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Geração E O pénis não é a personagem principal do prazer heterossexual: pelo fim da categorização de orgasmos

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Mensagem por Vitor mango Ter Abr 09, 2024 1:33 am

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Geração E
O pénis não é a personagem principal do prazer heterossexual: pelo fim da categorização de orgasmos
  Geração E O pénis não é a personagem principal do prazer heterossexual: pelo fim da categorização de orgasmos Mw-320
Clara Não
Ilustradora, ativista, autora
Os homens seriam muito mais livres se não fossem obcecados com o tamanho do seu pénis e as mulheres teriam muito mais prazer se vivessem a sua sexualidade livremente, sabendo como o seu corpo funciona


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Há uma hora

Um nota introdutória

Há uma ideia comum muito limitada de que sexo entre homem e mulher (cis) só é mesmo sexo se houver penetração. Esta crença é tão grande, que até em contexto médico é genericamente considerado que uma mulher inicia a sua vida sexual quando é penetrada por um pénis. Nunca vi uma noção de iniciação tão passiva. Até porque, isso faria de mulheres lésbicas, que nunca tiveram sexualmente com um homem, as eternas virgens. Para além da virgindade ser um conceito criado pela sociedade, como mulher bisssexual posso dizer que há muito mais sexo para lá de um pénis do que com um pénis. Isto é válido na intimidade sexual com pessoas com e sem pénis.
Com certeza é mais profícuo passarmos mais tempo a conhecer o nosso próprio corpo do que a categorizar o que é sexo e o que não é.

A pressão de chegar ao orgasmo

Não há dúvida que existe um orgasm gap entre homens e mulheres (cis) numa relação heterossexual, no contexto de sexo penetrativo. E porquê? Porque continua a haver uma centralização do papel do pénis na relação sexual. Enquanto por um lado eu percebo a sensação de gostar da penetração, por poder haver uma sensação de ligação corporal mais íntima com o parceiro, por outro há excitações muito mais eficazes na obtenção de prazer de quem tem vulva. Além disso, nunca esquecer que, para haver essa penetração não é preciso um pénis, pode ser uma mão ou um vibrador que se assemelhe à forma peniana.
Sobre esta possível sensação de maior intimidade quando há penetração, Vânia Beliz, em entrevista, afirma que várias mulheres lhe relataram — no seu estudo sobre masturbação — que chegam mais rapidamente ao orgasmo com sexo oral, mas sentem falta da penetração, no sentido de intimidade com o parceiro.
Dito isto, importa, ainda, realçar que há muito mais intimidade e prazer sexual para lá do orgasmo ou da penetração. Como escreve Lisa Vicente no seu livro “Atlas V”, sobre o modelo de resposta sexual de Rosemary Basson, “a satisfação sexual pode ser sentida com ou sem orgasmo”.
A intimidade sexual não precisa de um guião que tem sempre como objetivo final o orgasmo. O objetivo deve ser o prazer sexual entre duas pessoas, totalmente presentes no momento, a usufruir da comunhão dos corpos. Quando há a pressão de chegar ao orgasmo, muitas vezes tal é contraproducente. Racionalizar o ambiente de intimidade durante o sexo não facilita o orgasmo, pelo contrário.

Mas e a diferença entre orgasmo clitoriano e orgasmo vaginal? Menos categorização errónea e mais prazer, por favor

