NAVEGADORES RUSSOS E IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS - 2 (j.MilhaZES
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NAVEGADORES RUSSOS E IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS - 2 (j.MilhaZES
NAVEGADORES RUSSOS E IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS - 2
Dmitri Seniavin
… O navegador russo assinala um pormenor curioso: «O chefe da guarnição, quando da nossa passagem, era descendente do glorioso Vasco da Gama. Desde que foram aquarteladas aqui tropas que elas, por decisão do governo, são comandadas por um dos membros dessa gloriosa família. Em 1785, ano em que aqui esteve Laperuz, o comandante das tropas era António da Gama»3. Depois de visitarem e explorarem as costas da América do Sul, o Pacífico e os territórios russos no Extremo Oriente, os navios russos passaram por Macau, tendo Kruzenshtern registado importantes aspectos da organização política, comercial e social da colónia portuguesa. Ele ficou surpreendido com a difícil situação dos portugueses face às autoridades chinesas. O almirante russo escreveu: «A situação dos portugueses em Macau é extrema mente delicada, tanto mais difícil é a situação do governador por ter contactos frequentes com o Governo Chinês. Embora os governadores se comportem com extremo cuidado, acont ecem por vezes casos em que eles, sem a perda extrema de respeito para com a sua nação, pouco respeitada também agora pelos chineses, não ousam aceitar as suas exi gências»4. Segundo ele, «se em Macau mandassem os ingleses ou espanhóis, rapidamente poriam fim a essa vergonhosa dependência dos chineses. Essas nações, tendo nas suas mãos importantes países perto da China, poderiam, em Macau, oferecer resistência à força de todo o Estado Chinês»5. Notas importantes sobre as colónias portuguesas do Brasil e de Macau estão contidas no livro «Viagem de circum-navegação no navio Neva em 1803-1806», escrito pelo almirante Iúri Lissianski, que comandava o segundo barco da expedição de Kruzenshtern6. É também de assinalar «Cartas de marinheiros russos do Brasil para o Sr. N. N.», escritas pelo oficial Makar Ratmanov7. Entre 1807 e 1809, o veleiro «Diana», sob o comando do tenente Vassili Golovnin, realizou mais uma viagem à volta do mundo, tendo o oficial russo publicado o diário de bordo com informações interessantes sobre o Brasil8. Mas voltaremos mais abaixo a este oficial da marinha russa, durante a sua segunda viagem, quando passa pelos Açores.
As viagens de circum-navegação iriam continuar após as guerras napoleónicas e, antes de regressarmos a elas, iremos concentrar a atenção num episódio curioso ocorrido durante as invasões francesas da Península Ibérica. A 3 de Novembro de 1807, a esquadra do almirante russo Dmitri Seniavin, que regressava do Medi terâneo onde tinha infligido uma pesada derrota à Armada turca, entrou na foz do Tejo para fugir a uma forte tempestade no mar, mas ficou aí retida durante quase um ano devido à tempestuosa situação internacional. A 7 de Julho desse ano, a Rússia e a França de Napoleão tinham assinado um Tratado de Paz e Amizade em Tilzit e a Corte de São Petersburgo rompera as relações diplomáticas com Londres. A 17 de Novembro, depois da fuga da família real portuguesa para o Brasil e da ocupação do país pelas tropas francesas, a armada inglesa fechou a barra do Tejo não só aos navios franceses, mas também aos dos aliados de Paris9. O almirante Seniavin viu-se numa situação muito complicada. Por um lado, não podia deixar de cumprir as ordens do czar Alexandre I, mas, por outro lado, as suas simpatias estavam do lado dos ingleses. O historiador soviético Evgueni Tarle escreveu a propósito: «Era necessário ou salvar a esquadra russa da morte inevitável, desobedecer à vontade dos dois imperadores aliados e ser sujeito ao tribunal militar, ou sujeitar-se incondicionalmente à ordem do czar e transformar-se numa arma obediente, cega dos interesses e considerações do imperador francês e do seu representante, general Junot»10. Mas o almirante Seniavin cumprir essa difícil tarefa. Ele compreendeu rapidamente que o general Junot, que havia ocupado Portugal, iria tentar de todas as formas cumprir a vontade de Napoleão, ou seja, provocar a guerra entre a Rússia e Inglaterra pelas mãos do comandante da esquadra russa. Mas o facto é que, não obstante o corte de relações com Londres, o czar Alexandre não pretendia, na realidade, entrar em conflito aberto com os ingleses. Dmitri Seniavin escreveu ao seu comandante supremo depois do primeiro encontro com Junot: «Consegui compreender de algumas palavras por ele ditas que o governo francês não quer perder a oportunidade que lhe dá a permanência da esquadra de Vossa Alteza aqui, para aumentar as dúvidas do governo inglês sobre as intenções de Vossa Majestade Imperial, e numerosos dos oficiais navais franceses que se encontram aqui dizem abertamente que serão nomeados para a esquadra que me foi confiada para o lugar dos oficiais de origem inglesa»11. Alexandre I tarda em enviar instruções, mas Seniavin continua a sua política de evitar o envolvimento dos seus barcos e homens no confronto anglo-francês, o que irrita fortemente o imperador gaulês. Napoleão tenta fazer com que o almirante deixe de… (continua)
2 Ibidem, p. 61.
3 Ibidem, p. 62.2 Ibidem, p. 61.
4 Ibidem, p. 451.
5 Ibidem, p. 460.
6 Юрий Фёдорович, Лисянский. «Путешествие вокруг света на корабле «Нева» в 1803-1806 годах». ОГИЗ, Государственное издательство географической литературы, М., 1947 г. (LISSIANSKI, Fiodor – Viagem de circum-navegação no navio «Neva» em 1803-1806. Ed. OGIZ, M. 1947).
7Ратманов, Макар Иванович. « Письма Рускихъ путешественниковъ изъ Бразиліи къ Госп. N. N.». In: «Вестник Европы». Ч. XVI, n.º 15, 1804. (RATMANOV, Mikhail – Cartas de marinheiros russos do Brasil para o Sr. N. N. In Vestnik Evropi. Parte XVI, n.º 15, 1804).
8 Головнин, Василий Михайлович. «Сочинения». Изд-во Главморпути, M-Л : 1949 г. (GOLOVNIN, V. M. – Obras. M-L. Editora Glavmorputi, 1949).
9Протопов, А. С., Козменко, В. М., Елманова, Н. С. «История международных отношения и Внешная Политика России» (1648-2000). M., 2001г., c. 64-74 (PROTOPOV, A. S.; KOZMENKO, V. M.; ELMANO-VA, N. S. – História das Relações Internacionais e da Política Externa da Rússia (1648-2000). M., 2001, p. 64-74.
10Тарле Евгений Викторович, Соч.: Соч., т. 1-12, М., 1957-62 г. Т. X, c. 329 (TARLE, E. – Obras em 12 volumes. Vol. 10, p. 329).
11Российский Государственный архив Военно-морского флота (РГАВМФ). Ф. Департамент Министерства Флота для эскадри Сенявина, д. 579, л. 15-19 (Arquivo Central Estatal da Frota Militar (ACEFM), f. Departamento do Ministério
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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