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Os papões Nuno Rogeiro

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Mensagem por Vitor mango Sex Set 18, 2009 2:37 am

Os papões
00h00m

O TGV não é uma questão de fé, mas de análise das prioridades (...) Convinha que Mário Lino estudasse a História e arranjasse papões mais assustadores, pois a plateia já não tem pategos.

É evidente que "Espanha" é um termo vago, porque há várias. Mas ninguém contesta a abertura económica entre Madrid e Lisboa. Todos sabem que Olivença é um embaraço, mas não um abismo.

Muitos portugueses estão estabelecidos em Castela, na Catalunha, no País Basco.

Por outro lado, o MNE espanhol sempre teve o cuidado de colocar, na capital portuguesa, embaixadores com tacto, talento, grande nível, e um maior conhecimento dos "brandos costumes".

O Instituto Cervantes funciona com sucesso, para muitos lusitanos (nacionalistas, internacionalistas ou simplesmente pessoas correntes), que se encantam com Lope de Veja, Calderón, Cervantes, Unamuno, Ortega, ou que, muito simplesmente, precisam do castelhano para as suas profissões.

In illo tempore, Cavaco Silva (já presidente) foi a Espanha celebrar a amizade e a vizinhança, declarando, nas Cortes, que a chave da relação bilateral era o princípio do respeito mútuo e da igualdade. Nenhuma empresa espanhola deveria ser prejudicada em Portugal, nenhuma homóloga portuguesa martirizada em Espanha.

Por outro lado, Lisboa foi mediadora, discreta mas importante, nalgumas relações espanholas com a América Latina ou o Norte de África, e portou-se sempre exemplarmente na questão do terrorismo. Isto é, não confundindo o combate indispensável à ETA, com qualquer censura política sobre dissidentes de Espanha.

No plano da cooperação de defesa, ultrapassadas algumas ambiguidades, as coisas parecem hoje irrepreensíveis. Países soberanos iguais, embora desigualmente equipados, Portugal e Espanha mantêm planos de contingência classificados, mas trabalham juntos em muitas frentes internacionais.

É evidente que, da banca à informação, muitos interesses económicos espanhóis competem com firmas portuguesas. Ganham umas vezes, perdem outras. É a vida.

E é evidente que, dentro de Espanha, há pessoas que ainda são nostálgicas, ou melancólicas, de 1580-1640, convivem mal com o fim do império, às mãos dos EUA, em 1898, e olham para Portugal como uma "anomalia histórica". E há portugueses que, olhando também para trás, vislumbram em Espanha, senão um adversário verdadeiro, ou um inimigo permanente, pelo menos uma ameaça latente.

Mas os factores de tranquilidade são muito superiores a estas tensões, reais ou exageradas.

Nenhum dos decisores de cada Estado deve, porém, agir como se estivesse a defender os interesses, os anseios, ou as realidades do outro. Mariano Rajoy, embora advogando a importância do TGV, "em geral", reconheceu que Manuela Ferreira Leite compreende melhor do que ele, galego do PP, as "prioridades nacionais". Precisamente. O TGV não é uma questão de fé, mas de análise das prioridades.

Tendo trabalhado num banco espanhol, Ferreira Leite não pode ser acusada de anticastelhanismo primário. Está numa posição invulgarmente independente, ao lembrar que, a ser PM, terá de pensar, antes da espécie humana em abstracto, nos portugueses, em concreto.

Não há aqui nada de "salazarento", mesmo que a expressão não seja pejorativa. E convinha, mais uma vez, que o ministro Mário Lino estudasse a História: durante o Estado Novo, não houve nenhuma desconfiança face a Espanha. Existiu a "Aliança Peninsular", e as melhores relações entre o Generalíssimo Franco, e o antigo professor de Direito da Faculdade de Coimbra, humildemente nascido em Santa Comba Dão.

Arranje, por favor, papões mais assustadores. A plateia já não tem pategos.
Vitor mango
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