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Thierry Meyssan: Qual é a estratégia americana no Oriente Médio?

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Mensagem por Vitor mango Ter Fev 11, 2014 4:18 am

Thierry Meyssan: Qual é a estratégia americana no Oriente Médio?

A súbita mudança da posição americana na véspera da conferência de Genebra 2 suscitou a estupefacção. Washington não reclamava, mais, uma transição entre a guerra e a paz mas, sim, entre a Síria de Bashar al-Assad e a próxima, dominada pela Arábia Saudita. Para Thierry Meyssan esta mudança visaria focalisar a atenção das mídias sobre a Síria, enquanto se negocia, em segredo, a principal jogada dos EUA: a Palestina. Artigo de Thierry Meyssan para o semanário russo de política Odnako.

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 Abertura das negociações Genebra 2
Aquando da sessão inaugural da conferência de Genebra 2 John Kerry defendeu a posição saudita: exclusão do Irã, composição, exclusiva, da delegação da oposição pelos atuais membros da Coligação nacional, demissão e julgamento de Bashar al-Assad.

Todos se interrogam sobre as razões que impediram os Estados Unidos de pôr em prática o acordo concluído com a Rússia, em Genebra, desde junho de 2012. Todos puderam observar os adiamentos de Washington, e as contradições nas declarações de John Kerry. Todos se lembram da evolução, conciliadora, do seu discurso após a crise das armas químicas e a convocatória de Genebra 2, seguida da surpresa geral da declaração dos "Amigos da Síria" [1], e do seu discurso inaugural em Montreux [2], colocando, de repente, como único objectivo uma mudança de regime em Damasco, em violação dos compromissos assumidos, provocando o falhanço da conferência. Sem falar na composição, monolítica, da delegação da "Oposição síria", e da anulação in extremis do convite do Irã.

Desde há cerca de três anos, Washington acusa, todos os dias, Bashar al-Assad dos piores crimes, sem chegar a explicar o apoio crescente dos Sírios às suas instituições (agora entre 60 e 88 % segundo as sondagens). Mas, desde há uma semana, denuncia uma facção da "oposição síria", acusando-a de preparar atentados contra os Estados Unidos.

O diretor nacional do Serviço de Informações dos EUA, James Clapper, foi à audição pela Comissão senatorial da Inteligência, dia 29 de janeiro 2014, como previsto no calendário anual, para apresentar uma síntese das ameaças, que pesam sobre "a América" [3]. A propósito da Síria, ele forneceu números fantasiosos sobre a composição dos exércitos "rebeldes", apresentando-os como sendo, em 80% , de moderados, portanto, aptos a receber a ajuda militar votada pelo Congresso, aquando da sua reunião secreta [4]. Ora, ele enfatizou que o país se tinha tornado um ímã, atraindo, para lá, todos os terroristas do planeta. Criando, ainda, mais surpresa, ao declarar que alguns, de entre eles, lá se preparariam para um ataque aos Estados Unidos.

Domingo, 2 de fevereiro de 2014, uma quinzena de senadores americanos encontraram-se com o secretário de Estado John Kerry, à margem da conferência de Munique sobre Segurança. Dois dos participantes, John McCain e Lindsay Graham, reportaram o seu encontro a três jornalistas, Fred Hiatt do Washington Post [5], Jeffrey Goldberg da Bloomberg [6] e Josh Rogin do The Daily Beast [7]. Segundo estes, o secretário de Estado teria reconhecido que Washington falhou na Síria, e teria levantado a questão do fornecimento de armas letais a alguns dos "rebeldes".

Os porta-vozes do departamento de Estado, Jennifer Psaki, e da Casa-Branca, Jay Carney, apressaram-se a desmentir os dois senadores. Mas, ninguém é ingénuo: o secretário de Estado democrata, dois senadores republicanos e três jornalistas sionistas preparam a opinião pública para uma viragem política.

