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S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Vitor mango Seg Jul 27, 2009 9:05 am
UM CASAL FELIZ
(1908)
Como se encontrasse livre de compromissos de maior, a menina 1ey, que é a mais
encantadora das solteironas.resolveu alugar por quinze
dias, .e por suturas do Pentecoste uman vivendazinha à beira do rio, O 'tempo
Prometia estarbonito e ela havia descoberto um cantinho onde poderia desfrutar à sua vontade as belezas de um Verão antecipado.
Era mulher bem presa à vida citadina, mas, de vez em quando, gostava de se ir enterrar no campo a fim de, longe bdos homens,e Poder concentrar e pôr em ordem as suas ideias. Extenuada pelo Inverno de Londres, antevia com prazer e efeito sedativo de uso pequena estadia no vale do Tamisa 1evando consigo mais livros do que Ihe teria sido possível ler Em seis meses, não corria o risco dese aborrecer e as rosas da vivenda proporcionavam-Ihetoda a companhia de que necessitava. Mas o seu interesse pelo nosso semelhante era de la-to irresistível; por isso, não foi sem um certo prazer que ela
descobriu, daí a um ou dois d''ias, que os vizinhos da vivenda ao lado da sua eram merecedores de
atenção. Não sentiu desejos de entrar em contacto com eles, uma vez que a divertia muito
reais imaginar, pela sua aparência, de que espécie 'de pessoasse trataria e também não desejava ver-se incomodada com as trivialid'acles inerentes às relações sociais. A verdade, porém,
continua
(1908)
Como se encontrasse livre de compromissos de maior, a menina 1ey, que é a mais
encantadora das solteironas.resolveu alugar por quinze
dias, .e por suturas do Pentecoste uman vivendazinha à beira do rio, O 'tempo
Prometia estarbonito e ela havia descoberto um cantinho onde poderia desfrutar à sua vontade as belezas de um Verão antecipado.
Era mulher bem presa à vida citadina, mas, de vez em quando, gostava de se ir enterrar no campo a fim de, longe bdos homens,e Poder concentrar e pôr em ordem as suas ideias. Extenuada pelo Inverno de Londres, antevia com prazer e efeito sedativo de uso pequena estadia no vale do Tamisa 1evando consigo mais livros do que Ihe teria sido possível ler Em seis meses, não corria o risco dese aborrecer e as rosas da vivenda proporcionavam-Ihetoda a companhia de que necessitava. Mas o seu interesse pelo nosso semelhante era de la-to irresistível; por isso, não foi sem um certo prazer que ela
descobriu, daí a um ou dois d''ias, que os vizinhos da vivenda ao lado da sua eram merecedores de
atenção. Não sentiu desejos de entrar em contacto com eles, uma vez que a divertia muito
reais imaginar, pela sua aparência, de que espécie 'de pessoasse trataria e também não desejava ver-se incomodada com as trivialid'acles inerentes às relações sociais. A verdade, porém,
continua
Última edição por Vitor mango em Seg Jul 27, 2009 9:10 am, editado 1 vez(es)
Vitor mango- Pontos : 118212
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Vitor mango Seg Jul 27, 2009 9:06 am
ha uns erros do OCR mas nada de panico vai ser resolvido
Vitor mango- Pontos : 118212
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Qui Jul 30, 2009 7:46 am
Eu respondi-lhe que teria muito gosto nisso.
— Já tens esta tarde comprometida?
Não, não tenho — repliquei eu, com toda a esponta¬nei clade.
Pensei, nessa altura, que devia ser agradável jantar uma vez à cuSta cia prima A~ny. Em anos que já lá iam, ela tivera sempre uma noção muito elástica acerca cio privilégio (que o seu sexo jamais mostrara desejo algum de disputar ao meu) de pagar a conta.
* Õptímo! exclamou. —Nesse caso, leva-me a jantar. urna perspectiva que inc encanta — retorqui eu, Feia¬in ente.
— Sabes que passei a ser vegetariana?
