A derrota de Salazar
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A derrota de Salazar
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30 Julho2010 | 12:00
Nicolau do Vale Pais
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Era uma conjuntura particular a que se vivia em 1984, quando a cidade de Los Angeles albergou os Jogos da vigésima terceira olimpíada.
A chama olímpica aterrava trazida por um astronauta em vôo livre com um "backpack" dos utilizados para passeios no espaço; a comitiva olímpica soviética não desfilava (acompanhada no gesto por outros países do bloco de Leste), retribuindo assim o boicote dos EUA aos Jogos de Moscovo, quatro anos antes. Diana Ross e Lionel Ritchie (entre outros) "estrelavam" num espectáculo que hoje é visto como um dos primeiros grandes eventos globais televisivos (a par com o concerto "Live Aid" do ano seguinte) - o cuidado posto na encomenda do tema principal dos Jogos a John Williams, reputado compositor para cinema e fiel parceiro de Steven Spielberg em "O Tubarão", "Encontros Imediatos de Terceiro Grau" ou "E.T.", mostrava bem que estes não eram só os Jogos Americanos - como aquando da conquista do espaço, a questão não era saber quem fazia primeiro ou melhor, mas sim que modelo de sucesso se projectava no triunfo - o mundo livre mostrava-se. As derrapagens financeiras de Montreal (Canadá, anfitriã de 1976) e Moscovo (URSS, anfitriã de 1980) demoveram quase todos; com efeito, quando o comité olímpico elegeu a cidade californiana, a escolha foi fácil e inédita - tratava-se da única candidata. Utilizando uma gestão de recursos brilhante, nomeadamente optando pela não construção de novas estruturas (expecto a piscina olímpica), a organização dos Jogos de 84 ainda hoje pode dizer que organizou uma das provas desportivas financeiramente mais bem sucedidas de sempre.
Na tarde de 12 de Agosto, Carlos Lopes perfilava-se entre os maiores dos maiores para o tiro de partida daquela que viria a ser considerada a melhor e mais bem disputada maratona de todos os tempos. O atleta que Viseu viu nascer em 1947 - época de violência obscura que Aquilino Ribeiro tão brilhantemente investigou e cuja memória convém não obliterar na espuma destes dias de desânimo e desacerto nas prioridades - tinha a improvável idade de 37 anos. Partiu lento, terminou demolidor. Frank Shorter, vencedor de 1976 e comentador desportivo, escreveu: "Lopes disparou a sete quilómetros do fim, e ninguém na história olímpica poderia tê-lo acompanhado". Carlos Lopes correu os 41,195 quilómetros da Maratona em 2h 09m 12s e o seu recorde olímpico só cairia em Pequim (2008). Venceu a primeira medalha de ouro olímpica portuguesa, juntando mais um título a um currículo desportivo impressionante em estrada, pista e corta-mato.
"Eu sei que se não fosse ele eu não seria conhecido no meio do atletismo, e ele sabe que se não fosse eu, ele não teria sido campeão olímpico" dizia o "mestre" Moniz Pereira, seu treinador de sempre, à RTP, numa peça de jornalismo emitida por altura dos 50 anos da televisão pública. Tinham começado a trabalhar em 1966, quando Lopes chegou a Lisboa vindo do "interior", onde, como milhares da sua geração, foi forçado a terminar a infância para trabalhar aos 11 anos (uma espécie de cruel preâmbulo à quase sempre inevitável emigração). Juntos geraram uma carreira das mais impressionantes de toda a história do desporto. Impedido de triunfar em Moscovo por diversas lesões, atropelado em Lisboa nas vésperas dos Jogos de L.A. (os deuses estiveram com ele), quando Lopes ergueu as mãos do segundo e terceiro classificados no pódio, para o aplauso final, perpetuou a sua vitória com a generosidade reservada apenas aos da sua dimensão.
Os "fracassos bem sucedidos" da nossa selecção de futebol são deveras relativos, o mesmo não se podendo dizer da vacuidade dos resultados muito aquém do ruído mediático e do custo dos seus responsáveis. Há algo mais no sucesso, a ideia primordial de não estarmos condenados nem ao medo, nem à condição: como confidenciava Carlos Lopes ao Jornal "A Bola" em Agosto do ano passado, tudo indicava nos preparativos e expectativas da festa, que a vitória estaria "reservada" a Salazar. Não o de Sta. Comba Dão, mas o maratonista de Cuba naturalizado norte-americano, que se esperava tivesse triunfado em nome de todos os homens livres. Não foi assim.
PS - À direcção do Sporting Clube de Portugal: a humilde sugestão de que se baptize a bancada sul do estádio com o nome de Moniz Pereira. Por razões óbvias de memória e de marketing.
