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Operários gregos que ocuparam fábrica falida pregam coletividade: "juntos somos muitos"

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Mensagem por Vitor mango Dom Dez 01, 2013 2:09 am

Operários gregos que ocuparam fábrica falida pregam coletividade: "juntos somos muitos"

A Vio. Me., que fazia e revendia materiais de construção e fechou em 2011, é hoje auto-administrada por 35 trabalhadores





A fábrica Vio. Me. está situada em uma ampla área industrial e comercial ao sul de Tessalônica, acessível pela rodovia que rodeia a segunda maior cidade da Grécia. Os estabelecimentos mais visíveis são as grandes lojas como Ikea e Leroy Merlin, mas atrás de seus símbolos brilhantes se estende um grande número de propriedades industriais. Christos, um dos empregados da Vio.Me., chega para nos acompanhar: “Não é fácil encontrar a fábrica”, me explica, em inglês. Ele é um dos poucos trabalhadores coletivos que podem falar um idioma estrangeiro, quase todos os demais só falam grego.

Ilaria Scarpa/Opera Mundi
Operários gregos que ocuparam fábrica falida pregam coletividade: "juntos somos muitos" Ilaria%20scarpa_VioMe17
Em junho, chegaram a visitar o coletivo algumas das figuras mais conhecidas do movimento antiglobalização, como Naomi Klein 

Ainda que a fábrica esteja um pouco escondida, o nome da Vio.Me. se tornou muito visível e ultrapassou as fronteiras nacionais. Em junho, chegaram a visitar o coletivo algumas das figuras mais conhecidas do movimento antiglobalização, como Naomi Klein e John Holloway. Isto porque a Vio.Me. é a primeira fábrica auto-administrada na Grécia desde o começo da crise e segue abertamente o modelo das fábricas argentinas durante a crise daquele país de uma década atrás. “Esperamos que o que estamos fazendo aqui dê ideias e inspiração a outros trabalhadores que estão na mesma condição”, diz Georgiou, outro trabalhador. “Se todos fizermos alguma coisa, então há a possibilidade de que algo mude”, completa.

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O que mais assusta sobre a crise é a renúncia. Os gregos entendem que desta situação não se sai tão rápido, mas esta consciência, junto à desconfiança dos políticos e do governo, que está vendendo o país peça a peça a empresas privadas leva muitas pessoas à apatia. As demissões são abundantes: somente nos primeiros dias, quando fizemos as entrevistas para essa reportagem, duas das grandes empresas tinham despedido 300 e 500 pessoas, de um dia para o outro e de uma vez. Assim, nada vai mudar: já vimos esse filme. Mas, justamente por isso a auto-organização continua sendo uma das poucas possibilidades de conseguir mudar, ainda que minimamente, a própria condição.


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O caso da Vio.Me. é exemplar. A fábrica fechou dois anos atrás, em 2011, no pico da visibilidade da crise grega (ainda que hoje a porcentagem de desempregados no país seja maior). O proprietário simplesmente sumiu, deixando a empresa às moscas. O juiz decidiu conceder temporariamente a propriedade aos funcionários, que durante muitos meses já não recebiam salário algum. “No entanto, essa era uma fábrica que ganhava muito”, explica Christos. “Acredito que pelo menos um milhão e meio de euros ao ano, e falando apenas de lucros. Mas o dono desapareceu. Deve ter pensado que as coisas, com a crise, piorariam rapidamente e então juntou todo o dinheiro possível e fugiu.

Junto com o proprietário, gerentes e executivos também se foram. Enquanto isso, alguns trabalhadores preferiram buscar outros empregos. Das 70 pessoas empregadas na Vio.Me., hoje, no coletivos de trabalhadores, restaram 35. “Trabalhamos em um ambiente mais relaxado”, brinca Christos, mas é uma piada só até certo ponto. Quando a fábrica estava aberta, trabalhava-se em um ciclo contínuo: três turnos de oito horas sem parar, dia e noite; os encarregados permitiam somente um descanso para um cigarro e uma ida rápida ao banheiro.

