A outra invasão do Iraque Publicado na Segunda-Feira, dia 23 de Março de 2009, por Paulo Casaca ...in a União
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A outra invasão do Iraque Publicado na Segunda-Feira, dia 23 de Março de 2009, por Paulo Casaca ...in a União
A outra invasão do Iraque
Publicado na Segunda-Feira, dia 23 de Março de 2009, por Paulo Casaca
Misto de roteiro autobiográfico de viagens pelo Médio Oriente, de reportagem e de doutrina política internacional, o livro "A outra invasão do Iraque", agora lançado em língua portuguesa pela Editorial Presença, é um testemunho pessoal, frontal, cheio de convicção e de paixão sobre um dos maiores desafios do mundo contemporâneo: o da libertação do Grande Médio Oriente das ideologias totalitárias.
Tendo por base aquilo que a história irá provavelmente registar como a mais desastrosa das intervenções militares da nossa era, o livro mostra como atrás da incompetência; das ideologias que substituem o conhecimento; e das negociações e interesses inconfessáveis se escondeu a manipulação pelo fanatismo religioso mais "orgânico" da nossa era, ou seja, aquele que soube transformar uma ideologia reaccionária num instrumento de poder e de conquista à escala global.
Este livro desafia os dogmas estabelecidos na base do preconceito e do politicamente correcto, com os resultados de uma reflexão feita da experiência no terreno e do estudo das principais obras sobre a matéria.
Por detrás de uma intervenção militar que desencadeou uma revolução islâmica trazendo destruição e morte numa enorme escala, o livro descobre o cansaço dos povos da região com a manipulação do nacionalismo – e mais do que dele, da religião – pelo totalitarismo político e, por outro lado, o profundo desejo de liberdade, desenvolvimento e a aplicação de princípios democráticos nos seus países.
Com o 11 de Setembro, o Ocidente parece ter finalmente compreendido que a lógica de declarar o Grande Médio Oriente como zona de exclusão de experiências democráticas, a fim de evitar instabilidade no poder político e, portanto, no acesso ao petróleo e ao gás, tinha contribuído para a criação de um monstro. Um monstro que demonstrou nesse dia a sua capacidade destrutiva.
Renasceu assim a ideia de trazer a democracia à região, ideia que, em si, me parecia e continua a parecer acertada, mas que requer muita e muita coisa, a começar pelo conhecimento da realidade. O desconhecimento da língua árabe entre as elites ocidentais, por exemplo, foi reconhecido como um dos problemas maiores, a continuar pela incapacidade de controlo da infiltração dos ideólogos do fanatismo nos mecanismos ocidentais de decisão e a acabar na incapacidade de entendimento com os aliados na região.
A invasão do Iraque, claramente desadequada dos fins anunciados, trouxe para os comandos daquele país o mais estratégico inimigo de qualquer forma de democracia: o fanatismo religioso. A invasão serviu para reforçar o poder dos inimigos dos valores em nome dos quais se fez a operação militar.
É este aliás o maior paradoxo do Iraque. Como foi possível, em nome da luta contra o terrorismo, instalar no poder do Iraque a organização identificada como a precursora do terrorismo moderno, ao mesmo tempo que perseguia e catalogava como terrorista a principal organização de oposição no Irão?
Pela minha parte, continuo a lamentar a inexistência de rigorosos inquéritos parlamentares sobre os acontecimentos que rodearam o desencadear da operação iraquiana de modo a permitir compreender como falhou, de forma tão flagrante, o sistema de informação e decisão.
Só com a assunção dos comandos aliados pelo General Petraeus parece ter-se finalmente dado passos inteligentes na compreensão das razões do fracasso da operação militar e se tomaram medidas capazes de inverter a situação.
As recentes eleições regionais, realizadas de acordo com um sofisticado e coerente corpo legislativo e regulamentar, que materializou condições de liberdade na apresentação de candidaturas e na campanha, onde é justo salientar o notável trabalho da UNAMI, dirigida por Steffan de Mistura, tiveram três consequências fundamentais:
1. A derrota das organizações islamistas radicais mais alinhadas com Teerão, maioritárias no governo do país;
2. A afirmação da "Aliança do Estado de Direito", onde pontifica o Primeiro-Ministro mas de onde desapareceram todos os símbolos teocráticos e onde se procura passar uma mensagem de alinhamento total com os valores de um "Estado de Direito";
3. Avanço das forças laicas e muçulmanas independentes, embora com uma extrema fragmentação da sua presença. Aqui é de realçar o sucesso de Ayad Allawi que se afirma como a presença mais equilibrada a nível nacional e como a que tem uma agenda mais próxima dos nossos valores.
Os resultados das eleições regionais do Iraque mostram que nem tudo está perdido e que há espaço político para uma alternativa de poder que afaste o fanatismo e o sectarismo étnico ou religioso, que promova a reconciliação nacional e que afirme a sua autonomia em relação à teocracia.
Estou absolutamente convencido de que o resultado do actual confronto no Iraque vai ser o elemento mais decisivo em toda a região, da faixa de Gaza ao Afeganistão.
Conceber o Grande Médio Oriente como uma justaposição de conflitos localizados e não entender a influência que sobre todos eles exerce o confronto entre o fanatismo religioso e os valores da nossa moderna civilização é falhar o essencial para nos concentrarmos no secundário.
