No rescaldo de Copenhaga
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Vagueando na Notícia :: Salas das mesas de grandes debates de noticias :: Professor Dr e mister Mokas faz a analise do Mundo
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No rescaldo de Copenhaga
No rescaldo de Copenhaga
por Mário Soares no DN
1.Vale a pena reflectir no rescaldo da Cimeira de Copenhaga sobre as consequências que dela se podem extrair. Primeira, que o mundo mudou muito: o multilateralismo é um facto incontestável e irreversível; que a ONU, organizadora da Cimeira, conta ainda pouco em termos de governação mundial e os pedidos angustiados do secretário-geral Ban Ki-moon, não foram ouvidos; que o acordo não vinculativo entre a China e os Estados Unidos se sobrepôs à aliança tradicional entre a América e a União Europeia, que, não sendo capaz de se exprimir como um todo, foi, obviamente, marginalizada; e que os Estados emergentes - como, especialmente, o Brasil -, aliados ou não aos países mais pobres, são cada vez mais importantes no xadrez global.
Segunda, que a decepção e a revolta avultam, entre as pessoas conscientes do mundo inteiro, como a consequência principal desta infeliz Cimeira, uma vez que os egoísmos nacionais, o medo de perder as soberanias, em alguns países, se sobrepuseram à necessidade global de defender o nosso planeta ameaçado. Não só do aquecimento global - note-se -, mas também da escassez de água potável, da desertificação crescente, das secas, do decréscimo das florestas e das ameaças que estão a transformar os Oceanos e a biodiversidade das espécies, animais e vegetais.
Terceira, que a força dos lobbies e dos grandes interesses multinacionais conseguiu insinuar dúvidas em muitos espíritos e em alguns representantes de Governos, principalmente nos mais ricos em recursos de carvão, petróleo, gás e mais interessados na sua comercialização; que o aquecimento da Terra, ao contrário do que nos dizem alguns, não é um fenómeno natural e, portanto, resulta do comportamento hostil dos humanos à natureza. Essa teoria - diga-se - é falsa e rejeitada pela esmagadora maioria dos cientistas mundiais, nomeadamente pelo Grupo de Cientistas e Técnicos Intergovernamental sobre a evolução do clima. Mas conseguiu suscitar prolongados debates, lançando a confusão na Cimeira...
Daí a profunda decepção das ONG ambientalistas e dos cientistas e políticos responsáveis, bem como dos activistas e ecologistas, que ruidosamente se manifestaram, ao frio e à chuva, desinteressadamente, vindos de todos os continentes, aos milhares. O que contrastou com a alegria discreta dos países da OPEP e de alguns representantes de vários Estados, sem consciência ecológica, cépticos, que só entendem a política a curto prazo e segundo o que julgam ser os interesses deles próprios ou dos Estados que representam.
Realmente as reacções não se fizeram esperar, vindas das organizações ambientalistas e dos ecologistas e das pessoas de boa consciência, do mundo inteiro. Na Europa, pelo menos, as consequências vão-se agravar, perante o desagrado da opinião pública e dos partidos verdes e, em geral, da Esquerda. O próprio Brasil e a África do Sul - dois dos países que estiveram presentes na sala em que se alinhavou, à última hora, o acordo não vinculativo promovido pela América e pela China - distanciaram-se dele, nomeadamente pela voz inspirada do Presidente Lula da Silva, que, uma vez mais, falando sempre em português, teve palavras extremamente sensatas e pertinentes.
Prevê-se agora que, a continuar assim, o aquecimento mundial até ao final do século subirá 3 graus ou mais. Iremos ter uma subida regular das águas do mar, não de centímetros mas de metros. O que fará desaparecer algumas ilhas e recuar as zonas costeiras de certos países marítimos, como o nosso. Os excessos climáticos, chuvas torrenciais, ventos ciclópicos, tsunamis, furacões, tremores de terra e, por outro lado, secas, calor excessivo, desertificação, decréscimo das florestas, sensível diminuição da biodiversidade, vão tornar-se frequentes. Não é uma perspectiva agradável para ninguém, sobretudo para as jovens gerações.
Por isso, creio que cada vez haverá mais reacções e manifestações, progressivamente mais violentas, até que os líderes que hoje nos governam tenham mais coragem e sentido das responsabilidades próprias ou sejam substituídos.
