Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...amen
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Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...amen
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
Por Isabel Tavares, publicado em 24 Dez 2011 - 03:00 | Actualizado há 5 horas 14 minutos
São rapazes e raparigas dos 18 aos 35 anos. Com licenciatura ou a frequentar um curso superior, namoros firmados, empregos estáveis. Gente cosmopolita, nem sempre de famílias católicas e praticantes, que decidiu deixar tudo para se dedicar à vida consagrada. Ao i, testemunham o “chamamento”, desmistificam o sexo e falam de felicidade
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André Ferreira (20 anos)
Aluno do ISCTE, curso de Finanças e Contabilidade. Os pais não eram, e não são, católicos praticantes. “O membro da família mais assíduo na missa sempre fui eu”, assume.
Não fala como a maioria dos rapazes da sua idade. Pergunto-lhe sobre as inquietações da sua geração e responde que “a inquietude não é hoje tão bem reflectida como noutras gerações, embora existam anseios. É tudo tão efémero, tão veloz, que o futuro num instante já é passado. Passamos pelo tempo sem nos darmos conta de quem somos, talvez reflexo da sociedade actual...”
Chegou aos Dominicanos “pela Internet”, outro sinal dos tempos. Numa pesquisa online, acabou no site da Ordem, descobriu a sua história e identificou-se com a filosofia de vida: pregação, estudo (compreensão) e vida comum (partilha). “Havia uma aproximação entre mim e a Ordem”. Ainda não é seminarista, está em processo de descernimento desde Outubro. Mas diz que a sua inclinação não lhe deixa muitas dúvidas. Claro, “há condicionantes que vão determinar tudo, mas é um processo calmo.” E que não começou há dois meses. Foi no final do 12.º ano que começou a colocar a hipótese a sério. Os pais aceitaram a escolha e os dois sobrinhos, filhos da irmã mais velha, libertaram-no do peso de ter que assegurar a continuidade do clã.
Luís Palha (22 anos)
Ex-forcado de Vila Franca de Xira. “Fora das beatices, vivia no mundo dos touros e dos cavalos, dos copos e maluquice”. Licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia. “Quis desistir várias vezes, mas fui sempre aconselhado a acabar, primeiro o curso, depois o mestrado.” Namoradeiro. “Tive três namoros mais sérios” e mais outros a brincar. Quando era a sério, eram uma certeza, “via a hipótese de casamento”. Os namoros nunca acabaram por causa da vocação, “acabaram pelas razões por que acabam os namoros.” A turbulência maior foi com “a última”, Rosarinho, de quem é grande amigo. “Sentia as minhas entranhas a remoer o assunto, andava refilão, rabujento. Eu não estava bem.” Tinha então 21 anos - faz 23 depois de amanhã e é noviço em Coimbra, na Companhia de Jesus, depois de um ano de reflexão espiritual, em Lisboa. Quer ser padre - os jesuítas podem ser padres ou irmãos. Diz que é a diferença entre ser apóstolo ou ser discípulo. O percurso não foi linear, mas na sua cabeça tudo faz sentido. Sobre os votos, obediência, pobreza e castidade, diz que é preciso ser-se verdadeiro, em primeiro lugar, consigo próprio. “Não somos [jesuítas] radicais. A pobreza deve ser uma coisa espiritual. Não temos privações materiais, mas os motivos para ter têm de ser os certos. Vivemos na lógica da partilha, nada é para mim.” Sobre sexo, ou a falta dele, diz que “tenho todos os desejos e vontades de que fala, sou um rapaz de muitas paixões. Até é muito engraçado, porque aqui dentro, quando olho para uma rapariga acho-a linda, sinto que fico apaixonado.” Sabe que há congregações onde para se entrar tem de se ser virgem, “faço juízo às imposições, mas não julgo quem as segue.” Acredita que é a escolha que faz crescer. Como será, dentro de 20 anos, o padre Luís Palha? “Gostava que olhassem para mim e vissem um Deus ao meu lado... Que dança, que é forcado, que faz rir.”