É também por isso que tanto e tantos dependem hoje da capacidade dos iraquianos de enfrentar e derrotar a outra invasão do Iraque, é por isso que daqui lhes envio uma sentida e fraternal saudação
Publicado na Segunda-Feira, dia 23 de Março de 2009, por Paulo Casaca
Misto de roteiro autobiográfico de viagens pelo Médio Oriente, de reportagem e de doutrina política internacional, o livro "A outra invasão do Iraque", agora lançado em língua portuguesa pela Editorial Presença, é um testemunho pessoal, frontal, cheio de convicção e de paixão sobre um dos maiores desafios do mundo contemporâneo: o da libertação do Grande Médio Oriente das ideologias totalitárias.
Tendo por base aquilo que a história irá provavelmente registar como a mais desastrosa das intervenções militares da nossa era, o livro mostra como atrás da incompetência; das ideologias que substituem o conhecimento; e das negociações e interesses inconfessáveis se escondeu a manipulação pelo fanatismo religioso mais "orgânico" da nossa era, ou seja, aquele que soube transformar uma ideologia reaccionária num instrumento de poder e de conquista à escala global.
Este livro desafia os dogmas estabelecidos na base do preconceito e do politicamente correcto, com os resultados de uma reflexão feita da experiência no terreno e do estudo das principais obras sobre a matéria.
Por detrás de uma intervenção militar que desencadeou uma revolução islâmica trazendo destruição e morte numa enorme escala, o livro descobre o cansaço dos povos da região com a manipulação do nacionalismo – e mais do que dele, da religião – pelo totalitarismo político e, por outro lado, o profundo desejo de liberdade, desenvolvimento e a aplicação de princípios democráticos nos seus países.
Com o 11 de Setembro, o Ocidente parece ter finalmente compreendido que a lógica de declarar o Grande Médio Oriente como zona de exclusão de experiências democráticas, a fim de evitar instabilidade no poder político e, portanto, no acesso ao petróleo e ao gás, tinha contribuído para a criação de um monstro. Um monstro que demonstrou nesse dia a sua capacidade destrutiva.
Renasceu assim a ideia de trazer a democracia à região, ideia que, em si, me parecia e continua a parecer acertada, mas que requer muita e muita coisa, a começar pelo conhecimento da realidade. O desconhecimento da língua árabe entre as elites ocidentais, por exemplo, foi reconhecido como um dos problemas maiores, a continuar pela incapacidade de controlo da infiltração dos ideólogos do fanatismo nos mecanismos ocidentais de decisão e a acabar na incapacidade de entendimento com os aliados na região.
A invasão do Iraque, claramente desadequada dos fins anunciados, trouxe para os comandos daquele país o mais estratégico inimigo de qualquer forma de democracia: o fanatismo religioso. A invasão serviu para reforçar o poder dos inimigos dos valores em nome dos quais se fez a operação militar.
É este aliás o maior paradoxo do Iraque. Como foi possível, em nome da luta contra o terrorismo, instalar no poder do Iraque a organização identificada como a precursora do terrorismo moderno, ao mesmo tempo que perseguia e catalogava como terrorista a principal organização de oposição no Irão?
Pela minha parte, continuo a lamentar a inexistência de rigorosos inquéritos parlamentares sobre os acontecimentos que rodearam o desencadear da operação iraquiana de modo a permitir compreender como falhou, de forma tão flagrante, o sistema de informação e decisão.
Só com a assunção dos comandos aliados pelo General Petraeus parece ter-se finalmente dado passos inteligentes na compreensão das razões do fracasso da operação militar e se tomaram medidas capazes de inverter a situação.
As recentes eleições regionais, realizadas de acordo com um sofisticado e coerente corpo legislativo e regulamentar, que materializou condições de liberdade na apresentação de candidaturas e na campanha, onde é justo salientar o notável trabalho da UNAMI, dirigida por Steffan de Mistura, tiveram três consequências fundamentais:
1. A derrota das organizações islamistas radicais mais alinhadas com Teerão, maioritárias no governo do país;
2. A afirmação da "Aliança do Estado de Direito", onde pontifica o Primeiro-Ministro mas de onde desapareceram todos os símbolos teocráticos e onde se procura passar uma mensagem de alinhamento total com os valores de um "Estado de Direito";
3. Avanço das forças laicas e muçulmanas independentes, embora com uma extrema fragmentação da sua presença. Aqui é de realçar o sucesso de Ayad Allawi que se afirma como a presença mais equilibrada a nível nacional e como a que tem uma agenda mais próxima dos nossos valores.
Os resultados das eleições regionais do Iraque mostram que nem tudo está perdido e que há espaço político para uma alternativa de poder que afaste o fanatismo e o sectarismo étnico ou religioso, que promova a reconciliação nacional e que afirme a sua autonomia em relação à teocracia.
Estou absolutamente convencido de que o resultado do actual confronto no Iraque vai ser o elemento mais decisivo em toda a região, da faixa de Gaza ao Afeganistão.
Conceber o Grande Médio Oriente como uma justaposição de conflitos localizados e não entender a influência que sobre todos eles exerce o confronto entre o fanatismo religioso e os valores da nossa moderna civilização é falhar o essencial para nos concentrarmos no secundário.
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A invasão do Iraque, claramente desadequada dos fins anunciados, trouxe para os comandos daquele país o mais estratégico inimigo de qualquer forma de democracia: o fanatismo religioso. A invasão serviu para reforçar o poder dos inimigos dos valores em nome dos quais se fez a operação militar.
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