Vagueando na Notícia


Participe do fórum, é rápido e fácil

Vagueando na Notícia
Vagueando na Notícia
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Liberdade de imprensa

Ir para baixo

Liberdade de imprensa Empty Liberdade de imprensa

Mensagem por Viriato Seg Fev 08, 2010 2:56 am

Liberdade de imprensa

António Costa

Portugal teima em saltar de uma crise para outra, da financeira para económica, da social para a política, num processo autofágico que não poderá ter senão um final infeliz, para todos.

Desta vez, na sequência da divulgação das escutas sobre o processo Face Oculta e das revelações sobre um alegado plano do Governo para controlar a comunicação social.

Três dias depois das primeiras notícias, e já com uma sucessão de declarações sobre o tema, do primeiro-ministro, do Presidente da República, dos mais altos magistrados da Nação e dos partidos da Oposição, fica claro que o pior que José Sócrates pode fazer é assobiar para o ar e/ou optar por fazer apenas declarações de indignação sobre uma possível violação do segredo de justiça.

A divulgação das escutas tem, de facto, duas leituras: uma de carácter jurídico e judicial e outra de cariz político. Se, ate à sua divulgação e eventual violação da lei, a questão judicial e criminal se sobrepunha a política, hoje, estão ao mesmo nível.

Alguém, alguma autoridade, tem de dizer ao país se a divulgação de escutas é ou não um atentado à lei e ao Estado de Direito. E agir em conformidade, desde logo para que a liberdade de imprensa não ande de mãos dadas com a irresponsabilidade de imprensa. Depois, o Procurador da República e o presidente do Supremo Tribunal têm de vir a público explicar porque é que não consideraram procedentes as suspeitas de ‘atentado ao direito'. Mas isso, hoje, já não chega.

Não é de esperar que seja o primeiro-ministro a comentar conversas privadas entre terceiros, mas, dito isto, tem outras coisas a dizer. E tem de perceber que o seu silêncio não vai ser suficiente para silenciar a discussão política. Aliás, quanto mais depressa o tema for encerrado, mais depressa o Governo, a oposição, os empresários, enfim, todos poderemos estar concentrados nos problemas estruturais que afectam o país e que tanta atenção estão a merecer dos mercados e investidores internacionais. Na economia, no emprego, nas contas do Estado.

A iniciativa do PSD de levar o tema à comissão de ética e a anunciada comissão de inquérito parlamentar proposta pelo Bloco de Esquerda em torno da liberdade de imprensa e do controlo da comunicação social deve ser apoiada pelo PS. É do interesse de Sócrates esclarecer o assunto e as suspeitas suscitadas pela transcrição de escutas que, não tendo relevância criminal, têm relevância política. Porque pior do que o seu silêncio é a ideia de que os visados (e os escutados propriamente dito) não têm outras explicações para além das que resultam da leitura de frases e palavras soltas, sem o seu contexto, transcritas num despacho judicial e na sua publicação.

As pressões sobre jornais e jornalistas por parte do poder político e do poder económico sempre existiram, não são de hoje, não nasceram com José Sócrates, e vão continuar quando o actual primeiro-ministro deixar as suas funções. E os exemplos, na história recente de Portugal, são vários e em diversos órgãos de comunicação social. Cabe, por isso, aos jornais e jornalistas, aos órgãos de comunicação social salvaguardarem a sua independência, isto é, a autonomia para seguirem a linha editorial que entenderem por decisão própria e sem interferências e ingerências externas.

Ora, José Sócrates tem, objectivamente, razões de queixa da comunicação social. Foi, é, o primeiro-ministro mais atacado e mais pressionado pelos media - às vezes por responsabilidade própria, por actos e omissões - mas esse é um risco que vem agarrado à função que desempenha. Tem de existir uma avaliação pública dos actos dos governos, de todos, e é sempre preferível um erro com liberdade de imprensa a qualquer forma de censura. A forma como o primeiro-ministro geriu, ao longo de mais de cinco anos, essa relação foi, é, também única.

Sócrates tem agora, pelas piores razões, isto é, a divulgação de escutas, uma boa oportunidade para esclarecer de uma vez por todas o seu posicionamento em relação à comunicação social, sob pena de ficar para a história pelo que quis fazer e não pelo que fez.
Viriato
Viriato

Pontos : 16657

Ir para o topo Ir para baixo

Liberdade de imprensa Empty Re: Liberdade de imprensa

Mensagem por Viriato Seg Fev 08, 2010 3:02 am

Público e privado

Miguel Coutinho

É inevitável que a divulgação de conversas privadas revelem facetas menos conhecidas da personalidade de figuras públicas. No essencial, os políticos não são diferentes das outras pessoas: têm desabafos, rancores, frustrações.

E têm, como é óbvio, direito a tê-los, como têm direito à sua intimidade. Creio que todos concordamos que a exposição pública dessa intimidade é uma violação inadmissível num Estado de Direito. Mas, é natural que os cidadãos esperem, sem falsos moralismos, que os titulares de cargos públicos acreditem e defendam, em todas as circunstâncias, públicas ou privadas, aqueles que são os valores essenciais em Democracia.

Enquanto, a Justiça portuguesa prossegue o seu laborioso trabalho de afirmação como fábrica certificada de zonas cinzentas e pilar incontornável da desconfiança dos cidadãos, o país entretém-se a formular juízos de valor assentes em destroços de processos e excertos de escutas telefónicas. Não será fácil a outro país repetir o paradigma da justiça portuguesa: incompetente na redacção da lei, confusa na sua interpretação e infinitamente lenta na sua aplicação. Esta justiça, altamente mediatizada e constantemente desautorizada, nem sequer está ao serviço dos poderosos - é, sim, pela impunidade decorrente das suas acções e omissões, a mais letal arma contra os políticos e, sobretudo, contra a Democracia.
Viriato
Viriato

Pontos : 16657

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos