O povo está contra nós
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O povo está contra nós
O povo está contra nós
Em democracia, a falta de juízo e bom senso paga-se cara e já levou muitas vezes à ditadura. Se calhar é essa a estratégia...
Ricardo Costa DE
Devo confessar que estou verdadeiramente espantado com a sucessão de frases bizarras, e não tiradas do contexto, que a líder do PSD tem produzido nas últimas semanas. Qualquer pessoa que acompanha de perto a política já sabia que o interesse de Manuela Ferreira Leite em assuntos de “política geral” não é grande. Com excepção do período em que foi líder parlamentar de Marcelo Rebelo de Sousa e do sacrifício que fez quando foi ministra da Educação, Ferreira Leite sempre desenvolveu o seu trabalho político na mesma área. Ora isto não é, necessariamente, um ‘handicap’ : não há ninguém que não lhe reconheça uma enorme capacidade em tudo o que tem a ver com Finanças Públicas. E esta pasta continua a ser absolutamente vital para a governação de Portugal…
Mas a política é mais vasta que o Orçamento. Quando Jorge Sampaio criticou a “obsessão pelo défice” estava a dizer isto mesmo. Com a repetição exaustiva deste tema, o governo de Durão Barroso estava a esquecer-se de fazer política. Manuela Ferreira Leite tinha a pasta das Finanças desse governo e são muitos os ministros desse tempo que recordam a sua firmeza, vital para corrigir alguns disparates de Guterres. A sua inflexibilidade ficou célebre quando, no Verão de 2003, pôs Figueiredo Lopes à beira do choro, e lhe recusou um tostão para o combate aos fogos que assolavam o país. Mas esses ministros também recordam o seu desinteresse por tudo o que não afectava a receita ou a despesa.
Não é, assim, de espantar alguma impreparação política. Na primeira entrevista televisiva, dada a Constança Cunha e Sá, isso ficou à vista de todos. A maneira como respondeu à questão dos casamentos ‘gay’ revelou de forma cristalina que ela nunca tinha pensado no assunto. Pois bem, apesar disso ter ficado à vista de todos, a Comissão Permanente do PSD fez a única coisa que não podia ter feito: nada. Passado o período “Ferrero Rocher” (roubo o nome ao Inimigo Público), que a fez desaparecer no Verão, Ferreira Leite regressou da mesma forma. Em todas as frases ela revela um desprezo absoluto por Sócrates (é mútuo, aliás), considera-o impreparado para governar o país, e depois começa a dizer frases absolutamente impensáveis. O que disse dos polícias vai além do Manuel Monteiro das fases mais populistas. O que disse da Comunicação Social é absurdo. O que disse da ditadura é aterrador.
A minha pergunta é esta: o que é que faz a direcção do PSD? Quando olho para a lista dos nomes vejo lá muita gente que sabe de política. São eles e elas que não ajudam Ferreira Leite ou é ela que não se deixa ajudar? A frase desta semana revela a inexistência de um pensamento político. Tudo isto seria de pouca relevância se não se estivesse a onze meses de eleições e o mundo não estivesse à beira da recessão. É claro que, perante este problema, o PSD já começa a preparar-se para o único espectáculo em que bate a concorrência, a autofagia.
Pacheco Pereira e uma boa parte da elite do PSD passaram o último ano a menorizar Barack Obama porque “ele” era só retórica. Pois a retórica faz parte da política desde que o homem aprendeu a falar. No PSD alguém se esqueceu disso e acha que o que se diz, como se diz e onde se diz, é indiferente: se o povo não perceber é porque é estúpido e se é estúpido não merece ser governado pelo PSD; se os jornalistas não compreenderam são burros e se são burros não há nada a fazer; se as sondagens descem é porque estão mal feitas; se a frase foi cortada é porque houve má fé; se ninguém percebeu aquele parágrafo genial da página 3 isso deve-se à máquina de propaganda do PS; se o BPN tinha malta do PSD a mais é porque os gajos do PS levaram o banco à falência; se Manuela Ferreira Leite é perseguida é para esconder os verdadeiros problemas do país.
Um conselho: tenham juízo e bom senso. E de preferência durante mais que seis meses. Em democracia a falta de juízo e bom senso paga-se cara. Pensando melhor: em democracia, a falta desses atributos já levou muitas vezes à ditadura. Se calhar é essa a estratégia...
