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A Forma e o Conteúdo dos Ritos Maçónicos

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Mensagem por Vitor mango Sáb Abr 06, 2013 1:06 am


A Forma e o Conteúdo dos Ritos Maçónicos








Parte I



A forma dos ritos maçónicos são semelhantes aos das religiões dos mistérios
que já existiam no século IV a.C., e de que há provas terem sobrevivido
até à queda do império romano do ocidente. Refiro-me à forma, e não ao
conteúdo desses ritos — porque tal como não foi possível saber os
conteúdos exactos dos ritos das religiões dos mistérios, também parece
ser difícil saber exactamente o conteúdo dos ritos maçónicos.





¿Qual foi a forma das religiões mistéricas?



1/ A problemática religiosa estava menos
associada a modelos teóricos (teologia ou filosofia) e mais associada a
uma identificação extática (êxtase) do iniciado (o mistagogo) com o
destino e com a acção de uma divindade concreta, ocorrida durante o
culto. Ou seja, estamos em presença de mais animismo do que teologia.
Portanto, existe um défice de formulação teórica.


2/ A identificação pessoal com a divindade permite a
interiorização do mistério que torna possível uma salvação global e uma
nova vida depois da morte. Por isso, o desejo de salvação é
absolutamente pessoal, no sentido de ser independente da salvação dos
outros iniciados.


3/ Os mitos — que não sabemos exactamente quais eram
— estão relacionados com a natureza (por exemplo, a fertilidade), com a
morte e com a nova vida (visão cíclica da realidade e da natureza),
pelo que a identificação do iniciado refere-se menos a “pessoas divinas”
e mais a processos naturais que essas “pessoas divinas” simbolizam.


4/ Tendência monista dos cultos — o que não significa necessariamente monismo puro.


5/ Cultos reservados exclusivamente aos iniciados.


6/ A “disciplina arcana” imposta aos iniciados
através de juramentos de vida ou de morte — o que levou ao quase
desconhecimento dos rituais: não se sabe como os rituais dos cultos
mistéricos ocorriam, quais eram os ritos, a simbologia e o seu objecto
concreto — embora os mitos subjacentes aos ritos sejam mais conhecidos, e
que consistiam geralmente numa qualquer história muito antiga que
remonta ao neolítico.


7/ O ingresso num culto mistérico não excluía a
possibilidade de um iniciado continuar a cumprir os costumes da religião
popular e/ou oficial da sociedade em que vivia. Os mistérios eram
ofertas religiosas suplementares para gente que se considerava a si
própria como possuindo um novo nível consciência — ou seja, eram ofertas
religiosas para as elites.



Portanto, verificamos que a forma dos cultos mistéricos coincidem com a forma do
culto maçónico, e por isso podemos dizer que a maçonaria adoptou a
forma genérica das religiões dos mistérios. O problema é deduzir ou
inferir, pelo menos em parte, o verdadeiro conteúdo da religiosidade maçónica.








Para isso, temos que acreditar no que a maioria das obras apologéticas acerca da maçonaria nos diz: que o gnosticismo da Antiguidade Tardia é o fundamento do conteúdo da religiosidade maçónica. Porém, sabemos que a Gnose, em geral, era dualista e não monista — o que dificulta o nosso raciocínio.







Em princípio, poderíamos ter uma forma das religiões dos mistérios e
se eliminarmos a tendência monista destas e se a substituirmos por um
dualismo gnóstico, podemos daí inferir as características principais do
conteúdo do culto maçónico. Em alternativa, podemos optar por
influências monistas do neoplatonismo e do estoicismo — o que não é,
porém, compaginável com a figura do Grande Arquitecto do Universo que
impera na maçonaria: nos monismos, a identidade pessoal tende a
anular-se no UNO. Em princípio, o Grande Arquitecto do Universo é uma
personalidade característica de um dualismo, e não de um monismo. Mas
voltaremos à questão do conteúdo da religiosidade maçónica num próximo
verbete.














Parte II



“É ao gnosticismo que nos referimos, doutrina que se
tornou a partir daí um dos factores e uma das constantes primordiais das
ocupações maçónicas até à actualidade”.
— “A Maçonaria Universal”,
de Miguel Martín-Albo, 2003, página 56 — com prefácio de António Reis, à
época grão-mestre do GOL (Grande Oriente Lusitano).








Quando se fala aqui em “maçonaria” deve ler-se “Maçonaria especulativa”.







A Maçonaria especulativa é um gnosticismo invertido.
Não que os símbolos gnósticos antigos, entendidos em si mesmos, sejam
invertidos — mas antes que os valores que os símbolos do gnosticismo da
Antiguidade Tardia representavam foram invertidos pela maçonaria. O que a
maçonaria inverteu foram os valores, e não os símbolos gnósticos
entendidos em si mesmos.


