Teria eu percebido mal?

CONTA-ME COMO FOI


Declaração do Presidente da República, hoje de manhã, no Forte do Bom Sucesso, à saída da cerimónia de homenagem aos combatentes:

«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.»

Entre a divulgação do statement (14:44h) e o momento em que escrevo, a frase citada desapareceu da notícia do Público. Porquê?

Não sei o que pensam os embaixadores de Angola, da Guiné e de Moçambique acreditados em Lisboa. Mas sei o que pensam os milhares de desprendidos que sobreviveram a catorze anos de guerra.


Da Literatura

Viriato escreveu:Teria eu percebido mal ou Cavaco, hoje, fez a apologia para que os nossos jovens desempregados voltassem para a guerra colonial???? O chato é que já não há inimigo..... e o Solnado já morreu para inventar outra guerra.

Foi infeliz no exemplo escolhido, como parece que se tornou agora a sua sina, sempre que abre aboca. No entanto, creio que Cavaco apenas quis enaltecer a coragem dos jovens de há 50 anos, que foi buscar como exemplo para os de agora, embora a luta destes seja hoje bem diferente, mas igualmente exigente.

Na verdade nada de novo no discurso do Sr. Silva, pois quando se junta a imbecilidade com a senelidade pouco mais se poderá esperar.

Relativamente ao facto da geração que passou pela guerra colonial ( verdadeira geração á rasca, á qual restavam duas hipoteses, ou ir para o ultramar, ou para França) do meu ponto de vista não foram herois nem corajosos no sentido literal da palavra, foram sim vitimas de um sistema que não lhes deu opções, e nessa condição sobreviveram, e esse foi no meu ponto de vista o seu verdadeiro heroismo. A coragem de terem servido uma guerra que não era deles, mas da qual a maioria não tinha a menor ideia da sua razão de ser.
Lembro-me de que eram afixadas nas igrejas as fotos desses jovens promovidos a herois, cujas familias inchavam de orgulho por os filhos pertencerem a essa élite, que segundo o sistema, tinha tido o previlégio de servir a patria por vezes com a propria vida.
Como lembro também o rotulo que era dada pela maioria da sociedade aqueles corajosos jovens que tiveram a ousadia de atravessar a fronteira. Não me refiro é claro aqueles que o faziam de avião e com a conivencia das autoridades como foi o caso de muitos dos nossos exilados politicos.

Desses jovens de então, hoje velhos, continuamos a ouvir muitas vezes os relatos heroicos das orelhas de preto que cortaram, em nome da defesa da pátria.
Eles no fundo representam por ignorancia aquilo a que o Sr. Silva se referia na sua homilia. Mas serão ele culpados ou herois? Na minha opinião são simplesmente victimas de um sistema que teima em sobreviver e que é bem representado no momento actual pelos PSD,CDS, e até algumas franjas do próprio PS.

Um politico com o minimo de decoro e sentido de estado, o que sabemos que este Sr. não tem, deveria ter a coragem de pedir desculpas aos portugueses e aos povos dos paises que foram parte dessa guerra de triste memoria.

Regresso ao passado


Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.

Este é o nosso Presidente da República. Em ditadura, com o analfabetismo e a falta de liberdade de expressãode pensamento, tudo o que os jovens queriam, desprendidos e corajosos, era ir à guerra, defender os territórios ultramarinos.

Salazar também assim pensava. Que os jovens queriam, corajosa e desprendidamente, defender o Ultramar. Era essa uma causa maior, ao serviço da nação.

Os jovens que estiveram envolvidos na guerra do Ultramar, que não puderam ter sobressaltos cívicos para se negarem a fazê-lo, que não puderem manifestar-se nas suas cidades contra a guerra e a miséria, mereciam bem melhor homenagem.

publicado por Sofia Loureiro dos Santos

Esta, só do Cavaco !



