O atentado na maratona de Boston
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O atentado na maratona de Boston
O atentado na maratona de Boston
Foi, antes de ser um acto cruel, um atentado à inteligência estratégica (se perpetrado por sujeito, ou grupo, de credo muçulmano, ou etnia árabe), qualidade nunca associada ao fanatismo religioso.
Uma bomba, cuja alvo não consista em uma coluna militar, um político ou diplomata, uma instalação de potência inimiga, ou similar, é, do ponto de vista político e táctico (mesmo se terrorista), um erro: a batalha da opinião pública está irremediavelmente perdida.
O atentado, com uma técnica artesanal destinada a produzir o maior número possível de vítimas -, atenta a proliferação de estilhaços - e nasceu com o terrorismo anarquista, visa intimidar pelo terror. A colocação, um ajuntamento civil; a natureza do evento, um acontecimento desportivo; a multiplicidade de nacionalidades presente; a cobertura mediática; pretendeu um efeito: publicidade, a maior possível.
O autor, ou os autores, munidos de bombas caseiras, panelas de pressão cheias a pregos sem cabeça e esferas de metal, causaram, segundo a contagem mais recente, três mortes e aproximadamente 180 feridos, 17 em estado grave, e 13 com amputações confirmadas.
O acto não foi reivindicado. Sem indícios de outra natureza (as buscas à residência de estudantes sauditas, apenas porque um deles morreu junto à meta, revelam preconceito),
o método, semelhante ao utilizado no Iraque e Afeganistão, não permite
tirar conclusões sobre a autoria. Os americanos não avançaram, até ao
momento, qualquer ligação da Al-Qaeda ao atentado.
Ainda hoje, é possível encontrar na Internet instruções para o fabrico de bombas caseiras, como as que foram despoletadas em Boston. Poucos são os que o fazem, e, menos ainda os que possuem a motivação, a vontade, e a audácia de as construir ou utilizar. Por esse motivo, nem sequer possuo intuição da origem, doméstica ou estrangeira, dos bombistas. Neste particular bem acompanhado pelos, gen. Garcia Leandro e, o duas vezes ministro, Nuno Severiano Teixeira, ambos: «não sabemos nada, mas penso que», em sintonia. É assim o jornalismo televisivo da SICN e dos canais "exclusivamente noticiosos": na ausência de factos novos, a cada cinco minutos, convidam-se comentadores para elaborarem raciocínios sobre generalidades.
Voltemos ao primeiro parágrafo e expliquemos. Provando-se qualquer ligação árabe ao atentado, que nem carece de ser a desmembrada Al-Qaeda, o número de vítimas civis será
multiplicado por milhares. Os EUA irão perseguir autores, cúmplices e
apadrinhadores por todo o planeta, sem olhar a meios, consequências, e, mais importante ainda, danos colaterais.
Relembremos. A família
Bush que deu dois presidentes à América, hoje escondida nas moitas, em
nome das inexistentes, mas famigeradas, "armas de destruição maciça" (e realmente motivada por considerações geoestratégicas de recursos naturais e política económica interna) fez duas guerras no Iraque (eliminando um tampão ao avançar do fundamentalismo islâmico e provocando uma guerra civil), nesse caminho matando, na perspectiva conservadora da Reuters, desde 2003, entre 103.536 a 113.125 civis. Outras fontes aproximam esse número de 123.000, a que se podem adicionar mais 12.000 por análise dos ficheiros do processo Wikileaks.
É
forçoso reconhecer que as vitimas civis apenas revoltam as consciências
dos elementos do complexo industrial político-militar americano, quando
possuem a mesma nacionalidade. Outras são estatística.
Continuando. A provar-se que o acto criminoso teve mão estrangeira, a matança de civis prosseguirá a bom ritmo. Tudo com a ajuda de uma boa cobertura jornalística, já possuidora do lead, o seu título de caixa alta: a família de Martin Richard (falecido, a mãe padece de lesão cerebral grave, a irmã sofreu a amputação de uma perna, o pai, corredor da maratona, e o filho mais velho escaparam ilesos), será a face que humaniza e legitima a vingança e o assassinato (se quisermos ser moderados chamemos a esses actos execuções sumárias), de estrangeiros em solo estrangeiro, violando todas as leis internacionais dignas desse nome. Tudo executado no conforto do lar, sem baixas americanas, desde Langley, Virgínia, na sede da CIA, onde são controlados os drones assassinos(Predators ou Reapers). Estes, por cada alegado terrorista executado, abatem 50 civis. O número resulta de um estudo do prestigiado Columbia Law School’s Human Rights Institute.