~ão está boa cia pinha (1) — disse eu para comigo pu5-prio, pensando que os pinhões, zcléni dc serem muito ,nuÇfriti¬vos, se vendiam baratos. ~ontiouei, já evidenciando um pouco mais de empenho.
— E onde é que se comem refeições vegetarianas?
em qualquer parte!—respondeu ela com vivaci¬
— Como sabes, não sou esquisita. Olha, vou dizer-te uma coisa extrao,id.inária. Nunca jantei no Ritz.
Verificou-se então um silêncio tão profundo que se po¬deria ouvir a queda de um alfinete cm Piccadilly, Mas Amy tratou de o quebrar alegremente.
—Bern, encontramo-nos às oito, Achas bem? E não man¬des vir coisa nenhuma antes de eu chegar, porque bem sabes que o que eu como e nada é quase a mesma coisa.
Ao menos aquilo era um tanto consolador, pois eu an¬dava a poupar dinheiro coro a ideia ele ir passar uma semana a Paris, a fim de npet4eiçoar a minha cultura. Amy afastou-se
(i) O que ‘~e encontra no original é a frase: This i~ nuts, trouadiilio intraduzível ha~eado na palavra iu~ta (nozes) e nt~ts (maluqueira) que tentãmos substituir por um equivalente mais ou menos acaitáw)l. (N. d~a T.)
— Já tens esta tarde comprometida?
Não, não tenho — repliquei eu, com toda a esponta¬nei clade.
Pensei, nessa altura, que devia ser agradável jantar uma vez à cuSta cia prima A~ny. Em anos que já lá iam, ela tivera sempre uma noção muito elástica acerca cio privilégio (que o seu sexo jamais mostrara desejo algum de disputar ao meu) de pagar a conta.
* Õptímo! exclamou. —Nesse caso, leva-me a jantar. urna perspectiva que inc encanta — retorqui eu, Feia¬in ente.
— Sabes que passei a ser vegetariana?
~ão está boa cia pinha (1) — disse eu para comigo pu5-prio, pensando que os pinhões, zcléni dc serem muito ,nuÇfriti¬vos, se vendiam baratos. ~ontiouei, já evidenciando um pouco mais de empenho.
— E onde é que se comem refeições vegetarianas?
em qualquer parte!—respondeu ela com vivaci¬
— Como sabes, não sou esquisita. Olha, vou dizer-te uma coisa extrao,id.inária. Nunca jantei no Ritz.
Verificou-se então um silêncio tão profundo que se po¬deria ouvir a queda de um alfinete cm Piccadilly, Mas Amy tratou de o quebrar alegremente.
—Bern, encontramo-nos às oito, Achas bem? E não man¬des vir coisa nenhuma antes de eu chegar, porque bem sabes que o que eu como e nada é quase a mesma coisa.
Ao menos aquilo era um tanto consolador, pois eu an¬dava a poupar dinheiro coro a ideia ele ir passar uma semana a Paris, a fim de npet4eiçoar a minha cultura. Amy afastou-se
(i) O que ‘~e encontra no original é a frase: This i~ nuts, trouadiilio intraduzível ha~eado na palavra iu~ta (nozes) e nt~ts (maluqueira) que tentãmos substituir por um equivalente mais ou menos acaitáw)l. (N. d~a T.)
Admin- Admin
- Pontos : 5709
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Qui Jul 30, 2009 7:48 am
trote ligeiro e eu; verificando que não tinha mais de duas libras no bolso, achei conveniente ir levantar um cheque para o que desse e viesse.
Quando, à noite, nos sentámos à mesa, a prima Amy, colocandá nela as luvas, olhou à sua volta com um sorriso feliz.
— Tenho a certeza ele que vamos comer um jantar deli¬cioso — disse.
O criado passou-me a ementa, mas a prima Arny é uma mulher prática.
— Olha, o melhor é deixares-me escolher o meu jantar
— alvitrou. ---- Eu só quero uma refeição muito leve, sahe’~?
