nas mãos do PS ou do PSD. E embora não se imaginassem a governar, pois ainda não estão totalmente desmiolados, só um objectivo os entusiasmava: derrubar Sócrates. A distorção da sua verrina era proporcional ao facciosismo que os cristalizava numa posição de mera resistência e boicote. Eles próprios não queriam negociar nada com o PS ou com Portugal, por isso faziam do adversário uma figura caricatural e monstruosa que lhes garantia a coerência mental da praxis. A sucessão de transformações reformistas que se faziam desde 2005 no intento de provocar o menor dano social, e outras que eram investimentos fundamentais para a requalificação da sociedade e seus tecidos produtivos, nunca obtiveram qualquer reconhecimento por parte do BE e PCP. Claro, se admitissem que o PS não era igual ao PSD, se aceitassem a possibilidade de aumentar a justiça social através de uma governação ao centro que atendesse ao maior número de cidadãos e seus díspares interesses, se admitissem que quem votou em Sócrates pela segunda vez não votou na direita mas contra ela, lá se ia a máscara que esconde um rosto de olhos vazos.

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