Cedo para apoiar

Cedo para apoiar


Ainda é cedo para o PS apoiar Alegre, se é que o vai fazer. Há muito bom socialista que já não se identifica com ele, dorido com o comportamento do candidato do Bloco, estupefacto pela falta de apoio a Sócrates nos momentos difíceis, incapaz de compreender as suas opções de política económica.

Depois, ninguém garante que o candidato, ou os seus apoiantes, não venham a considerar tal apoio, apesar de tão reclamado, como uma mera tentativa de controlo político. Também pode acontecer que a decisão do PS não venha a ser o apoio, mas a simples liberdade de voto. Finalmente, não se deve excluir a potencial candidatura de alguém mais próximo do PS.

Alegre tem desperdiçado tempo e oportunidades. Não se demarcou das posições do PC e não pode esperar que o Bloco lhe facilite a vida, desligando-o, agora, de qualquer compromisso. Não apresentou nenhuma ideia, de esquerda ou de direita, que justifique o apoio, mais que a sua bela voz e o passado de luta. Não propôs modelo de exercício da Presidência que se possa contrapor a Cavaco. Não disse o que pensa do PEC e, se parece estar contra ele, não sugere qualquer alternativa. E, no entanto, poderia ter definido uma linha de esquerda responsável, de quem aspira ao poder e tem respostas para a crise e para o País. Admito que seria difícil, com o seu registo anti-poder. Escolheu o mais fácil, fazer como o BE, o PCP e as demais forças de protesto que de há muito se demitiram de governar. Fácil é criticar. _Poderia ter apostado nos títulos europeus de dívida pública (Eurobonds), no imposto sobre as transacções financeiras, na responsabilidade social das empresas, na sustentabilidade do modelo social solidário (em vez de o atacar com a defesa do imobilismo), na criação de novos modelos laborais que conjugassem flexibilidade e segurança, (em vez de primariamente descartar o código laboral).

É bem possível que o PS tenha que se definir por um relutante apoio à sua candidatura. Até lá o caminho é desconhecido e ainda incerto. Alegre não pode, pois, divertir-se a enlameá-lo ou a enchê-lo de obstáculos. Se quer recolher uma votação que o não envergonhe, tem muito a fazer nos meses próximos.

Se Passos Coelho vier a lançar o processo de revisão constitucional, como anuncia, dá a Alegre uma enorme oportunidade de combater a direita no terreno dos valores, demonstrando o mérito do SNS _renovado, da revigorada educação para todos, da segurança social agora garantida. Terá aí a sua estrada de Damasco. Que não perca a oportunidade.
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António Correia de Campos, Deputado do PS ao Parlamento Europeu

Diário Digital / Lusa