E que não posso comer animais mortos, por isso, o melhor é
eu escolher o que quero,
A proposta pareceu-me muito sensata.
Amy pôs-se a estudar a ementa.
—De qualquer maneira, poderemos começar por uns Jcors-d’oerwres — sugeriu. * Oh. que bom! Há potcz~e bisqueT
Eu olhei de soslaio a Ii~ta elos preços, Era a sopa mais cara que lá se encontrava, mas a prima Amy nunca reparava cm coisas dessas. Perguntei a mim próprio, friamente ran¬4oroso, como é que ela havia podido chegar à idade que eu sabia perfeitamente ser a cheIa sem ter adquirido ao menos os rudimentos do vulgar bom senso. Mandei vir os hors-d’oerrrires e a potage bisque.
— E que prato de peixe, senhor? — perguntou o criado
A prima Amy franziu o nariz à ementa.
— Acho muito extraordinário não terem salmão diu’ ela, com o ar arrogante que as mn~heres em geral arvoram ao dirigirem-se aos seus iniferiores, — Devemos estar na a própria.
— Bem, terno’, algum, minha ~enhura, mas não o Js’rua~ na ementa. ~ o ~sriineiro que arranjámos.
— i\h! e~ lamo, triunfante a primou Amny Fato a ver, arranja se ‘a oqe e a qw’ ~c quem , o pont o é
Eu tremi no pt’mm O 00 p0’~ O que teria de pagar par m4~O
Quando, à noite, nos sentámos à mesa, a prima Amy, colocandá nela as luvas, olhou à sua volta com um sorriso feliz.
— Tenho a certeza ele que vamos comer um jantar deli¬cioso — disse.
O criado passou-me a ementa, mas a prima Arny é uma mulher prática.
— Olha, o melhor é deixares-me escolher o meu jantar
— alvitrou. ---- Eu só quero uma refeição muito leve, sahe’~?
E que não posso comer animais mortos, por isso, o melhor é
eu escolher o que quero,
A proposta pareceu-me muito sensata.
Amy pôs-se a estudar a ementa.
—De qualquer maneira, poderemos começar por uns Jcors-d’oerwres — sugeriu. * Oh. que bom! Há potcz~e bisqueT
Eu olhei de soslaio a Ii~ta elos preços, Era a sopa mais cara que lá se encontrava, mas a prima Amy nunca reparava cm coisas dessas. Perguntei a mim próprio, friamente ran¬4oroso, como é que ela havia podido chegar à idade que eu sabia perfeitamente ser a cheIa sem ter adquirido ao menos os rudimentos do vulgar bom senso. Mandei vir os hors-d’oerrrires e a potage bisque.
— E que prato de peixe, senhor? — perguntou o criado
A prima Amy franziu o nariz à ementa.
— Acho muito extraordinário não terem salmão diu’ ela, com o ar arrogante que as mn~heres em geral arvoram ao dirigirem-se aos seus iniferiores, — Devemos estar na a própria.
— Bem, terno’, algum, minha ~enhura, mas não o Js’rua~ na ementa. ~ o ~sriineiro que arranjámos.
— i\h! e~ lamo, triunfante a primou Amny Fato a ver, arranja se ‘a oqe e a qw’ ~c quem , o pont o é
Eu tremi no pt’mm O 00 p0’~ O que teria de pagar par m4~O
Admin- Admin
- Pontos : 5709
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Qui Jul 30, 2009 7:52 am
calma os erros sao do OCR mas a nossa mioleira descobre o que os gajos querem
Este Maugham é um mestre em contos curtos
Portanto
Portanto!
augente que isto nao demora muito
Este Maugham é um mestre em contos curtos
Portanto
Portanto!
augente que isto nao demora muito
Admin- Admin
- Pontos : 5709
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Qui Jul 30, 2009 8:03 am
.salmão que aparecera pela primeira vez no mercado d'e Londres nessa manhã.