Tânia (31 anos)
Artista plástica. Tinha uma vida estável: um namoro sério, professora do quadro, leccionava no Porto. Sempre se questionou sobre a profissão que escolheu: “Para quê criar mais objectos, quais os limites da arte, em que é que ajuda a tornar o mundo melhor... Talvez o meu lugar não fosse ser artista por ser artista, talvez a arte estivesse ligada à espiritualidade.” Ainda são alguns, os ‘talvez’. “Tenho a certeza que quero estar ligada a Deus! Só não sei onde encaixo, se na vida contemplativa, se numa vida mais missionária.” Está a fazer uma experiência com as monjas de Belém, no mosteiro em Sesimbra. “Quando estou com as irmãs sinto sempre o bichinho da vocação religiosa.”
Sobre o namorado, conta que “houve muita sinceridade desde o início, abertura e crescimento.” Na altura, ponderou “se devia ou não iniciar namoro” e explicou as suas razões. Mas isso não tornou o assunto mais fácil. “Lembrava-me sempre da frase ‘não poder servir dois senhores ao mesmo tempo’. Estivemos juntos numa missão, em Itália, e foi aí que percebi a importância de não casar, de não ter filhos. É preciso haver muita entrega e repartir é difícil.” Conta que “enquanto vivi com os meus pais vivi a fé deles. Depois, questionei a Igreja, fui beber a muitas fontes. Descobri que é na religião católica, cristã, que me sinto bem.”
Duarte Rosado (26 anos)
Era estudante de Psicologia quando se juntou à Companhia de Jesus. Hoje está num bairro do Pragal a fazer acção social [magistério] - nesta Ordem são dois anos de noviciado, três de Filosofia, dois de magistério e cinco de Teologia. Ainda tem um longo caminho até ser ordenado padre, mas a sua convicção é reforçada todos os dias. Entrou para os Jesuítas num grupo de 16 rapazes. Era o cassula. O que o levou até ali? “Estava num campo de férias espiritualmente forte, já no último dia, os outros estavam a almoçar e, de repente, vindo do nada, aconteceu! Nem eu compreendi muito bem o que me tinha acontecido. É uma coisa que não parte de mim, um chamamento.” A primeira pessoa a quem contou foi à mãe, “mas ela queimou-me logo. À mesa, comunicou a todos [pai e três irmãos]: o Duarte tem algo para vos dizer...” Já suspeitavam. Diz que o que mais custou foi a saudade, a rotina. “Já chorei de alegria, de consolação e de tristeza.” Que choros são esses? “O choro da consolação é do aumento da fé, tudo transborda. O que mais custa é o choro da tristeza, do vazio.” Deixou tudo: “roupa e mesada de 100 euros para tabaco, gasolina e telemóvel.” Dois grandes amigos levaram a mal a decisão: “Vais estragar a tua vida”. Um discurso duro, que não esquece. Tinha uma banda de rock “género Ben Harper, Jack Johnson e um estilo próprio.” Chegou a gravar um CD como presente de anos e estreou ao vivo em 2005. E tinha namoradas. O mais difícil foi lidar com a solidão, o medo do abandono, do esquecimento. E a castidade. O que fazer quando as hormonas estão aos saltos? “Tem que haver um bocado de disciplina e de Graça.”
Maria do Carmo (28 anos)
Estudou Línguas Modernas, na Faculdade de Letras do Porto. Sente-se cada vez mais confirmada. Está em Madrid. Demorará entre seis a nove anos até fazer os votos perpétuos. Viveu no seio de uma família católica não praticante. Tem dois irmãos. “As minhas dores eram não conseguir explicar à minha família, com quem tinha uma relação fortíssima, o que se passava.” Frequentou a catequese e fez a primeira comunhão, “mas afastei-me da Igreja muito tempo.” No terceiro ano do curso foi para Paris, através do programa Erasmos. Ficou instalada numa residência da Opus Dei. Ficou para sempre com “a imagem de ter visto pessoas coerentes, inteiras, a procurar viver o que pensavam. Eram livres.” E foi este desprendimento que a cativou. “Percebi que não conseguia viver isso na minha vida afectiva, no casamento, com filhos. Eu não era verdadeira, coerente, livre... E nunca antes me tinha passado isso pela cabeça. É um processo de sedução, meio mágico, meio humano.” Dos namorados, diz que “gosta mais deles agora do que antes.” Para Maria do Carmo o importante foi “deixar-me empapar” com tudo aquilo. Percebeu depois que a sua vida não passaria mais pela Opus Dei, mas seguir Jesus era um destino cada vez mais claro. “Passei muito tempo na procura.” Nunca se sentiu condicionada e decidiu “deixar que o meu desejo mais profundo dançasse com Deus.”
