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Negócios com cafeína

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Mensagem por Viriato Qua Ago 25, 2010 5:53 am

Negócios com cafeína

Helena Cristina Coelho

Quando Rui Nabeiro se envolveu no negócio dos cafés, uma bica era um produto banal que se pedia ao balcão e custava 40 centavos.

Quase 60 anos depois, o ‘expresso' ganhou ares de sofisticação: tornou-se num produto ‘gourmet' que se vende em cápsulas descartáveis, separadas por milhentos aromas, origens e categorias, e se prepara em máquinas nas quais grandes multinacionais investem milhões para conseguir o ‘design' mais invejado do mercado. Nas lojas de marca, como a da Nespresso, máquinas e cápsulas são um fenómeno de vendas semelhante ao da Apple, que leva muito boa gente a esperar horas em filas para comprar, não apenas um café, mas uma moda.

O café em cápsulas tornou-se uma espécie de luxo. E é neste mercado altamente competitivo - no qual a Nespresso controla a fatia de leão - que a portuguesa Delta bate o pé à multinacional Nestlé. Rui Nabeiro não se amedrontou e, a partir de Campo Maior, avançou com a sua marca para desafiar a liderança do gigante que possui 1.700 patentes do produto e já vendeu mais de 20 mil milhões de cápsulas.

O resultado, garante o próprio empresário em entrevista ao Diário Económico, é que hoje "Portugal é o único país onde a Nespresso está a sentir pressão. Aqui, já não são muito superiores e nós é que estamos em vantagem, pois jogamos ao ataque. Têm uma imagem diferente, mas a nossa lá vai chegar".

Um português a desafiar uma das mais poderosas multinacionais do planeta parece ousadia, quase uma guerra perdida. Mas Rui Nabeiro arriscou e o certo é que, de acordo com dados de Maio, o café em cápsulas da Delta já conquistou 44% do mercado. Mais: conseguiu ‘roubar' essa fatia usando apenas artigos ‘made in' Portugal. A máquina Qosmo é feita pela Flama, as cápsulas saem da fábrica da Logoplaste e são embaladas e seladas nas instalações da Delta - apenas o café vem de fora, mas se fosse uma cultura que se desse bem por terras alentejanas, seguramente que também haveria plantações em Portugal. É com esta seleccção nacional que Rui Nabeiro foi a jogo e hoje disputa taco-a-taco um mercado ‘gourmet'.

O caso Delta é só um bom exemplo de como o ‘made in' Portugal, afinal, funciona e é reconhecido pelos consumidores. Mas não é o único. No concorrido mercado da produção de calçado - no qual os industriais portugueses têm perdido clientes e encomendas para as distantes fábricas asiáticas -, grandes marcas de luxo como Armani, Kenzo ou Lanvin, ou as desportivas Nike e Adidas, estão a regressar às empresas nacionais. A razão: qualidade na execução e cumprimento de prazos.

Num país que continua a gastar milhões em campanhas a promover o ‘made in' Portugal e a pedir aos consumidores que "comprem o que é nosso", iniciativas empresariais como a da Delta provam que esses carimbos não chegam para fazer a diferença. A Nestlé pode ter dimensão e o sex symbol´ George Clooney a promover as tão desejadas cápsulas de café ‘gourmet'. Mas o que falta em dimensão à Delta, sobra-lhe em ousadia e inovação. E, claro, o toque da qualidade nacional... ‘what else'?


Gostei. Vou já mudar de aparelho. Até porque tenho muita consideração por Nabeiro. Além de visionário sempre teve muito cuidado com o social (empregados e terra onde vive - Campo Maior). Além de tudo não sou grande apreciador do café Nespresso.
Viriato
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