“A produtividade não podia diminuir nunca. ‘Trabalhem!, trabalhem!’, nos diziam continuamente. Mas quando pedíamos que melhorassem nossas condições de trabalho, nos ignoravam.  Você vê a fábrica como é agora, sem vidros ou janelas? Já era assim antes. Sem calefação nem ar condicionado. Invernos gelados e verões nos quais, quando queimávamos  polímeros para fazer nossos produtos, a temperatura subia até os 45 graus”, relata Christos.


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Enquanto isso, alguns trabalhadores estão fora da fábrica, em uma varanda, bebendo café frio — a bebida nacional da Grécia —, relaxados, sorridentes. A atmosfera que se respira é acolhedora e tranquila, muito diferente do que me conta Christos – isso apesar de os trabalhadores hoje em dia ganharem muito pouco. “Entre 250 e 300 euros por mês, que é realmente muito pouco. Por isso há quem também faça outros trabalhos quando os encontra. No entanto, alguns de nós contamos com o apoio de nossas mulheres, que podem ter outro salário. Esperamos melhorar com os lucros. O mês que vem devemos ganhar 400 euros por cabeça.”

Alternativa às máquinas

Antes de fechar, a Vio.Me. produzia materiais de construção, como azulejos, ladrilhos, aderentes e gessos coloridos para acabamento. No armazém, ainda há um monte de material sem vender: o juiz não deu aos trabalhadores permissão para vendê-lo. Tampouco permitiu que as máquinas voltassem a ser postas em marcha. Todas as semanas o coletivo de Vio.Me pede às autoridades para retomar a antiga produção, mas, até agora, ninguém respondeu se sim ou se não.

Ilaria Scarpa/Opera Mundi
Operários gregos que ocuparam fábrica falida pregam coletividade: "juntos somos muitos" Ilaria%20scarpa_VioMe10
Trabalhadores pedem às autoridades para retomar a antiga produção, mas, até agora, ninguém respondeu se sim ou se não

Enquanto isso, os trabalhadores se organizam de forma diferente: começaram a produzir sabões e detergentes, que podem ser processados em equipamentos menores. Detergentes para o chão, para vidros, sabão para a roupa e para as mãos. Feitos sem aditivos químicos, com sistemas biológicos, ainda que, por enquanto, não tenham obtido a certificação para comercializá-los como tais.

“Pulamos inclusive a grande distribuição. Os produtos são vendidos por meio de uma rede de solidariedade que cruza toda a Grécia: mercados auto administrados, associações de vizinhos, associações políticas ou de solidariedade que organizam a distribuição sem intermediários. O resultado é que nossos sabões são também muito baratos”, explica Christos. O grande interesse que a Vio.Me. está provocando internacionalmente desencadeou o desejo dos trabalhadores de tentar uma distribuição internacional de seus produtos. No momento, no entanto, não têm a autorização: o empecilho, inclusive neste caso, continua sendo a burocracia.

Tasos, trabalhador a quem pergunto se acredita que o exemplo da Vio.Me. pode influenciar outras fábricas em crise, se desculpa comigo porque não sabe fazer discursos políticos. “Antes da ideia de auto-administrar a fábrica, muitos de nós não nos importávamos com a política”, fala. E, na verdade, o fato de sua autogestão ter provocado tanto clamor dentro e fora da Grécia lhe surpreendeu. Mas, em seguida, diz que sem a esperança de mudar as coisas não teriam mergulhado de cabeça em uma empresa tão complexa, que lhes está absorvendo completamente.

Antes de ir, Christos se despede: “As coisas só podem melhorar se todos nos esforçarmos para fazê-las mudar. Não somente na Grécia, mas em toda a Europa. Se estamos juntos, somos muitos: sozinhos, ao contrário, as coisas não podem mudar”.

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Vitor mango
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