Gentil Martins escreve sobre o pai: "O atleta português mais completo de todos os tempos"
Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: "Revolta em marcha" :: Caixote para esmolas politicas :: Vomitorio para almas empenadas o :: Bancada central - o desporto visto de fora :: Feitos e factos olimpicos
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Gentil Martins escreve sobre o pai: "O atleta português mais completo de todos os tempos"
Gentil Martins escreve sobre o pai: "O atleta português mais completo de todos os tempos"
António Gentil Martins visitou o arquivo do DN, onde encontrou múltiplas referências ao país, fosse como médico, como militar ou como atleta que se distinguiu em vários desportos. Como mostram as fotografias, António Martins era atleta dotado
| Arquivo DN
Pub
A mobilização dos atletas para a I Guerra Mundial através do caso de António Martins, visto pelos olhos do filho António Gentil Martins, cirurgião e também antigo atleta olímpico
A Carta Olímpica define nos seus princípios que o olimpismo é uma filosofia de vida, promovendo e combinando de uma forma equilibrada e harmónica as qualidades do corpo, da vontade e do espírito, levando à proteção do ambiente como património da humanidade. Procura o desenvolvimento do homem, promover a paz e preservar a dignidade, sem quaisquer discriminações, num espírito de amizade, de solidariedade e de jogo limpo.
António Augusto da Silva Martins, que não hesitamos em considerar o mais completo atleta português de todos os tempos, nasceu em 4 de abril de 1892 e foi símbolo disso mesmo.
Foi para a Escola em Santarém, em 1903, mas os pais, preocupados com a sua fraca compleição e preocupante saúde, transferiram-no para Coimbra no ano seguinte.
António Gentil Martins no arquivo do DN
| Leonardo Negrão / Global Imagens
Iniciou Ginástica e Desportos em 1906, fazendo da ginástica a base dos seus êxitos. Praticou ainda natação, esgrima, hipismo e boxe, mas dedicou-se sobretudo ao atletismo e ao tiro.
Em 1911 iniciou o curso de Filosofia, como o primeiro ano do ensino médico.
Dele diria mais tarde Sidónio Pais ser "o maior valor que a Universidade de Coimbra podia apresentar nos últimos anos".
Em 1912 foi incorporado, então com 20 anos, na 7.ª Companhia de Saúde, onde foi encarregado de fazer um curso de ginástica sueca. Frequentou a Escola de Cabos e Sargentos, sendo licenciado neste último posto.
Nesse mesmo ano torna-se campeão de Portugal de salto em altura e lançamento do disco, representando o CIF, sempre como amador, na mais nobre tradição do seu clube, e sem menosprezar, mas sem de modo algum se confundir, com aqueles que, como profissionais, legitimamente vivem à custa dos seus êxitos desportivos (como aliás também acontece com os artistas de circo).
Termina o curso em 1917, com 18 valores.
Mobilizado em 1918, parte para França a 12 de maio, incorporado no Regimento de Infantaria 12, como tenente-médico, embora, tendo-se iniciado no tiro em 1913 (após o serviço militar, então obrigatório), fosse já detentor de campeonatos de Portugal com pistola livre, carabina e espingarda de guerra.
Foi aí transferido para um grupo de metralhadoras, na retaguarda. Conhecendo que outro regimento de infantaria era mandado para a frente de combate, pediu a sua inclusão nele, oferecendo-se como médico voluntário para o batalhão de assalto, o Regimento 23, comandado pelo major Hélder Ribeiro. Integrado numa brigada inglesa, atravessa o Escalda e estava a alguns quilómetros de Tournai quando foi proclamado o armistício. Um colega de armas, Rider da Costa, diria: "Ele soube ser, com heroica abnegação, o médico das trincheiras." O alferes Horácio Gonçalves, no seu livro Sepelândia, referia a valentia, a inteligência e a lealdade de António Martins e também que, tendo ele descoberto a pouca distância do acampamento um invólucro de granada, se entretinha nos momentos livres a treinar o lançamento do disco e do peso.
