Na Índia, maior lavanderia a céu aberto do mundo opõe "intocáveis" e modernidade
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Na Índia, maior lavanderia a céu aberto do mundo opõe "intocáveis" e modernidade
POR DENTRO DOS BRICS
17/01/2013 - 18h16 | Sandro Fernandes | Mumbai
Na Índia, maior lavanderia a céu aberto do mundo opõe "intocáveis" e modernidade
Na Mahalaxmi Dhobi Ghat, pelo menos 500 mil roupas são lavadas todos os dias, em 826 pequenos tanques
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Indianos trabalham na maior lavanderia a céu aberto do mundo, a Mahalaxmi Dhobi Ghat, localizada em Mumbai
Homens sem camisa usando sarongues, centenas de tanques de água e
milhares de peças de roupa. Esta é a primeira visão que se tem desde uma
ponte que dá acesso a Mahalaxmi Dhobi Ghat, a maior lavanderia a céu
aberto do planeta. O dia ainda nem amanheceu em Mumbai, a cidade mais
populosa da Índia, mas para cinco mil indianos a jornada começou cedo.
Alguns estão no local desde as 3 da manhã.
O barulho das gotas que caem das roupas secando, as conversas paralelas
e até mesmo o trânsito desta metrópole são abafados pelo ruído das
camisas e lençóis sendo literalmente lançados contra as muretas dos
tanques de água. É ali que pelo menos 500 mil roupas são lavadas todos
os dias, em 826 pequenos tanques que se assemelham a minúsculas piscinas
ou caixas d’águas de concreto.
As roupas são lavadas, enxaguadas, amaciadas e até mesmo
“centrifugadas” sem a utilização de quase nenhuma máquina. O processo é
feito a mão por indianos vindos de diversas partes do país, quase sempre
da casta mais baixa da sociedade, os dalits ou intocáveis. Os dalits
representam 16% da população na Índia e acredita-se que eles tenham sido
criados a partir do pó que cobria os pés de Brahma, o primeiro deus da
trindade no hinduísmo.
Leia mais
Em Mahalaxmi, aproximadamente 200 famílias controlam o negócio. Cada
uma conta com 20 ou 30 dhobis, como são conhecidos os homens que lavam
as roupas neste tipo de espaço. “Aquele ali é o mais rico aqui da
lavanderia. Ele tem algumas dúzias de tanques e ganha muito dinheiro”,
explica o guia apontando discretamente para um senhor que anda de um
lado para o outro controlando o trabalho de seus empregados. Algumas
crianças curiosas também se aproximam e posam para as câmeras. “Eles
querem se ver na foto, mesmo que seja somente na telinha da sua máquina.
Não precisa ficar com medo. São só crianças”, continua o guia.
Depois de uma minuciosa lavagem, as roupas são levadas para o fundo do
local, onde são torcidas e estendidas em qualquer superfície, incluindo
telhados. Em uma parte mais seca da lavanderia, fica o serviço de passar
roupa. Os ferros são de lenha, pesados, e o serviço é feito dentro de
galpões pequenos onde as peças também são engomadas. O calor nos galpões
é insuportável e em poucos minutos o guia já pede que os visitantes
saiam.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Em Mahalaxmi, aproximadamente 200 famílias controlam o negócio e cada uma emprega de 20 a 30 lavadores de roupas
O resultado de todo este processo impressiona. A roupa sai de Mahalaxmi
como se nunca houvesse sido usada. A qualidade do serviço é
reconhecidamente bom e barato e os principais hotéis e hospitais têm as
suas roupas de cama e uniformes lavados no local.
Quando o vestuário fica pronto, ele imediatamente recebe um código
marcado em uma pequena etiqueta, indicando o bairro e a rua do cliente.
Apenas os dhobis conseguem decodificar a marcação. Erros são raros.
Trabalho em equipe, organização e divisão do trabalho são essenciais em
toda a cadeia.
O ofício passa de geração em geração. “Meu pai e meu avô trabalhavam
aqui. E meus dois filhos me ajudam também. Eles frequentam a escola, mas
nas horas livres vêm para a lavanderia”, conta Gupta, de 48 anos.