Obama, já o escrevi na semana passada, decepcionou, na sua estada em Copenhaga, milhões dos seus entusiastas. Mas, entretanto, teve uma boa vitória no Senado, que aprovou o seu plano de saúde, em defesa dos mais pobres e desfavorecidos dos seus compatriotas. Um grande marco positivo no seu percurso. Talvez isso lhe dê um novo impulso para lutar, a partir de agora, a sério contra o aquecimento global e em defesa do nosso planeta. É bem necessário!
2.E a crise global? Relacionada com as questões climáticas, como veremos, ninguém pode afirmar, com segurança, que ela está a passar. No plano financeiro há progressos, é certo. O crédito parece estar a voltar a ser fácil. Mas, paradoxalmente, está tudo a ficar na mesma - ou quase - porque os lobbies, os abusos e os crimes não punidos de banqueiros e especuladores, em geral, não mudaram, salvo algumas excepções. E reflectem-se, necessariamente, por forma muito negativa, na economia real, a qual, enquanto não houver reduções drásticas do desemprego, do trabalho precário e também do CO2 pela introdução em massa das energias alternativas, não vai melhorar.
Não sou tão pessimista como o meu camarada e amigo Michel Rocard, que numa excelente entrevista concedida ao Nouvel Observateur, da passada semana, intitulada "Como vejo o futuro" - cuja leitura aconselho, sobretudo, aos economistas neoliberais -, afirma que a crise "levará duas ou três décadas para se sair dela". Acho que exagera, porque a aceleração das mudanças no mundo é imparável e de enorme rapidez. Para o bem e para o mal.
Coincido, contudo, com ele, quanto à necessidade absoluta de mudar o modelo de crescimento. E isso não está a acontecer, sobretudo na União Europeia, onde os líderes, vindos de um passado recente, não querem compreender a falência do neoliberalismo, e do seu principal teórico, Milton Friedman, que, apesar de prémio Nobel, seguido por tantos economistas, se enganou redondamente, como se tornou evidente, com esta actual crise.
Porquê? Porque continuam a pensar que o mercado se auto-regula e que a luta pela vida é um facto natural incontornável: os fracos empobrecem e morrem e os ricos triunfam... Assim, o desemprego e o trabalho precário, a pobreza e as terríveis desigualdades, são fenómenos naturais, como a selecção das espécies. É o que chamam o "darwinismo social"...
Ora não é assim. A história do século XX prova-nos o contrário. Dos sistemas político-sociais que se enfrentaram - comunismo, nazifascismo, liberalismo e socialismo democrático -, o único que subsiste e continua menos afectado pela crise global é, precisamente o socialismo democrático, a que os nórdicos chamam social-democracia e os anglo-saxões trabalhismo. Em que consiste?
Fundamentalmente, em pôr o acento tónico na dignidade do trabalho, na justiça social (pleno emprego, serviços de saúde gratuitos, pensões sociais, educação para todos, etc.), na luta contra o desemprego e o trabalho precário, na redução das desigualdades sociais, na erradicação da pobreza e na regulamentação do mercado (feita pelos Estados nacionais e, na Europa, imposta pela União). Na globalização, que terá de ser igualmente regulada, por princípios éticos e valores, no âmbito e por intervenção das Nações Unidas. Nos últimos trinta anos, também, na luta essencial contra as ameaças que pesam sobre o nosso planeta e que podem pôr em causa a sobrevivência da humanidade.
Com o colapso do universo comunista, os Estados Unidos surgiram como os "donos do mundo" e a hiperpotência dominante. Pior do que isso: tentaram colonizar ideologicamente a Europa com o seu neoliberalismo - cujo melhor exemplo foi a "terceira via" do Blair e do seu ideólogo Giddens -, conduziram o mundo à crise global que nos afecta e levaram o Ocidente a intervir em duas guerras de difícil saída: no Afeganistão e no Iraque.
Conclusão: para vencermos a crise precisamos de mudar de modelo económico de crescimento. Tanto no plano social como no ambiental. A economia real não funciona com os sobressaltos do capitalismo financeiro-especulativo, dito de casino. Precisa de salários dignos, pleno emprego, fim do trabalho precário, diálogo e concertação social e um mínimo de bem-estar social para todos. Já dizia Ford, o rei dos automóveis baratos, "pago bem aos meus operários para que eles possam comprar os meus carros..." As economias de mera exploração do trabalho alheio, em benefício de poucos, cada vez menos, têm os dias contados.
