Sampaio: política e políticos em descrédito

Sampaio: política e políticos em descrédito

por JOSÉ MANUEL BARROSOHoje



O
ex-presidente fala da política aos jovens, em livro que amanhã será
lançado. E traça um quadro pouco abonatório da relação
cidadãos-política. Diz que políticos estão desvalorizados, que eleições
são cada vez mais ignoradas e que sentido da colectividade perde força.Como
vamos de política, entre nós? Jorge Sampaio, ex-Presidente da
República, faz um diagnóstico pouco abonatório dos dias que correm. "Os
políticos e a política encontram-se profundamente desvalorizados", "os
actos eleitorais são cada vez menos participados e ignorados", "os
laços sociais, a solidariedade e o sentido da colectividade perdem
força e sentido a olhos vistos" - eis o juízo do anterior inquilino de
Belém. Na apresentação de "O meu livro de política", um texto destinado
aos jovens na pré-adolescência.Neste panorama, que faz, então,
um ex-Presidente da República dirigir-se aos jovens sobre um tema, hoje
tão pouco atractivo, como o é a política, a nobreza da política?
Convidado pela Texto Editores, Sampaio confessa ter hesitado, mas não
ter sido capaz de resistir ao desafio. Por "dever cívico". O de tentar
"inverter a tendência" de perda dos valores essenciais da política,
como ele os desenha na sua apresentação. Traduza-se essa
resposta pelo lado do 'sim': sim, para "partilhar com os mais novos uma
experiência de vida"; sim, "para lhes transmitir a convicção de que a
política vale a pena"; sim, finalmente, para os despertar "para a
cidadania, que é onde tudo começa". Por estas razões juntas, o
ex-Presidente não resistiu a um - a este - exercício de "pedagogia
democrática".Sampaio desenrola, num estilo entre o "conto
falado" autobiográfico e o livro escolar, a história da sua
aprendizagem política, no início da sua adolescência e realça a
importância do diálogo de gerações para o esclarecimento dos jovens,
dando o exemplo das conversas que com ele tinha seu pai. O roteiro do
livro é a história de Portugal nos últimos sessenta anos, em paralelo
com a história do autor - um roteiro de vida dedicada à política, desde
o despertar para o interesse pela coisa pública, pela mão de seu pai,
até ao percurso como dirigente académico universitário e oposicionista
ao regime de Salazar. E, após o 25 de Abril, como dirigente político e
Presidente da República.No roteiro de vida, as passagens do
jovem Jorge pelo estrangeiro são utilizadas para criar um paralelismo
entre o Portugal autocrático e os Estados Unidos ou a Grã-Bretanha,
democráticos. E a 'explicação' sobre o funcionamento da democracia. O
relato de Sampaio, dirigido aos seus jovens leitores - e a seus pais -
dá sempre prevalência aos valores nobres da política. E aos da História
e da língua portuguesas, como pilares de um portuguesismo aberto ao
mundo de hoje. E capaz de integrar os valores da lusofonia, da herança
que deixámos no mundo e nos aproxima de outros povos.