Decidi que em Paris teria de optar por um hotel mais barato, já que me não seria possível instalar-me no que antecipadamente escolhera. Lembrei à prima Amy que nenhuma senhora que se preza come peixe vermelho depois de ter comido
uma sopa igualmente vermelha,
— Eu sei que assim é. Sei que pareço um tanto bárbara, mas 'tenho de comer salmão, que é muito rico em prdteínas.
— Mas não é verdade protestei eu — que me disse que não comia nunca esse horror que são os animais mortos?
Amy abriu muito os olhos.
—Oh, isso só diz respeito aos animais de sangue quente; se não, não tinha comido a sopa.
Ainda bem que não havia baleia na ementa — murmurei eu, enquanto dôcilinente mandava vir, o salmão. Ao mesmo tempo ia pensando que, afinal, os vegetarianos se tratavam muito bem.
Colocados na mesa os hors-d'oer rres, Amy, decIarando que tinha de comer aquilo que lhe prescreviam, despejou o conteúdo integral de três travessas no seu prato. A verdade é que eu próprio os achava muito apetecíveis, mas não tive cara de pedir ao criado que 'trouxesse mais.
Outro criado surgiu a apresentar-me a lista dos vi.n'hos. Tratava-se dia minha oportunidade, que agarrei pelos cabelos como uni. homem. A prima Amy estava a engordar escandalo¬samente e todos sabem que a obesidade se deve combater não absorvendo Iíquidos até duas horas após as refeições.
— Na sua qualidade de vegetariana, acho que tudo o que deve beber é urna chávena de café — disse eu. — Quanto a mim, vou beber uísque com soda.
--• Quem te meteu na cabeça uma ideia tão ridícula?! — respondeu ela vivamente. -- PeIo contrário, o meu médico mandou-me beber vinho. Bem vês, tenho de compensar as ou¬tras faltas.
-- Ah, e que quer beber? — perguntei eu, sombriamente.
34o
— Ob, tanto faz, desde que seja uma bebida muito seca
Decidi que em Paris teria de optar por um hotel mais barato, já que me não seria possível instalar-me no que antecipadamente escolhera. Lembrei à prima Amy que nenhuma senhora que se preza come peixe vermelho depois de ter comido
uma sopa igualmente vermelha,
— Eu sei que assim é. Sei que pareço um tanto bárbara, mas 'tenho de comer salmão, que é muito rico em prdteínas.
— Mas não é verdade protestei eu — que me disse que não comia nunca esse horror que são os animais mortos?
Amy abriu muito os olhos.
—Oh, isso só diz respeito aos animais de sangue quente; se não, não tinha comido a sopa.
Ainda bem que não havia baleia na ementa — murmurei eu, enquanto dôcilinente mandava vir, o salmão. Ao mesmo tempo ia pensando que, afinal, os vegetarianos se tratavam muito bem.
Colocados na mesa os hors-d'oer rres, Amy, decIarando que tinha de comer aquilo que lhe prescreviam, despejou o conteúdo integral de três travessas no seu prato. A verdade é que eu próprio os achava muito apetecíveis, mas não tive cara de pedir ao criado que 'trouxesse mais.
Outro criado surgiu a apresentar-me a lista dos vi.n'hos. Tratava-se dia minha oportunidade, que agarrei pelos cabelos como uni. homem. A prima Amy estava a engordar escandalo¬samente e todos sabem que a obesidade se deve combater não absorvendo Iíquidos até duas horas após as refeições.
— Na sua qualidade de vegetariana, acho que tudo o que deve beber é urna chávena de café — disse eu. — Quanto a mim, vou beber uísque com soda.
--• Quem te meteu na cabeça uma ideia tão ridícula?! — respondeu ela vivamente. -- PeIo contrário, o meu médico mandou-me beber vinho. Bem vês, tenho de compensar as ou¬tras faltas.
-- Ah, e que quer beber? — perguntei eu, sombriamente.
34o
— Ob, tanto faz, desde que seja uma bebida muito seca
Última edição por Admin em Dom Ago 02, 2009 5:57 am, editado 1 vez(es)
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- Pontos : 5709
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Qui Jul 30, 2009 8:04 am
.OIhei para a prima Amy.