3.Le Monde e Lula. Sou leitor do Le Monde, que fez sessenta e cinco anos, praticamente desde que começou a aparecer em Lisboa, no rescaldo da guerra na Europa. Durante os anos de sombra e amargura do salazarismo, lia Le Monde como se fosse a Bíblia. Era um jornal de excelente informação, politicamente isento e realmente universal. Acresce que tinha colaboradores - como Marcel Niedergang, que se ocupava da Península Ibérica e da América Latina - fazendo artigos que fustigavam as ditaduras e eram progressistas. Quando o meu nome apareceu, pela primeira vez, nas páginas de Le Monde, como oposicionista a Salazar, foi, para mim, um momento de glória...
Desaparecido o seu director e fundador, Hubert Beuve--Méry, excepcional jornalista, de grande isenção, que fez escola, Le Monde manteve-se por algum tempo e passou depois por diversas crises, que foi vencendo, como quase todos os grandes órgãos da imprensa internacional, batidos pela concorrência das televisões e da Internet. A linha editorial de Le Monde foi mantida, porque nunca deixou de ter leitores fiéis, não só da minha geração como mesmo muito mais jovens.
Vem isto a propósito do facto, para nós, portugueses, muito relevante e grato, de Le Monde ter resolvido, pela primeira vez, escolher, no dia de Natal, o homem do ano de 2009, o Presidente Lula, o maior embaixador da língua portuguesa no mundo. Todo o imenso espaço da Lusofonia está assim de parabéns. Muito merecidos.
Com efeito, Luiz Inácio Lula da Silva, autodidata, antigo operário e sindicalista, homem do povo, de princípios e de valores, de uma excepcional intuição política, de grande inteligência e com uma habilidade incomparável para obter consensos, conseguiu ombrear com as maiores figuras internacionais, como Barack Obama ou Nelson Mandela e obter de Le Monde - um dos jornais europeus mais respeitados - o justíssimo reconhecimento de "o homem do ano 2009". Isso aconteceu também porque, quase no fim do seu segundo e último mandato, o Brasil, um país-continente, conseguiu finalmente elevar-se ao estatuto das grandes potências mundiais, sob todos os aspectos, a par dos Estados Unidos, da China, da Rússia, da Índia, do Japão e talvez outros, mas raríssimos.
Para Portugal, país irmão, trata-se de um enorme orgulho e de uma imensa alegria.
por Mário Soares no DN
1.Vale a pena reflectir no rescaldo da Cimeira de Copenhaga sobre as consequências que dela se podem extrair. Primeira, que o mundo mudou muito: o multilateralismo é um facto incontestável e irreversível; que a ONU, organizadora da Cimeira, conta ainda pouco em termos de governação mundial e os pedidos angustiados do secretário-geral Ban Ki-moon, não foram ouvidos; que o acordo não vinculativo entre a China e os Estados Unidos se sobrepôs à aliança tradicional entre a América e a União Europeia, que, não sendo capaz de se exprimir como um todo, foi, obviamente, marginalizada; e que os Estados emergentes - como, especialmente, o Brasil -, aliados ou não aos países mais pobres, são cada vez mais importantes no xadrez global.
Segunda, que a decepção e a revolta avultam, entre as pessoas conscientes do mundo inteiro, como a consequência principal desta infeliz Cimeira, uma vez que os egoísmos nacionais, o medo de perder as soberanias, em alguns países, se sobrepuseram à necessidade global de defender o nosso planeta ameaçado. Não só do aquecimento global - note-se -, mas também da escassez de água potável, da desertificação crescente, das secas, do decréscimo das florestas e das ameaças que estão a transformar os Oceanos e a biodiversidade das espécies, animais e vegetais.
Terceira, que a força dos lobbies e dos grandes interesses multinacionais conseguiu insinuar dúvidas em muitos espíritos e em alguns representantes de Governos, principalmente nos mais ricos em recursos de carvão, petróleo, gás e mais interessados na sua comercialização; que o aquecimento da Terra, ao contrário do que nos dizem alguns, não é um fenómeno natural e, portanto, resulta do comportamento hostil dos humanos à natureza. Essa teoria - diga-se - é falsa e rejeitada pela esmagadora maioria dos cientistas mundiais, nomeadamente pelo Grupo de Cientistas e Técnicos Intergovernamental sobre a evolução do clima. Mas conseguiu suscitar prolongados debates, lançando a confusão na Cimeira...
Daí a profunda decepção das ONG ambientalistas e dos cientistas e políticos responsáveis, bem como dos activistas e ecologistas, que ruidosamente se manifestaram, ao frio e à chuva, desinteressadamente, vindos de todos os continentes, aos milhares. O que contrastou com a alegria discreta dos países da OPEP e de alguns representantes de vários Estados, sem consciência ecológica, cépticos, que só entendem a política a curto prazo e segundo o que julgam ser os interesses deles próprios ou dos Estados que representam.