Por Isabel Tavares, publicado em 24 Dez 2011 - 03:00 | Actualizado há 5 horas 14 minutos
São rapazes e raparigas dos 18 aos 35 anos. Com licenciatura ou a frequentar um curso superior, namoros firmados, empregos estáveis. Gente cosmopolita, nem sempre de famílias católicas e praticantes, que decidiu deixar tudo para se dedicar à vida consagrada. Ao i, testemunham o “chamamento”, desmistificam o sexo e falam de felicidade
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André Ferreira (20 anos)
Aluno do ISCTE, curso de Finanças e Contabilidade. Os pais não eram, e não são, católicos praticantes. “O membro da família mais assíduo na missa sempre fui eu”, assume.
Não fala como a maioria dos rapazes da sua idade. Pergunto-lhe sobre as inquietações da sua geração e responde que “a inquietude não é hoje tão bem reflectida como noutras gerações, embora existam anseios. É tudo tão efémero, tão veloz, que o futuro num instante já é passado. Passamos pelo tempo sem nos darmos conta de quem somos, talvez reflexo da sociedade actual...”
Chegou aos Dominicanos “pela Internet”, outro sinal dos tempos. Numa pesquisa online, acabou no site da Ordem, descobriu a sua história e identificou-se com a filosofia de vida: pregação, estudo (compreensão) e vida comum (partilha). “Havia uma aproximação entre mim e a Ordem”. Ainda não é seminarista, está em processo de descernimento desde Outubro. Mas diz que a sua inclinação não lhe deixa muitas dúvidas. Claro, “há condicionantes que vão determinar tudo, mas é um processo calmo.” E que não começou há dois meses. Foi no final do 12.º ano que começou a colocar a hipótese a sério. Os pais aceitaram a escolha e os dois sobrinhos, filhos da irmã mais velha, libertaram-no do peso de ter que assegurar a continuidade do clã.
Luís Palha (22 anos)
Ex-forcado de Vila Franca de Xira. “Fora das beatices, vivia no mundo dos touros e dos cavalos, dos copos e maluquice”. Licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia. “Quis desistir várias vezes, mas fui sempre aconselhado a acabar, primeiro o curso, depois o mestrado.” Namoradeiro. “Tive três namoros mais sérios” e mais outros a brincar. Quando era a sério, eram uma certeza, “via a hipótese de casamento”. Os namoros nunca acabaram por causa da vocação, “acabaram pelas razões por que acabam os namoros.” A turbulência maior foi com “a última”, Rosarinho, de quem é grande amigo. “Sentia as minhas entranhas a remoer o assunto, andava refilão, rabujento. Eu não estava bem.” Tinha então 21 anos - faz 23 depois de amanhã e é noviço em Coimbra, na Companhia de Jesus, depois de um ano de reflexão espiritual, em Lisboa. Quer ser padre - os jesuítas podem ser padres ou irmãos. Diz que é a diferença entre ser apóstolo ou ser discípulo. O percurso não foi linear, mas na sua cabeça tudo faz sentido. Sobre os votos, obediência, pobreza e castidade, diz que é preciso ser-se verdadeiro, em primeiro lugar, consigo próprio. “Não somos [jesuítas] radicais. A pobreza deve ser uma coisa espiritual. Não temos privações materiais, mas os motivos para ter têm de ser os certos. Vivemos na lógica da partilha, nada é para mim.” Sobre sexo, ou a falta dele, diz que “tenho todos os desejos e vontades de que fala, sou um rapaz de muitas paixões. Até é muito engraçado, porque aqui dentro, quando olho para uma rapariga acho-a linda, sinto que fico apaixonado.” Sabe que há congregações onde para se entrar tem de se ser virgem, “faço juízo às imposições, mas não julgo quem as segue.” Acredita que é a escolha que faz crescer. Como será, dentro de 20 anos, o padre Luís Palha? “Gostava que olhassem para mim e vissem um Deus ao meu lado... Que dança, que é forcado, que faz rir.”
