A Síria como palco de uma outra Guerra Fria
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A Síria como palco de uma outra Guerra Fria
A Síria como palco de uma outra Guerra Fria
Por Diogo Noivo, publicado em 18 Nov 2011 - 03:00 | Actualizado há 2 dias 4 horas
O Grande Médio Oriente é um tabuleiro de xadrez onde jogam o Irão e a Arábia Saudita, numa quase-Guerra Fria onde os adversários desferem ataques indirectos
Na Síria, um regime aparentemente entrincheirado, a violência continua a aumentar.
Esta semana a Liga Árabe suspendeu a Síria e deu três dias ao presidente Bashar Al-Assad para que este termine com a violência sob pena da aplicação de sanções. Em resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros sírio Walid al-Muallem protestou, considerando a decisão ilegal, enquanto os apoiantes de Assad atacavam em Damasco as embaixadas da Turquia, da Arábia Saudita e do Qatar. Contudo, a decisão da Liga Árabe pouco tem que ver com a defesa dos direitos humanos ou mesmo com uma preocupação intestina com o sangue derramado nas ruas. A explicação está no Irão.
O Grande Médio Oriente é um tabuleiro de xadrez onde jogam o Irão e a Arábia Saudita, numa quase-Guerra Fria onde os adversários desferem ataques indirectos, procurando criar e aproveitar vazios de poder.
Olhando para a última década, o contexto regional tem sido favorável ao Irão. Alguns dos seus inimigos próximos, como os Talibã no Afeganistão ou Saddam Hussein no Iraque, foram afastados. Os grupos terroristas Hezbollah e Hamas, que são – até certo ponto – agentes por procuração do regime de Teerão, tiveram importantes sucessos militares e políticos. E todos estes desenvolvimentos têm como pano de fundo um programa nuclear militar iraniano em expansão.
A Síria é um dos mais antigos e mais fiáveis apoios do regime ayatollah. Diz-se até que, no seu testamento, Hafez Al-Assad, antigo chefe de estado sírio e pai do actual presidente, aconselhou o seu filho a nunca confiar nos líderes árabes e a contar sempre com o apoio iraniano.
Assim, os levantamentos populares na Síria constituem uma oportunidade de ouro para o bloco saudita explorar potenciais debilidades iranianas, algo que se torna urgente num momento marcado pela perda gradual de influência Norte-Americana na região. É à luz desta oportunidade que devemos entender o passo dado pelo bloco árabe ao suspender a Síria da lista de membros da Liga. Por sua vez, Teerão procura evitar uma intervenção externa na sua vizinhança, ao mesmo tempo que tenta mitigar os efeitos da pressão internacional sobre Damasco – uma vez que um golpe na Síria equivale a uma ofensiva num dos flancos do Irão. A estes interesses junta-se uma Turquia que, vendo o acesso à Europa vedado, procura legitimamente obter influência no Médio Oriente.
Na Síria, mais do que confrontos entre manifestantes e regime, está em causa um conflito geopolítico e geoestratégico antigo pela obtenção de preponderância regional. É por isto que a comunidade internacional parece estar temerosa, especialmente se compararmos a postura actual em relação à Síria com aquela que foi adoptada no caso líbio. Uma intervenção militar internacional não ajudaria pois as partes deste conflito não são as que se enfrentam no terreno e, por outro lado, esse tipo de acção desestabilizaria por completo a região, provocando consequências imprevisíveis.
A solução é então diplomática. Mas com uma influência limitada dos Estados Unidos e com a Europa a braços com uma crise sem paralelo – para além habitual falta de estratégia no plano da política externa – a saída para este problema com impacto na segurança mundial fica nas mãos de uma região marcada pela instabilidade.
Especialista em política internacional
Por Diogo Noivo, publicado em 18 Nov 2011 - 03:00 | Actualizado há 2 dias 4 horas
O Grande Médio Oriente é um tabuleiro de xadrez onde jogam o Irão e a Arábia Saudita, numa quase-Guerra Fria onde os adversários desferem ataques indirectos
Na Síria, um regime aparentemente entrincheirado, a violência continua a aumentar.
Esta semana a Liga Árabe suspendeu a Síria e deu três dias ao presidente Bashar Al-Assad para que este termine com a violência sob pena da aplicação de sanções. Em resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros sírio Walid al-Muallem protestou, considerando a decisão ilegal, enquanto os apoiantes de Assad atacavam em Damasco as embaixadas da Turquia, da Arábia Saudita e do Qatar. Contudo, a decisão da Liga Árabe pouco tem que ver com a defesa dos direitos humanos ou mesmo com uma preocupação intestina com o sangue derramado nas ruas. A explicação está no Irão.