Salários baixos, drogas e mantras
O preço da mão-de-obra está por trás de tanto sucesso. Contratar
trabalhadores braçais é mais barato do que utilizar a maquinaria
moderna. O cliente paga como preço final 27 rúpias (1 real) para ter uma
camisa e uma calça lavadas e passadas. A remuneração dos dhobis gira em
torno de 120 rúpias diárias (R$4,47), em extenuantes jornadas de até 14
horas.
Muitos dos trabalhadores utilizam um tipo de ópio chamado Bangui, para
que consigam ficar tanto tempo dentro da água. Outros repetem mantras
que ajudam a concentrar e a aguentar o cansaço.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Peças de roupa branca secam nos varais da maior lavanderia a céu aberto do mundo. Processo é todo feito a mão
A instabilidade sazonal é outro problema que afeta o trabalho dos
dhobis. Entre março e maio, verão em Mumbai, poucos turistas visitam a
cidade devido às altas temperaturas. Os grandes hotéis, principais
utilizadores dos serviços da lavanderia, ficam vazios, diminuindo o
trabalho e a renda dos que trabalham com a arte da lavagem.
O mercado de máquinas de lavar, que em 2011 teve um crescimento de 24%,
é outro cenário que pode representar uma ameaça ao tradicional ofício.
“A gente tem medo de perder clientes, mas acho que a maioria das pessoas
ainda prefere que nós façamos este trabalho e entreguemos tudo limpo e
passado na casa delas. Mais do que um trabalho, esse é o nosso único
meio de subsistência e também parte da nossa cultura. Não podemos deixar
que esta tradição morra”, conta Prakash, de 53 anos, que trabalha desde
os 13 anos na mesma profissão.
O turista que visita a lavanderia paga um ingresso que é destinado a
uma associação de trabalhadores local. A entrada custa 100 rúpias (R$
3,74), o que representa um pouco menos do salário diário dos lavadores
indianos.
Opera Mundi publica com exclusividade os textos do blog "Por dentro
dos Brics", em que quatro jornalistas brasileiros trazem as novidades
dos países emergentes direto de Rússia, Índia, China e África do Sul.
Confira mais em www.osbrics.com e @osbrics no Twitter
17/01/2013 - 18h16 | Sandro Fernandes | Mumbai
Na Índia, maior lavanderia a céu aberto do mundo opõe "intocáveis" e modernidade
Na Mahalaxmi Dhobi Ghat, pelo menos 500 mil roupas são lavadas todos os dias, em 826 pequenos tanques
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Indianos trabalham na maior lavanderia a céu aberto do mundo, a Mahalaxmi Dhobi Ghat, localizada em Mumbai
Homens sem camisa usando sarongues, centenas de tanques de água e
milhares de peças de roupa. Esta é a primeira visão que se tem desde uma
ponte que dá acesso a Mahalaxmi Dhobi Ghat, a maior lavanderia a céu
aberto do planeta. O dia ainda nem amanheceu em Mumbai, a cidade mais
populosa da Índia, mas para cinco mil indianos a jornada começou cedo.
Alguns estão no local desde as 3 da manhã.
O barulho das gotas que caem das roupas secando, as conversas paralelas
e até mesmo o trânsito desta metrópole são abafados pelo ruído das
camisas e lençóis sendo literalmente lançados contra as muretas dos
tanques de água. É ali que pelo menos 500 mil roupas são lavadas todos
os dias, em 826 pequenos tanques que se assemelham a minúsculas piscinas
ou caixas d’águas de concreto.
As roupas são lavadas, enxaguadas, amaciadas e até mesmo
“centrifugadas” sem a utilização de quase nenhuma máquina. O processo é
feito a mão por indianos vindos de diversas partes do país, quase sempre
da casta mais baixa da sociedade, os dalits ou intocáveis. Os dalits
representam 16% da população na Índia e acredita-se que eles tenham sido
criados a partir do pó que cobria os pés de Brahma, o primeiro deus da
trindade no hinduísmo.