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Ricardo Costa, Director-geral adjunto da SIC
Em democracia, a falta de juízo e bom senso paga-se cara e já levou muitas vezes à ditadura. Se calhar é essa a estratégia...
Ricardo Costa DE
Devo confessar que estou verdadeiramente espantado com a sucessão de frases bizarras, e não tiradas do contexto, que a líder do PSD tem produzido nas últimas semanas. Qualquer pessoa que acompanha de perto a política já sabia que o interesse de Manuela Ferreira Leite em assuntos de “política geral” não é grande. Com excepção do período em que foi líder parlamentar de Marcelo Rebelo de Sousa e do sacrifício que fez quando foi ministra da Educação, Ferreira Leite sempre desenvolveu o seu trabalho político na mesma área. Ora isto não é, necessariamente, um ‘handicap’ : não há ninguém que não lhe reconheça uma enorme capacidade em tudo o que tem a ver com Finanças Públicas. E esta pasta continua a ser absolutamente vital para a governação de Portugal…
Mas a política é mais vasta que o Orçamento. Quando Jorge Sampaio criticou a “obsessão pelo défice” estava a dizer isto mesmo. Com a repetição exaustiva deste tema, o governo de Durão Barroso estava a esquecer-se de fazer política. Manuela Ferreira Leite tinha a pasta das Finanças desse governo e são muitos os ministros desse tempo que recordam a sua firmeza, vital para corrigir alguns disparates de Guterres. A sua inflexibilidade ficou célebre quando, no Verão de 2003, pôs Figueiredo Lopes à beira do choro, e lhe recusou um tostão para o combate aos fogos que assolavam o país. Mas esses ministros também recordam o seu desinteresse por tudo o que não afectava a receita ou a despesa.
Não é, assim, de espantar alguma impreparação política. Na primeira entrevista televisiva, dada a Constança Cunha e Sá, isso ficou à vista de todos. A maneira como respondeu à questão dos casamentos ‘gay’ revelou de forma cristalina que ela nunca tinha pensado no assunto. Pois bem, apesar disso ter ficado à vista de todos, a Comissão Permanente do PSD fez a única coisa que não podia ter feito: nada. Passado o período “Ferrero Rocher” (roubo o nome ao Inimigo Público), que a fez desaparecer no Verão, Ferreira Leite regressou da mesma forma. Em todas as frases ela revela um desprezo absoluto por Sócrates (é mútuo, aliás), considera-o impreparado para governar o país, e depois começa a dizer frases absolutamente impensáveis. O que disse dos polícias vai além do Manuel Monteiro das fases mais populistas. O que disse da Comunicação Social é absurdo. O que disse da ditadura é aterrador.
A minha pergunta é esta: o que é que faz a direcção do PSD? Quando olho para a lista dos nomes vejo lá muita gente que sabe de política. São eles e elas que não ajudam Ferreira Leite ou é ela que não se deixa ajudar? A frase desta semana revela a inexistência de um pensamento político. Tudo isto seria de pouca relevância se não se estivesse a onze meses de eleições e o mundo não estivesse à beira da recessão. É claro que, perante este problema, o PSD já começa a preparar-se para o único espectáculo em que bate a concorrência, a autofagia.
Pacheco Pereira e uma boa parte da elite do PSD passaram o último ano a menorizar Barack Obama porque “ele” era só retórica. Pois a retórica faz parte da política desde que o homem aprendeu a falar. No PSD alguém se esqueceu disso e acha que o que se diz, como se diz e onde se diz, é indiferente: se o povo não perceber é porque é estúpido e se é estúpido não merece ser governado pelo PSD; se os jornalistas não compreenderam são burros e se são burros não há nada a fazer; se as sondagens descem é porque estão mal feitas; se a frase foi cortada é porque houve má fé; se ninguém percebeu aquele parágrafo genial da página 3 isso deve-se à máquina de propaganda do PS; se o BPN tinha malta do PSD a mais é porque os gajos do PS levaram o banco à falência; se Manuela Ferreira Leite é perseguida é para esconder os verdadeiros problemas do país.
Um conselho: tenham juízo e bom senso. E de preferência durante mais que seis meses. Em democracia a falta de juízo e bom senso paga-se cara. Pensando melhor: em democracia, a falta desses atributos já levou muitas vezes à ditadura. Se calhar é essa a estratégia...
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