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À conquista do Pacífico

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Mensagem por Vitor mango Sex Fev 01, 2013 12:50 am

À conquista do Pacífico

Apenas sei que me deparei com a sensação de um feliz despertar.

Edna St. Vincent Millay

Uma
manhã, na Califórnia, raptei a minha sogra e escapei-me de Los Angeles
pela autoestrada nº1 da Costa do Pacífico. Não sabia exatamente onde é
que iríamos, mas sabia que ia levá-la até à praia. Tinha decidido que o
que ela precisava era de mergulhar os dedos dos pés nas águas
curativas do poderoso Pacífico.


A
minha sogra estava disposta a colaborar no rapto. A sua disposição
andava desesperadamente abatida com a perspetiva de ter que ser
injetada com uma mistura tóxica de químicos, logo após aquele dia tão
soalheiro. Uma vez que não sabíamos falar a língua uma da outra,
tínhamos ambas conspirado para iludir a sua filha, com ajuda de Jamie, o
meu sobrinho de onze anos, que fala farsi e inglês.


Escolhi
um lugar solitário. A minha sogra precisava da paz e da tranquilidade
da natureza, dos gritos das gaivotas, e do bater das ondas rebentando
em azul e branco, não do barulho do trânsito, dos lamentos humanos e
dos sons estéreis e metálicos do hospital.


Jamie
consultou o mapa. Se nos mantivéssemos na autoestrada Nº1 da Costa do
Pacífico, era certo que iríamos acabar por encontrar o tal lugar.
E, assim que fizemos a curva depois da praia de Newport, lá estava
ele! Subitamente, perante nós, o vasto oceano brilhava como uma forma
metálica que esculpia a terra em forma de um crescente perfeito.


“Bah, bah,” murmurou
a minha sogra, “Meu Deus, meu Deus.” A baía cintilante e deserta
estendia-se mesmo a nossos pés. Dirigi-me ao estacionamento. “Crystal Cove State Park
dizia a tabuleta. Como que a abençoar o nosso dia de gazeta, uma
borboleta esvoaçou para o tejadilho branco do carro e fez uma pausa
para tomar fôlego, com as asas amarelas e azuis a ondularem na luz
quente e intensa.


A
face da minha sogra brilhava como a de uma menininha na manhã de
Natal. Sorri com cumplicidade para Jamie, que soltou uma pequena
gargalha. Há meses que não a víamos tão animada! Esperámos que a
borboleta continuasse viagem, e depois tirámos a cadeira de rodas da
mala do carro e ajudámos a minha sogra a sentar-se.


Afundando-nos
em florinhas selvagens cor-de-rosa e lavanda, dirigimo-nos por um
caminho íngreme e sinuoso escarpa abaixo para um sol intenso e
retemperador. Uma vez chegados à praia, a cadeira de rodas começou a
causar problemas, mas a minha sogra desatou a rir enquanto nós a
sacudíamos por cima dos seixos cinzentos, tentando chegar à orla da
água onde se viam algas secas e uma areia mais plana e húmida,
recém-banhada pelas marés. Parámos junto a um monte de seixinhos, e
Jamie deixou-se cair de costas em cima deles.


“Estas
pedras estão tão quentinhas!” suspirou, relaxado que nem um gato. A
minha sogra olhava fixamente o mar, e o meu coração sentia-se bem
quente ao ver os reflexos dourados das ondas prateadas estampados no
enorme sorriso da sua cara. “Bah, bah,” exclamou elapegando-me
na mão. Sentámo-nos de mãos dadas durante bastante tempo, a olhar o
oceano. E, embora eu tivesse sido criada em Inglaterra nas costas do
gélido e belo Mar do Norte, o indomável Pacífico arrebatou-‑me
totalmente o coração.


Quando a maré vazou, descobri algumas pocinhas. “Ei, Jamie!”

Tudo o que Jamie conseguiu proferir em resposta foi um grunhido.

“Alguma vez viste pocinhas de água?” perguntei.

Ele
levantou-se num relâmpago. As criaturas marinhas fascinavam o meu
sobrinho todo citadino. Apontei para as ilhas de algas
castanho-esverdeadas.


“Ua-a-u-u!” gritou ele, saltando das pedras.

“Diz à tua avó que vamos apenas dar uma volta por aí.”

Jamie baixou-se ao lado da avó e explicou-lhe. Em resposta, ela afagou-lhe o cabelo encaracolado e negro.Caminhei pela praia, com a espuma das ondas a beijar-me os pés, até chegar junto às rochas.

“Espera,” gritou Jamie, saltitando num pé só, enquanto arrancava dos pés as enormes sapatilhas.

Voltei-me
para dizer adeus à minha sogra, que me acenou também. Foi-me doloroso
ver quanto esforço aquele simples movimento lhe tinha custado.


“Achas que a tua avó ia gostar de molhar os pés?” perguntei a Jamie.

“De quê?”

Estava
dobrado como um gancho de cabelo sobre um amontoado de minúsculos
caranguejos que fugiam da sua sombra para se esconderem debaixo de uma
barreira de algas de cheiro intenso. Espreitou por cima do seu ombro
bronzeado para a avó, uma pequenina senhora idosa embrulhada num xaile
preto. Parecia tão débil! Com os olhos a brilhar, Jamie sorriu para
mim.


Chapinhámos
nas ondas, e depois subimos diretos à orla da praia. Antes ainda de
Jamie ter acabado de lhe explicar, a minha sogra tinha desenrolado o
xaile com impaciência e estava já a levantar os pés dos descansos da
cadeira de rodas.
Ajoelhei-me para lhe retirar os chinelos de tecido aveludado, e ela assentiu, radiante.

Jamie
e eu amparámo-la até ela se sentir segura. Inspirou profundamente,
fixou o horizonte distante, e logo mexeu um dos pés. O declive não
tinha quaisquer consequências para Jamie e para mim, mas os dedos dos
pés da minha sogra tateavam antes que se atrevesse a dar qualquer
passo. Quase caiu por duas vezes, e eu arrependi-me da minha ideia
quando vi o seu esforço em respirar. No entanto cerrou bem os dentes.
Não conseguia vencer o cancro, mas podia e havia de fazer isto.


Assim
que a espuma gelada inundou os seus pés, toda ela se emocionou. Jamie e
eu conseguimos afastar-nos ligeiramente enquanto ela se mantinha ali,
em pé, sozinha. De olhos fechados, virou a cabeça para o sol e inspirou
profundamente. Quando os seus pulmões libertaram aquele ar purificado,
soltou um suspiro de tanta satisfação que os meus olhos encheram-se de
lágrimas.


Regressámos
a LA. depois de escurecer, esgueirando-nos para o apartamento como
três ratinhos atrevidos… A minha cunhada estava nervosíssima. Mas o que
é que nos tinha passado pela cabeça?


A minha sogra, o Jamie e eu trocámos olhares cúmplices.

Sabíamos muito bem o que nos tinha passado pela cabeça.

Christine Watt

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Vitor mango
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