O apelo às massas e a ruptura dos paradigmas de sociedade
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O apelo às massas e a ruptura dos paradigmas de sociedade
O apelo às massas e a ruptura dos paradigmas de sociedade
Hoje, muitos são aqueles que, desiludidos, chocados ou revoltados com
o paradigma de sociedade vigente, apregoam uma revolução (ou
revoluções). Na maioria dos casos não se percebe muito bem o que move
estas vozes de descontentamento: se é uma convicção ideológica,
desespero, irreverência ou, simplesmente, a resposta ao apelo
irreflectido para a contestação de “rua”.
Uma coisa é certa, as massas têm se feito ouvir de forma ruidosa e,
nalguns casos, estrondosa, como a Grécia ilustra bem. Mas, por mais que
se tente ouvir as pessoas, a falta de sofisticação ideológica (leia-se
ideias) no suporte ao seu discurso torna difícil qualquer leitura
coerente que permita a construção de um modelo de pensamento que possa
servir de referência para as gerações vindouras.
Perante isto, poder-se-á dizer que o apelo à revolta (das ideias) é
desprovido de consistência intelectual e de profundidade quanto ao seu
alcance? Provavelmente, sim.
A ausência de pensamento e de reflexão em cada uma das pessoas que
faz ouvir a sua voz cinge o seu protesto a um acto de descontentamento
pelo seu quotidiano, provocado apenas pelo desconforto material
(leia-se, falta de dinheiro) das suas vidas.
E já não é pouco, dirão muitos leitores (e com razão), mas não o
suficiente para se proceder à tal revolução de paradigma mais
abrangente. Porque, essa tem que ir além da “crise” dos mercados e da
falta de emprego. Aqui, as pessoas terão que, obrigatoriamente,
reflectir sobre elas próprias, sobre o seu papel enquanto “animal”
inserido numa sociedade.
O problema é que este exercício torna-se de difícil execução, porque
pressupõe racionalidade, intelecto, autocrítica, humildade (outros
adjectivos haveria).
Quantas das milhares de pessoas que ainda recentemente desfilaram nas
ruas de algumas cidades portuguesas ou estrangeiras chegariam à
conclusão que, talvez, a sua forma de estar em sociedade possa já não
estar adequada aos novos desafios que se impõem no sistema internacional
e na realidade nacional?
Por isso, antes de erguerem a sua voz na crítica inócua, talvez fosse
importante, primeiro, pensarem sobre a forma como educam os seus
filhos, como abordam o seu trabalho, o que fazem para serem pessoas
informadas, o que fazem para enriquecer intelectualmente, o que
contribuem para a sustentabilidade do planeta, o que partilham com o
próximo, e por aí diante.
E, desculpe o leitor, mas não há revolução de paradigma de sociedade
que se faça sem um reflexão profunda sobre estas e outras questões,
porque a “crise” da dívida e do desemprego são problemas sociais graves
mas, apesar de tudo, circunscritos em termos de paradigma.
Ainda há uns dias, quando o autor destas linhas via o filme Simpathy
For The Devil, de Jean-Luc Godard, de 1968, pensava sobre a grande
diferença dos tempos contestatários de hoje e aqueles que se viveram nos
anos 60, uma década de pensamento e de ideologia que alterou o modelo
de se estar em sociedade no Ocidente.
E uma das conclusões a que chegou tem a ver com as motivações e os
ideais que “chamaram” as pessoas para as ruas naquela altura. Partindo
de fracturas concretas com que as sociedades se deparavam (guerra,
discriminação, direitos cívicos, etc), o apelo à revolta das ideias foi
sofisticado e consistente. O resultado: dinâmica com forte base
ideológica (ideias), grupos organizados e focados, movimentos sociais
poderosos, entre outros fenómenos consequentes (para o bem e para o
mal).
Quando Godard decide centrar o seu filme na gravação em estúdio da
música Simpathy For The Devil dos Rolling Stones, acaba por reforçar
ainda mais esse apelo à revolta.
Além das várias citações de textos revolucionários, das referências
ao marxismo, aos Black Panthers e às contradições de uma sociedade que
precisava de mudança, que se podem ver ao longo do filme (espelhando o
carácter activista e politicamente interventivo de Godard), a música
Simpathy for the Devil dá um toque de sofisticação ao chamamento
revolucionário.
As referências às guerras religiosas da Europa, à violência da
Revolução Russa ou à morte dos Kennedy, que se podem ouvir na letra de
Simpathy For The Devil fizeram desta música um tónico artístico ao apelo
de Godard.