O Grande Médio Oriente é um tabuleiro de xadrez onde jogam o Irão e a Arábia Saudita, numa quase-Guerra Fria onde os adversários desferem ataques indirectos, procurando criar e aproveitar vazios de poder.
Olhando para a última década, o contexto regional tem sido favorável ao Irão. Alguns dos seus inimigos próximos, como os Talibã no Afeganistão ou Saddam Hussein no Iraque, foram afastados. Os grupos terroristas Hezbollah e Hamas, que são – até certo ponto – agentes por procuração do regime de Teerão, tiveram importantes sucessos militares e políticos. E todos estes desenvolvimentos têm como pano de fundo um programa nuclear militar iraniano em expansão.
A Síria é um dos mais antigos e mais fiáveis apoios do regime ayatollah. Diz-se até que, no seu testamento, Hafez Al-Assad, antigo chefe de estado sírio e pai do actual presidente, aconselhou o seu filho a nunca confiar nos líderes árabes e a contar sempre com o apoio iraniano.
Assim, os levantamentos populares na Síria constituem uma oportunidade de ouro para o bloco saudita explorar potenciais debilidades iranianas, algo que se torna urgente num momento marcado pela perda gradual de influência Norte-Americana na região. É à luz desta oportunidade que devemos entender o passo dado pelo bloco árabe ao suspender a Síria da lista de membros da Liga. Por sua vez, Teerão procura evitar uma intervenção externa na sua vizinhança, ao mesmo tempo que tenta mitigar os efeitos da pressão internacional sobre Damasco – uma vez que um golpe na Síria equivale a uma ofensiva num dos flancos do Irão. A estes interesses junta-se uma Turquia que, vendo o acesso à Europa vedado, procura legitimamente obter influência no Médio Oriente.
Na Síria, mais do que confrontos entre manifestantes e regime, está em causa um conflito geopolítico e geoestratégico antigo pela obtenção de preponderância regional. É por isto que a comunidade internacional parece estar temerosa, especialmente se compararmos a postura actual em relação à Síria com aquela que foi adoptada no caso líbio. Uma intervenção militar internacional não ajudaria pois as partes deste conflito não são as que se enfrentam no terreno e, por outro lado, esse tipo de acção desestabilizaria por completo a região, provocando consequências imprevisíveis.
A solução é então diplomática. Mas com uma influência limitada dos Estados Unidos e com a Europa a braços com uma crise sem paralelo – para além habitual falta de estratégia no plano da política externa – a saída para este problema com impacto na segurança mundial fica nas mãos de uma região marcada pela instabilidade.
Especialista em política internacional
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118271
Re: A Síria como palco de uma outra Guerra Fria
.
Muito interessante, este artigo. Está lá tudo, sobre as razões, principalmente do Irão e Turquia, para almejarem o estatuto de preponderância sobre o Médio Oriente.
Mas como Israel não é tido nem achado, neste tabuleiro de xadrez, já não temos o Mango com uma mão cheia de trovões, raios e coriscos sobre o estado judaico.
Muito interessante, este artigo. Está lá tudo, sobre as razões, principalmente do Irão e Turquia, para almejarem o estatuto de preponderância sobre o Médio Oriente.
Mas como Israel não é tido nem achado, neste tabuleiro de xadrez, já não temos o Mango com uma mão cheia de trovões, raios e coriscos sobre o estado judaico.
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Amigos?Longe! Inimigos? O mais perto possível!
Joao Ruiz- Pontos : 32035
Re: A Síria como palco de uma outra Guerra Fria
Joao Ruiz escreveu:.
Muito interessante, este artigo. Está lá tudo, sobre as razões, principalmente do Irão e Turquia, para almejarem o estatuto de preponderância sobre o Médio Oriente.
Mas como Israel não é tido nem achado, neste tabuleiro de xadrez, já não temos o Mango com uma mão cheia de trovões, raios e coriscos sobre o estado judaico.
Mango quando fala de Israel fala atraves da voz do Haretz mas vai a todas ( prestv do Irão
Sucede que havia um facto que eu nao cheirava
A amizade do PÇM da Turquia com o Obama
Ai comecei a cheira tudooooo
_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118271
Re: A Síria como palco de uma outra Guerra Fria
.
Mas que amizade, Mango?! Em política não há amizades, muito menos quando se pretende controlar uma região... ou até mesmo o mundo. E Erdogan está farto de demonstrar ao que anda, para só enganar os que têm um olfacto muito deficiente...
Quanto ao pequenote, ai que falta lhe fará a Síria, se aquilo descambar para a derrota de Assad!
À Liga Árabe pouco interessam os movimentos aparentemente de luta pelos direitos humanos, porque sabe que não é essa a sua verdadeira génese e não faz perigar o domínio da região por isso.
Veja-se só o que se passa no Egipto, e as ilações, aplicáveis à zona, serão imediatas.
Ai comecei a cheira tudooooo
Mas que amizade, Mango?! Em política não há amizades, muito menos quando se pretende controlar uma região... ou até mesmo o mundo. E Erdogan está farto de demonstrar ao que anda, para só enganar os que têm um olfacto muito deficiente...
Quanto ao pequenote, ai que falta lhe fará a Síria, se aquilo descambar para a derrota de Assad!
À Liga Árabe pouco interessam os movimentos aparentemente de luta pelos direitos humanos, porque sabe que não é essa a sua verdadeira génese e não faz perigar o domínio da região por isso.
Veja-se só o que se passa no Egipto, e as ilações, aplicáveis à zona, serão imediatas.
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Joao Ruiz- Pontos : 32035
Re: A Síria como palco de uma outra Guerra Fria
Erdogan: O homem do momento
10/06/11 20:02 CET
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Outras Notícias
A Europa começou a reparar em Recep Tayyip Erdogan
depois da vitória esmagadora das eleições legislativas de 2002.
Subitamente um partido islamita subia ao poder na secular Turquia. Na
altura surgiu a dúvida: iria a Europa ter como vizinho um país
semelhante ao Irão?
As primeiras aparições públicas da mulher de Erdogan provocaram o
descontentamento e a crítica da oposição. Ela aparecia usando o véu
islâmico e os oposicionistas afirmavam que a laicidade do país estava em
causa.
Dois anos depois esse receio parece ter desaparecido. Em 2004, o
governante turco foi recebido em Bruxelas e a União Europeia inicia um
conjunto de negociação visando a entrada da Turquia ao grupo europeu.
Começou assim a projeção política internacional de Erdogan que, até
1998, era o presidente da Câmara Municipal de Istambul. Nesse ano foi
preso por causa de um poema, um facto que lhe granjeou uma grande
popularidade.
Depois disso, deixou o antigo partido islamita, e fundou o novo e mais moderado AKP.
Em 2003, torna-se primeiro-ministro e consegue tirar a Turquia da
crise económica em que se encontrava desde 2000, e torna o país num ator
fundamental da política regional.
Em 2007 o AKP consegue ser reeleito e atingiu-se uma estabilidade política que permitiu a Erdogan começar a iniciar algumas reformas…
A questão das minorias étnicas sempre foi um dos maiores entraves
nas negociações entre a União Europeia e a Turquia. Para provar que o
Estado estava mais complacente, o primeiro-ministro introduziu algumas
alterações. Hoje existe já um canal televisão curdo e espetáculos étnico
linguísticos como este deixaram de serem considerados crime, podendo
assim serem realizados abertamente.
Copyright © 2011 euronews
10/06/11 20:02 CET
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Outras Notícias
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A Europa começou a reparar em Recep Tayyip Erdogan
depois da vitória esmagadora das eleições legislativas de 2002.
Subitamente um partido islamita subia ao poder na secular Turquia. Na
altura surgiu a dúvida: iria a Europa ter como vizinho um país
semelhante ao Irão?
As primeiras aparições públicas da mulher de Erdogan provocaram o
descontentamento e a crítica da oposição. Ela aparecia usando o véu
islâmico e os oposicionistas afirmavam que a laicidade do país estava em
causa.
Dois anos depois esse receio parece ter desaparecido. Em 2004, o
governante turco foi recebido em Bruxelas e a União Europeia inicia um
conjunto de negociação visando a entrada da Turquia ao grupo europeu.
Começou assim a projeção política internacional de Erdogan que, até
1998, era o presidente da Câmara Municipal de Istambul. Nesse ano foi
preso por causa de um poema, um facto que lhe granjeou uma grande
popularidade.
Depois disso, deixou o antigo partido islamita, e fundou o novo e mais moderado AKP.
Em 2003, torna-se primeiro-ministro e consegue tirar a Turquia da
crise económica em que se encontrava desde 2000, e torna o país num ator
fundamental da política regional.
Em 2007 o AKP consegue ser reeleito e atingiu-se uma estabilidade política que permitiu a Erdogan começar a iniciar algumas reformas…
A questão das minorias étnicas sempre foi um dos maiores entraves
nas negociações entre a União Europeia e a Turquia. Para provar que o
Estado estava mais complacente, o primeiro-ministro introduziu algumas
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linguísticos como este deixaram de serem considerados crime, podendo
assim serem realizados abertamente.
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