--- Lembra-se daquela história do homem que levou uma bonita americana a jantar? Ao perguntar à rapariga o que pretendia beber, eis o que ela respondam: «Acho que cham¬panhe.» «Então torne 'lá a achar, ande» — replicou ele.
— Mas que grande partida! -- exclamou. Amy, que se pôs a rir alegremente.
Li algures que as mulheres possuem uma subtileza muito maior de percepção do que os homens. Mas a verdade é que não conheci nunca pessoa menos permeável a uma insinuação do que a prima Amy.
Enquanto eu ia voltando as páginas, eis o que ela me disse:
— Se realmente não tens nenhuma preferência, acho que me decido pelo Veuve'Cliquot. Sempre fui de opinião de que as mulheres deviam ser ,solidárias.
Ao que parecia, a prima Amy, além de vegetariana, dera em sufragista e, depois de eu ter, de acordo com os seus prin¬cípios, mandado vir o champanhe, favoreceu-me com as suas opiniões dentro cia causa. Amy saboreou com prazer a potage bisque e rejub Iou positivamente com o salmão. O criado veio obsequiosamente receber novas ordens.
--- Estás a ver como eu sou uma pessoa económica que qualquer !pode convidar para jantar? •— disse Amy. — Outra pessoa havia de querer uma entrée, assados e outras abomina¬ções do género. Mas eu contento-me cmn mais umas verduras e pronto.
-- Se não me engano, a prima Amy disse há bocado que pretendia apenas uma refeição leve.
Ela voltou-se para o criado, pois achava muito bem estabelecer relações amigáveis com o criado e igualmente que este se interessasse inteiramente pelo que ela comesse.
— Olhe, vou dizer-lhe o que quero: vê aqueles grandes espargos da grossura cio seu braço? Pois bem, é isso que me vai servir.
— Muito bem, minha senhora
--- Lembra-se daquela história do homem que levou uma bonita americana a jantar? Ao perguntar à rapariga o que pretendia beber, eis o que ela respondam: «Acho que cham¬panhe.» «Então torne 'lá a achar, ande» — replicou ele.
— Mas que grande partida! -- exclamou. Amy, que se pôs a rir alegremente.
Li algures que as mulheres possuem uma subtileza muito maior de percepção do que os homens. Mas a verdade é que não conheci nunca pessoa menos permeável a uma insinuação do que a prima Amy.
Enquanto eu ia voltando as páginas, eis o que ela me disse:
— Se realmente não tens nenhuma preferência, acho que me decido pelo Veuve'Cliquot. Sempre fui de opinião de que as mulheres deviam ser ,solidárias.
Ao que parecia, a prima Amy, além de vegetariana, dera em sufragista e, depois de eu ter, de acordo com os seus prin¬cípios, mandado vir o champanhe, favoreceu-me com as suas opiniões dentro cia causa. Amy saboreou com prazer a potage bisque e rejub Iou positivamente com o salmão. O criado veio obsequiosamente receber novas ordens.
--- Estás a ver como eu sou uma pessoa económica que qualquer !pode convidar para jantar? •— disse Amy. — Outra pessoa havia de querer uma entrée, assados e outras abomina¬ções do género. Mas eu contento-me cmn mais umas verduras e pronto.
-- Se não me engano, a prima Amy disse há bocado que pretendia apenas uma refeição leve.
Ela voltou-se para o criado, pois achava muito bem estabelecer relações amigáveis com o criado e igualmente que este se interessasse inteiramente pelo que ela comesse.
— Olhe, vou dizer-lhe o que quero: vê aqueles grandes espargos da grossura cio seu braço? Pois bem, é isso que me vai servir.
— Muito bem, minha senhora
Admin- Admin
- Pontos : 5709
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Dom Ago 02, 2009 7:10 am
— Que sorte ter vindo à cidade na época das coisas que aprecio — disse ela, com ar meditativo. — No campo, ainda
temos de esperar três meses pelos espargos e pelas ervilhas. Vais mandar vir ervilhas, não vais?
