De Martha Rocha em Martha Rocha

De Martha Rocha em Martha Rocha

por FERREIRA FERNANDES

Quando a Miss Brasil Martha Rocha ficou só em 2.º lugar no concurso Miss Universo, em 1954, o poeta Carlos Drummond de Andrade lamentou: "Os lírios não nascem mesmo das leis." As leis do concurso, impostas pelos secos americanos, decretavam que a brasileira tinha duas polegadas (cinco centímetros) a mais nas coxas. A semiderrota teve o efeito salutar que por vezes um 2.º lugar ocasiona: Martha Rocha ficou para sempre como a mais bela das brasileiras ("nunca soube o que era mais belo, se Martha Rocha se o mar de itapoã", cantou Dorival Caymmi) e as brasileiras nunca mais deixaram de cultuar aquela parte especial do corpo feminino. Só seis anos depois, em 1960, nasceu a segunda Martha Rocha que ficaria na história do Brasil. Filha de portugueses, do carioca bairro da Penha, onde cresceria o Complexo do Alemão, a mais famosa favela nas mãos da bandidagem. Em Novembro passado, o chefe da Polícia do Rio Allan Turnowsky tornou-se celebridade mundial por ter reposto a ordem naquela favela. Esta semana, Turnowsky foi demitido por corrupção. Para substituí-lo, a delegada Martha Rocha. A primeira chefe de polícia do Rio de Janeiro. Disse na posse: "A minha cúpula vai ser só de vascaínos", brincando ser do Vasco da Gama, o clube tradicional dos portugueses cariocas. E falou da sua receita preferida: "Bacalhau à Martha Rocha, uma coisa bem portuguesa." Deve ser com posta alta, duas polegadas.