"Amou a sua terra. Bateu-se por ela, na decisão dos heróis sem teatralidade, jogando a vida com a calma de quem andou sempre a oferecê-la aos outros", diria o jornal 1.º de Janeiro. "Era um atleta leal, valente, de valentia que tinha tanto de nobre como de serena. Era um amigo e um camarada como nenhum. Ante o perigo ficava plácido e sereno, e pude apreciar a sua bravura e bondade" (Dr. Bossa da Veiga, seu companheiro no CEP).
Recebeu a Medalha da Vitória, a Comenda da Ordem de Cristo, com Palma, a Cruz de Guerra e, a título póstumo, o Grande Colar da Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito. E agora a medalha de Honra da Cidade de Abrantes, onde já tem um monumento e uma grande avenida com o seu nome. Tinha também um largo que, após a Revolução de Abril, passou a ser designado Largo da Liberdade.
Nessa época, o Colar da Torre e Espada, como outras condecorações, era apenas atribuído, mas tinha de ser comprado! Assim, para que o maior número de pessoas de todas as categorias sociais pudessem contribuir, foi decidido que se limitaria a um escudo. E por isso existe um livro de assinaturas, de pergaminho, em que alternam presidentes, sapateiros, ministros, capitães, cozinheiras, calceteiros, etc.,enfim todas as classes sociais.
Regressando a Portugal em julho de 1922, prescinde da dispensa que a lei lhe confere por ter estado mobilizado e defende a tese em Medicina, obtendo a nota máxima: 20 valores. De lá trouxe os mapas das trincheiras das Ardenas, onde combateu, e que eu ofereci ao Museu Militar, bem como uma excelente fotografia dos responsáveis do batalhão de assalto, o 23, e também uma comovente fotografia de um soldado regressado da guerra, ladeado pela mãe e pela mulher.
"Casa onde era chamado, palácio, mediania ou choupana, logo o interessava comovidamente, e tanto maior no doente o seu mal tanto maior a ternura daquele homem", diria o jornal O Correio de Abrantes. Tinha essa bondade e era também de um desinteresse notável pelo lado material. Conta-se que sendo o ajudante habitual do professor Francisco Gentil, discretamente e a pouco e pouco, foi-se fazendo substituir por um colega. A explicação soube-se depois: esse colega ia casar-se e precisava de dinheiro para arranjar a casa.
Mas além de persistência e procura de cumprir objetivos, não lhe faltava imaginação e modéstia: um dia, durante a I República e as suas confusões e lutas, recebeu, no banco do Hospital de São José, um marinheiro gravemente ferido, e que necessitava de intervenção cirúrgica e transfusões de sangue (nessa época feitas de braço a braço, com a utilização do chamado aparelho de Jouvelet). Não havendo mais ninguém com sangue do mesmo grupo que o do ferido, a solução que arranjou para ter os braços livres para operar foi o impensável: retirar o sangue de uma veia do pé. E isso só veio a saber-se quando, no dia seguinte, o diretor do serviço veio verificar o que se passara durante a noite.
Considerava a medicina um sacerdócio, hoje um lugar-comum, mas tantas vezes desprovido de significado íntimo, espiritual, o que não era assim com ele. Mestre Henrique de Vilhena, professor da Faculdade de Medicina mas também da Faculdade de Belas-Artes, teve como discípulo António Martins, ombreando com a famosa pintora Vieira da Silva na execução de magníficas aguarelas, hoje cuidadosamente preservadas no Museu da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Foi também membro da equipa do CIF, campeã de Portugal na estafeta de 3x400 metros planos, em 1922. "Sempre estimando o adversário como um amigo e nunca como um rival", diria Salazar Carreira, depois diretor-geral dos Desportos. "Fazendo brotar espontaneamente a simpatia e a admiração. Era um português de lei", como referiria o DN, em 3 de janeiro de 1932.
Tinha o desejo de ser em tudo melhor do que já era. Tinha objetivos definidos e não se desviava deles. Tinha o culto do pormenor na preparação para qualquer prova, tanto no desporto como na sua vida profissional. Tendo pouco tempo, fazia a barba de joelhos para treinar a difícil posição de joelhos, do tiro de carabina, e lia os livros com o braço direito estendido para treinar o tiro de pistola.