— Decerto. Se acha que é capaz de as comer... — res¬pondi eu deIicaddamen.te.
—Ah, agora estás decerto a ver a diferença que há em urna pessoa se alimentar racionalmente. Posso comer seja o.que for, meu rapaz, -seja o que for!
-- Não me custa nada a acreditar — retorqui.
Ela olhou-me ao mesmo tempo que me brindava com um sorriso muito aberto.
— Contudo não quero que te sacrifiques por minha causa. Não sou mesquinha e, se quiseres carne, não vejo qua'Ìquer inconveniente nisso.
Puseram-nos na frente um monte de espargos e urna enorme quantidade de ervilhas e eu sabia que tudo aquilo valia o seu peso em. ouro. Comecei a ter fortes dúvidas quanto à minha viagem a Paris.
—Ë muito amável — bife respondi —, mas, ao jantar, raramente como mais do que uni bife e, depois de ter devorado a refeição que a prima mandou vir, vou ficar que nem uma jibóia,
— Compreendes, uma pessoa tem de absorver a quanti¬dade de proteínas necessária — respondeu calmamente Amy, enquanto ia comendo os •monstruosos espargos.
Ainda comi um ou dois, mas a verdade é que eu era abso
lutamente incapaz de entrar cru : competição com Amy. Agora já me não sentia admirado por ela haver engordado tanto e pensei que, se alguém concebesse a ideia de casar com ela, eu teria de prevenir a tempo esse alguém de que isto de uma pes¬soa ser vegetariana não é brincadeira nenhuma.
A certa altura, Amy pescou com decisão um longo mons¬tro que descansava, solitário, na travessa.
— Tenho de comer este — afirmou —, pois comer o último espargo significa que se arranja um marido bonito e com cinco miiI libras de renda.
— E bem precisará delas -•-w- repliquei eu.
temos de esperar três meses pelos espargos e pelas ervilhas. Vais mandar vir ervilhas, não vais?
— Decerto. Se acha que é capaz de as comer... — res¬pondi eu deIicaddamen.te.
—Ah, agora estás decerto a ver a diferença que há em urna pessoa se alimentar racionalmente. Posso comer seja o.que for, meu rapaz, -seja o que for!
-- Não me custa nada a acreditar — retorqui.
Ela olhou-me ao mesmo tempo que me brindava com um sorriso muito aberto.
— Contudo não quero que te sacrifiques por minha causa. Não sou mesquinha e, se quiseres carne, não vejo qua'Ìquer inconveniente nisso.
Puseram-nos na frente um monte de espargos e urna enorme quantidade de ervilhas e eu sabia que tudo aquilo valia o seu peso em. ouro. Comecei a ter fortes dúvidas quanto à minha viagem a Paris.
—Ë muito amável — bife respondi —, mas, ao jantar, raramente como mais do que uni bife e, depois de ter devorado a refeição que a prima mandou vir, vou ficar que nem uma jibóia,
— Compreendes, uma pessoa tem de absorver a quanti¬dade de proteínas necessária — respondeu calmamente Amy, enquanto ia comendo os •monstruosos espargos.
Ainda comi um ou dois, mas a verdade é que eu era abso
lutamente incapaz de entrar cru : competição com Amy. Agora já me não sentia admirado por ela haver engordado tanto e pensei que, se alguém concebesse a ideia de casar com ela, eu teria de prevenir a tempo esse alguém de que isto de uma pes¬soa ser vegetariana não é brincadeira nenhuma.
A certa altura, Amy pescou com decisão um longo mons¬tro que descansava, solitário, na travessa.
— Tenho de comer este — afirmou —, pois comer o último espargo significa que se arranja um marido bonito e com cinco miiI libras de renda.
— E bem precisará delas -•-w- repliquei eu.
Admin- Admin
- Pontos : 5709
Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Dom Ago 02, 2009 7:11 am
-- Acho que se bebesse chá, agora, iria estragar a refeição — murmurou ela., considerando o problema.