Por exemplo, na maçonaria, o valor é dado ao lado esquerdo; enquanto que
no Judaísmo, no Cristianismo, e mesmo no chamado “gnosticismo cristão”
da Antiguidade Tardia, o valor é dado ao lado direito. “Jesus Cristo está sentado à direita do Pai”,
diz o Novo Testamento. Em contraponto, nos rituais de iniciação
maçónica, o sapato direito do iniciante é descalçado (a direita é
despojada e reduzida à sua insignificância), a perneira esquerda das
calças do iniciante é enrolada de forma a mostrar a carne da perna
esquerda, e a camisa do iniciante é desabotoada no lado esquerdo,
deixando ver o lado esquerdo do peito (ibidem, página 507). Esta
inversão dos valores correlativos aos símbolos do gnosticismo da
Antiguidade Tardia abrange a própria figura dualista do demiurgo:
enquanto que, para o gnosticismo antigo, o demiurgo era mau, para a
maçonaria o demiurgo gnóstico é bom — o que explica, em parte, a
putativa e propalada “alegria” dos maçons em contraste com o pessimismo
típico dos gnósticos antigos.








Se se diz (por exemplo, com Hans Jonas ou com Eric Voegelin) que “o gnosticismo da Antiguidade Tardia era revolucionário”
(no sentido de uma expressão de revolta ontológica), a maçonaria assume
esse aspecto revolucionário do gnosticismo e inverte os seus valores,
radicalizando ainda mais a sua mundividência gnóstica, transformando
essa revolta ontológica numa Ordem Absoluta intramundana e intracósmica e
em oposição a qualquer princípio primordial (o Deus primordial e
transcendental dos gnósticos) que é considerado negativo pela maçonaria
(ao contrário do que acontecia com o gnosticismo da Antiguidade Tardia).
















“O gnosticismo é um dos factores e uma das constantes”, reza
a citação. Ou seja, parece que o gnosticismo não é o único ou talvez
nem sequer o principal factor. Uma coisa é certa: a maçonaria não é um
monoteísmo. Retirando o monoteísmo da equação maçónica, ficamos com o
dualismo ontológico e com o monismo, por um lado, e por outro lado com a
noção clara e demonstrada que qualquer dualismo ontológico, na sua escatologia, culmina invariavelmente num monismo.








Os monismos chegam à unidade (ao UNO) através da relativização do particular
(incluindo a relativização do indivíduo), ao passo que os monoteísmos
chegam à unidade através da absolutização e da universalização do
particular (incluindo o indivíduo). No Judaísmo, nem sequer existe o
conceito de Deus: Javé é um nome próprio; e o conceito de Elohim é
uma influência monista das crenças dos cananeus que o Judaísmo aceitou e
que repudiou sucessivamente em vários momentos da História.








O conceito de “ressurreição” dos crentes, que já existia no Judaísmo a
partir de 150 a.C., traduz essa absolutização e universalização do
indivíduo. Ora, os monismos (sejam religiosos, sejam políticos)
relativizam o indivíduo e, em casos extremos, chegam mesmo a
considerá-lo como uma parte dispensável no processo de chegar ao Uno [no
caso das filosofias e religiões monistas, em que o Uno pode ser, ou de
certo modo quase transcendental (Nirvana), ou imanente e panteísta
(estoicismo)] — ou a construção do Paraíso na Terra (no caso dos
monismos políticos e imanentes, como o marxismo). Por exemplo, o
marxismo é uma religião política monista e imanente; o estoicismo é uma
filosofia religiosa imanente e panteísta; o gnosticismo da Antiguidade
Tardia era, na estrutura comum às várias correntes gnósticas, uma
religião dualista cuja escatologia (o finalismo) culminava num monismo.








O monismo puro e o monoteísmo puro são absolutamente incompatíveis;
e um qualquer monoteísmo com componentes ou matizes monistas corre
sempre o risco de adoptar uma escatologia monista. É neste sentido que o
dualismo gnóstico acaba, nos “fins dos tempos”, por se transformar num
monismo que implica a total dissolução do particular no Uno.








Esta relativização do particular que é comprovadamente
característica dos monismos — e, por isso, a relativização do indivíduo
enquanto pessoa — é importante para explicar a posição da maçonaria
actual a favor da liberalização do aborto, a favor da promoção cultural
da eutanásia, da sodomia e do “casamento” gay, a libertinagem e o
hedonismo em geral, e da pulverização cultural e social de “direitos” do
indivíduo. A “liberdade” do indivíduo levada ao extremo de desagregação
social é uma liberdade negativa, e reflecte a relativização monista e
maçónica do seu valor enquanto indivíduo. A autonomia radical do
indivíduo traduz a perda real do seu valor enquanto indivíduo, porque
não existe indivíduo sem sociedade/comunidade e sem a
intersubjectividade do social. O indivíduo é abandonado a si próprio na procura da verdade.








