Batalha naval
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Batalha naval
Batalha naval
Uma das metáforas políticas mais celebradas, e repetida universalmente, é a da nau do Estado. Platão, devido à magistral passagem no Livro VI da República, é por vezes apresentado como o seu autor, mas a imagem já existia pela arte de Arquíloco, e outros. Erudições à parte, esta ideia de que o Estado – portanto, o seu governo – é um navio, o qual pode chegar ao seu destino ou perder-se, afundar-se ou nem sequer levantar âncora, é perfeita para simplificar o que é intrínseca e inevitavelmente complexo: a organização do Poder.
Sócrates é alguém que não planeou os conflitos que desperta, ou que sobre ele se abatem, mas que se vê transformado no bode expiatório de uma sociedade que vive uma crise de crescimento – onde há forças caducas que se recusam a abandonar os antigos privilégios, e onde há forças regeneradoras e criativas que permanecem atrofiadas. Aqui entre nós que ninguém nos lê, quando se diz que uma só pessoa quer fazer mal tanto aos trabalhadores como aos empresários, e se garante que o principal problema político nacional está na sua presença à frente do Governo, como se o sistema fosse o resultado de uma moção voluntarista individual, podemos ter a certeza certezinha de que a história está muito mal contada. Que é uma história para borregos. A sucessão de casos onde aparecem suspeitas que envolvem o nome de Sócrates não têm deixado uma névoa impenetrável ou um breu assustador, é ao contrário: nunca houve um político tão investigado e tão devassado. Não é crível que a enorme maioria da classe política resistisse ao levantamento assassíno dos seus percursos escolares, profissionais e pessoais, ainda antes de irmos à actividade exclusivamente política. E é um espectáculo que une o asco à compaixão, que revolta e enfada, ver ataques a Sócrates por causa da sua licenciatura, ou das casas, ou do título de engenheiro, ou do Carvalho que os foda a todos, hipócritas debochados. A magnitude e amplitude dos ataques, unindo reaccionários da direita e da esquerda, desvela a profundidade do conflito, lá onde estão as raízes do nosso atraso secular.
Voltemos à nau. Alguém tem de a comandar, ser o capitão, o homem do leme. Então, que sentido faz que se tente dificultar, mesmo boicotar, essa navegação? Diríamos que nenhum, que é um absurdo. Contudo, a oposição defende precisamente o direito ao prejuízo máximo. Qualquer dano que se inflija no Governo é festejado como ganho por esta oposição que foi quem diabolizou a relação com a governação e com Sócrates. Repare-se nos discursos do PCP e BE, desde que existem, e constate-se como o problema não se chama Sócrates mas cassete. Qualquer dirigente do PS que tivesse estado à frente de um Governo maioritário seria tratado da mesmíssima forma, com a mesmíssima agressividade e violência – especialmente se tentasse reformar certas áreas cristalizadas pelo poder sindical e corporativo. Invariável lógica para o cinismo do PSD e CDS; menos fanáticos, mas igualmente oportunistas.
Será impossível virmos a ter uma oposição que respeite o bem comum, que sirva a comunidade? Não se sabe, claro, mas é possível tentar. Cada um de nós tem muito mais poder do que imagina, pois nós somos o eleitorado, a Cidade. E a Cidade será o que os cidadãos fizerem dela. Nem mais, nem menos.
Publicado por Val
Uma das metáforas políticas mais celebradas, e repetida universalmente, é a da nau do Estado. Platão, devido à magistral passagem no Livro VI da República, é por vezes apresentado como o seu autor, mas a imagem já existia pela arte de Arquíloco, e outros. Erudições à parte, esta ideia de que o Estado – portanto, o seu governo – é um navio, o qual pode chegar ao seu destino ou perder-se, afundar-se ou nem sequer levantar âncora, é perfeita para simplificar o que é intrínseca e inevitavelmente complexo: a organização do Poder.
Sócrates é alguém que não planeou os conflitos que desperta, ou que sobre ele se abatem, mas que se vê transformado no bode expiatório de uma sociedade que vive uma crise de crescimento – onde há forças caducas que se recusam a abandonar os antigos privilégios, e onde há forças regeneradoras e criativas que permanecem atrofiadas. Aqui entre nós que ninguém nos lê, quando se diz que uma só pessoa quer fazer mal tanto aos trabalhadores como aos empresários, e se garante que o principal problema político nacional está na sua presença à frente do Governo, como se o sistema fosse o resultado de uma moção voluntarista individual, podemos ter a certeza certezinha de que a história está muito mal contada. Que é uma história para borregos. A sucessão de casos onde aparecem suspeitas que envolvem o nome de Sócrates não têm deixado uma névoa impenetrável ou um breu assustador, é ao contrário: nunca houve um político tão investigado e tão devassado. Não é crível que a enorme maioria da classe política resistisse ao levantamento assassíno dos seus percursos escolares, profissionais e pessoais, ainda antes de irmos à actividade exclusivamente política. E é um espectáculo que une o asco à compaixão, que revolta e enfada, ver ataques a Sócrates por causa da sua licenciatura, ou das casas, ou do título de engenheiro, ou do Carvalho que os foda a todos, hipócritas debochados. A magnitude e amplitude dos ataques, unindo reaccionários da direita e da esquerda, desvela a profundidade do conflito, lá onde estão as raízes do nosso atraso secular.
Voltemos à nau. Alguém tem de a comandar, ser o capitão, o homem do leme. Então, que sentido faz que se tente dificultar, mesmo boicotar, essa navegação? Diríamos que nenhum, que é um absurdo. Contudo, a oposição defende precisamente o direito ao prejuízo máximo. Qualquer dano que se inflija no Governo é festejado como ganho por esta oposição que foi quem diabolizou a relação com a governação e com Sócrates. Repare-se nos discursos do PCP e BE, desde que existem, e constate-se como o problema não se chama Sócrates mas cassete. Qualquer dirigente do PS que tivesse estado à frente de um Governo maioritário seria tratado da mesmíssima forma, com a mesmíssima agressividade e violência – especialmente se tentasse reformar certas áreas cristalizadas pelo poder sindical e corporativo. Invariável lógica para o cinismo do PSD e CDS; menos fanáticos, mas igualmente oportunistas.
Será impossível virmos a ter uma oposição que respeite o bem comum, que sirva a comunidade? Não se sabe, claro, mas é possível tentar. Cada um de nós tem muito mais poder do que imagina, pois nós somos o eleitorado, a Cidade. E a Cidade será o que os cidadãos fizerem dela. Nem mais, nem menos.
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