Dona Banca by Nuno Rogeiro
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Dona Banca by Nuno Rogeiro
Dona Banca
Dona Banca
2010-01-01
Foi a década dos escândalos. Casa Pia, Moderna, Freeport, Face Oculta, o choque bancário. Não se tratou, porém, de uma derrocada de instituições fundamentais, ou de autoridades naturais.
Limitámo-nos a ver cair, lentamente ou num golpe, pessoas singulares e colectivas que, nos media, nas conversas de café e nos rumores, estavam já feridas de morte, ou tinham nascido enjeitadas, ou haviam soçobrado no negrume.
A esse respeito, o drama dos depositantes do BPP é apenas uma peça de um puzzle por reconstruir, especialmente complexo. É evidente que se pode começar por uma declaração de princípios: o Banco Privado, nascido em 1996 com um recital de Monserrat Caballé, nunca foi uma casa popular. Isto é, um banco comercial para depositantes normais.
Como ainda hoje se refere no endereço electrónico da entidade falida (que, por negra ironia, e um pedaço de desfaçatez, se continua a definir como "uma referência" no mundo do crédito), o negócio é sobretudo a gestão de fortunas, pessoais e empresariais. A actividade de Global Wealth Management, afirma-se ainda no sítio electrónico renovado, conduz (não riam) à "preservação e valorização do património dos clientes". Viu-se. Vê-se.
Claro que, no caso Madoff, nas vésperas do cataclismo ainda se cantava de galo. Os "produtos de retorno absoluto" do banqueiro-aprendiz (um veterano da manipulação de colarinho branco, desde os tempos da presidência do NASDAQ) eram vendidos em bancos portugueses, e a firma do hoje sentenciado (a um século de cárcere) também se dizia um "padrão de excelência", lembrando que, na melhor tradição do capitalismo empreendedor, tinha o nome do fundador na porta.
Madoff, previsivelmente, só se "arrependeu" depois de ter alienado muitos bens de monta. Ao ser detido, passara de príncipe a pobre, embora mantivesse a penthouse nova-iorquina, e muita riqueza confidencial, ou dissimulada. De qualquer forma, património substancial foi recolhido para responsabilização perante credores, ou está já identificado, de Gibraltar às Ilhas Virgens, do Luxemburgo à Suíça.
Espera-se que o mesmo possa suceder no BPP. E que se expliquem as perplexidades do Tribunal de Contas, e que se esclareça a diferença de tratamento em relação ao BPN, ou o alegado favor a clientes abastados.
E que se explique se houve crime, ou só erro.
Dona Banca
2010-01-01
Foi a década dos escândalos. Casa Pia, Moderna, Freeport, Face Oculta, o choque bancário. Não se tratou, porém, de uma derrocada de instituições fundamentais, ou de autoridades naturais.
Limitámo-nos a ver cair, lentamente ou num golpe, pessoas singulares e colectivas que, nos media, nas conversas de café e nos rumores, estavam já feridas de morte, ou tinham nascido enjeitadas, ou haviam soçobrado no negrume.
A esse respeito, o drama dos depositantes do BPP é apenas uma peça de um puzzle por reconstruir, especialmente complexo. É evidente que se pode começar por uma declaração de princípios: o Banco Privado, nascido em 1996 com um recital de Monserrat Caballé, nunca foi uma casa popular. Isto é, um banco comercial para depositantes normais.
Como ainda hoje se refere no endereço electrónico da entidade falida (que, por negra ironia, e um pedaço de desfaçatez, se continua a definir como "uma referência" no mundo do crédito), o negócio é sobretudo a gestão de fortunas, pessoais e empresariais. A actividade de Global Wealth Management, afirma-se ainda no sítio electrónico renovado, conduz (não riam) à "preservação e valorização do património dos clientes". Viu-se. Vê-se.
Claro que, no caso Madoff, nas vésperas do cataclismo ainda se cantava de galo. Os "produtos de retorno absoluto" do banqueiro-aprendiz (um veterano da manipulação de colarinho branco, desde os tempos da presidência do NASDAQ) eram vendidos em bancos portugueses, e a firma do hoje sentenciado (a um século de cárcere) também se dizia um "padrão de excelência", lembrando que, na melhor tradição do capitalismo empreendedor, tinha o nome do fundador na porta.
Madoff, previsivelmente, só se "arrependeu" depois de ter alienado muitos bens de monta. Ao ser detido, passara de príncipe a pobre, embora mantivesse a penthouse nova-iorquina, e muita riqueza confidencial, ou dissimulada. De qualquer forma, património substancial foi recolhido para responsabilização perante credores, ou está já identificado, de Gibraltar às Ilhas Virgens, do Luxemburgo à Suíça.
Espera-se que o mesmo possa suceder no BPP. E que se expliquem as perplexidades do Tribunal de Contas, e que se esclareça a diferença de tratamento em relação ao BPN, ou o alegado favor a clientes abastados.
E que se explique se houve crime, ou só erro.
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