Realmente as reacções não se fizeram esperar, vindas das organizações ambientalistas e dos ecologistas e das pessoas de boa consciência, do mundo inteiro. Na Europa, pelo menos, as consequências vão-se agravar, perante o desagrado da opinião pública e dos partidos verdes e, em geral, da Esquerda. O próprio Brasil e a África do Sul - dois dos países que estiveram presentes na sala em que se alinhavou, à última hora, o acordo não vinculativo promovido pela América e pela China - distanciaram-se dele, nomeadamente pela voz inspirada do Presidente Lula da Silva, que, uma vez mais, falando sempre em português, teve palavras extremamente sensatas e pertinentes.
Prevê-se agora que, a continuar assim, o aquecimento mundial até ao final do século subirá 3 graus ou mais. Iremos ter uma subida regular das águas do mar, não de centímetros mas de metros. O que fará desaparecer algumas ilhas e recuar as zonas costeiras de certos países marítimos, como o nosso. Os excessos climáticos, chuvas torrenciais, ventos ciclópicos, tsunamis, furacões, tremores de terra e, por outro lado, secas, calor excessivo, desertificação, decréscimo das florestas, sensível diminuição da biodiversidade, vão tornar-se frequentes. Não é uma perspectiva agradável para ninguém, sobretudo para as jovens gerações.
Por isso, creio que cada vez haverá mais reacções e manifestações, progressivamente mais violentas, até que os líderes que hoje nos governam tenham mais coragem e sentido das responsabilidades próprias ou sejam substituídos.
Obama, já o escrevi na semana passada, decepcionou, na sua estada em Copenhaga, milhões dos seus entusiastas. Mas, entretanto, teve uma boa vitória no Senado, que aprovou o seu plano de saúde, em defesa dos mais pobres e desfavorecidos dos seus compatriotas. Um grande marco positivo no seu percurso. Talvez isso lhe dê um novo impulso para lutar, a partir de agora, a sério contra o aquecimento global e em defesa do nosso planeta. É bem necessário!
2.E a crise global? Relacionada com as questões climáticas, como veremos, ninguém pode afirmar, com segurança, que ela está a passar. No plano financeiro há progressos, é certo. O crédito parece estar a voltar a ser fácil. Mas, paradoxalmente, está tudo a ficar na mesma - ou quase - porque os lobbies, os abusos e os crimes não punidos de banqueiros e especuladores, em geral, não mudaram, salvo algumas excepções. E reflectem-se, necessariamente, por forma muito negativa, na economia real, a qual, enquanto não houver reduções drásticas do desemprego, do trabalho precário e também do CO2 pela introdução em massa das energias alternativas, não vai melhorar.
Não sou tão pessimista como o meu camarada e amigo Michel Rocard, que numa excelente entrevista concedida ao Nouvel Observateur, da passada semana, intitulada "Como vejo o futuro" - cuja leitura aconselho, sobretudo, aos economistas neoliberais -, afirma que a crise "levará duas ou três décadas para se sair dela". Acho que exagera, porque a aceleração das mudanças no mundo é imparável e de enorme rapidez. Para o bem e para o mal.
Coincido, contudo, com ele, quanto à necessidade absoluta de mudar o modelo de crescimento. E isso não está a acontecer, sobretudo na União Europeia, onde os líderes, vindos de um passado recente, não querem compreender a falência do neoliberalismo, e do seu principal teórico, Milton Friedman, que, apesar de prémio Nobel, seguido por tantos economistas, se enganou redondamente, como se tornou evidente, com esta actual crise.
Porquê? Porque continuam a pensar que o mercado se auto-regula e que a luta pela vida é um facto natural incontornável: os fracos empobrecem e morrem e os ricos triunfam... Assim, o desemprego e o trabalho precário, a pobreza e as terríveis desigualdades, são fenómenos naturais, como a selecção das espécies. É o que chamam o "darwinismo social"...
Ora não é assim. A história do século XX prova-nos o contrário. Dos sistemas político-sociais que se enfrentaram - comunismo, nazifascismo, liberalismo e socialismo democrático -, o único que subsiste e continua menos afectado pela crise global é, precisamente o socialismo democrático, a que os nórdicos chamam social-democracia e os anglo-saxões trabalhismo. Em que consiste?