Após os treinos anotava cuidadosamente, em cadernos próprios todos os fatores que poderiam ter influído no tiro, como mudanças de luz, vento, modificações nas armas, etc. "Meticuloso, dotado de uma força de vontade inesgotável, de uma energia, de uma auto-observação e de um estudo constantes, o seu aperfeiçoamento era inevitável, seja no que for a que se dedique", referia, em 1925, a revista Os Ases do Sport.
José Pontes, presidente do COP, diria que, "mesmo que surgisse o campeão, talvez não aparecesse o homem bom, culto, correto e sempre disciplinado que era o Dr. António Martins. Símbolo do verdadeira atleta que acima de tudo prezava o nome do seu país" (Carlos Farinha, representante do COP).
Foi dez vezes recordista e 12 vezes campeão de Portugal no lançamento do disco, do peso e do dardo, salto em altura, salto em comprimento e salto em largura. Onze vezes recordista e 28 vezes campeão de Portugal com carabina de precisão, arma livre, espingarda de guerra, pistola livre, pistola de duelo, pistola de tiro rápido e pistola de guerra. Vencedor de matches latinos e nos Jogos Interaliados (Pershing), em Le Mans, Camp d"Avour (1919), em carabina e pistola livre, obtendo também depois notáveis resultados em Antuérpia (1928), Reims (1924), Sangall (1925), Roma (1927), Amesterdão (1928) e Estocolmo (1929), onde efetuou a primeira angiografia cerebral fora de Portugal, utilizando a peça que inventara e se encontra hoje no Museu Egas Moniz, no Hospital de Santa Maria. Egas Moniz dizia ser ele o melhor homem que tinha conhecido.
Obteve o primeiro lugar no campeonato do mundo de espingarda de guerra na posição de pé, em Amesterdão em 1928 (o único ano em que os Jogos Olímpicos não incluíram tiro nas modalidades utilizadas). Foi mestre atirador em todas as modalidades, quer a nível nacional quer internacional, e também o primeiro atleta português olímpico em duas modalidades distintas (tiro em 1920 e 1924 e lançamento do peso em 1924). Como resultados desportivos há ainda a referir sobretudo os alcançados na pistola automática, com o oitavo lugar na VII Olimpíada (em Antuérpia, 1920) e na pistola livre, com o nono lugar na VII Olimpíada (em Antuérpia, 1920), o sexto lugar na VIII Olimpíada (em Paris, 1024) e o sexto lugar no campeonato do mundo (em Haia, 1928).
No boletim da Federação portuguesa dizia-se, em 1926: "O presente cartão dá-nos a certeza de que o campeão de Portugal será também campeão do mundo, muito em breve" (com 274 pontos em 30 tiros, o recorde do mundo era 540 e o campeonato tinha sido ganho, nesse ano, com 515)
Sucessivamente, em 1927,1928 e 1929 foi sempre melhorando os seus próprios recordes, falecendo, por ironia do destino, em 3 de outubro de 1930, com apenas 38 anos, num estúpido acidente na carreira de tiro de Pedrouços, felizmente o único registado até hoje em Portugal no tiro desportivo, ele que era considerado o cúmulo da prudência e do cuidado e quando já se perspetivavam os Jogos de 1932, em Los Angeles.
Com os seus 96 quilos de peso e 1,89 metros de altura era sem dúvida forte. Contudo nunca usou essa força indevidamente ou abusou dela. Conta-se que durante uma refeição no hospital um colega se tornou particularmente impertinente e, como resposta, António Martins, irritado, limitou-se a dobrar um garfo de metal entre dois dedos, terminando desde logo com a impertinência.
"Republicano de princípios e respeitador de todas as crenças, cultivador da amizade, símbolo máximo da bondade e do altruísmo", referia Carlos Leal, no Setubalense. Ele compreendera que só o esforço, o querer, o bem desejar, aliados à inteligência, podem, nestes tempos de democracia, conduzir os homens aos lugares superiores. A ciência não se verga, como a política, aos empenhos e às curvaturas da espinha. "Viveu a sua existência de homem são, sabendo o que queria, e não se desviando um ápice do seu fim", como referiria a revista Ténis.