«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar»

Aníbal Cavaco Silva

Taberna do diabo

Um dia fui dar com Deus
Na taberna do diabo
Entre Cristãos e ateus
Fizeram de mim soldado
E eu sem querer
Fui embarcado
E eu sem querer
Fui embarcado

Levei armas e um galão
Para o outro lado do mar
Quis levar o coração
Não mo deixaram levar
E eu sem querer
Ia matar
E eu sem querer
Ia matar

Deram-me uma cruz de guerra
Quando matei meu irmão
E a gente da minha terra
Promoveu-me a capitão
E eu sem querer
fiquei papão
E eu sem querer
Fiquei papão

Todos me chamam herói
Ninguém me chama Manuel
Quem quer uma cruz de guerra
Que eu já não vou pró quartel?
Quem quer uma cruz de guerra
Que eu já não vou pró quartel?

Cancioneiro do Niassa


Saude SA

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Os jovens que estiveram envolvidos na guerra do Ultramar, que não puderam ter sobressaltos cívicos para se negarem a fazê-lo, que não puderem manifestar-se nas suas cidades contra a guerra e a miséria, mereciam bem melhor homenagem.

Mais umas quantas razões, para terem de ser olhados como corajosos, cumprindo com o seu dever, apesar de contrariados pelo poder político.

Já disse atrás, que Cavaco foi infeliz, como parece ser sina sua, sempre que abre a boca, mas não vejo razão para se dar tanta importância a mais uma "boliqueimisse", das muitas a que já nos habituou.

Como não podia deixar de ser, também aqui meto a colherada em virtude de também eu ter feito parte desses jóvens que foram para a guerra.
Quando ouvi o presidente falar da decisão desses jóvens que foram à guerra defender os seus ideais, fiquei sem saber se ele estava a falar a sério ou a brincar. De facto, tendo feito parte desses jóvens, não tive outra hipótese senão embarcar para um território do qual só sabia da existência pelos livros escolares, ao qual nada me ligava, e do qual se dizia que também fazia parte do território português e aonde toda a gente falava português.
Um pouco enganado com a propaganda oficial, lá fui sem resistência, convencido das "verdades" do regime.
Quando cheguei ao meu destino, tive a primeira surpresa: Não ouvia quase ninguém a falar português. A segunda surpresa, foi no cais de Bolama, ao tentar falar com um rapazinho dos seus 12 anos, ele me responder em crioulo e ao perguntar-lhe se ele não era português, ele me ter respondido, que NÃO. Nessa altura perguntei-me a mim próprio o que é que eu tinha ido fazer à Guiné.
Mas já lá estava e como tal, desempenhei a minha função dentro daquilo que me foi pedido e tendo em conta que estar vivo é o contrário de estar morto.
Como eu, foram muitos os milhares de homens (jóvens como agora se diz), que foram desempenhar uma função para a qual não foram vistos nem achados. Cumpriram dentro das suas possibilidades e aí estará o mérito deles.
Como acabo de dizer, os jóvens dessa época, não foram para a guerra por opção própria. Foram empurrados para ela. Logo, não entendo qual o termo de comparação, a menos que se queira dizer que também os jóvens actuais devem ser empurrados para qualquer coisa de grandioso que eles não vislumbram. Admitindo que assim é, caberá a Cavaco Silva dar o primeiro empurrão, já que ele se pôs à frente da manifestação.

Penso que os combatentes do Ultramar têm sido muito maltratados quer pela "esquerda revolucionária" que os insultou chamando-lhes (no mais suave dos termos), colonialistas, quando na sua maior parte nem sabia o que era colonialismo, quer por aqueles que os intitularam de traidores pelo facto de terem posto fim à guerra. Entre estes, encontram-se seguidores de todas as ideologias. Talvez por essa razão os combatentes nunca tiveram em Portugal o reconhecimento que existe noutras paragens para com os seus cidadãos que tiveram que pegar em armas. Haja em vista as homenagens que os americanos prestam aos seus combatentes.

Em conclusão, não se deve comparar o que é incomparável. Não se devem incutir nos jóvens ideais desenquadrados da realidade. A realidade é que os jóvens actuais têm uma preparação superior em todos os níveis àquela que tinham os jóvens de 60, e não há guerras para onde os mandar, salvo se forem como voluntários. Devem pois esforçar-se por sair da situação de dificuldade em que se encontram pelos seus próprios meios sem esperar que surja um salvador como parece querer apresentar-se Cavaco Silva.