Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Capitalismo versão 3.0

Ir para baixo

Capitalismo versão 3.0 Empty Capitalismo versão 3.0

Mensagem por Viriato Sex Fev 20, 2009 2:49 am

Dani Rodrik

Em breve: Capitalismo 3.0

©️ Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org


Cambridge - O capitalismo está a sofrer uma das suas crises mais severas em muitas décadas. Uma combinação de recessão profunda, de desarticulações económicas globais, e de nacionalizações efectivas de largas faixas do sector financeiro em economias avançadas perturbou profundamente o equilíbrio entre os mercados e os Estados. Onde vai ocorrer o novo equilíbrio é a pergunta que todos fazem.

Aqueles que prevêem a morte do capitalismo têm que lidar com um facto historicamente importante: o capitalismo tem uma capacidade quase ilimitada de se reinventar. De facto, a sua maleabilidade é a razão que lhe permitiu ultrapassar períodos de crise ao longo dos séculos e sobreviver às críticas desde Karl Marx. A verdadeira pergunta não é se o capitalismo consegue sobreviver - consegue - mas sim se os líderes mundiais vão demonstrar a liderança necessária para o levar à sua próxima fase, à medida que emergimos do actual dilema.

O capitalismo não tem igual no que toca a desencadear as energias económicas colectivas das sociedades humanas. É por essa razão que todas as sociedades prósperas são capitalistas no sentido lato do termo: estão organizadas em torno da propriedade privada e permitem ao mercado desempenhar um papel importante na afectação de recursos e na determinação das recompensas económicas. A questão é que nem os direitos de propriedade, nem os mercados, podem funcionar sozinhos. Precisam do apoio de outras instituições sociais.

Assim, os direitos de propriedade dependem dos tribunais e do cumprimento legal, e os mercados dependem dos reguladores para controlarem os abusos e corrigirem as falhas do mercado. Ao nível político, o capitalismo requer mecanismos de transferência e compensação que tornem os seus resultados aceitáveis. Como a actual crise voltou a demonstrar, o capitalismo necessita de mecanismos de estabilização, como empréstimos de emergência e políticas orçamentais anticíclicas. Por outras palavras, o capitalismo não é auto-criador, auto-sustentável, auto-regulador ou auto-estabilizador.

A história do capitalismo tem sido um processo de aprendizagem e reaprendizagem destas lições. A sociedade de mercado idealizada por Adam Smith requer um pouco mais que um "guarda-nocturno estatal". Tudo o que os governos precisavam de fazer para garantir a divisão do trabalho era fazer respeitar os direitos de propriedade, manter a paz, e cobrar alguns impostos para pagar uma gama limitada de bens públicos.

Durante o início do século XX, o capitalismo era governado por uma visão limitada do que as instituições públicas precisavam de fazer para o defender. Na prática, o alcance dos governos foi, muitas vezes, além desta concepção - como, por exemplo, a introdução das pensões de reforma por Bismarck, na Alemanha, em 1889. Mas os governos continuaram a ver o seu papel em termos restritos.

Isto começou a mudar à medida que as sociedades se tornaram mais democráticas e os sindicatos e outros grupos se mobilizaram contra os abusos do capitalismo. As políticas anticoncorrenciais começaram a aparecer nos Estados Unidos. A utilidade das políticas monetárias e orçamentais activas tornou-se amplamente aceite na sequência da Grande Depressão.
A percentagem de gastos públicos no rendimento nacional cresceu rapidamente nos actuais países industrializados. De uma média inferior a 10%, no final do século XIX, para mais de 20% antes da Segunda Guerra Mundial. E, no período pós-Segunda Guerra Mundial, a maioria dos países lançaram políticas sociais elaboradas em que o sector público cresceu, em média, para mais de 40% do rendimento nacional.

Este modelo de "economia-mista" foi o feito supremo do século XX. O novo equilíbrio que se estabeleceu entre o Estado e o mercado criou as condições para um período sem precedentes de coesão social, estabilidade e prosperidade nas economias avançadas que durou até meados dos anos 70. Este modelo começou a ficar gasto a partir dos anos 80, e agora parece ter-se quebrado. A razão pode ser expressa numa palavra: globalização.

A economia mista do pós-guerra foi construída e gerida ao nível dos Estados-Nações, e precisava de manter à distância a economia internacional. O regime Bretton Woods-GATT implicava uma forma "superficial" de integração económica internacional que exigia o controlo das entradas de capitais internacionais, que Keynes e os seus contemporâneos consideravam crucial para gestão da economia doméstica.

Aos países era exigido que assumissem apenas uma liberalização comercial limitada, com muitas excepções em sectores socialmente sensíveis (agricultura, têxteis e serviços). Isto deixou-os livres para construírem as suas próprias versões do capitalismo nacional, desde que obedecessem a poucas e simples regras internacionais.

A actual crise mostra o quão longe nos afastamos deste modelo. A globalização financeira, em particular, lançou a confusão com as antigas regras. Quando o capitalismo chinês se encontrou com o capitalismo americano, com poucas válvulas de segurança a funcionar, deu origem a uma mistura explosiva.

Não existiram mecanismos de protecção para impedir que o excesso de liquidez global se desenvolvesse, o que, em combinação com as falhas das autoridades reguladoras norte-americanas, acabou por produzir um espectacular "boom" e "crash" imobiliário. Nem existiram nenhumas barreiras internacionais que impedissem esta crise de se espalhar a partir deste epicentro.

A lição não é que o capitalismo está morto. É que precisamos de o reinventar para um novo século em que as forças da economia globalizada são muito mais poderosas do que antes. Tal como o capitalismo minimalista de Smith foi transformado na economia mista de Keynes, precisamos de considerar a transição da versão nacional da economia mista para a equivalente global.

Isto significa imaginar um melhor equilíbrio entre os mercados e as suas instituições de apoio a um nível global. Por vezes, vai exigir o alargamento das instituições para fora das nações e o reforço da regulamentação global. Outras vezes, vai significar prevenir que os mercados se expandam além do alcance das instituições que devem permanecer nacionais. A abordagem correcta vai diferir de país para país, de acordo com as suas preocupações específicas.
Desenhar o próximo capitalismo não vai ser fácil. Mas temos a história do nosso lado: a graça salvadora do capitalismo é que ele é quase infinitamente maleável.

©️ Project Syndicate, 2008.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques


Não subscrevo. Mas reconheço que é uma abordagem curiosa...
Viriato
Viriato

Pontos : 16657

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos