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Enquanto Assad fala, a Rússia age

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Mensagem por Vitor mango Qui maio 23, 2013 6:38 am

Enquanto Assad fala, a Rússia age



Presidente sírio perdeu chance de falar mais claramente sobre os planos dos vizinhos interessados na guerra





















Bashar al Assad falou com exclusividade ao jornal argentino Clarín (há
uma imensa diáspora síria na Argentina, bem como no Brasil).

Vendo através da névoa da histeria ocidental, fez algumas observações
valiosas. A história mostra que sim, que o regime aceitou por várias
vezes falar com a oposição; mas a gama de grupos “rebeldes”, sem uma
liderança crível e unificada, sempre se negou. Portanto, não existe um
caminho para o cessar-fogo que possa finalmente ser acordado em uma
reunião, como a próxima conferência de Estados Unidos e Rússia em
Genebra.

Assad tem alguma razão quando diz: “Nós não podemos discutir nem um mapa com um grupo de pessoas se não sabemos quem elas são”.

Bem, a estas alturas, qualquer um que observe a tragédia síria sabe
quem eles são, em sua maioria. Sabe-se que o Exército de Canibais Sírios
Não-livres, perdão, o ELS (Exército Livre da Síria) é uma coleção
heterogênea de senhores da guerra, gângsters e oportunistas de todo tipo
cruzados com jihadistas de linha dura, do tipo da Jabhat al Nusra (mas
também com outros grupos vinculados à Al Qaeda ou inspirados nela).

Sana/Agência Efe (18/05)
Enquanto Assad fala, a Rússia age Al%20Assad
O presidente sírio Bashar Al-Assad (direita), em entrevista a jornalistas argentinos em Damasco

A Reuters demorou meses para finalmente admitir que os
jihadistas dominam o show sobre o solo [1]. Um comandante “rebelde”
inclusive se queixou à Reuters: “A Nusra agora é dos Nusras. Uma parte
que segue a agenda da Al Qaeda de uma grande nação islâmica e outra que é
síria, com uma agenda nacional para nos ajudar a combater o Assad”. O
que não disse é que o grupo realmente efetivo está vinculado à Al Qaeda.

A Síria é agora o Inferno das Milícias; muito parecido com o Iraque em
meados dos anos 2000 e muito parecido com o “livre” Estado fracassado
líbio. Essa “afeganistanização/somalização” é uma consequência direta da
interferência do eixo OTAN/CCG (Conselho de Cooperação do Golfo)/Israel
[2]. Portanto, Assad tem razão quando diz que o Ocidente está avivando o
fogo e que só está interessado na mudança de regime, seja qual for o
custo.

O que Assad não disse

Não se pode dizer que o Assad seja exatamente um político brilhante,
uma vez que desperdiçou uma excelente oportunidade para explicar à
opinião pública ocidental, mesmo que brevemente, porque as
petromonarquias do CCG, Arábia Saudita e Catar, além da Turquia, estão
interessados em incendiar a Síria. Poderia ter dito que o Catar quer
entregar a Síria à Irmandade Muçulmana, e a Arábia Saudita sonha com uma
colônia que seja um “cripto-emirado-colônia”. Poderia ter dito que
ambos estão aterrorizados com os xiitas do Golfo Pérsico, que abrigam
ideais legítimos da Primavera Árabe.

Poderia ter apontado o fracasso absoluto da política exterior turca de
“zero problemas com os nossos vizinhos”: em um dia, há a tríade de
colaboração Ancara-Damasco-Bagdá e, no dia seguinte, Ancara quer uma
mudança de regime em Damasco e antagoniza Bagdá. E, acima de tudo, a
Turquia se atrapalha ao ver que os curdos se sentem alentados desde o
norte do Iraque até o norte da Síria.

Poderia ter detalhado como o Reino Unido e a França, dentro da OTAN –
para não mencionar os Estados Unidos –, assim como seus petromonarcas
marionetes, estão utilizando a desintegração da Síria para prejudicar o
Irã, e nenhum desses atores que os abastecem com armas e muito dinheiro
estão interessados com os sofrimentos do “povo sírio”. A única coisa que
importa são seus objetivos estratégicos.






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Enquanto Bashar al Assad falava, a Rússia agia. O presidente Vladimir
Putin – perfeitamente consciente de que as conversas de Genebra estão
sendo desencaminhadas por diversos atores, inclusive antes de terem
início – enviou barcos da marinha russa ao leste do Mediterrâneo e
ofereceu à Síria uma quantidade de ultramodernos mísseis terra-mar
Yajhont, além de vários mísseis antiaéreos S-300, o equivalente russo do
norte-americano Patriot. Vale lembrar que a Síria já tem os mísseis
antiaéreos russos SA-17.

Agora, qualquer um de vocês, membros da gangue OTAN-CCG – inclusive,
deixando de lado a ONU –, tratem de lançar uma operação mini “Choque e
Pavor” contra Damasco. Ou tratem de implementar uma zona aérea de
exclusão. Do ponto de vista militar, o Catar e a Casa de Saud são uma
piada. Os britânicos e franceses estão seriamente tentados, mas não têm
os meios – ou estômago. Washington, por sua vez, tem os meios, mas não o
estômago. Putin sabia, com toda certeza, que o Pentágono entenderia
claramente o seu recado.

