Metástases do pensamento imperial russo
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Metástases do pensamento imperial russo
Metástases do pensamento imperial russo
Publicada por José Milhazes à(s) 11:18 Sem comentários:
quarta-feira, Abril 09, 2014
Quando escrevi e publiquei, ontem, o artigo sobre a Estónia, não quis supor que espero ver, dentro em breve, as tropas russas a “libertarem” os “russófonos oprimidos”, embora já nada se possa excluir. Queria, sim, chamar a atenção para o facto de o Kremlin estar a incentivar desestabilização nos países vizinhos para colher o máximo de frutos na sua política externa.
Como é sabido, na origem da mais grave crise na Europa depois do fim da guerra fria, estiveram as manifestações em Kiev a favor da integração europeia e contra a repressão policial. A oposição ao Presidente Ianukovitch tentou aproveitar a oportunidade para o derrubar e a forma utilizada, apoiada pela UE e os EUA, foi a mais desastrosa: foi assinado, tendo a UE como garante, uma acordo para a saída da crise, mas os termos do documento foram imediatamente violados pela oposição. Ianukovitch teve de fugir para a Rússia, pois ninguém lhe dava garantias de segurança e o destino do líder líbio Kadaffi ainda está fresco.
Não sei se por ignorância ou excesso de confiança, mas os analistas da UE e dos EUA parecem não ter medido as consequências do que estava a acontecer e deram ao Kremlin um pretexto há muito esperado para responder “à russa”. O Presidente russo, Vladimir Putin, reagiu, violando todos os princípios que dizia defender: soberania dos povos e países, inviolabilidade de fronteiras, etc., etc.
Este pretexto serviu também para a continuação da revisão das fronteiras herdadas da União Soviética, processo iniciado logo após a queda do império soviético e que teve um dos pontos altos em Agosto de 2008, quando a Rússia invadiu a Geórgia.
Se alguns estudiosos e políticos ocidentais tivesse tentado analisar a mentalidade dos actuais dirigentes russos, não ficariam surpreendidos com a reacção da Rússia e poderiam ter impedido a anexação russa da Crimeia. Claro que não através das armas, mas cumprindo o acordo assinado entre a oposição e Ianukovitch. Era preciso esperar mais alguns meses para que Ianukovitch se retirasse, pois o seu regime corrupto não tinha qualquer apoio. Mas o essencial era derrubar Ianukovitch e viesse o que viesse depois.
Mas, como já escrevi há uns tempos atrás, a Rússia é, grosso modo, dirigida por dois grupos que esperavam de uma oportunidade para se desforrar do chamado Ocidente: os siloviki (criaturas dos serviços secretos) e os descendentes da velha nomenclatura soviética.
Eis um exemplo: Viatcheslav Nikonov, neto de Viatcheslav Molotov, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da URSS estalinista. Tal como o avô, que não saiu em defesa da esposa quando Estaline a enviou para um campo de concentração, o neto também não foi para a rua defender a União Soviética. Pelo contrário, transformou-se num “democrata” e “ocidentalista”. Vladimir Putin, referindo-se à oposição, disse um dia que os seus membros andavam “como chacais” pelas embaixadas ocidentais. Ora Nikonov era um desses, vi-o várias vezes na Embaixada de Portugal, apresentando-se como um “verdadeiro defensor dos direitos universais do homem”, etc.
Mas, quando os ventos mudaram, Nikonov mudou com eles e, hoje, além de deputado da Duma Estatal, dirige a “Russky Mir” (Mundo Russo), organização que tem como objectivo reunir a diáspora russa no mundo e incentivar a cooperação com outros povos.
Em termos ideológicos, este político, que apoia incondicionalmente a actual política externa, também evoluiu muito. Ao discutir a forma como apresentar a História da Rússia aos alunos das escolas, Nikonov falou, em Dezembro de 2011, da “grande raça ariana russa”. Este doutorado em História, precisou: “Devemos sempre recordar em que país vives e trabalhas, conhecer as suas tradições. A nossa Pátria tem um grande passado. Um ramo da tribo ariana desceu dos Cárpatos, povoou pacificamente a Grande Planície Russa, a Sibéria, a parte mais fria do planeta, chegou até ao Pacífico, fundou o Fort Ross, bebeu as seivas das riquíssimas culturas de Bizâncio, Europa, Ásia, derrotou o mais terrível inimigo da Humanidade, abriu o caminho para o Espaço. Mas há poucos lugares onde se sabe tanto pouco e tão pouco se aprecia o passado e o presente”, explicou.
Depois vem a “medição de crânios”: “Se dividirmos toda a humanidade em três grupos: 1) criadores de cultura, 2) portadores de cultura e 3) destruidores de cultura, os representantes dos dois primeiros grupos só são arianos. Foram precisamente os arianos que criaram, se assim se pode dizer, os alicerces e paredes de todas as criações humanas. Os outros povos deixaram apenas o seu sinal na forma e cor externas”.
Nikonov talvez se tenha esquecido que a sua avó era judia, ou talvez não, decidiu seguir o exemplo do avô.
São ideias semelhantes ou iguais a estas que estão na moda entre a elite política russa.
Na véspera, um grupo de deputados da Duma Estatal exigiu do Procurador da Rússia que investiga a forma como a URSS ruiu e apure as responsabilidades de Mikhail Gorbatchov, então Presidente do país, nesse processo.
Ou seja, volta a vir à tona a mentalidade imperial sob formas agressivas, que nunca trouxe nada de bom à Rússia. Moscovo deveria preocupar-se mais com o seu crescimento intensivo, com a modernização das suas infraestruturas, da sua economia, com o combate à corrupção, mas volta a cometer o erro de gastar forças no alargamento da sua zona de influência, mesmo que com “pretextos dignos”.
quarta-feira, Abril 09, 2014
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