A 4 de fevereiro, o Washington Post publicava um editorial, não assinado, apelando à reavaliação do fracasso da política estadunidense na Síria [8]. O quotidiano concluía: "Com ou sem ação das Nações Unidas é altura, para a administração Obama, de fazer o balanço entre os crimes [imputados] ao regime, e a ameaça crescente [para os EUA, imputada] à Al-Qaida. Como Kerry o teria reconhecido, de momento, não há respostas".

O que se pode extrair daqui?

Há mais de um ano eu publicava, no semanário político russo Odnako, um extenso artigo, sobre as grandes linhas do acordo secreto estabelecido entre Washington e Moscovo, a propósito do Próximo-Oriente [9]. Sublinhava aí que, para a Casa Branca, o importante na região, não era mais o petróleo e não era a Síria, mas sim Israel. Barack Obama estava pronto a renunciar a uma parte da influência ocidental no Próximo-Oriente, em troca de uma garantia russa de protecção "ao Estado judeu".

Eu escrevi: "Uma vez a Síria estabilizada deverá ter lugar uma conferência internacional, em Moscovo, para uma paz global entre Israel e os seus vizinhos. Os Estados Unidos consideram que não é possível negociar uma paz separada entre Israel e a Síria, porque os Sírios exigem, primeiro, uma solução para a Palestina em nome do arabismo. Além de que não é possível, mais, negociar uma paz com os Palestinos, porque estes estão muito divididos, a menos que a Síria seja encarregue de os forçar a respeitar um acordo consensual. Por conseguinte, qualquer negociação deverá ser global, baseada no modelo da conferência de Madrid (1991). Nesta hipótese, Israel retirar-se-ia, tanto quanto possível, para as suas fronteiras de 1967. Os Territórios palestinos e a Jordânia fundiriam, para formar o Estado palestino definitivo. O seu governo seria confiado aos Irmãos muçulmanos, o que tornaria a solução aceitável aos olhos dos governos árabes atuais. Depois, o planalto do Golã seria restituído aos Sírios, em troca do abandono do lago de Tiberíades, segundo o esquema delineado, antes, nas negociações de Shepherdstown (1999). A Síria seria o garante do respeito dos tratados pela parte jordano-palestina."

Assim, segundo o que parece, a lentidão dos Estados Unidos em avançar nos seus compromissos, tanto como as suas contradições atuais, e o anúncio de uma próxima mudança da sua política, refletem a sua dificuldade em fazer avançar, simultâneamente, o dossiê palestino.

Aliás, esta foi a prioridade que John Kerry sublinhou, aquando da sessão de perguntas e respostas, na qual ele publicamente participou em conjunto com o embaixador Wolfgang Ischinger, na conferência de Munique, em 1º de fevereiro. Tendo declarado: "Nós temos todos, um importante, o maior interesse em resolver este conflito. A qualquer lugar que eu vá no mundo, em todo o lado onde vou – afirmo-vos sem exagerar, no Extremo-Oriente, em África, na América latina – uma das primeiras questões a sair da boca de um ministro das Relações Exteriores, de um Primeiro-ministro ou de um presidente é: - "Senhores, que podereis fazer para ajudar a acabar com o conflito israelo-palestino?" " [10].

Em julho de 2013, John Kerry impôs às duas partes negociar a paz em 9 meses (quer dizer antes do final de abril de 2014). Esta exigência deixava-nos perplexos: porquê fixar uma data limite num processo de paz onde jamais, em tempo algum, tal se havia passado, e que dura a bem durar há 65 anos ? Salvo, claro, se considerarmos que a paz na Palestina esteja ligada à da Síria.

Dirigindo-se à Câmara, o Primeiro-ministro jordano Abdullah Ensour apresentou, a 2 de fevereiro, o estado das negociações [11], insistindo, aí, sobre o facto que, por uma vez e sériamente, as discussões se realizavam à porta-fechada, e que quase nada disso passava para a imprensa [12]. Ele precisou, nesta ocasião, a posição do reino [13].