Acho que por esta altura já todas as pessoas adultas, alguma vez na vida, leram algo sobre os “diferentes tipos de orgasmo”, havendo uma distinção entre orgasmo clitoriano e vaginal. Na verdade, há pessoas que conseguem atingir o orgasmo até sem toque, ou com excitação de partes de corpo que não os genitais, como, por exemplo, lóbulos de orelhas e mamilos. Mas, se há uma coisa que é mito é o orgasmo puramente vaginal. Antes de me dizerem “ah, mas eu sinto”, continuem a ler, porque eu acredito em vocês, simplesmente acontece de outra forma…
Já em 1966, numa pesquisa que culminou num ciclo de resposta sexual que agora sabemos simplificado, mas relevante na chamada de atenção para o possível estudo mais aprofundado da resposta sexual, William Masters e Virginia Johnson conseguiram afirmar o papel crucial do clítoris no prazer (em “Tomorrow sex will be good again”, K. Angel, pág. 45), para além da intrínseca ligação entre a ação do clítoris e da vagina na resposta sexual. Hoje sabemos que a resposta sexual é bem mais interessante do que esta primeira proposta. Como explana de forma clara a Dra. Lisa Vicente (pág.86, 87), “durante a excitação sexual, há um progressivo aumento do influxo de sangue nos tecidos perivaginais e do clitóris”, fazendo com que haja um aumento dos lábios externos e lubrificação. Segue-se uma ereção do clítoris (homólogo ao pénis), “mais ou menos evidente, conforme a anatomia do clítoris.” Aquando a resposta sexual, “os músculos do diafragma urogenital contraem-se e produzem tensão sobre os bulbos do clítoris”, havendo, então, congestão vascular na zona. Ora, este fenómeno comprime o corpo do clítoris contra a parede anterior da vagina. Desta forma, o “orgamo clitoriano” e o “orgasmo vaginal”, na verdade são o mesmo, pois o clítoris estimula a vagina e o que é estimulado na penetração que origina o orgasmo é, na mesma, o clítoris. A ginecologista-obstetra realça, ainda, que o processo corporal do orgasmo não é só físico, mas também mental.
Sobre a sensibilidade ou não da vagina, Buisson e Foldés (2009), como citado por Lisa Vicente, falam do “complexo uretra-clítoris-vagina”, cuja contração contribui para perceber a razão pela qual a parede anterior da vagina pode ser “mais estimulável”. Para percebermos qual é esta “parede anterior”, Vânia Beliz relata um paralelismo muito eficaz: quando inserimos um tampão ou o copo de recolha menstrual e “não o pomos para cima o suficiente” causa incómodo. Ora, é esse primeiro terço da entrada vaginal que tem terminações nervosas relevantes para a estimulação sexual.
Esta contração que permite a estimulação através da vagina acontece porque o clítoris é muito maior do que a pontinha exterior que se vê na vulva. (Convém relembrar que a vagina é só mesmo o canal vaginal, enquanto o genital completo exterior, que inclui a entrada vaginal, é chamada de vulva). Vejamos a seguinte ilustração do clítoris:
  Geração E O pénis não é a personagem principal do prazer heterossexual: pelo fim da categorização de orgasmos Original
Ilustração do clítoris completo, feita por Clara Não, originalmente realizada para uma campanha com a Saugella

É o abraço que os bulbos do clitóris dão ao canal vaginal durante a resposta sexual que torna possíveis os chamados “orgasmos vaginais”. Na verdade, não há orgasmo com penetração vaginal sem a intervenção do clítoris. Assim, não há “orgasmos vaginais” e “orgasmos clitorianos”. Mais ainda, importa perceber que não é importante classificar orgasmos, mas sim vivenciar a sexualidade com prazer, de forma segura, e sem culpa, sem um guião concebido com um único fim possível.

Aumento de pénis

Tendo em conta que a zona mais estimulável da vagina é o seu primeiro terço, graças ao abraço do clítoris, penso que não será difícil perceber que um pénis maior não é equivalente, necessariamente, a sexo penetrativo mais prazeroso para a mulher. Pelo contrário, pénis grandes podem criar desconforto e limitar as posições confortáveis para a penetração. Mais ainda, como realça Vânia Beliz, um pénis maior requer mais sangue para a ereção, sendo esta, possivelmente, mais dificultada. Mais vale um pénis menor ereto, do que um maior flácido. (Isto poderia ser um ditado popular de empoderamento sexual peniano).
Mesmo assim, a sexóloga afirma, tendo em conta a sua vasta experiência clínica de sexologia, que “eles querem ser sempre maiores”. No entanto, essa nunca é a resposta para um maior prazer sexual. Atualmente, não existe modo saudável e seguro de aumentar o tamanho do pénis, sejam cirurgias ou procedimentos. Inclusive, a panóplia de procedimentos disponíveis (sempre duvidosos) podem mesmo acabar em impotência. Em vez de pesquisas insanas e medicamentos ditos milagrosos, procurem antes apoio em sexologia. E, havendo qualquer desconforto com um pénis, é ao consultório médico que devem ir, não ao Google.

Uma nota conclusiva

Os homens seriam muito mais livres se não fossem obcecados com o tamanho do seu pénis e as mulheres teriam muito mais prazer se vivessem a sua sexualidade livremente, sabendo como o seu corpo funciona.
Concluindo, o pénis não é a personagem principal do prazer heterossexual, mas sim a comunhão dos corpos num todo. Esta frase parece o fim de uma homilia sexual, se houvessem homilias sexuais.


Bibliografia e agradecimento:

O Atlas da V — um guia claro, directo e ilustrador do mundo feminino e não só, de Lisa Vicente.
Tomorrow sex will be good again — women and desire in the age of consent, de Katherine Angel.
Artigo no The Guardian “The orgasm gap – and how to close it: ‘Don’t equate sex and penetration’“, de Zoe Williams
Lisa Vicente entrevistada por Bernardo Mendonça, no podcast A Beleza das Pequenas Coisas.
Episódio do podcast “Um Género de Conversa”, de Paula Cosme Pinto e Patrícia Reis, com Vânia Beliz.
Um agradecimento especial à sexóloga Vânia Beliz, pelo conhecimento de campo na matéria e pelas conversas esclarecedoras. Qualquer dúvida que tenham, por mais totó que vos possa parecer, podem enviar para a Vânia. Saibam como neste link.

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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Vitor mango
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