O abandono do indivíduo a si próprio na procura da verdade reflecte o
dualismo gnóstico que influenciou a maçonaria — dualismo esse que se
dissolve num monismo escatológico (a “fusão final” com o Uno). Por isso é
que nos rituais funerários maçónicos, o “Venerável” dirige-se ao maçon
defunto desta forma: “Irmão, adeus, para sempre, adeus, adeus”
(ibidem, página 503). O “para sempre” não é um adeus ateísta de quem
não espera qualquer vida após a morte: antes, é um adeus de quem concebe
o defunto como reunido no Uno e, por isso, destituído das suas
particularidades individuais. E essa reunião com o Uno só é concebida em
relação aos iniciados.














Parte III



Não há dúvidas de que Jesus Cristo veio introduzir uma diferente
concepção da realidade, revolucionária no bom sentido porque não
pretendeu alienar a realidade tal qual ela é, mas apenas desvelar uma
visão complementar da realidade. Jesus Cristo apenas nos mostrou um
determinado aspecto da realidade a que a humanidade não se tinha
apercebido até à sua época. A isto podemos chamar de “diferenciação
cultural” (segundo o conceito de Mircea Eliade).



A Forma e o Conteúdo dos Ritos Maçónicos Estrutura-da-mac3a7onaria-webAo
contrário do que aconteceu com as tradições arcaicas presentes no
Antigo Testamento (e que mais tarde foram retomadas pelo luteranismo e
principalmente pelo calvinismo), Jesus Cristo reduz a validade dessas
tradições arcaicas (monistas e imanentes) que influenciaram o Judaísmo
do Antigo Testamento (por exemplo, o conceito de Elohim é intrusivo no Judaísmo).



Essa diferenciação cultural introduzida por Jesus Cristo é feita, por
exemplo, através de uma certa desvalorização da ética baseada no
esforço e na recompensa, ou “ética do burro e da cenoura”, que
prevalece no Antigo Testamento e é produto de influências religiosas
muito antigas ou arcaicas. O mesmo podemos dizer da oposição de Jesus
Cristo em relação à Cabala: se lermos, por exemplo, As Bem-aventuranças
dos Evangelhos, verificamos que a simbologia cristológica opõe-se não só
à ética arcaica baseada no esforço e na recompensa, mas também à ética
cabalística.


A partir do fim da Alta Idade Média surgiu na Europa uma espécie de
“Cabala cristã”, que mais tarde foi representada e defendida por Jakob
Böhme que inspirou Friedrich Schleiermacher e Hegel. Essa “Cabala
cristã” é de conteúdo francamente gnóstico embora diferente de uma outra
Cabala mais antiga, e que a lenda cabalística diz ter origem em
escritos de Moisés, e com o nome de Sepher Yetzira.
A “Cabala cristã” difere da Yetzira (considerada original), no sentido
em que, na “Cabala cristã”, o símbolo de Kether (a Coroa) significa o
“sopro divino da vontade”, e não a divindade em si mesma que assim se
situa (aparentemente) para além da realidade universal — ou seja, a
“Cabala cristã” deixa em aberto a transcendência de Deus para assim ser
mais “digerível” pelo monoteísmo cristão, o que não acontece na Cabala
original e mais antiga.



Os símbolos cabalísticos da Sepher Yetzira apontam a sua origem para
um culto do Sol, remoto e arcaico, que existiu no próprio local do templo judaico de Jerusalém.
E é esta Cabala Yetzira — e não a “cristã” — que fundamenta alguns dos
princípios relevantes da Maçonaria especulativa (pelo menos até ao fim
do século XIX), e que também esteve presente na Alta Idade Média com a
sua promoção na Europa através dos Templários que a trouxeram do Oriente
e no seguimento das Cruzadas, e que mantiveram uma relação estreita com
as lojas da maçonaria operativa medieval. Por exemplo, na Cabala
Yetzira, Kether
e a sua manifestação material é representada pelo Sol. Esta Cabala mais
antiga é panteísta e por isso exclui a transcendência divina; o seu
Kether é o próprio demiurgo intramundano cuja exclusiva vontade esteve
na origem da construção da Árvore da Vida cabalística.



Se juntarmos ao formalismo ritual maçónico identificado com a forma ritual das religiões dos mistérios; o gnosticismo invertido e panteísta
que elege o demiurgo (o Grande Arquitecto do Universo) como a divindade
intramundana e imanente; a influência decisiva da Cabala Yetzira na
mundividência maçónica dos graus mais altos (daí a existência dos 32
graus maçónicos, que correspondem aos 32 “Caminhos do Conhecimento” do
Sepher Yetzira, sendo que o grau 33 é meramente honorífico); se
juntarmos tudo isto, estamos em presença de uma religião que tem a sua
origem no neolítico, que recusou qualquer diferenciação cultural ao
longo de milénios, e que, na minha opinião, é luciferina
— a própria Cabala refere que Caim, que segundo a Bíblia é filho de
Adão, é, em vez disso, filho de Eva e de Samael, a “Serpente”, que é uma
entidade luciferina.





Orlando Braga

3 de Abril de 2013

Perspectivas

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