30 Julho2010 | 12:00
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Era uma conjuntura particular a que se vivia em 1984, quando a cidade de Los Angeles albergou os Jogos da vigésima terceira olimpíada.
A chama olímpica aterrava trazida por um astronauta em vôo livre com um "backpack" dos utilizados para passeios no espaço; a comitiva olímpica soviética não desfilava (acompanhada no gesto por outros países do bloco de Leste), retribuindo assim o boicote dos EUA aos Jogos de Moscovo, quatro anos antes. Diana Ross e Lionel Ritchie (entre outros) "estrelavam" num espectáculo que hoje é visto como um dos primeiros grandes eventos globais televisivos (a par com o concerto "Live Aid" do ano seguinte) - o cuidado posto na encomenda do tema principal dos Jogos a John Williams, reputado compositor para cinema e fiel parceiro de Steven Spielberg em "O Tubarão", "Encontros Imediatos de Terceiro Grau" ou "E.T.", mostrava bem que estes não eram só os Jogos Americanos - como aquando da conquista do espaço, a questão não era saber quem fazia primeiro ou melhor, mas sim que modelo de sucesso se projectava no triunfo - o mundo livre mostrava-se. As derrapagens financeiras de Montreal (Canadá, anfitriã de 1976) e Moscovo (URSS, anfitriã de 1980) demoveram quase todos; com efeito, quando o comité olímpico elegeu a cidade californiana, a escolha foi fácil e inédita - tratava-se da única candidata. Utilizando uma gestão de recursos brilhante, nomeadamente optando pela não construção de novas estruturas (expecto a piscina olímpica), a organização dos Jogos de 84 ainda hoje pode dizer que organizou uma das provas desportivas financeiramente mais bem sucedidas de sempre.
Na tarde de 12 de Agosto, Carlos Lopes perfilava-se entre os maiores dos maiores para o tiro de partida daquela que viria a ser considerada a melhor e mais bem disputada maratona de todos os tempos. O atleta que Viseu viu nascer em 1947 - época de violência obscura que Aquilino Ribeiro tão brilhantemente investigou e cuja memória convém não obliterar na espuma destes dias de desânimo e desacerto nas prioridades - tinha a improvável idade de 37 anos. Partiu lento, terminou demolidor. Frank Shorter, vencedor de 1976 e comentador desportivo, escreveu: "Lopes disparou a sete quilómetros do fim, e ninguém na história olímpica poderia tê-lo acompanhado". Carlos Lopes correu os 41,195 quilómetros da Maratona em 2h 09m 12s e o seu recorde olímpico só cairia em Pequim (2008). Venceu a primeira medalha de ouro olímpica portuguesa, juntando mais um título a um currículo desportivo impressionante em estrada, pista e corta-mato.
"Eu sei que se não fosse ele eu não seria conhecido no meio do atletismo, e ele sabe que se não fosse eu, ele não teria sido campeão olímpico" dizia o "mestre" Moniz Pereira, seu treinador de sempre, à RTP, numa peça de jornalismo emitida por altura dos 50 anos da televisão pública. Tinham começado a trabalhar em 1966, quando Lopes chegou a Lisboa vindo do "interior", onde, como milhares da sua geração, foi forçado a terminar a infância para trabalhar aos 11 anos (uma espécie de cruel preâmbulo à quase sempre inevitável emigração). Juntos geraram uma carreira das mais impressionantes de toda a história do desporto. Impedido de triunfar em Moscovo por diversas lesões, atropelado em Lisboa nas vésperas dos Jogos de L.A. (os deuses estiveram com ele), quando Lopes ergueu as mãos do segundo e terceiro classificados no pódio, para o aplauso final, perpetuou a sua vitória com a generosidade reservada apenas aos da sua dimensão.
Os "fracassos bem sucedidos" da nossa selecção de futebol são deveras relativos, o mesmo não se podendo dizer da vacuidade dos resultados muito aquém do ruído mediático e do custo dos seus responsáveis. Há algo mais no sucesso, a ideia primordial de não estarmos condenados nem ao medo, nem à condição: como confidenciava Carlos Lopes ao Jornal "A Bola" em Agosto do ano passado, tudo indicava nos preparativos e expectativas da festa, que a vitória estaria "reservada" a Salazar. Não o de Sta. Comba Dão, mas o maratonista de Cuba naturalizado norte-americano, que se esperava tivesse triunfado em nome de todos os homens livres. Não foi assim.
PS - À direcção do Sporting Clube de Portugal: a humilde sugestão de que se baptize a bancada sul do estádio com o nome de Moniz Pereira. Por razões óbvias de memória e de marketing.
Vitor mango- Pontos : 117576
Re: A derrota de Salazar
Moniz Pereira. foi meu treinador no 1 2 3 Portugal Espanha Juniores
amen
amen
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