O “Dutostão”

Assad também poderia ter falado – e de que mais? – do “dutostão”.
Bastariam a ele dois minutos para explicar o significado do acordo do
gasoduto Irã-Iraque-Síria, de 10 bilhões de dólares, firmado em julho de
2012. Esse nó crucial do “dutostão” exportará gás desde o campo de Pars
do Sul, no Irã (o maior do mundo, compartilhado com o Catar), através
do Iraque em direção à Síria, com uma possível extensão ao Líbano, com
clientes confirmados na Europa ocidental. É o que os chineses chamam de
uma situação “ganha-ganha”.

Mas não para – adivinhem! – o Catar e a Turquia. O Catar sonha com um
gasoduto rival, desde seu campo Norte (contíguo ao campo de Pars do Sul,
no Irã), passando pela Arábia Saudita, Jordânia, Síria e, finalmente,
Turquia (que se mostra como o centro privilegiado de trânsito de energia
entre oriente e ocidente). O destino final, mais uma vez: Europa
ocidental.

Como em tudo o que tem relação com o “dutostão”, o ponto crucial do
jogo é deixar de lado o Irã e a Rússia. É o que faz o gasoduto do Catar,
freneticamente poiado pelos Estados Unidos. Mas no caso do gasoduto
Irã-Iraque-Síria, a rota de exportação não pode ter origem em outro
lugar senão em Tartus, o porto sírio no leste Mediterrâneo que abriga a
marinha russa. Obviamente, a russa Gazprom faria parte de todo esse
processo, desde o investimento até a distribuição.

Agência Efe (21/05)
Enquanto Assad fala, a Rússia age Siria%20oposi%C3%A7%C3%A3o
Representantes da oposição síria reunidos em Madri pedindo a renúnica de Al Assad e a formação de um "governo transitório"

Que não restem dúvidas: o “dutostão” – novamente obrigado a contornar
Rússia e Irã – explica muitas coisas sobre a destruição da Síria.

O estratagema de petróleo da UE para a Al Qaeda

Enquanto isso, o verdadeiro exército sírio – respaldado pelo Hezbollah –
está metodicamente recuperando Al Qusayr do controle “rebelde”. Seu
próximo passo será olhar em direção ao leste, onde a Jabhat al Nusra
está se beneficiando alegremente de outra intromissão típica da União
Europeia: a decisão de impor sanções petroleiras contra a Síria [3].

O blogueiro do Syria Comment Joshua Landis já tirou as conclusões
necessárias: “Quem quer que se apodere do petróleo, da água e da
agricultura, terá em suas mãos os sunitas sírios. No momento, quem faz
isso é a Al Nusra. O fato de a Europa abrir o mercado ao petróleo impôs
essa situação. Daí a conclusão lógica dessa loucura: de que a Europa
está financiando a Al Qaeda”. Chamemos isso de estratagema petroleiro da
União Europeia para a Al Qaeda.

O sudoeste da Ásia – o que o Ocidente chama de Oriente Médio –
continuará sendo um campo privilegiado de irracionalidade. Tal como
estão as coisas na Síria, em vez de uma zona aérea de exclusão, o que se
deveria implementar, na realidade, é um “todos voam pela paz”, e cada
qual, com seu vizinho, deveria estar envolvido: Estados Unidos, Rússia,
União Europeia e também Hezbollah, Israel e, por certo, Irã, como
destacou com entusiasmo o Ministro de Relações Exteriores russo Sergei
Lavrov [4].

Muito além da obsessão ocidental pela mudança de regime, o que a já
problemática conferência de Genebra poderia produzir é um acordo segundo
a Constituição Síria – que, a propósito, é absolutamente legítima,
tendo sido adotada em 2012 por uma maioria de votos do verdadeiro e
sofredor “povo sírio”. Isso, inclusive, poderia significar que o Assad
não é o candidato a presidente nas eleições programadas para 2014.
Mudança de regime, sim. Mas por meios pacíficos. A OTAN, o CCG e Israel
permitirão que isso ocorra? Não.

Notas:
[1] Insight: a síria Nusra é eclipsada pela israelense Al-Qaeda, Reuters, 17 de maio de 2013.
[2] Organização do Tratado do Atlântico Norte-Conselho de Cooperação do Golfo-Israel.
[3] Decisão da União Europeia de levantar sanções ao petróleo sírio impulsiona grupos jihadistas, Guardian, 19 de maio de 2013.
[4] Rússia diz que Irã deve fazer parte das conversas na Síria, Reuters, 16 de maio de 2013.

Pepe Escobar é autor de “Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War
(Globalistão: como o mundo globalizado está se dissolvendo na guerra
líquida, Nimble Books, 2007) e de “Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad
during the surge” (Red Zona Blues: um relato de Bagdá durante o surto).
Seu livro mais recente é “Obama does Globalistan” (Obama faz
Globalistão, Nimble Books, 2009). Contato: pepeasia@yahoo.com


Fonte: Asia Times

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Mensagem por Vitor mango Qui maio 23, 2013 6:52 am

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