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Mensagem por Vitor mango Seg Abr 05, 2010 11:52 am

A páscoa na terra*
Por vezes, acontece falar da minha terra - uma aldeia perdida algures no interior daquilo a que se convencionou chamar de "Alentejo Litoral" - de tal forma que os meus amigos perguntam se eu odeio a aldeia assim tanto. Não odeio a minha terra; na verdade, até gosto bastante dela, e, a espaços, até sinto saudades de lá ir. Afinal, vivi lá até aos dezoito anos. Conheço praticamente toda a gente que lá vive, e ainda tenho por lá um ou dois amigos (nunca fui muito popular). Mas há momentos em que abomino a aldeia. Ou, para ser mais preciso: abomino as pessoas que lá vivem, que por vezes tornam a aldeia mais pequena do que aquilo que ela normalmente é. Por exemplo: quando escrevi no meu moleskine este caderno, corria o meu segundo dia de "fim-de-semana de Páscoa", era noite, e eu estava sentado na única esplanada da aldeia, a beber um café e um whisky; e, na mesa do lado, um merdoso cocaínado e alcoolizado espancava metodicamente um cão enquanto proferia disparates. No dia em que cheguei, queimei uma hora da minha tarde a ver dois rapazes da terra, que conheço bem, a jogarem snooker no clube lá da aldeia; e dois idiotas, um da terra e outro do raio que o parta, a "dar palpites" durante todo o jogo, a gozar sempre que um dos rapazes falhava uma tabela (eles, que falhavam na língua portuguesa em toda a linha). Enfim, os perfeitos treinadores de bancada: burgessos, iletrados, peneirentos. Fico a saber mais tarde que o desconhecido é um dos novos elementos da GNR em serviço na aldeia. Mais um a dar mau nome à Guarda. Enfim, o snooker e respectivos palpites devem ter durado mais de uma hora; acho que aguentei pouco mais de meia. Aquelas vozes irritantes, a cuspir palavras com uma pretensa sabedoria que não existe, deu-me a volta ao miolo; fosse eu que estivesse a jogar, e um par de berros tinha-se feito ouvir. Mas não era, e por isso optei por sair. O idiota da terra sai também, senta-se no parapeito da janela do clube. Dois rapazes mais novos que ele (e que eu) saem também. O idiota enceta uma conversa orgulhosa sobre a "ida às putas" na "outra noite". Fujo. Conheço demasiado bem as conversas sobre as "idas às putas", a única forma de imbecis daquele calibre (e na aldeia há muitos, considerando a população total da freguesia) saberem o que é "foder". Aquelas conversas sempre me aborreceram: em parte pelo orgulho aparente com que surgem, em parte por ser incapaz de compreender esse orgulho (e a necessidade por trás dele). É frequente, tanto quanto sei, os rapazes da aldeia "irem às putas", logo desde tenra idade. Tive em tempos um vizinho que sempre que queria ir parava no café e ofeceria boleia - abalava sempre com o carro cheio. A mim, nunca ninguém me convidou para ir. Foi o maior elogio que a minha geração da aldeia alguma vez me fez.


john

plantado por john at 10:23 AM 0 micróbios alheios
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Mensagem por Joao Ruiz Seg Abr 05, 2010 12:11 pm

Foi o maior elogio que a minha geração da aldeia alguma vez me fez.

Realmente, o ego masculino é anedótico, satisfaz-se com pouco e são rarosos que se colocam acima dos instintos mais soezes.

Infelizmente foi, é e continua a ser o pão nosso de cada dia...


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Mensagem por Vitor mango Seg Abr 05, 2010 12:30 pm

João Ruiz escreveu:
Foi o maior elogio que a minha geração da aldeia alguma vez me fez.

Realmente, o ego masculino é anedótico, satisfaz-se com pouco e são rarosos que se colocam acima dos instintos mais soezes.

Infelizmente foi, é e continua a ser o pão nosso de cada dia...


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a razao porque inclui e3ste post teve mais a vger com a prosa solta e livre que apesar de moralidade nao tem muro
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