Japão indemniza "mulheres de conforto" da Coreia do Sul com 7,5 milhões de euros
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Japão indemniza "mulheres de conforto" da Coreia do Sul com 7,5 milhões de euros
Japão indemniza "mulheres de conforto" da Coreia do Sul com 7,5 milhões de euros
Clara Barata
28/12/2015 - 08:16
(actualizado às 18:38)
Acordo histórico entre Tóquio e Seul sobre sistema de escravidão sexual montado durante a II Guerra Mundial.
A ex-mulher de conforto sul-coreana Lee Ok-sun
Kim Kyung-Hoon/REUTERS
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A Coreia do Sul e o Japão concluíram nesta segunda-feira um acordo histórico sobre a espinhosa questão das “mulheres de conforto”, como eram denominadas as mulheres coreanas forçadas a trabalhar nos bordéis para os soldados japoneses durante a II Guerra Mundial, e que ainda hoje envenena as relações entre os dois países.
Não é a primeira vez que o Japão reconhece a existência destas mulheres, e até já pediu desculpa. O pedido de perdão inicial foi feito em 1993. A novidade é a promessa de uma indemnização, algo que Tóquio sempre recusou. O Japão tem mantido a posição de que o tratado de 1965 que normalizou as relações entre os dois países resolveu todas as disputas – e não previa a indemnização individual das vítimas de escravatura sexual. O acordo assinado nesta segunda-feira não clarifica se as responsabilidades que Tóquio assume são legais ou morais, sublinha o New York Times.
O tema das "mulheres de conforto" tem sido um obstáculo nas relações entre Coreia do Sul e Japão. Mas agora o Japão, como antiga potência colonial (primeiro a Coreia foi um protectorado nipónico e, finalmente, foi anexada em 1910, e assim permaneceu até 1945), pediu desculpa e vai pagar mil milhões de ienes (7,5 milhões de euros) de compensação a estas mulheres, forçadas a trabalhar em bordéis para os militares durante a II Guerra Mundial.
"[Shinzo] Abe, como primeiro-ministro do Japão, pede desculpas do fundo do coração a todos os que sofreram e que ficaram com cicatrizes que são difíceis de sarar física e mentalmente", disse Fumio Kishida, ministro japonês dos Negócios Estrangeiros, após o encontro com o homólogo sul-coreano, Yun Byung-se.
Segundo a BBC, este valor será dado a um fundo administrado pela Coreia do Sul. O ministro sul-coreano afirmou que este acordo será "definitivo e irreversível" se o Japão cumprir as suas promessas. O fundo criado em 1993, com dinheiros privados, nunca foi reconhecido por Seul.
“O Governo japonês sente uma profunda responsabilidade” por ter recrutado “mulheres de conforto” com “o envolvimento do seu exército” e por ter “danificado gravemente a honra e a dignidade de muitas mulheres”, reconheceu Kishida.
Insatisfeitas
Na Coreia do Sul, estão ainda vivas 47 das cerca de 200 mil mulheres que foram obrigadas a prostituir-se com os soldados japoneses, com idades entre os 80 e os 90 anos. Lutam pelo reconhecimento do que o Estado japonês lhes fez, e por uma indemnização. Recusam o termo prostituição, porque dizem ter sido enganadas e forçadas a abandonar as suas casas, com a promessa de um emprego. Em vez disso, foram levadas para longe e mantidas em cativeiro, onde eram exploradas sexualmente.
Na China, pelo menos outras 200 mil mulheres terão sido colocadas em bordéis, num esquema semelhante. E noutros países asiáticos que estiveram sob o jugo japonês durante a II Guerra, como a Indonésia, foi imposta a mesma prática.
No entanto, as ex-mulheres de conforto não ficaram satisfeitas com este acordo. Yu Hui-nam, uma das sobreviventes, disse que não está satisfeita mas vai aceitá-lo, porque reconhece o esforço das autoridades dos dois países, segundo a agência Kyodo. Mas o Conselho Coreano das Mulheres Usadas na Escravatura Sexual pelo Japão, um grupo de apoio que ergueu uma estátua de homenagem a estas mulheres frente à embaixada do Japão em Seul, em 2011, denunciou o acordo. Considera que o Governo sul-coreano excedeu a sua autoridade ao dizer que o assunto está completamente resolvido.
As mulheres, que estiveram ausentes das negociações, não devem ser esquecidas neste acordo que cheira meais a política do que a justiça”, declarou num comunicado Hiroka Shoji, da Amnistia Internacional.
Expectativas
Havia esperança de que este ano, quando se assinalaram os 70 anos da rendição do Japão na II Guerra Mundial, após o lançamento das duas bombas atómicas norte-americanas sobre território nipónico, que este assunto pudesse ficar resolvido. Mas o discurso do primeiro-ministro Shinzo Abe, em Agosto, no aniversário da capitulação, esfriou essas expectativas.