— Acho isso muito sensato da sua parte — respondi.
EIa recostou-se regaladiamente na cadeira com um suspiro e pôs-se a olhar para ruim
Não calculas a minha satisfação por te ter encontrado antes da tua partida para Paris!
—Duvido muito de que as minhas possibilidades econó¬micas o permitam. — redargui.
Mas a prima Amy é uma optimista.
- No fim de contas, não, há nada como a nossa terra respondeu, a fim de me levantar o moral. — Se fores a Paris, és capaz de apanhar por lá a febre tifóide e acabas por gastar mais dinheiro do que tens.
A verdade é que a prima Amy me tem frequentemente aconselhado a ser económico, pois interessa-se muito pelas mi¬nhas finanças.
Por fim, Iá acabou com as ervilhas. Se fosse eu, ser-me-ia impossível comer fosse o que fosse 'até ao fim da semana. Mas Amy mostrava-se ad'im:irdvelmente bem disposta,
— Agora, doce e uma sobremesazi~ta e fico satisfeita. Comecei a admirar Amy. Ser-me-ia extremamente grato apresentá-Ia ao rapaz gordo de Peckham.
— Pêches à Ia Melba —pediu, ela depois de consultar a ementa. Com a sua infaIíveI intuição, acertara em cheio na es¬pecialidade da casa. Renunciei então definitivamente à minha viagem a Paris.
— São deliciosos, não são? ---- perguntou.
Ao chegarmos ã altura dia sobremesa, comecei a finar d sorientado e tonto de todo quando eIa me declarou yua itg queIe ano ainda não tinha comido natas com morai L O mesmo acontecia a muita gente. Serviram.Ihe ai Iforno , e as natas, tudo m'isturado numa enorme taça e Pte yF iO $ terminada quantia— bastante elevada em tinha tpf1
podiam-se comer quantos uma pessoa quzesse....
— Acho isso muito sensato da sua parte — respondi.
EIa recostou-se regaladiamente na cadeira com um suspiro e pôs-se a olhar para ruim
Não calculas a minha satisfação por te ter encontrado antes da tua partida para Paris!
—Duvido muito de que as minhas possibilidades econó¬micas o permitam. — redargui.
Mas a prima Amy é uma optimista.
- No fim de contas, não, há nada como a nossa terra respondeu, a fim de me levantar o moral. — Se fores a Paris, és capaz de apanhar por lá a febre tifóide e acabas por gastar mais dinheiro do que tens.
A verdade é que a prima Amy me tem frequentemente aconselhado a ser económico, pois interessa-se muito pelas mi¬nhas finanças.
Por fim, Iá acabou com as ervilhas. Se fosse eu, ser-me-ia impossível comer fosse o que fosse 'até ao fim da semana. Mas Amy mostrava-se ad'im:irdvelmente bem disposta,
— Agora, doce e uma sobremesazi~ta e fico satisfeita. Comecei a admirar Amy. Ser-me-ia extremamente grato apresentá-Ia ao rapaz gordo de Peckham.
— Pêches à Ia Melba —pediu, ela depois de consultar a ementa. Com a sua infaIíveI intuição, acertara em cheio na es¬pecialidade da casa. Renunciei então definitivamente à minha viagem a Paris.
— São deliciosos, não são? ---- perguntou.
Ao chegarmos ã altura dia sobremesa, comecei a finar d sorientado e tonto de todo quando eIa me declarou yua itg queIe ano ainda não tinha comido natas com morai L O mesmo acontecia a muita gente. Serviram.Ihe ai Iforno , e as natas, tudo m'isturado numa enorme taça e Pte yF iO $ terminada quantia— bastante elevada em tinha tpf1
podiam-se comer quantos uma pessoa quzesse....
