‘Misoginite’ crónica

‘Misoginite’ crónica

O FOLHEAR a revista Ler de Julho/Agosto, deparo-me com um dos textos mais misóginos que li em toda a minha vida. O autor é Pedro Mexia e a página que ele assina mensalmente com o sugestivo título ‘Biblioteca Fútil’ escolheu desta feita para tema de dissertação o Diário das Minhas Viagens - visitas humanitárias em África, no Cambodja, no Paquistão e no Equador de Angelina Jolie .



Para quem gosta de estar a par nas novidades, Pedro Mexia anda atrasado. O livro foi comercializado no mercado internacional em 2004 e chegou a Portugal há mais de um ano em Abril de 2007. Li-o assim que saiu, ao mesmo tempo que viajei em Uma Longa Caminhada de Ishmael Bae, um romance impressionante que relata a saga de um menino soldado durante a guerra em Serra Leoa, e considerei ambas as obras de uma coragem imensa.



ANGELINA Jolie não é uma escritora nem nunca pretendeu sê-lo. Mas para o cronista esta mulher tem um terrível problema: é uma sex bomb. O que faz com que ele, pobre macho, não consiga levá-la a sério. E como não lhe ocorre nada interessante ou construtivo para escrever, logo ali expõe a ridículo os seus relatos, descendo ao nível de um tão mau gosto que só pode ser comparado com o dos jacarés que, segundo dizem, vivem nos esgotos de Nova Iorque. Transcrevo excertos da crónica para que não restem dúvidas: «Estamos sempre à coca dos momentos em que ela se queixa por estar exausta e suada e suja. Ou debaixo de um chuveiro. Quando Angelina alinha uma frase de intenções humanitárias, nós lemos uma frase de inclinações libidinosas».



Mas afinal quem somos nós? E que direito tem o cronista de falar no plural sobre os seus delírios, esses sim suados e sujos, que nada têm a ver com a obra em questão?



ODIÁRIO de viagens da actriz é um conjunto de relatos contados na primeira pessoa de alguém que já fez mais pela questão dos refugiados do que muitas cimeiras juntas. Angelina Jolie é sem dúvida uma sex bomb, mas é também alguém que percebeu que podia mudar a visão do mundo dos privilegiados acerca do resto do mundo. Os seus relatos são isentos, sinceros e sem qualquer lamechice e revelam trabalho de campo, semanas longe do conforto caseiro, em favor de uma causa maior.



É preciso ter uma mente muito turva e um espírito algo perturbado para conseguir ler nas entrelinhas do seu livro algo de libidinoso quando ela nos relata os horrores do mundo aos quais milagrosamente sempre fomos poupados, graças ao nosso estatuto de europeus. O título da crónica, ‘Boa Vontade’, é já de si revelador do grau de cinismo com que um tema tão sério e que merece de todos tanto respeito é tratado. Não há o mais leve traço de boa vontade nesta prosa, recheada de tacanhez e de maldade pura.



HÁ muitos anos que percebi que há pessoas que escrevem para dar e outras que escrevem para tirar algo dos outros. É pena que a nossa imprensa, tão generosa a dar páginas a cronistas, não as dê a mais mulheres, já que estas, quando olham para os homens, não vêm apenas uma pedaço de carne, um objecto de prazer cujo existência se limita a satisfazer fantasias mais ou menos porcas.



Não é por acaso que este mesmo cronista um dia escreveu que eu vendia livros no Brasil porque tinha um bom rabo. Até quando somos obrigados a levar com os ataques de ‘misoginite’ dos outros?



Como disse o avô de um amigo meu a meio de uma enfadonha ópera em S. Carlos, «basta, que é difícil!». Estamos todos, homens e mulheres, fartos de actos gratuitos maledicência e de misoginia nacional.


Escreveu a Margarida no SOL

a semana passado Houve fortes bronca com a reedição de um " livro " do Ze Camarinha que na minha giria deve ser um prostituto ( salvo erro ou emissão = nao é a minha ...bla bla