Passo a passo
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Passo a passo
Quando me lerem poderemos já ter governo, de novo socialista, apenas minoritário. Apesar disso, muito forte.
Reforçado pela vitória justa das Autárquicas, e correspondente derrota das franjas e das perdas da principal Oposição, o que desmantelou a ficção da proximidade do PSD em relação aos eleitores. Reforçado pelo referencial de estabilidade que o PS demonstrou ser, na obscura e inexplicável crise institucional que precedeu e sucedeu imediatamente ao dia eleitoral. Reforçado pela assertividade que Alegre agora patenteia, a tentar remediar erros passados e a procurar capitalizar no apoio escasso que concedeu a Sócrates e no apoio mais generoso que, com Helena Roseta, concedeu a Costa para Lisboa. Malhas que a ambição tece. Reforçado pela postura formal de recusa, como se não houvesse outra possível, de todas as Oposições em colaborar com o Governo. Reforçado, também, pela precária paz interior na principal Oposição até à próxima disenteria. Reforçado pelos pontos da agenda já avançados a fazer recuar algumas das medidas mais difíceis adoptadas no passado e já pagas e liquidadas em perda de votos.
As Oposições dão sinais evidentes de não quererem participar numa plataforma de governabilidade, nem real nem virtual. O espectro da crise, em vez de lhes servir de aguilhão para o consenso, querem continuar a usá-lo como capital de queixa, como se ainda estivessem em campanha eleitoral. Esquecem-se de que não ganharam as eleições e ainda não digeriram as correspondentes frustrações. Estarão à espera da escassa janela de oportunidade temporal para uma ambicionada dissolução da Assembleia. Só que não realizaram quanto mudou o balanço do poder no último mês. Um incumbente, possível candidato presidencial que, dois anos atrás poderia mobilizar apoios fáceis no centro esquerda, está hoje em posição retráctil. Pode voltar aos alongamentos, mas será muito mais difícil quando as alternativas já alinhadas se depurarem numa solução única.
Apesar de tudo há sinais subliminares de cooperação. No CDS aparecem já apoios explícitos à recandidatura do doutor Cavaco Silva, que podem ser lidos como contrapeso a futuros acordos focais com o PS. No PCP, a inflexibilidade temática regressou, mas a afabilidade pessoal está a progredir. E até no BE parece estarem suspensos os ataques pessoais aos ricos, à medida que seus candidatos independentes se atrevem a livremente criticar opções tomadas pela cúpula.
Daqui não retiro optimismo, mas também não alinho no pessimismo dos interessados em criar dificuldades. Ao contrário do que sugere um editorialista conhecido, um governo minoritário fia mais fino, borda com mais esmero, investe mais na dialéctica paciente. Sempre com a convicção de quem luta por uma causa de progresso. Passo a passo também se avança.
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António Correia de Campos, Deputado pelo PS ao Parlamento Europeu
Quando me lerem poderemos já ter governo, de novo socialista, apenas minoritário. Apesar disso, muito forte.
Reforçado pela vitória justa das Autárquicas, e correspondente derrota das franjas e das perdas da principal Oposição, o que desmantelou a ficção da proximidade do PSD em relação aos eleitores. Reforçado pelo referencial de estabilidade que o PS demonstrou ser, na obscura e inexplicável crise institucional que precedeu e sucedeu imediatamente ao dia eleitoral. Reforçado pela assertividade que Alegre agora patenteia, a tentar remediar erros passados e a procurar capitalizar no apoio escasso que concedeu a Sócrates e no apoio mais generoso que, com Helena Roseta, concedeu a Costa para Lisboa. Malhas que a ambição tece. Reforçado pela postura formal de recusa, como se não houvesse outra possível, de todas as Oposições em colaborar com o Governo. Reforçado, também, pela precária paz interior na principal Oposição até à próxima disenteria. Reforçado pelos pontos da agenda já avançados a fazer recuar algumas das medidas mais difíceis adoptadas no passado e já pagas e liquidadas em perda de votos.
As Oposições dão sinais evidentes de não quererem participar numa plataforma de governabilidade, nem real nem virtual. O espectro da crise, em vez de lhes servir de aguilhão para o consenso, querem continuar a usá-lo como capital de queixa, como se ainda estivessem em campanha eleitoral. Esquecem-se de que não ganharam as eleições e ainda não digeriram as correspondentes frustrações. Estarão à espera da escassa janela de oportunidade temporal para uma ambicionada dissolução da Assembleia. Só que não realizaram quanto mudou o balanço do poder no último mês. Um incumbente, possível candidato presidencial que, dois anos atrás poderia mobilizar apoios fáceis no centro esquerda, está hoje em posição retráctil. Pode voltar aos alongamentos, mas será muito mais difícil quando as alternativas já alinhadas se depurarem numa solução única.
Apesar de tudo há sinais subliminares de cooperação. No CDS aparecem já apoios explícitos à recandidatura do doutor Cavaco Silva, que podem ser lidos como contrapeso a futuros acordos focais com o PS. No PCP, a inflexibilidade temática regressou, mas a afabilidade pessoal está a progredir. E até no BE parece estarem suspensos os ataques pessoais aos ricos, à medida que seus candidatos independentes se atrevem a livremente criticar opções tomadas pela cúpula.
Daqui não retiro optimismo, mas também não alinho no pessimismo dos interessados em criar dificuldades. Ao contrário do que sugere um editorialista conhecido, um governo minoritário fia mais fino, borda com mais esmero, investe mais na dialéctica paciente. Sempre com a convicção de quem luta por uma causa de progresso. Passo a passo também se avança.
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António Correia de Campos, Deputado pelo PS ao Parlamento Europeu
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