O primo

Primo diz ter sido autorizado a usar nome de Sócrates


por CARLOS RODRIGUES LIMA
Hoje

Hugo Monteiro começou por dizer que usou abusivamente o nome do primeiro-ministro. No processo relatou o contrário

São várias as contradições entre as declarações públicas de Hugo Monteiro, primo de José Sócrates, e as prestadas no processo do Freeport. Em Maio de 2009, o familiar do primeiro-ministro garantiu, numa entrevista ao semanário Expresso, que José Sócrates não o autorizou a invocar o seu nome como uma espécie de caução moral para apresentar um projecto de marketing ao Freeport. Ouvido como testemunha na investigação judicial, a história contada foi outra.

Eis o relato de Hugo Monteiro, que consta do relatório final da Polícia Judiciária, que o DN tem vindo a revelar: "Antes de apresentar o projecto tinha ido ter com o seu primo, José Sócrates, a casa dele, na Rua Braamcamp, a fim de lhe pedir se não se importava que dissesse que era primo dele, para prestigiar o projecto. [Referiu] Que tinham tomado um café numa pastelaria ao lado e que o seu primo lhe disse que o podia fazer."

O próprio José Sócrates, em entrevista à RTP, em Maio de 2009, tinha-se mostrado agastado com a hipótese de alguém ter usado o seu nome abusivamente. Recorde-se: "Espero - e tenho a certeza - que a investigação será capaz de identificar e punir criminalmente alguém que, porventura, tenha utilizado o meu nome abusivamente, de forma criminosa, com o objectivo de ter alguma vantagem. Ninguém está livre que utilizem o seu nome com o objectivo de obter vantagens ilegítimas ou criminosas."

A outra contradição prende-se com um email enviado para a Freeport com o domínio da Neurónio Criativo, a empresa de Hugo Monteiro, que desenvolvia trabalhos na área do marketing. O email seguiu com o conhecimento para josesocrates@neuroniocriativo.com. Na mesma entrevista ao semanário, Hugo Monteiro disse que inventou o tal endereço electrónico para "garantir uma resposta da Freeport". "Foi uma tentativa de ganhar um cliente a todo o custo", declarou. Ouvido pelos investigadores, apresentou uma versão diferente: "Não havia, nem nunca tinha havido qualquer relação entre a sua empresa e o seu primo e que o endereço josesocrates@neuroniocriativo.com não tinha sido criado, nem nunca tinha existido na rede."

O depoimento de Hugo Monteiro entra também em contradição com os depoimentos dos arguidos Charles Smith e Manuel Pedro (antigos sócios da empresa Smith&Pedro, responsável pela promoção do projecto do outlet de Alcochete). O primo do primeiro-ministro afirmou que antes da reunião com responsáveis da Freeport (para apresentar o tal projecto de marketing) encontrou-se com os dois empresários na sede da Smith&Pedro, partindo daqui para as instalações da Freeport. Hugo Monteiro declarou que Charles Smith e Manuel Pedro não tinham acompanhado a reunião.

Por sua vez, Charles Smith garantiu aos investigadores que Hugo Monteiro se dirigiu sozinho às instalações da Freeport e que a única intervenção que teve passou por um telefonema para a administração do outlet no sentido de o primo de José Sócrates ser recebido. No relatório final da investigação, a Polícia Judiciária anota esta contradição entre os dois.

In DN