António Gentil Martins visitou o arquivo do DN, onde encontrou múltiplas referências ao país, fosse como médico, como militar ou como atleta que se distinguiu em vários desportos. Como mostram as fotografias, António Martins era atleta dotado
| Arquivo DN
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A mobilização dos atletas para a I Guerra Mundial através do caso de António Martins, visto pelos olhos do filho António Gentil Martins, cirurgião e também antigo atleta olímpico
A Carta Olímpica define nos seus princípios que o olimpismo é uma filosofia de vida, promovendo e combinando de uma forma equilibrada e harmónica as qualidades do corpo, da vontade e do espírito, levando à proteção do ambiente como património da humanidade. Procura o desenvolvimento do homem, promover a paz e preservar a dignidade, sem quaisquer discriminações, num espírito de amizade, de solidariedade e de jogo limpo.
António Augusto da Silva Martins, que não hesitamos em considerar o mais completo atleta português de todos os tempos, nasceu em 4 de abril de 1892 e foi símbolo disso mesmo.
Foi para a Escola em Santarém, em 1903, mas os pais, preocupados com a sua fraca compleição e preocupante saúde, transferiram-no para Coimbra no ano seguinte.
António Gentil Martins no arquivo do DN
| Leonardo Negrão / Global Imagens
Iniciou Ginástica e Desportos em 1906, fazendo da ginástica a base dos seus êxitos. Praticou ainda natação, esgrima, hipismo e boxe, mas dedicou-se sobretudo ao atletismo e ao tiro.
Em 1911 iniciou o curso de Filosofia, como o primeiro ano do ensino médico.
Dele diria mais tarde Sidónio Pais ser "o maior valor que a Universidade de Coimbra podia apresentar nos últimos anos".
Em 1912 foi incorporado, então com 20 anos, na 7.ª Companhia de Saúde, onde foi encarregado de fazer um curso de ginástica sueca. Frequentou a Escola de Cabos e Sargentos, sendo licenciado neste último posto.
Nesse mesmo ano torna-se campeão de Portugal de salto em altura e lançamento do disco, representando o CIF, sempre como amador, na mais nobre tradição do seu clube, e sem menosprezar, mas sem de modo algum se confundir, com aqueles que, como profissionais, legitimamente vivem à custa dos seus êxitos desportivos (como aliás também acontece com os artistas de circo).
Termina o curso em 1917, com 18 valores.
Mobilizado em 1918, parte para França a 12 de maio, incorporado no Regimento de Infantaria 12, como tenente-médico, embora, tendo-se iniciado no tiro em 1913 (após o serviço militar, então obrigatório), fosse já detentor de campeonatos de Portugal com pistola livre, carabina e espingarda de guerra.
Foi aí transferido para um grupo de metralhadoras, na retaguarda. Conhecendo que outro regimento de infantaria era mandado para a frente de combate, pediu a sua inclusão nele, oferecendo-se como médico voluntário para o batalhão de assalto, o Regimento 23, comandado pelo major Hélder Ribeiro. Integrado numa brigada inglesa, atravessa o Escalda e estava a alguns quilómetros de Tournai quando foi proclamado o armistício. Um colega de armas, Rider da Costa, diria: "Ele soube ser, com heroica abnegação, o médico das trincheiras." O alferes Horácio Gonçalves, no seu livro Sepelândia, referia a valentia, a inteligência e a lealdade de António Martins e também que, tendo ele descoberto a pouca distância do acampamento um invólucro de granada, se entretinha nos momentos livres a treinar o lançamento do disco e do peso.
"Amou a sua terra. Bateu-se por ela, na decisão dos heróis sem teatralidade, jogando a vida com a calma de quem andou sempre a oferecê-la aos outros", diria o jornal 1.º de Janeiro. "Era um atleta leal, valente, de valentia que tinha tanto de nobre como de serena. Era um amigo e um camarada como nenhum. Ante o perigo ficava plácido e sereno, e pude apreciar a sua bravura e bondade" (Dr. Bossa da Veiga, seu companheiro no CEP).
Recebeu a Medalha da Vitória, a Comenda da Ordem de Cristo, com Palma, a Cruz de Guerra e, a título póstumo, o Grande Colar da Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito. E agora a medalha de Honra da Cidade de Abrantes, onde já tem um monumento e uma grande avenida com o seu nome. Tinha também um largo que, após a Revolução de Abril, passou a ser designado Largo da Liberdade.
Nessa época, o Colar da Torre e Espada, como outras condecorações, era apenas atribuído, mas tinha de ser comprado! Assim, para que o maior número de pessoas de todas as categorias sociais pudessem contribuir, foi decidido que se limitaria a um escudo. E por isso existe um livro de assinaturas, de pergaminho, em que alternam presidentes, sapateiros, ministros, capitães, cozinheiras, calceteiros, etc.,enfim todas as classes sociais.
Regressando a Portugal em julho de 1922, prescinde da dispensa que a lei lhe confere por ter estado mobilizado e defende a tese em Medicina, obtendo a nota máxima: 20 valores. De lá trouxe os mapas das trincheiras das Ardenas, onde combateu, e que eu ofereci ao Museu Militar, bem como uma excelente fotografia dos responsáveis do batalhão de assalto, o 23, e também uma comovente fotografia de um soldado regressado da guerra, ladeado pela mãe e pela mulher.
"Casa onde era chamado, palácio, mediania ou choupana, logo o interessava comovidamente, e tanto maior no doente o seu mal tanto maior a ternura daquele homem", diria o jornal O Correio de Abrantes. Tinha essa bondade e era também de um desinteresse notável pelo lado material. Conta-se que sendo o ajudante habitual do professor Francisco Gentil, discretamente e a pouco e pouco, foi-se fazendo substituir por um colega. A explicação soube-se depois: esse colega ia casar-se e precisava de dinheiro para arranjar a casa.
Mas além de persistência e procura de cumprir objetivos, não lhe faltava imaginação e modéstia: um dia, durante a I República e as suas confusões e lutas, recebeu, no banco do Hospital de São José, um marinheiro gravemente ferido, e que necessitava de intervenção cirúrgica e transfusões de sangue (nessa época feitas de braço a braço, com a utilização do chamado aparelho de Jouvelet). Não havendo mais ninguém com sangue do mesmo grupo que o do ferido, a solução que arranjou para ter os braços livres para operar foi o impensável: retirar o sangue de uma veia do pé. E isso só veio a saber-se quando, no dia seguinte, o diretor do serviço veio verificar o que se passara durante a noite.
Considerava a medicina um sacerdócio, hoje um lugar-comum, mas tantas vezes desprovido de significado íntimo, espiritual, o que não era assim com ele. Mestre Henrique de Vilhena, professor da Faculdade de Medicina mas também da Faculdade de Belas-Artes, teve como discípulo António Martins, ombreando com a famosa pintora Vieira da Silva na execução de magníficas aguarelas, hoje cuidadosamente preservadas no Museu da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Foi também membro da equipa do CIF, campeã de Portugal na estafeta de 3x400 metros planos, em 1922. "Sempre estimando o adversário como um amigo e nunca como um rival", diria Salazar Carreira, depois diretor-geral dos Desportos. "Fazendo brotar espontaneamente a simpatia e a admiração. Era um português de lei", como referiria o DN, em 3 de janeiro de 1932.
Tinha o desejo de ser em tudo melhor do que já era. Tinha objetivos definidos e não se desviava deles. Tinha o culto do pormenor na preparação para qualquer prova, tanto no desporto como na sua vida profissional. Tendo pouco tempo, fazia a barba de joelhos para treinar a difícil posição de joelhos, do tiro de carabina, e lia os livros com o braço direito estendido para treinar o tiro de pistola.