Texto publicado originalmente no Forte Apache.
tags: ideias, paradigma, política, revolução, sociedade
Publicado por Alexandre Guerra às 20:25
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Hoje, muitos são aqueles que, desiludidos, chocados ou revoltados com
o paradigma de sociedade vigente, apregoam uma revolução (ou
revoluções). Na maioria dos casos não se percebe muito bem o que move
estas vozes de descontentamento: se é uma convicção ideológica,
desespero, irreverência ou, simplesmente, a resposta ao apelo
irreflectido para a contestação de “rua”.
Uma coisa é certa, as massas têm se feito ouvir de forma ruidosa e,
nalguns casos, estrondosa, como a Grécia ilustra bem. Mas, por mais que
se tente ouvir as pessoas, a falta de sofisticação ideológica (leia-se
ideias) no suporte ao seu discurso torna difícil qualquer leitura
coerente que permita a construção de um modelo de pensamento que possa
servir de referência para as gerações vindouras.
Perante isto, poder-se-á dizer que o apelo à revolta (das ideias) é
desprovido de consistência intelectual e de profundidade quanto ao seu
alcance? Provavelmente, sim.
A ausência de pensamento e de reflexão em cada uma das pessoas que
faz ouvir a sua voz cinge o seu protesto a um acto de descontentamento
pelo seu quotidiano, provocado apenas pelo desconforto material
(leia-se, falta de dinheiro) das suas vidas.
E já não é pouco, dirão muitos leitores (e com razão), mas não o
suficiente para se proceder à tal revolução de paradigma mais
abrangente. Porque, essa tem que ir além da “crise” dos mercados e da
falta de emprego. Aqui, as pessoas terão que, obrigatoriamente,
reflectir sobre elas próprias, sobre o seu papel enquanto “animal”
inserido numa sociedade.
O problema é que este exercício torna-se de difícil execução, porque
pressupõe racionalidade, intelecto, autocrítica, humildade (outros
adjectivos haveria).
Quantas das milhares de pessoas que ainda recentemente desfilaram nas
ruas de algumas cidades portuguesas ou estrangeiras chegariam à
conclusão que, talvez, a sua forma de estar em sociedade possa já não
estar adequada aos novos desafios que se impõem no sistema internacional
e na realidade nacional?
Por isso, antes de erguerem a sua voz na crítica inócua, talvez fosse
importante, primeiro, pensarem sobre a forma como educam os seus
filhos, como abordam o seu trabalho, o que fazem para serem pessoas
informadas, o que fazem para enriquecer intelectualmente, o que
contribuem para a sustentabilidade do planeta, o que partilham com o
próximo, e por aí diante.
E, desculpe o leitor, mas não há revolução de paradigma de sociedade
que se faça sem um reflexão profunda sobre estas e outras questões,
porque a “crise” da dívida e do desemprego são problemas sociais graves
mas, apesar de tudo, circunscritos em termos de paradigma.
Ainda há uns dias, quando o autor destas linhas via o filme Simpathy
For The Devil, de Jean-Luc Godard, de 1968, pensava sobre a grande
diferença dos tempos contestatários de hoje e aqueles que se viveram nos
anos 60, uma década de pensamento e de ideologia que alterou o modelo
de se estar em sociedade no Ocidente.
E uma das conclusões a que chegou tem a ver com as motivações e os
ideais que “chamaram” as pessoas para as ruas naquela altura. Partindo
de fracturas concretas com que as sociedades se deparavam (guerra,
discriminação, direitos cívicos, etc), o apelo à revolta das ideias foi
sofisticado e consistente. O resultado: dinâmica com forte base
ideológica (ideias), grupos organizados e focados, movimentos sociais
poderosos, entre outros fenómenos consequentes (para o bem e para o
mal).
Quando Godard decide centrar o seu filme na gravação em estúdio da
música Simpathy For The Devil dos Rolling Stones, acaba por reforçar
ainda mais esse apelo à revolta.
Além das várias citações de textos revolucionários, das referências
ao marxismo, aos Black Panthers e às contradições de uma sociedade que
precisava de mudança, que se podem ver ao longo do filme (espelhando o
carácter activista e politicamente interventivo de Godard), a música
Simpathy for the Devil dá um toque de sofisticação ao chamamento
revolucionário.
As referências às guerras religiosas da Europa, à violência da
Revolução Russa ou à morte dos Kennedy, que se podem ouvir na letra de
Simpathy For The Devil fizeram desta música um tónico artístico ao apelo
de Godard.
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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