Desertor sudanês diz que recebia ordens para estuprar meninas
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Desertor sudanês diz que recebia ordens para estuprar meninas
Desertor sudanês diz que recebia ordens para estuprar meninas
Ex-integrante das Forças Armadas conta história de abusos durante ataques em Darfur; mais de 300 mil morreram
CARTUM - Khalid (não é o seu verdadeiro nome), um homem educado e de fala suave de Darfur, parece relutante em conversar sobre o passado. O motivo fica claro logo. "As ordens que nos deram eram para queimar totalmente os vilarejos", diz o ex-soldado. "Nós tivemos até que colocar veneno na água dos poços. Nós também recebemos ordens para matar todas as mulheres e estuprar meninas com menos de 13 e 14 anos."
Khalid, um negro africano, conta que foi recrutado à força pelo Exército sudanês do presidente Omar Al-Bashir no final de 2002. Ele vivia com vários outros homens originários da mesma região que foram levados para o quartel de seu regimento perto da cidade de Fasher, no noroeste de Darfur.
O desertor admite que participou de sete ataques diferentes a vilarejos em Darfur com a ajuda da milícia Janjaweed. O primeiro foi na área de Korma, em dezembro de 2002, meses antes de o conflito em Darfur ter começado oficialmente.
Khalid diz que relutou muito em colocar em prática as ordens que recebeu. "Quando eles me pediram para estuprar uma menina, eu fiquei parado na frente dela", diz o sudanês. "Vieram-me lágrimas aos olhos. Eles disseram: 'Você tem que estuprá-la. Se você não fizer isso, vamos bater em você'. Eu hesitei e eles me golpearam com a ponta do fuzil."
"Mas quando eu me aproximei da menina, eu não consegui", afirma. "Eu a levei para um canto, deitei sobre ela como se estivesse estuprando durante dez ou 15 minutos". "Depois, eu me levantei e fui embora. Eles perguntaram: 'Você a estuprou?' Eu disse: 'Sim.'"
Castigo
Khalid contou que, logo depois disso, ele e outros soldados voltaram para a base. Quando eles chegaram lá, ele recebeu a ordem de participar de outra patrulha imediatamente. Khalid se recusou a fazer isso, apanhou e foi torturado. O sudanês sofreu queimaduras nas costas e nas pernas.
Khalid passou cinco semanas em um hospital militar por causa dos ferimentos, mas diz que não demorou muito para que chegasse uma ordem para que participasse de outros ataques brutais a vilarejos em Darfur. Eu perguntei a ele que instruções recebeu em relação a civis desarmados que não resistiam a ataques. "Eles nos disseram para não deixarmos ninguém (para trás), para matar todos."
"Até as crianças, se deixadas nas cabanas, tínhamos que matá-las", contou o desertor. "As pessoas choravam, corriam de suas cabanas. Várias não podiam levar todas as crianças. Se possuíam mais de duas, tinham que deixá-las para trás. Se você as visse, teria que atirar para matar."
Khalid insiste que sempre atirou por cima das cabeças de civis e que não matou ninguém, apesar das ordens que recebeu. Ele afirma que conseguia fazer isso sem que seus colegas percebessem, mas admite que não podia evitar cumprir as ordens de incendiar as casas das pessoas.
O conflito de seis anos gerou mais de 2 milhões de refugiados. "Eu fiz parte disso", ele admite. "Eles me forçaram, não tive escolha. Se você não fizesse, eles te matavam". "Dois dos meus colegas se recusaram e foram baleados e mortos", acrescenta.
Crianças
Eu perguntei a ele como os oficiais sudaneses justificavam matar civis não armados a sangue frio. Como eles explicavam a necessidade de massacrar mulheres, bebês e crianças? Ele respondeu: "Eles diziam que eram essas pessoas que levavam comida e água para os rebeldes. E diziam que se matássemos essas pessoas e incendiássemos suas casas, os rebeldes não teriam suprimentos e seriam obrigados a se mudar para países vizinhos."
Khalid, que em alguns momentos parecia estar perto de chorar, desertou do Exército em 2003 e deixou o país. Ele fala que talvez jamais seja capaz de retornar agora que resolveu contar sua história.
Mas eu pergunto se, caso ele volte, algum dia será perdoado por sua gente por participar desses ataques, mesmo que tenha sido forçado a fazê-lo. "Até agora, eles não teriam como saber que eu participei", conta. "Eles só saberão que eu me tornei um soldado, mas não que papel eu tive no conflito. Nem minha família sabe onde estou."
Nos últimos seis anos, estima-se que cerca de 300 mil pessoas tenham sido mortas no conflito em Darfur, e outras 2,5 milhões foram forçadas a deixar suas casas. O presidente Omar Al-Bashir e o governo sudanês sempre negaram que o Exército do país tivesse cometido atrocidades na região ou contratado a milícia Janjaweed.
Eles repetiram essa declaração de maneira firme quando o promotor-chefe do Tribunal Penal Internernacional, Luis Moreno Ocampo, anunciou que estava pedindo um mandado de prisão para o presidente, no ano passado.
Mas um Khalid bastante nervoso, com medo que oficiais do tribunal possam estar atrás dele em breve, diz que não tem dúvidas sobre quem é o responsável pelo sofrimento em Darfur. "Omar Al-Bashir é o responsável", afirma.
"Ele é o primeiro responsável pelo genocídio, pela matança das crianças, por tudo. Ele nunca deveria dizer que não matou e que não sabe". "Se você é o chefe do país, então se torna responsável por quaisquer crimes cometidos por seus soldados. Bashir fez todas essas coisas", completou.
BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
Ex-integrante das Forças Armadas conta história de abusos durante ataques em Darfur; mais de 300 mil morreram
CARTUM - Khalid (não é o seu verdadeiro nome), um homem educado e de fala suave de Darfur, parece relutante em conversar sobre o passado. O motivo fica claro logo. "As ordens que nos deram eram para queimar totalmente os vilarejos", diz o ex-soldado. "Nós tivemos até que colocar veneno na água dos poços. Nós também recebemos ordens para matar todas as mulheres e estuprar meninas com menos de 13 e 14 anos."
Khalid, um negro africano, conta que foi recrutado à força pelo Exército sudanês do presidente Omar Al-Bashir no final de 2002. Ele vivia com vários outros homens originários da mesma região que foram levados para o quartel de seu regimento perto da cidade de Fasher, no noroeste de Darfur.
O desertor admite que participou de sete ataques diferentes a vilarejos em Darfur com a ajuda da milícia Janjaweed. O primeiro foi na área de Korma, em dezembro de 2002, meses antes de o conflito em Darfur ter começado oficialmente.
Khalid diz que relutou muito em colocar em prática as ordens que recebeu. "Quando eles me pediram para estuprar uma menina, eu fiquei parado na frente dela", diz o sudanês. "Vieram-me lágrimas aos olhos. Eles disseram: 'Você tem que estuprá-la. Se você não fizer isso, vamos bater em você'. Eu hesitei e eles me golpearam com a ponta do fuzil."
"Mas quando eu me aproximei da menina, eu não consegui", afirma. "Eu a levei para um canto, deitei sobre ela como se estivesse estuprando durante dez ou 15 minutos". "Depois, eu me levantei e fui embora. Eles perguntaram: 'Você a estuprou?' Eu disse: 'Sim.'"
Castigo
Khalid contou que, logo depois disso, ele e outros soldados voltaram para a base. Quando eles chegaram lá, ele recebeu a ordem de participar de outra patrulha imediatamente. Khalid se recusou a fazer isso, apanhou e foi torturado. O sudanês sofreu queimaduras nas costas e nas pernas.
Khalid passou cinco semanas em um hospital militar por causa dos ferimentos, mas diz que não demorou muito para que chegasse uma ordem para que participasse de outros ataques brutais a vilarejos em Darfur. Eu perguntei a ele que instruções recebeu em relação a civis desarmados que não resistiam a ataques. "Eles nos disseram para não deixarmos ninguém (para trás), para matar todos."
"Até as crianças, se deixadas nas cabanas, tínhamos que matá-las", contou o desertor. "As pessoas choravam, corriam de suas cabanas. Várias não podiam levar todas as crianças. Se possuíam mais de duas, tinham que deixá-las para trás. Se você as visse, teria que atirar para matar."
Khalid insiste que sempre atirou por cima das cabeças de civis e que não matou ninguém, apesar das ordens que recebeu. Ele afirma que conseguia fazer isso sem que seus colegas percebessem, mas admite que não podia evitar cumprir as ordens de incendiar as casas das pessoas.
O conflito de seis anos gerou mais de 2 milhões de refugiados. "Eu fiz parte disso", ele admite. "Eles me forçaram, não tive escolha. Se você não fizesse, eles te matavam". "Dois dos meus colegas se recusaram e foram baleados e mortos", acrescenta.
Crianças
Eu perguntei a ele como os oficiais sudaneses justificavam matar civis não armados a sangue frio. Como eles explicavam a necessidade de massacrar mulheres, bebês e crianças? Ele respondeu: "Eles diziam que eram essas pessoas que levavam comida e água para os rebeldes. E diziam que se matássemos essas pessoas e incendiássemos suas casas, os rebeldes não teriam suprimentos e seriam obrigados a se mudar para países vizinhos."
Khalid, que em alguns momentos parecia estar perto de chorar, desertou do Exército em 2003 e deixou o país. Ele fala que talvez jamais seja capaz de retornar agora que resolveu contar sua história.
Mas eu pergunto se, caso ele volte, algum dia será perdoado por sua gente por participar desses ataques, mesmo que tenha sido forçado a fazê-lo. "Até agora, eles não teriam como saber que eu participei", conta. "Eles só saberão que eu me tornei um soldado, mas não que papel eu tive no conflito. Nem minha família sabe onde estou."
Nos últimos seis anos, estima-se que cerca de 300 mil pessoas tenham sido mortas no conflito em Darfur, e outras 2,5 milhões foram forçadas a deixar suas casas. O presidente Omar Al-Bashir e o governo sudanês sempre negaram que o Exército do país tivesse cometido atrocidades na região ou contratado a milícia Janjaweed.
Eles repetiram essa declaração de maneira firme quando o promotor-chefe do Tribunal Penal Internernacional, Luis Moreno Ocampo, anunciou que estava pedindo um mandado de prisão para o presidente, no ano passado.
Mas um Khalid bastante nervoso, com medo que oficiais do tribunal possam estar atrás dele em breve, diz que não tem dúvidas sobre quem é o responsável pelo sofrimento em Darfur. "Omar Al-Bashir é o responsável", afirma.
"Ele é o primeiro responsável pelo genocídio, pela matança das crianças, por tudo. Ele nunca deveria dizer que não matou e que não sabe". "Se você é o chefe do país, então se torna responsável por quaisquer crimes cometidos por seus soldados. Bashir fez todas essas coisas", completou.
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