Livros de Salazar em leilão

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Livros de Salazar em leilão
Livros que pertenciam a António de Oliveira Salazar vão ser leiloados na terça e na quarta-feira, no Porto.
Lusa
11:29 Sábado, 4 de junho de 2011


Os livros de António de Oliveira Salazar podem estar ao alcance do levantar de uma mão de qualquer anónimo que participe no leilão da biblioteca pessoal de António José de Almeida, que acontece na terça e na quarta-feira, no Porto.

"O catálogo é da biblioteca de um senhor do Porto, António José de Almeida que, há muitos anos, salvou da destruição muitos livros que tinham pertencido a Salazar", disse à Lusa o responsável pelo catálogo do leilão.

José Mário Santos, da Infinita Livros, recordou à Lusa o processo que levou António José de Almeida a rechear a sua biblioteca com os livros de Salazar: "Comprou a um sobrinho-neto os livros que, nalguns casos, já não tinham as dedicatórias, mas que ele depois recuperou -- comprou-as à parte -- e a partir daí começou a adquiri-los todos com dedicatória".
"São exemplares perfeitos"

Mas essa é apenas uma componente da biblioteca, já que o portuense, que foi tratando de dar uma nova vida aos livros, era um grande colecionador de literatura histórica.

"São exemplares perfeitos e foi tratando de os encadernar para os preservar para sempre", recordou.
Primeiras edições de Eça a €3 mil

O responsável pelo catálogo assegurou que à praça vão "livros extraordinários" como, por exemplo, a coleção das primeiras edições de Eça de Queirós, com pinturas nos cortes das folhas.

"É algo que nunca foi a leilão em Portugal. É a coleção número dois de um total de dez e não é previsível que nenhuma outra vá à praça nos próximos 20 anos, porque as outras nove estão em mãos de pessoas bastante novas", destacou.

Essa particularidade confere-lhe o estatuto de peça mais valiosa, com uma base de licitação de três mil euros, que deve subir "bastante", de acordo com José Mário Santos.
"Coleções extraordinárias"

Para o representante da Infinita Livros, no lote dos livros mais valiosos contam-se também "coleções extraordinárias" como as obras completas do Aquilino Ribeiro, as obras completas do Jaime Cortesão, ambas em tiragem especial, a primeira edição de "A criação do Mundo", de Miguel Torga, com pinturas alusivas na capa.

Mais antigos e igualmente importantes, o leilão leva à praça o catálogo "As Árvores de Portugal", do rei D. Carlos, com uma pintura em pergaminho, os sermões do padre António Vieira, em primeira edição, um manuscrito do primeiro contabilista que usou as partidas dobradas e que, curiosamente, deu posse ao Marquês de Pombal como diretor geral do erário régio.

"A partir de 1850, tem quase todas as primeiras edições dos grandes autores portugueses", especificou o responsável pelo catálogo que demorou um ano a preparar.

José Mário Santos garantiu que há livros para todos os gostos: "há uns que vão à praça a cinco euros, outros a 10, outros a cem, a 50, porque é uma biblioteca de alguém que gostava muito de ler, portanto tem tudo".
A coleção tem livros "muito valiosos" e livros "menos valiosos" e até tem livros comercialmente baratos.

"Dá para todos os gostos e para todas as bolsas", defendeu, definindo o leilão como "um momento extraordinário da vida cultural da cidade e do país".

O leilão decorre nos dias na terça e na quarta-feira, na Praça Carlos Alberto, no Palacete Balsemão, às 21:00.