Após os treinos anotava cuidadosamente, em cadernos próprios todos os fatores que poderiam ter influído no tiro, como mudanças de luz, vento, modificações nas armas, etc. "Meticuloso, dotado de uma força de vontade inesgotável, de uma energia, de uma auto-observação e de um estudo constantes, o seu aperfeiçoamento era inevitável, seja no que for a que se dedique", referia, em 1925, a revista Os Ases do Sport.
José Pontes, presidente do COP, diria que, "mesmo que surgisse o campeão, talvez não aparecesse o homem bom, culto, correto e sempre disciplinado que era o Dr. António Martins. Símbolo do verdadeira atleta que acima de tudo prezava o nome do seu país" (Carlos Farinha, representante do COP).
Foi dez vezes recordista e 12 vezes campeão de Portugal no lançamento do disco, do peso e do dardo, salto em altura, salto em comprimento e salto em largura. Onze vezes recordista e 28 vezes campeão de Portugal com carabina de precisão, arma livre, espingarda de guerra, pistola livre, pistola de duelo, pistola de tiro rápido e pistola de guerra. Vencedor de matches latinos e nos Jogos Interaliados (Pershing), em Le Mans, Camp d"Avour (1919), em carabina e pistola livre, obtendo também depois notáveis resultados em Antuérpia (1928), Reims (1924), Sangall (1925), Roma (1927), Amesterdão (1928) e Estocolmo (1929), onde efetuou a primeira angiografia cerebral fora de Portugal, utilizando a peça que inventara e se encontra hoje no Museu Egas Moniz, no Hospital de Santa Maria. Egas Moniz dizia ser ele o melhor homem que tinha conhecido.
Obteve o primeiro lugar no campeonato do mundo de espingarda de guerra na posição de pé, em Amesterdão em 1928 (o único ano em que os Jogos Olímpicos não incluíram tiro nas modalidades utilizadas). Foi mestre atirador em todas as modalidades, quer a nível nacional quer internacional, e também o primeiro atleta português olímpico em duas modalidades distintas (tiro em 1920 e 1924 e lançamento do peso em 1924). Como resultados desportivos há ainda a referir sobretudo os alcançados na pistola automática, com o oitavo lugar na VII Olimpíada (em Antuérpia, 1920) e na pistola livre, com o nono lugar na VII Olimpíada (em Antuérpia, 1920), o sexto lugar na VIII Olimpíada (em Paris, 1024) e o sexto lugar no campeonato do mundo (em Haia, 1928).
No boletim da Federação portuguesa dizia-se, em 1926: "O presente cartão dá-nos a certeza de que o campeão de Portugal será também campeão do mundo, muito em breve" (com 274 pontos em 30 tiros, o recorde do mundo era 540 e o campeonato tinha sido ganho, nesse ano, com 515)
Sucessivamente, em 1927,1928 e 1929 foi sempre melhorando os seus próprios recordes, falecendo, por ironia do destino, em 3 de outubro de 1930, com apenas 38 anos, num estúpido acidente na carreira de tiro de Pedrouços, felizmente o único registado até hoje em Portugal no tiro desportivo, ele que era considerado o cúmulo da prudência e do cuidado e quando já se perspetivavam os Jogos de 1932, em Los Angeles.
Com os seus 96 quilos de peso e 1,89 metros de altura era sem dúvida forte. Contudo nunca usou essa força indevidamente ou abusou dela. Conta-se que durante uma refeição no hospital um colega se tornou particularmente impertinente e, como resposta, António Martins, irritado, limitou-se a dobrar um garfo de metal entre dois dedos, terminando desde logo com a impertinência.
"Republicano de princípios e respeitador de todas as crenças, cultivador da amizade, símbolo máximo da bondade e do altruísmo", referia Carlos Leal, no Setubalense. Ele compreendera que só o esforço, o querer, o bem desejar, aliados à inteligência, podem, nestes tempos de democracia, conduzir os homens aos lugares superiores. A ciência não se verga, como a política, aos empenhos e às curvaturas da espinha. "Viveu a sua existência de homem são, sabendo o que queria, e não se desviando um ápice do seu fim", como referiria a revista Ténis.
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