Clara Barata
28/12/2015 - 08:16
(actualizado às 18:38)
Acordo histórico entre Tóquio e Seul sobre sistema de escravidão sexual montado durante a II Guerra Mundial.
A ex-mulher de conforto sul-coreana Lee Ok-sun
Kim Kyung-Hoon/REUTERS
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A Coreia do Sul e o Japão concluíram nesta segunda-feira um acordo histórico sobre a espinhosa questão das “mulheres de conforto”, como eram denominadas as mulheres coreanas forçadas a trabalhar nos bordéis para os soldados japoneses durante a II Guerra Mundial, e que ainda hoje envenena as relações entre os dois países.
Não é a primeira vez que o Japão reconhece a existência destas mulheres, e até já pediu desculpa. O pedido de perdão inicial foi feito em 1993. A novidade é a promessa de uma indemnização, algo que Tóquio sempre recusou. O Japão tem mantido a posição de que o tratado de 1965 que normalizou as relações entre os dois países resolveu todas as disputas – e não previa a indemnização individual das vítimas de escravatura sexual. O acordo assinado nesta segunda-feira não clarifica se as responsabilidades que Tóquio assume são legais ou morais, sublinha o New York Times.
O tema das "mulheres de conforto" tem sido um obstáculo nas relações entre Coreia do Sul e Japão. Mas agora o Japão, como antiga potência colonial (primeiro a Coreia foi um protectorado nipónico e, finalmente, foi anexada em 1910, e assim permaneceu até 1945), pediu desculpa e vai pagar mil milhões de ienes (7,5 milhões de euros) de compensação a estas mulheres, forçadas a trabalhar em bordéis para os militares durante a II Guerra Mundial.
"[Shinzo] Abe, como primeiro-ministro do Japão, pede desculpas do fundo do coração a todos os que sofreram e que ficaram com cicatrizes que são difíceis de sarar física e mentalmente", disse Fumio Kishida, ministro japonês dos Negócios Estrangeiros, após o encontro com o homólogo sul-coreano, Yun Byung-se.
Segundo a BBC, este valor será dado a um fundo administrado pela Coreia do Sul. O ministro sul-coreano afirmou que este acordo será "definitivo e irreversível" se o Japão cumprir as suas promessas. O fundo criado em 1993, com dinheiros privados, nunca foi reconhecido por Seul.
“O Governo japonês sente uma profunda responsabilidade” por ter recrutado “mulheres de conforto” com “o envolvimento do seu exército” e por ter “danificado gravemente a honra e a dignidade de muitas mulheres”, reconheceu Kishida.
Insatisfeitas
Na Coreia do Sul, estão ainda vivas 47 das cerca de 200 mil mulheres que foram obrigadas a prostituir-se com os soldados japoneses, com idades entre os 80 e os 90 anos. Lutam pelo reconhecimento do que o Estado japonês lhes fez, e por uma indemnização. Recusam o termo prostituição, porque dizem ter sido enganadas e forçadas a abandonar as suas casas, com a promessa de um emprego. Em vez disso, foram levadas para longe e mantidas em cativeiro, onde eram exploradas sexualmente.
Na China, pelo menos outras 200 mil mulheres terão sido colocadas em bordéis, num esquema semelhante. E noutros países asiáticos que estiveram sob o jugo japonês durante a II Guerra, como a Indonésia, foi imposta a mesma prática.
No entanto, as ex-mulheres de conforto não ficaram satisfeitas com este acordo. Yu Hui-nam, uma das sobreviventes, disse que não está satisfeita mas vai aceitá-lo, porque reconhece o esforço das autoridades dos dois países, segundo a agência Kyodo. Mas o Conselho Coreano das Mulheres Usadas na Escravatura Sexual pelo Japão, um grupo de apoio que ergueu uma estátua de homenagem a estas mulheres frente à embaixada do Japão em Seul, em 2011, denunciou o acordo. Considera que o Governo sul-coreano excedeu a sua autoridade ao dizer que o assunto está completamente resolvido.
As mulheres, que estiveram ausentes das negociações, não devem ser esquecidas neste acordo que cheira meais a política do que a justiça”, declarou num comunicado Hiroka Shoji, da Amnistia Internacional.
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Havia esperança de que este ano, quando se assinalaram os 70 anos da rendição do Japão na II Guerra Mundial, após o lançamento das duas bombas atómicas norte-americanas sobre território nipónico, que este assunto pudesse ficar resolvido. Mas o discurso do primeiro-ministro Shinzo Abe, em Agosto, no aniversário da capitulação, esfriou essas expectativas.
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