Obama que autoriza, como nem George W. Bush se atreveu, a utilização de drones - «since
Obama took office three years ago, between 282 and 535 civilians have
been credibly reported as killed including more than 60 children»-, pretende aumentar ainda mais o programa que determina o seu número e raio de acção. Os seus aliados democratas, no Congresso, dedicam-se à contra-informação sobre o número de baixas civis.
Apenas no Paquistão, onde a CIA actua com impunidade, e mesmo com autonomia da presidência, já terão sido liquidadas, desde 2004, cerca de 3110 pessoas, destas, apenas 47, 1,5%, serão terroristas de
nomeada. Entres os mortos encontram-se 175 crianças. 69 delas foram
mortas em 30 de Outubro de 2006, no bombardeamento de uma madrassa
(escola religiosa), erradamente identificada pelos serviços secretos como um campo de treino talibã. Ataques são ordenados a locais onde se encontram equipas de salvamento e mesmo durante funerais.
Em nenhum caso vi, como neste, o Secretário-Geral das Nações Unidas vir a público lamentar o sucedido.
Em conclusão: o atentado bombista se, acertadamente ou não, for ligado a origens estrangeiras, obviamente islâmicas, muitos mais
civis, muitos mais, de outras nacionalidades, pagarão, com a vida, o
preço que os americanos vierem a estabelecer para o acto, inominável,
que alguns, poucos, cometeram. Aos olhos da lei, terrena ou divina, não
existem vidas mais dignas que outras.
Mais ainda, quem temeu a SOPA como atentado às liberdades civis, na América e no mundo, que se aterrorize agora perante a CISPA. Não tarda a chegar.
Para finalizar, "demagogia" taxista: em cada país intervencionado
pelo FMI, a taxa de mortalidade aumenta, em média, 10%, durante os
cortes sempre exigidos nos serviços nacionais de saúde (os seguros e o
resseguro internacional sempre foram um bom negócio) - não há maior terrorista que a finança internacional.
Declaração de interesses: admiro particularmente os EUA (um país que apresenta as duas faces de todas as moedas existentes), em especial a sua literatura, o seu cinema, alguma da sua música, e viveria alegremente em Nova Iorque. Infelizmente nada disto exclui os factos. São os americanos (naquele que é o país com maior liberdade de imprensa no planeta), e algum do seu jornalismo, que estabelece o canône das boas práticas e do fact checking, que nos ensinam.
7 comentários:
francisco12:10:00 PMO
mundo voltar a deixar de ser novamente o mesmo, como deixou após o
estoiro das twin towers e do pentágono. Será mais um motivo para matar
na conhecida desproporção, só porque se é americano e se pode. Se é
americando e tudo se pode.
Responder
Isabel12:50:00 PM
Ainda não li todos os links que aqui tens, mas quero ler. É por estas e
por outras que estou, de certa forma, "alerta" em relação à política
americana e compadrios. É evidente que quem pega na notícia sobre Martin
Richard fica indignado. A comunicação social, como sempre, cumpre o seu
papel de atirar achas para a fogueira. Quero ler isto tudo e todos os
links com atenção.
É por estas e por outras que recomendo que se
ainda não leram o Robert Fisk" A Grande Guerra da Civilização", que o
façam. Penso que é um excelente documentário que nos põe a par de toda
esta engrenagem e hipocrisias, tanto no ocidente, como no outro lado do
mundo. As atrocidades e arbitrariedades praticadas, "tudo
diplomaticamente perfeito" na defesa dos interesses são um facto
consumado. Penso que está tudo ligado. A Coreia deve dar resposta isto
tudo. Os americanos nunca me convenceram. Sim, está implantado o reino
do terror. Mas, é como vos digo. Eu tenho que ler tudo melhor.