Deste modo Abdullah Ensour, antigo quadro da Banco mundial e do FMI, entendia, assim, garantir os interesses do seu país, inicialmente criado pelos Britânicos para resolver o problema palestino. A Jordânia está pronta a absorver os palestinos da Cisjordânia e de Gaza no quadro de uma federação, mas não a qualquer preço. O rei Abdullah II teria aceite dar, sem condições, a cidadania jordana aos três milhões de palestinos residindo no país, e aos quatro milhões dos Territórios. Voltava-se, assim, à situação anterior à guerra dos Seis Dias (1967), quando era a Jordânia – e não a OLP – quem representava os palestinos, e estendia a sua jurisdição sobre a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Em troca, o rei teria exigido uma ajuda internacional, para financiar os custos sociais dos seus possíveis sete milhões de novos súditos. Abdullah Ensour tê-los-ia estimado entre os US$ 16 e US$ 20 bilhões.

Sabe-se por outro lado, baseados num documento assinado pelo presidente Harry Truman, que os negociadores árabes rejeitaram, sempre, a ideia de reconhecer Israel como "Estado judeu", e a Palestina como "Estado muçulmano". Eles acordaram que, em caso de reconhecimento mútuo de dois Estados, os 1,6 milhões de palestinos vivendo em território israelita, e os 500.000 israelitas vivendo no Estado palestino, pudessem aí permanecer, sob reserva de tomar (ou de conservar) a nacionalidade [14]. Mahmoud Abbas propôs que a Palestina fosse desmilitarizada, e que a sua segurança fosse assegurada por uma força "neutra", a Otan. O exército israelita seria, no entretanto, autorizado a permanecer no vale do Jordão durante os cinco primeiros anos [15].

As negociações não envolvem apenas os governos. Desde há dois anos, por iniciativa do Fórum económico mundial de Davos, capitalistas palestinos e israelitas (israelenses-Br), sob a direcção de Munib R. Masri e de Yossi Vardi, imaginam como desenvolver a região com o dinheiro da comunidade internacional. Mas, a sua iniciativa, Breaking the Impasse (Quebrar o impasse), parece por um lado defender mais os seus interesses pessoais que os dos seus povos e, por outro lado, contar com aleatórias promessas de doações de fundos.

Entretanto, estes projetos chocam com a oposição dos Palestinos exilados –que perderiam as suas esperanças de retorno– e dos Estados que os acolhem, ou os apoiam. Mas, ninguém está à altura de se opôr aos mesmos, atualmente: a Líbia e o Sudão estão mergulhados em guerras tribais, o Egito bate-se contra os Irmãos Muçulmanos, o Líbano não tem sequer governo e o Hezbolá luta contra a Al-Qaida, a Síria faz frente a uma invasão estrangeira, o Iraque está em guerra civil, e o Irã negocia. Conviria, pois, naturalizar os exilados palestinos nos Estados em que vivem, o que não deixaria de fazer surgir novos problemas (por exemplo, o equilíbrio entre comunidades no Líbano). Seja como for, se a Fatah, o Hamas e a Jordânia aceitarem esta má solução, não se vê quem esteja à altura de a contestar. Basta dizer que, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, teria assumido o compromisso, em Munique, do seu país reconhecer o Estado de Israel no quadro deste acordo. Notícia imediatamente desmentida pelo seu ministério [16].

Com o princípio da paz na Palestina reconhecido, Washington aceitaria – por fim! – deixar a Síria tranquila, na condição que ela aprovasse, e garantisse, a solução escolhida. Daqui até lá a guerra continua. Muito embora a delegação da oposição, em Genebra, não reivindique, mais, que governar sobre "zonas libertadas" habitadas por apenas 250.000 pessoas, o Congresso dos Estados Unidos, reunido em sessão secreta, concedeu-lhe subvenções e armamento ofensivo até 30 de setembro de 2014.

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