Pinga Doce. A saga do cliente com uma reclamação de litro
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Pinga Doce. A saga do cliente com uma reclamação de litro
Pinga Doce. A saga do cliente com uma reclamação de litro
por Sílvia Caneco, Publicado em 23 de Julho de 2011 | Actualizado há 11 horas
Exigia o livro de
reclamações do hipermercado. Era inconcebível, indecente, não o deixarem
fazer o que queria, uma vez que já tinha pago. Acabou na esquadra
Opções
a- / a+
Manuel não tem antecedentes e só queria poder usufruir do que já tinha pago dentro do hipermercado
1/1
+ fotogalería
Audio
Uma pessoa pedir o livro de reclamações num hipermercado já se sabe
que é o prato do dia. Ou porque alguém lhe passou à frente na fila ou
porque os produtos não têm preço ou por não entender porque não pode
comprar só um iogurte Activia em vez do pack de quatro ou porque trazia
um cupão de desconto para o bacalhau e já não há bacalhau ou porque na
publicidade viu um preço e ali estava o dobro ou porque o preço se
mantém mas a lata de feijão-manteiga já não tem meio quilo mas apenas
250 gramas. Uma vergonha. Bandidos! É com cupões ou promoções ou sem
eles que estão sempre a tentar enganar a malta. Mas o motivo da
reclamação que aqui nos traz a história de Manuel Lourenço é mais
rebuscado.
Manuel, o arguido ausente, abancou num dia destes em
frente ao balcão de apoio ao cliente de um hipermercado da Bela Vista e
insistiu e insistiu que queria o livro de reclamações e falar com o
gerente da loja. Porquê? Porque achava inconcebível não poder beber a
sua garrafa de cerveja de litro dentro das instalações do Pingo Doce.
Homem que pagou o que comprou acha-se no direito de fazer tudo.
O
agente da PSP Bruno Silva, com uma poupa à Elvis Presley, não quer
desistir da queixa. Uma vez que o arguido nem apareceu no tribunal, é
mais fácil dizê-lo com firmeza frente ao juiz, sem cair em pieguices ou
ceder ao coração mole. Foi apenas naquele dia que o polícia, que estava a
desempenhar um serviço extra naquele hipermercado, teve "a infelicidade
de conhecer o arguido". Palavras do agente, que se sentiu não ofendido,
mas "mais que ofendido", e ainda tem entaladas as ofensas que o arguido
Manuel lhe dirigiu.
"O que é que aconteceu com o Manuel Lourenço?", questiona o juiz.
"Estava insatisfeito."
"Insatisfeito?"
"Sim,
e alterado. Andava a deambular de um lado para o outro do hipermercado a
beber uma garrafa de cerveja. Pagou na caixa e voltou a entrar. Os
seguranças disseram-lhe que não podia beber lá dentro e ele começou a
fazer alarido. Fomos chamados e dissemos para ele ir apanhar um
bocadinho de ar. Mas cinco minutos volvidos voltou", responde o agente.
"E o que fez quando voltou?"
"Começou
a ofender a senhora do balcão de apoio ao cliente e a dizer que partia o
computador e mandava aquilo tudo pelo ar. Queria falar com a gerente e
exigia o livro de reclamações porque não o deixavam beber lá dentro.
Dizia: ''Onde já se viu não poder beber onde quero?'' Dissemos que isso
não dava direito a reclamação e ele aí começou a ofender-me, a dizer
coisas..."
"Vai ter de repetir exactamente o que ele disse", pede o juiz.
"Tudo bem, não tenho pudores em repetir, se ninguém se importar."
"Ninguém se ofende, diga lá."
"Disse-me:
''Deves ser um herói do Carvalho só porque tens uma farda.'' E depois:
''És um filho da puta.'' Tive de usar a força para o algemar."
"Sentiu-se ofendido?"
Pior: ofendido no grau superlativo sintético.
"Mais que ofendido: ofendidíssimo. Além de me chamar nomes, empurrou-me e meteu-me a mão no peito."
"Mas este senhor estava alterado até que ponto?"
"Ele estava a beber a cerveja, já devia estar um bocado alcoolizado."
O
juiz manda o agente ofendido à sua vida, literalmente. (Deve ser um
tique de linguagem, porque o diz a todos.) E chama o agente testemunha. A
partir daí é tudo o mesmo paleio. O Manuel queria beber no Pingo Doce e
dizia que queria mandar tudo "pró Carvalho". E perguntava ao agente
Bruno se ele era um herói só porque tinha uma farda. E desatou aos
empurrões e teve de ser algemado e levado para a esquadra.
Manuel
está ausente desta sala de tribunal, a responder pelo crime de injúria
qualificada. Mas pelos autos o juiz confirma que poderia estar a
responder por outros crimes, como desobediência, resistência e coacção.
Sortudo. Melhor ser acusado de um do que de três ou quatro.
O
juiz ainda diz que o que pesa a favor do réu é não ter antecedentes.
Mas logo desvaloriza: "Afinal é isso que se pede a qualquer cidadão."
Ora pois claro: não há obrigação mais primária do que ser um cidadão
tranquilo. Manuel não se lembrou disso e acabou condenado a pagar 800
euros de multa. Beber pinga no Pingo Doce pode ter um resultado amargo.
por Sílvia Caneco, Publicado em 23 de Julho de 2011 | Actualizado há 11 horas
Exigia o livro de
reclamações do hipermercado. Era inconcebível, indecente, não o deixarem
fazer o que queria, uma vez que já tinha pago. Acabou na esquadra
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Manuel não tem antecedentes e só queria poder usufruir do que já tinha pago dentro do hipermercado
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Uma pessoa pedir o livro de reclamações num hipermercado já se sabe
que é o prato do dia. Ou porque alguém lhe passou à frente na fila ou
porque os produtos não têm preço ou por não entender porque não pode
comprar só um iogurte Activia em vez do pack de quatro ou porque trazia
um cupão de desconto para o bacalhau e já não há bacalhau ou porque na
publicidade viu um preço e ali estava o dobro ou porque o preço se
mantém mas a lata de feijão-manteiga já não tem meio quilo mas apenas
250 gramas. Uma vergonha. Bandidos! É com cupões ou promoções ou sem
eles que estão sempre a tentar enganar a malta. Mas o motivo da
reclamação que aqui nos traz a história de Manuel Lourenço é mais
rebuscado.
Manuel, o arguido ausente, abancou num dia destes em
frente ao balcão de apoio ao cliente de um hipermercado da Bela Vista e
insistiu e insistiu que queria o livro de reclamações e falar com o
gerente da loja. Porquê? Porque achava inconcebível não poder beber a
sua garrafa de cerveja de litro dentro das instalações do Pingo Doce.
Homem que pagou o que comprou acha-se no direito de fazer tudo.
O
agente da PSP Bruno Silva, com uma poupa à Elvis Presley, não quer
desistir da queixa. Uma vez que o arguido nem apareceu no tribunal, é
mais fácil dizê-lo com firmeza frente ao juiz, sem cair em pieguices ou
ceder ao coração mole. Foi apenas naquele dia que o polícia, que estava a
desempenhar um serviço extra naquele hipermercado, teve "a infelicidade
de conhecer o arguido". Palavras do agente, que se sentiu não ofendido,
mas "mais que ofendido", e ainda tem entaladas as ofensas que o arguido
Manuel lhe dirigiu.
"O que é que aconteceu com o Manuel Lourenço?", questiona o juiz.
"Estava insatisfeito."
"Insatisfeito?"
"Sim,
e alterado. Andava a deambular de um lado para o outro do hipermercado a
beber uma garrafa de cerveja. Pagou na caixa e voltou a entrar. Os
seguranças disseram-lhe que não podia beber lá dentro e ele começou a
fazer alarido. Fomos chamados e dissemos para ele ir apanhar um
bocadinho de ar. Mas cinco minutos volvidos voltou", responde o agente.
"E o que fez quando voltou?"
"Começou
a ofender a senhora do balcão de apoio ao cliente e a dizer que partia o
computador e mandava aquilo tudo pelo ar. Queria falar com a gerente e
exigia o livro de reclamações porque não o deixavam beber lá dentro.
Dizia: ''Onde já se viu não poder beber onde quero?'' Dissemos que isso
não dava direito a reclamação e ele aí começou a ofender-me, a dizer
coisas..."
"Vai ter de repetir exactamente o que ele disse", pede o juiz.
"Tudo bem, não tenho pudores em repetir, se ninguém se importar."
"Ninguém se ofende, diga lá."
"Disse-me:
''Deves ser um herói do Carvalho só porque tens uma farda.'' E depois:
''És um filho da puta.'' Tive de usar a força para o algemar."
"Sentiu-se ofendido?"
Pior: ofendido no grau superlativo sintético.
"Mais que ofendido: ofendidíssimo. Além de me chamar nomes, empurrou-me e meteu-me a mão no peito."
"Mas este senhor estava alterado até que ponto?"
"Ele estava a beber a cerveja, já devia estar um bocado alcoolizado."
O
juiz manda o agente ofendido à sua vida, literalmente. (Deve ser um
tique de linguagem, porque o diz a todos.) E chama o agente testemunha. A
partir daí é tudo o mesmo paleio. O Manuel queria beber no Pingo Doce e
dizia que queria mandar tudo "pró Carvalho". E perguntava ao agente
Bruno se ele era um herói só porque tinha uma farda. E desatou aos
empurrões e teve de ser algemado e levado para a esquadra.
Manuel
está ausente desta sala de tribunal, a responder pelo crime de injúria
qualificada. Mas pelos autos o juiz confirma que poderia estar a
responder por outros crimes, como desobediência, resistência e coacção.
Sortudo. Melhor ser acusado de um do que de três ou quatro.
O
juiz ainda diz que o que pesa a favor do réu é não ter antecedentes.
Mas logo desvaloriza: "Afinal é isso que se pede a qualquer cidadão."
Ora pois claro: não há obrigação mais primária do que ser um cidadão
tranquilo. Manuel não se lembrou disso e acabou condenado a pagar 800
euros de multa. Beber pinga no Pingo Doce pode ter um resultado amargo.
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 117542
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