Tânia (31 anos)
Artista plástica. Tinha uma vida estável: um namoro sério, professora do quadro, leccionava no Porto. Sempre se questionou sobre a profissão que escolheu: “Para quê criar mais objectos, quais os limites da arte, em que é que ajuda a tornar o mundo melhor... Talvez o meu lugar não fosse ser artista por ser artista, talvez a arte estivesse ligada à espiritualidade.” Ainda são alguns, os ‘talvez’. “Tenho a certeza que quero estar ligada a Deus! Só não sei onde encaixo, se na vida contemplativa, se numa vida mais missionária.” Está a fazer uma experiência com as monjas de Belém, no mosteiro em Sesimbra. “Quando estou com as irmãs sinto sempre o bichinho da vocação religiosa.”
Sobre o namorado, conta que “houve muita sinceridade desde o início, abertura e crescimento.” Na altura, ponderou “se devia ou não iniciar namoro” e explicou as suas razões. Mas isso não tornou o assunto mais fácil. “Lembrava-me sempre da frase ‘não poder servir dois senhores ao mesmo tempo’. Estivemos juntos numa missão, em Itália, e foi aí que percebi a importância de não casar, de não ter filhos. É preciso haver muita entrega e repartir é difícil.” Conta que “enquanto vivi com os meus pais vivi a fé deles. Depois, questionei a Igreja, fui beber a muitas fontes. Descobri que é na religião católica, cristã, que me sinto bem.”
Duarte Rosado (26 anos)
Era estudante de Psicologia quando se juntou à Companhia de Jesus. Hoje está num bairro do Pragal a fazer acção social [magistério] - nesta Ordem são dois anos de noviciado, três de Filosofia, dois de magistério e cinco de Teologia. Ainda tem um longo caminho até ser ordenado padre, mas a sua convicção é reforçada todos os dias. Entrou para os Jesuítas num grupo de 16 rapazes. Era o cassula. O que o levou até ali? “Estava num campo de férias espiritualmente forte, já no último dia, os outros estavam a almoçar e, de repente, vindo do nada, aconteceu! Nem eu compreendi muito bem o que me tinha acontecido. É uma coisa que não parte de mim, um chamamento.” A primeira pessoa a quem contou foi à mãe, “mas ela queimou-me logo. À mesa, comunicou a todos [pai e três irmãos]: o Duarte tem algo para vos dizer...” Já suspeitavam. Diz que o que mais custou foi a saudade, a rotina. “Já chorei de alegria, de consolação e de tristeza.” Que choros são esses? “O choro da consolação é do aumento da fé, tudo transborda. O que mais custa é o choro da tristeza, do vazio.” Deixou tudo: “roupa e mesada de 100 euros para tabaco, gasolina e telemóvel.” Dois grandes amigos levaram a mal a decisão: “Vais estragar a tua vida”. Um discurso duro, que não esquece. Tinha uma banda de rock “género Ben Harper, Jack Johnson e um estilo próprio.” Chegou a gravar um CD como presente de anos e estreou ao vivo em 2005. E tinha namoradas. O mais difícil foi lidar com a solidão, o medo do abandono, do esquecimento. E a castidade. O que fazer quando as hormonas estão aos saltos? “Tem que haver um bocado de disciplina e de Graça.”
Maria do Carmo (28 anos)
Estudou Línguas Modernas, na Faculdade de Letras do Porto. Sente-se cada vez mais confirmada. Está em Madrid. Demorará entre seis a nove anos até fazer os votos perpétuos. Viveu no seio de uma família católica não praticante. Tem dois irmãos. “As minhas dores eram não conseguir explicar à minha família, com quem tinha uma relação fortíssima, o que se passava.” Frequentou a catequese e fez a primeira comunhão, “mas afastei-me da Igreja muito tempo.” No terceiro ano do curso foi para Paris, através do programa Erasmos. Ficou instalada numa residência da Opus Dei. Ficou para sempre com “a imagem de ter visto pessoas coerentes, inteiras, a procurar viver o que pensavam. Eram livres.” E foi este desprendimento que a cativou. “Percebi que não conseguia viver isso na minha vida afectiva, no casamento, com filhos. Eu não era verdadeira, coerente, livre... E nunca antes me tinha passado isso pela cabeça. É um processo de sedução, meio mágico, meio humano.” Dos namorados, diz que “gosta mais deles agora do que antes.” Para Maria do Carmo o importante foi “deixar-me empapar” com tudo aquilo. Percebeu depois que a sua vida não passaria mais pela Opus Dei, mas seguir Jesus era um destino cada vez mais claro. “Passei muito tempo na procura.” Nunca se sentiu condicionada e decidiu “deixar que o meu desejo mais profundo dançasse com Deus.”
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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