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Apelido do PM francês está a embaraçar os árabes

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Mensagem por Vitor mango Sex maio 18, 2012 12:05 am

Apelido do PM francês está a embaraçar os árabes

17.05.2012 - 22:19 Por Margarida Santos Lopes

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Jean-Marc Ayrault foi escolhido por Hollande para o cargo de primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault foi escolhido por Hollande para o cargo de primeiro-ministro (Gonzalo Fuentes/Reuters)

Ayrault pronuncia-se da mesma forma que o órgão sexual masculino, sobretudo nos países do Golfo Pérsico e do Levante.


Qualquer língua, mesmo a que tem uma raiz comum, pode ser um obstáculo ao diálogo. Que o diga um jovem recém-chegado do Nordeste do Brasil a quem, um dia, ao sair do supermercado anexo ao salão de cabeleireiro onde foi trabalhar, o segurança lhe pediu que mostrasse o “saco”. Atónito, o rapaz não compreendia por que motivo o guarda insistia em olhar para o que, na sua aldeia, significa “testículo”.

Deve ter sido este o embaraço sentido nas redacções do Médio Oriente, quando François Hollande nomeou Jean-Marc Ayrault, 62 anos, para a chefia do Governo de Paris. A preocupação do sucessor de Nicolas Sarkozy talvez tenha sido a de escolher para primeiro-ministro um antigo professor de alemão de modo a evitar mal-entendidos com a chanceler Angela Merkel, em Berlim. Não esperaria, porém, que o antigo líder parlamentar do partido Socialista e presidente da Câmara de Nantes suscitasse um imbróglio linguístico de Riade a Beirute: é que a leitura do seu apelido é semelhante a “Ayru”, o que, em árabe literário, tem o significado de “pénis”.

“Isto é mais evidente nos países do Golfo Pérsico e do Levante - onde, em algumas regiões, 'ayru' também pode ser pronunciado como 'ir' ou 'er'”, disse ao PÚBLICO, por telefone, Abdeljelil Larbi, professor de Língua Árabe na Universidade Nova em Lisboa. “No Norte de África, por exemplo, é mais frequente o termo ‘zib’, para designar o órgão sexual masculino.” O académico tunisino recordou outra situação confrangedora, quando a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein recusaram, em 2010, a acreditação do diplomata Akbar Zeb como embaixador do Paquistão. Não porque a sua carreira fosse pouco distinta, mas porque o seu nome completo se poderia traduzir por “a maior pila”.

O árabe é uma língua fonética em que todas as letras são pronunciadas, sem consoantes mudas, como o L e o T de Ayrault. “Ao lerem o nome do primeiro-ministro francês como ‘Airut’, os árabes seguem a pronúncia e tendem a respeitar, na escrita, a transliteração original”, acrescentou Larbi.

Certamente para não correr riscos, o diário “Al Hayat”, uma referência em todo o mundo árabe, com fundos da Casa de Saud e sede em Londres, modificou o nome de Ayrault para “Aro”. Uma das estações de televisão dos Emirados Árabes Unidos (uma federação de sete estados) enviou um memorando aos seus jornalistas, aconselhando a que o político que substituiu François Fillon em Matignon fosse identificado com “Aygho”. No Dubai, o jornal “Al Bayam”, propriedade da família real, optou por excluir o apelido, e titulou em primeira página: “Hollande inaugura o seu mandato nomeando Jean-Marc como primeiro-ministro.”

Outros casos de que a língua pode ser “traiçoeira” foram mencionados recentemente pela BBC ao anunciar a publicação, gratuita e online, do “Grande Dicionário de Chinês”. O objectivo desta obra que ficará concluída em 2015 é permitir que os habitantes da China continental e de Taiwan possam entender-se, pelo menos quando falam já que, politicamente, é ainda grande o fosso que os separa.

Num dos episódios narrado pela “site” da estação britânica, um taiwanês que se deslocou à China terá ficado perplexo ao ver que no menu do restaurante onde fora almoçar constava “tu dou” às rodelas. Em Taipé, seria “amendoim” ; em Pequim, é “batata”. Outra história: um professor taiwanês foi inquirido numa pastelaria sobre se queria “café com companhia” – o modo chinês de dizer “natas”. O visitante pensou que o empregado lhe estava a propor “acompanhante” e respondeu: “Não trouxe dinheiro suficiente.” Estas diferenças podem parecer insignificantes e até divertidas, mas há outras com potencial para serem percebidas como insulto: na China, “ai ren” é “esposa”; em Taiwan, é “amante”.


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