Responder
Carla3:16:00 PMO
que consigo dizer neste momento é, que todos os elementos da minha
família (um deles frequenta a BU) que lá vivem, encontram-se de boa
saúde.
Em relação aos EUA, resumo tudo a: É um país que tem tudo
de bom e tudo de mau. Por isso é que me continua a atrair, seduzir e a
fascinar. Anão, a viver, viveria em Boston. ;0)
Nota: Ao
contrário do que se passa aqui em Portugal, nos EUA não tenho ninguém
que esteja desempregado. É um país que tem várias crises cíclicas, mas
consegue sempre reerguer-se e reinventar-se.
Responder
Respostas
francisco4:09:00 PMEm Portugal também não existem Guantânamos, Carla...
Responder
francisco4:45:00 PMJá se sabe que esteve por detrás das bombas nas panelas de pressão!!!!
http://www.teleculinaria.pt/content.aspx?menuid=72&eid=6806
Responder
Isabel11:49:00 PM
Olá, Nenuco. Como te disse, já li quase todos os links que aqui tens.
Não digo todos, porque isto é como uma reacção em cadeia, atrás de uns
aparecem-me outros. De certa forma, o materia fornecido não é novidade
para mim porque, como já aqui disse, ando do volta do Fisk. Aquilo é um
calhamaço de mais de 1000 páginas e eu leio e volto a ler porque quero
entender tudo muito bem. Acho que fizeste um óptimo trabalho de
pesquisa, que eu gosto de aprofundar.Muito teríamos que contar, não
esquecendo o fértil megócio das armas. O que mais me impressiona, no
meio disto tudo, é ter conhecimento do efeito das armas químicas, urânio
empobrecido, usado por ingleses e americanos, sobretudo nas crianças
iraquianas, e as consequências. Com o bloqueio imposto pelas Nações
Unidas à ajuda ocidental, não havia remédios para a multiplicidade de
cancros que apareceram nas crianças e nos adultos, claro. Estou
precisamente a ler essa parte e a ficar agoniada... De modo que ando a
definir a minha posição em relação à hipocrisia ocidental e seus
sequazes do mundo israelo-árabe. É tudo uma questão de interesses.
Aproveito para transcrever um pequeno excerto do que diz Fisk na página 819.
"
... Quando fiz a minha primeira reportagem sobre as enfermarias
iraquianas com cancro, em Fevereiro e Março de 1998, o governo britânico
desenvolveu grandes esforços para me desacreditar..."
E isto diz tudo!
Responder
Isabel11:52:00 PM
Ao que parece, já apanharam um dos responsáveis pelos acidentes de
Boston. Só não sei pormenores sobre o indivíduo em questão. Mas, vou
tentar saber.
Responder
_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
Re: O atentado na maratona de Boston
É por estas e por outras que recomendo que se
ainda não leram o Robert Fisk" A Grande Guerra da Civilização", que o
façam. Penso que é um excelente documentário que nos põe a par de toda
esta engrenagem e hipocrisias, tanto no ocidente, como no outro lado do
mundo. As atrocidades e arbitrariedades praticadas, "tudo
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
Re: O atentado na maratona de Boston
.
Se, ainda ao menos, os escrevinhadores fossem isentos e dissecassem bem todos os ângulos da questão... vá que não vá...
Agora e por norma demonizarem apenas um dos aspectos, isso é que não é tolerável e muito menos aceitável...
Se, ainda ao menos, os escrevinhadores fossem isentos e dissecassem bem todos os ângulos da questão... vá que não vá...
Agora e por norma demonizarem apenas um dos aspectos, isso é que não é tolerável e muito menos aceitável...
_________________
Amigos?Longe! Inimigos? O mais perto possível!
Joao Ruiz- Pontos : 32035
Re: O atentado na maratona de Boston
Joao Ruiz escreveu:.
Se, ainda ao menos, os escrevinhadores fossem isentos e dissecassem bem todos os ângulos da questão... vá que não vá...
Agora e por norma demonizarem apenas um dos aspectos, isso é que não é tolerável e muito menos aceitável...
Tento meter no forum os mais variantes pontos de vista
_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
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