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Em Mahalaxmi, aproximadamente 200 famílias controlam o negócio. Cada
uma conta com 20 ou 30 dhobis, como são conhecidos os homens que lavam
as roupas neste tipo de espaço. “Aquele ali é o mais rico aqui da
lavanderia. Ele tem algumas dúzias de tanques e ganha muito dinheiro”,
explica o guia apontando discretamente para um senhor que anda de um
lado para o outro controlando o trabalho de seus empregados. Algumas
crianças curiosas também se aproximam e posam para as câmeras. “Eles
querem se ver na foto, mesmo que seja somente na telinha da sua máquina.
Não precisa ficar com medo. São só crianças”, continua o guia.
Depois de uma minuciosa lavagem, as roupas são levadas para o fundo do
local, onde são torcidas e estendidas em qualquer superfície, incluindo
telhados. Em uma parte mais seca da lavanderia, fica o serviço de passar
roupa. Os ferros são de lenha, pesados, e o serviço é feito dentro de
galpões pequenos onde as peças também são engomadas. O calor nos galpões
é insuportável e em poucos minutos o guia já pede que os visitantes
saiam.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Em Mahalaxmi, aproximadamente 200 famílias controlam o negócio e cada uma emprega de 20 a 30 lavadores de roupas
O resultado de todo este processo impressiona. A roupa sai de Mahalaxmi
como se nunca houvesse sido usada. A qualidade do serviço é
reconhecidamente bom e barato e os principais hotéis e hospitais têm as
suas roupas de cama e uniformes lavados no local.
Quando o vestuário fica pronto, ele imediatamente recebe um código
marcado em uma pequena etiqueta, indicando o bairro e a rua do cliente.
Apenas os dhobis conseguem decodificar a marcação. Erros são raros.
Trabalho em equipe, organização e divisão do trabalho são essenciais em
toda a cadeia.
O ofício passa de geração em geração. “Meu pai e meu avô trabalhavam
aqui. E meus dois filhos me ajudam também. Eles frequentam a escola, mas
nas horas livres vêm para a lavanderia”, conta Gupta, de 48 anos.
Salários baixos, drogas e mantras
O preço da mão-de-obra está por trás de tanto sucesso. Contratar
trabalhadores braçais é mais barato do que utilizar a maquinaria
moderna. O cliente paga como preço final 27 rúpias (1 real) para ter uma
camisa e uma calça lavadas e passadas. A remuneração dos dhobis gira em
torno de 120 rúpias diárias (R$4,47), em extenuantes jornadas de até 14
horas.
Muitos dos trabalhadores utilizam um tipo de ópio chamado Bangui, para
que consigam ficar tanto tempo dentro da água. Outros repetem mantras
que ajudam a concentrar e a aguentar o cansaço.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Peças de roupa branca secam nos varais da maior lavanderia a céu aberto do mundo. Processo é todo feito a mão
A instabilidade sazonal é outro problema que afeta o trabalho dos
dhobis. Entre março e maio, verão em Mumbai, poucos turistas visitam a
cidade devido às altas temperaturas. Os grandes hotéis, principais
utilizadores dos serviços da lavanderia, ficam vazios, diminuindo o
trabalho e a renda dos que trabalham com a arte da lavagem.
O mercado de máquinas de lavar, que em 2011 teve um crescimento de 24%,
é outro cenário que pode representar uma ameaça ao tradicional ofício.
“A gente tem medo de perder clientes, mas acho que a maioria das pessoas
ainda prefere que nós façamos este trabalho e entreguemos tudo limpo e
passado na casa delas. Mais do que um trabalho, esse é o nosso único
meio de subsistência e também parte da nossa cultura. Não podemos deixar
que esta tradição morra”, conta Prakash, de 53 anos, que trabalha desde
os 13 anos na mesma profissão.
O turista que visita a lavanderia paga um ingresso que é destinado a
uma associação de trabalhadores local. A entrada custa 100 rúpias (R$
3,74), o que representa um pouco menos do salário diário dos lavadores
indianos.
Opera Mundi publica com exclusividade os textos do blog "Por dentro
dos Brics", em que quatro jornalistas brasileiros trazem as novidades
dos países emergentes direto de Rússia, Índia, China e África do Sul.
Confira mais em www.osbrics.com e @osbrics no Twitter
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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