Admin- Admin
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Re: S. Maugham um dos mestres em CONTOS
por Admin Dom Ago 02, 2009 11:11 am
Serviu-nre até certo ponto de consolação ver que Amy soubera aproveitar maravilhosamente o dinheiro que eu gastara,
--- Afinal, se é certo que uma pessoa se vé forçada a re¬nunciar a muitas coisas quando é vegetariana, fica-se ao me¬nos com a consciência de se -ter servido uma boa causa. E, além disso, na Quaresma, há a vantagem de se matarem dois coeIli.os de urna cajatdada.
Bebemos o café e descobri, por essa altura, que Amy era uma requintada em magia de brandes. 0 seu médico --- afir¬mou -- não a deixava J eber brande que não fosse bem velho. Quando me apresentaram a iconta—tive ocasião de me con¬gratular com o facto de ela ter preferido uma refeição Ieve, poïs, a não ser assim, isto é, se ela se encontrasse na plena posse do seu apetite, não sei o que teria acon'te!cido.
Quando nas despedimos com um aperto de ni•ão, eis o que Amy rue disse:
--- Estive entreticdíssirua. Lamento muito não poder demo¬rar-me na cidade, mas arnanhã tens de ir almoçar comigo. 0 meu sistema, corno sabes, é 'toma lá, dá cá.
Aquilo na prima Amy era uma novidade que atribuí ao correr tios anos, os quais trazem consigo uma lógica muito especial e agradável.
—Terei o maior prazer nisso — respond'i prontamente. --,. E aonde vamos?
Ela fitou-me com o maior descaramento.
— Que dizes ao restaurante Eus'tace Mi'Ieos? Gostaria muito que conhecesses um autêntico restaurante vegetariano.
Confesso que, numa situação de emergência, perco de todo a presença de espírito e por isso acedi ao convite da pritn'a
Azny. Mas, enquanto cam-inhava debaixo ele chuva, pois o di
nheiro me não chegava para ir de trole e me sentia mais pobre,
mais experimentado e demasiado bem com-ido, murmurei para comigo mesmo:
Ela poderá chamar a isto ura torna Iá-cdá cá. Quanto a mim, chamar-lhe-ei -sopa de cenouras por potage bisque,
FIM
--- Afinal, se é certo que uma pessoa se vé forçada a re¬nunciar a muitas coisas quando é vegetariana, fica-se ao me¬nos com a consciência de se -ter servido uma boa causa. E, além disso, na Quaresma, há a vantagem de se matarem dois coeIli.os de urna cajatdada.
Bebemos o café e descobri, por essa altura, que Amy era uma requintada em magia de brandes. 0 seu médico --- afir¬mou -- não a deixava J eber brande que não fosse bem velho. Quando me apresentaram a iconta—tive ocasião de me con¬gratular com o facto de ela ter preferido uma refeição Ieve, poïs, a não ser assim, isto é, se ela se encontrasse na plena posse do seu apetite, não sei o que teria acon'te!cido.
Quando nas despedimos com um aperto de ni•ão, eis o que Amy rue disse:
--- Estive entreticdíssirua. Lamento muito não poder demo¬rar-me na cidade, mas arnanhã tens de ir almoçar comigo. 0 meu sistema, corno sabes, é 'toma lá, dá cá.
Aquilo na prima Amy era uma novidade que atribuí ao correr tios anos, os quais trazem consigo uma lógica muito especial e agradável.
—Terei o maior prazer nisso — respond'i prontamente. --,. E aonde vamos?
Ela fitou-me com o maior descaramento.
— Que dizes ao restaurante Eus'tace Mi'Ieos? Gostaria muito que conhecesses um autêntico restaurante vegetariano.
Confesso que, numa situação de emergência, perco de todo a presença de espírito e por isso acedi ao convite da pritn'a
Azny. Mas, enquanto cam-inhava debaixo ele chuva, pois o di
nheiro me não chegava para ir de trole e me sentia mais pobre,
mais experimentado e demasiado bem com-ido, murmurei para comigo mesmo:
Ela poderá chamar a isto ura torna Iá-cdá cá. Quanto a mim, chamar-lhe-ei -sopa de cenouras por potage bisque,
FIM
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