Fundamentalmente, em pôr o acento tónico na dignidade do trabalho, na justiça social (pleno emprego, serviços de saúde gratuitos, pensões sociais, educação para todos, etc.), na luta contra o desemprego e o trabalho precário, na redução das desigualdades sociais, na erradicação da pobreza e na regulamentação do mercado (feita pelos Estados nacionais e, na Europa, imposta pela União). Na globalização, que terá de ser igualmente regulada, por princípios éticos e valores, no âmbito e por intervenção das Nações Unidas. Nos últimos trinta anos, também, na luta essencial contra as ameaças que pesam sobre o nosso planeta e que podem pôr em causa a sobrevivência da humanidade.
Com o colapso do universo comunista, os Estados Unidos surgiram como os "donos do mundo" e a hiperpotência dominante. Pior do que isso: tentaram colonizar ideologicamente a Europa com o seu neoliberalismo - cujo melhor exemplo foi a "terceira via" do Blair e do seu ideólogo Giddens -, conduziram o mundo à crise global que nos afecta e levaram o Ocidente a intervir em duas guerras de difícil saída: no Afeganistão e no Iraque.
Conclusão: para vencermos a crise precisamos de mudar de modelo económico de crescimento. Tanto no plano social como no ambiental. A economia real não funciona com os sobressaltos do capitalismo financeiro-especulativo, dito de casino. Precisa de salários dignos, pleno emprego, fim do trabalho precário, diálogo e concertação social e um mínimo de bem-estar social para todos. Já dizia Ford, o rei dos automóveis baratos, "pago bem aos meus operários para que eles possam comprar os meus carros..." As economias de mera exploração do trabalho alheio, em benefício de poucos, cada vez menos, têm os dias contados.
3.Le Monde e Lula. Sou leitor do Le Monde, que fez sessenta e cinco anos, praticamente desde que começou a aparecer em Lisboa, no rescaldo da guerra na Europa. Durante os anos de sombra e amargura do salazarismo, lia Le Monde como se fosse a Bíblia. Era um jornal de excelente informação, politicamente isento e realmente universal. Acresce que tinha colaboradores - como Marcel Niedergang, que se ocupava da Península Ibérica e da América Latina - fazendo artigos que fustigavam as ditaduras e eram progressistas. Quando o meu nome apareceu, pela primeira vez, nas páginas de Le Monde, como oposicionista a Salazar, foi, para mim, um momento de glória...
Desaparecido o seu director e fundador, Hubert Beuve--Méry, excepcional jornalista, de grande isenção, que fez escola, Le Monde manteve-se por algum tempo e passou depois por diversas crises, que foi vencendo, como quase todos os grandes órgãos da imprensa internacional, batidos pela concorrência das televisões e da Internet. A linha editorial de Le Monde foi mantida, porque nunca deixou de ter leitores fiéis, não só da minha geração como mesmo muito mais jovens.
Vem isto a propósito do facto, para nós, portugueses, muito relevante e grato, de Le Monde ter resolvido, pela primeira vez, escolher, no dia de Natal, o homem do ano de 2009, o Presidente Lula, o maior embaixador da língua portuguesa no mundo. Todo o imenso espaço da Lusofonia está assim de parabéns. Muito merecidos.
Com efeito, Luiz Inácio Lula da Silva, autodidata, antigo operário e sindicalista, homem do povo, de princípios e de valores, de uma excepcional intuição política, de grande inteligência e com uma habilidade incomparável para obter consensos, conseguiu ombrear com as maiores figuras internacionais, como Barack Obama ou Nelson Mandela e obter de Le Monde - um dos jornais europeus mais respeitados - o justíssimo reconhecimento de "o homem do ano 2009". Isso aconteceu também porque, quase no fim do seu segundo e último mandato, o Brasil, um país-continente, conseguiu finalmente elevar-se ao estatuto das grandes potências mundiais, sob todos os aspectos, a par dos Estados Unidos, da China, da Rússia, da Índia, do Japão e talvez outros, mas raríssimos.
Para Portugal, país irmão, trata-se de um enorme orgulho e de uma imensa alegria.
Viriato- Pontos : 16657
Re: No rescaldo de Copenhaga
Acho que se conseguiu em Cpenhagem uma vitoria
O de se ter alertado uma consciencia Mundial
Ás vezes fazer um acordo que ninguem iria cumprir e um alerta que ha desordem vale mais deixar ferver ...e depois apontar a dedo quem mais poluir
O de se ter alertado uma consciencia Mundial
Ás vezes fazer um acordo que ninguem iria cumprir e um alerta que ha desordem vale mais deixar ferver ...e depois apontar a dedo quem mais poluir
Vitor mango- Pontos : 118274
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