Cristina Lamb
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Cristina Lamb
Niguel, Aqui, ou a tragédia do Zimbabwe contada na primeira pessoa
José Manuel Fernandes
Público
Nigel é o fazendeiro branco. Aqui a ama negra dos seus filhos. Nenhum deles é especialmente representativo do grupo a que pertencem - a minoria branca e a maioria negra de um Zimbabwe devastado pelo regime de Mugabe - mas Christina Lamb viu nas suas histórias paralelas, e seu cruzamento dramático, a melhor forma de ilustrar a evolução de um país onde é hoje persona non grata. Assim nasceu A Casa de Pedra.
Última colónia africana a ver a sua independência reconhecida, o Zimbabwe é "o exemplo do que não se deve fazer para corrigir injustiças reais" e o seu líder alguém que há muito só se guia pelo seu projecto de poder pessoal. Mas isso é o que, melhor ou pior, todos sabemos. O que não conhecemos é como, por dentro, o drama foi vivido.
"A última vez que estive no Zimbabwe [Christina Lamb, se fosse descoberta, acabaria fatalmente numa das prisões que conhece demasiado bem] encontrei um país irreconhecível. Onde antes havia estufas a perder de vista ou sofisticados sistemas de rega, tudo estava destruído e a terra seca. Nas fazendas que antes rivalizavam, em produtividade, com as melhores do mundo só as casas estavam de pé. E mesmo nas cidades bairros inteiros haviam sido destruídos", contou-nos a repórter do Sunday Times. "Mas para conseguir contar o que realmente acontecera tinha de encontrar histórias de vida verdadeiras, pessoas que dessem o nome, que tivessem rosto e me cedessem imagens. Foi assim que acabei por escolher Niguel e Aqui."
O antigo fazendeiro branco não era, ao contrário de muitos outros, alguém que recebera uma herdade da família, limitando-se a prosseguir uma actividade iniciada pelos que seguiram Cecil Rhodes na colonização inglesa da antiga Rodésia. "Niguel sentia-se especialmente revoltado porque tinha comprado a terra que trabalhava com o dinheiro que ganhara, envolvera-se entretanto no apoio à comunidade local e até construíra um orfanato para os filhos das vítimas de sida. Mesmo assim não deixava por isso de ter crescido no mesmo ambiente privilegiado dos brancos, com as piscinas, os campos de ténis, as escolas caras, a universidade da elite..."
Já a vida de Aqui reflectia melhor o que fora e ainda era a vida dos negros no Zimbabwe, "só que a sua energia tinha feito dela uma mulher fora do normal".
Niguel e Aqui cruzam-se pela primeira vez quando esta foi trabalhar para a fazenda para tomar conta dos filhos dele. Ao fim de pouco tempo era quase parte da família, mesmo numa altura em que os "veteranos de guerra" já tinham começado a ocupar, incitados por Mugabe, as quintas que pertenciam aos brancos. Contudo, no dia em que esses mesmos "veteranos de guerra" invadem a propriedade de Niguel este descobre, estupefacto, que Aqui se encontra entre os que acabariam por expulsá-lo da sua casa e das suas terras. Aqui que, apesar de então já se distanciar do regime de Mugabe, fora anos a fio uma activista política e chegara a apoiar as acções de guerrilha.
Ter ou não ter terra
"Para alguém vindo de Londres, como eu, não era fácil perceber a obsessão pela terra no Zimbabwe. Era fácil perceber a injustiça de 70 por cento das terras continuarem em poder de quatro ou cinco mil proprietários brancos, mas não a tensão que crescia de ano para ano", diz Christina. O que nos conta no seu livro, feito com base em dezenas de horas de entrevistas com os dois protagonistas, ajuda a perceber como, no coração de África, ter ou não ter terra é tão importante. E como superar uma situação assim injusta é tão difícil.
É certo que o que se passou no Zimbabwe não foi uma reforma agrária ou sequer uma redistribuição de terras - as primeiras herdades a serem expropriadas eram as que ficavam mais perto da capital e tinham melhores casas, os principais beneficiários não foram os agricultores mas os fiéis de Mugabe, incluindo um arcebispo - mas isso não ilude o problema que ainda ninguém solucionou - ou seja, conseguir devolver à maioria negra a propriedade da terra (mesmo que parcialmente) sem, ao mesmo tempo, afastar os proprietários brancos e desbaratar as suas competências.
"A África do Sul também se debate com este problema e ainda quase nada foi feito. Até porque se alguma coisa o exemplo do Zimbabwe mostrou é que mesmo a energia de alguém como Aqui não lhe permitiu conseguir fazer o que não sabia fazer - e hoje reconhece que não sabia fazer: gerir de forma eficiente uma herdade", conclui Christina Lamb.
Última colónia africana a ver a sua independência reconhecida, o Zimbabwe é "o exemplo do que não se deve fazer para corrigir injustiças reais" e o seu líder alguém que há muito só se guia pelo seu projecto de poder pessoal. Mas isso é o que, melhor ou pior, todos sabemos. O que não conhecemos é como, por dentro, o drama foi vivido.
"A última vez que estive no Zimbabwe [Christina Lamb, se fosse descoberta, acabaria fatalmente numa das prisões que conhece demasiado bem] encontrei um país irreconhecível. Onde antes havia estufas a perder de vista ou sofisticados sistemas de rega, tudo estava destruído e a terra seca. Nas fazendas que antes rivalizavam, em produtividade, com as melhores do mundo só as casas estavam de pé. E mesmo nas cidades bairros inteiros haviam sido destruídos", contou-nos a repórter do Sunday Times. "Mas para conseguir contar o que realmente acontecera tinha de encontrar histórias de vida verdadeiras, pessoas que dessem o nome, que tivessem rosto e me cedessem imagens. Foi assim que acabei por escolher Niguel e Aqui."
O antigo fazendeiro branco não era, ao contrário de muitos outros, alguém que recebera uma herdade da família, limitando-se a prosseguir uma actividade iniciada pelos que seguiram Cecil Rhodes na colonização inglesa da antiga Rodésia. "Niguel sentia-se especialmente revoltado porque tinha comprado a terra que trabalhava com o dinheiro que ganhara, envolvera-se entretanto no apoio à comunidade local e até construíra um orfanato para os filhos das vítimas de sida. Mesmo assim não deixava por isso de ter crescido no mesmo ambiente privilegiado dos brancos, com as piscinas, os campos de ténis, as escolas caras, a universidade da elite..."
Já a vida de Aqui reflectia melhor o que fora e ainda era a vida dos negros no Zimbabwe, "só que a sua energia tinha feito dela uma mulher fora do normal".
Niguel e Aqui cruzam-se pela primeira vez quando esta foi trabalhar para a fazenda para tomar conta dos filhos dele. Ao fim de pouco tempo era quase parte da família, mesmo numa altura em que os "veteranos de guerra" já tinham começado a ocupar, incitados por Mugabe, as quintas que pertenciam aos brancos. Contudo, no dia em que esses mesmos "veteranos de guerra" invadem a propriedade de Niguel este descobre, estupefacto, que Aqui se encontra entre os que acabariam por expulsá-lo da sua casa e das suas terras. Aqui que, apesar de então já se distanciar do regime de Mugabe, fora anos a fio uma activista política e chegara a apoiar as acções de guerrilha.
Ter ou não ter terra
"Para alguém vindo de Londres, como eu, não era fácil perceber a obsessão pela terra no Zimbabwe. Era fácil perceber a injustiça de 70 por cento das terras continuarem em poder de quatro ou cinco mil proprietários brancos, mas não a tensão que crescia de ano para ano", diz Christina. O que nos conta no seu livro, feito com base em dezenas de horas de entrevistas com os dois protagonistas, ajuda a perceber como, no coração de África, ter ou não ter terra é tão importante. E como superar uma situação assim injusta é tão difícil.
É certo que o que se passou no Zimbabwe não foi uma reforma agrária ou sequer uma redistribuição de terras - as primeiras herdades a serem expropriadas eram as que ficavam mais perto da capital e tinham melhores casas, os principais beneficiários não foram os agricultores mas os fiéis de Mugabe, incluindo um arcebispo - mas isso não ilude o problema que ainda ninguém solucionou - ou seja, conseguir devolver à maioria negra a propriedade da terra (mesmo que parcialmente) sem, ao mesmo tempo, afastar os proprietários brancos e desbaratar as suas competências.
"A África do Sul também se debate com este problema e ainda quase nada foi feito. Até porque se alguma coisa o exemplo do Zimbabwe mostrou é que mesmo a energia de alguém como Aqui não lhe permitiu conseguir fazer o que não sabia fazer - e hoje reconhece que não sabia fazer: gerir de forma eficiente uma herdade", conclui Christina Lamb.
José Manuel Fernandes
Público
Última edição por BUFFA em Sáb Ago 29, 2009 11:24 am, editado 1 vez(es)
BUFFA General Aladeen- Pontos : 4887
Re: Cristina Lamb
Os taliban estão a vencer, por que haveriam de querer negociar ?
José Manuel Fernandes
Público
Christina Lamb começou a trabalhar em Peshawar com apenas 21 anos e muito idealismo. Hoje é uma repórter consagrada com mais de duas décadas de experiência no Paquistão e no Afeganistão e uma enorme capacidade, por sempre ter tido a preocupação de falar com as pessoas comuns, de analisar os erros cometidos pelo Ocidente. O retrato que nos deixou é tudo menos optimista.
José Manuel Fernandes
Público
BUFFA General Aladeen- Pontos : 4887
Re: Cristina Lamb
BUFFA escreveu:Os taliban estão a vencer, por que haveriam de querer negociar ?
nada eh eterno nem definitivo. as forças internacionais estao a ponderar quantos mais homens e meios serao necessarios para interromper a escalada do que parece ser um aperfeiçoamento das tecnicas talibã, bem como as da al-queda e outros grupos extremistas no territorio.
o que o mundo nao pode permitir eh k grupos terroristas proliferem e sejam deixados em crescimento livre, quando o ocidente eh e sera sempre um dos objectivos da agenda.
Terminator- Pontos : 2544
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