As agências de notação têm sido um total desastre
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As agências de notação têm sido um total desastre
"As agências de notação têm sido um total desastre"
28 Fevereiro 2012 | 10:00
Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt
Vítor Gonçalves (RTP)
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Paul Krugman diz que se sobrestimou o poder das agências de "rating" e desmistifica o dragão chinês. Pequim não tem qualquer poder sobre os EUA e a Europa defende o economista
Que avaliação faz da Administração Obama?
É um bom homem, com boas intenções, mas assumiu o cargo com uma crença errada sobre aquilo de que necessitamos. Ele acreditou que tinha de chegar às pessoas, ser moderado, fazer cedências e que as medidas imediatas seriam suficientes na economia. Que se contivesse a crise imediata, a economia recuperaria por si, o que se revelou errado. Assim, se for reeleito, terá de recomeçar do zero.
Acredita que ele vai ser reeleito?
Acho que sim. Não é certo se a economia claudicar. Mas a economia está um pouco melhor e os seus adversários são caricatos. É um homem de sorte, digamos assim.
A economia será o factor mais importante na eleição de Novembro?
Sim, a economia é sempre o factor mais importante.
Obama prometeu uma nova era de responsabilização. Houve alguma mudança verdadeira na regulação financeira dos EUA nos últimos quatro anos?
Tivemos uma reforma financeira. Não é estúpida. Não é uma má lei. O problema não é ser uma lei fraca, mas discricionária. Não funciona realmente, excepto se os reguladores estiverem preparados para actuar sobre práticas perigosas. E isso depende muito de quem está a comandar. Por isso, o segundo mandato de Obama provavelmente vai ser mais efectivo.
Há mesmo uma guerra entre o dólar e o euro ou isso são apenas teorias da conspiração?
As teorias de conspiração são erradas e são tolas. O que se consegue em ter uma moeda mundial? As pessoas com dinheiro fazem transacções fora do país. Não é um grande privilégio. O euro já alcançou, apesar de tudo, algumas coisas. Há muitos euros a circular fora da Zona Euro, como há muitos dólares a circular fora da zona do dólar. Não é uma grande questão.
E quanto às agências de notação e o cepticismo que reina sobre elas na Europa?
As agências de notação têm sido um total desastre. Embora pense que até certo ponto, as pessoas culpam-nas pela actual crise na Zona Euro. E isso é errado. Eu não preciso da Standard & Poors e da Moody’s para me dizerem que a Grécia é um problema. As pessoas estão a dizer que as agências de "rating" foram descuidadas e ajudaram a crise a acontecer e isso é verdade. E elas tiveram um impacto pernicioso no corte de "rating" dos Estados Unidos, por parte da S&P, e isso é ridículo e destrutivo. Além disso, sobrestimamos o seu poder.
A dívida dos EUA não é uma bomba-relógio?
Não. Nós temos um problema de longo prazo com os custos sector da Saúde. Mas dizer que os Estados Unidos estão perto do incumprimento é errado. Vale a pena lembrar que as agências de rating cortaram a avaliação do Japão em 2002 e quem quer que tenha acreditado nelas perdeu muito dinheiro. Mas isso são países que têm a sua própria moeda e podem ter défices durante muito tempo sem entrar em incumprimento.
A Europa e os EUA devem exigir mais respeito pelos direitos dos trabalhadores na China?
Claro. Devíamos exigir muitas coisas, mas sim. Isso faz parte do que os governos democráticos e decentes podem fazer. Se tiverem algum poder económico podem usá-lo para exigir um mundo melhor. Não podemos colocar os salários chineses ao nível dos alemães. Ainda não estão preparados para isso. Mas pode-se exigir respeito pelos direitos humanos básicos e devíamos fazê-lo.
A China, como sabe, está a investir na Europa, comprando empresas, emprestando dinheiro... Como é que um americano como o senhor vê esta relação entre a China e a Europa?
Não é um problema. Entre outras coisas, as pessoas falam muitas vezes como se o investimento chinês nos Estados Unidos, desse poder à China sobre a América. Mas a realidade é o oposto. Se deixarem de comprar a nossa dívida, tudo bem. O dólar poderá ficar mais fraco, mas isso beneficiaria as nossas exportações. Não se trata de financiar o governo federal, porque pode ser a reserva federal a pagar a dívida. Um amigo meu, Dean Baker, diz que a China tem uma pistola de água vazia apontada à cabeça da América. Não têm qualquer poder negocial sobre nós. E o mesmo é verdade na Europa.
Diz que o BCE está obcecado com a inflação e que a inflação pode ser a solução para a Europa. Porquê?
Gosto de fazer um pequeno exercício de aritmética. Se dissermos que cerca de 20 ou 30% de redução nos salários da Europa do sul em relação aos alemães terá de acontecer, faz toda a diferença saber se isso ocorre com uma redução de 3% anual nos salários do sul da Europa, com uma subida de alguns pontos percentuais na Alemanha, ou se acontece através da manutenção ou subida dos salários do sul da Europa, enquanto os salários alemães sobem 5 ou 6%. É uma enorme diferença a nível do desemprego que irá existir na Europa do sul, a nível da dinâmica da dívida... Uma taxa maior de inflação na Europa, significaria na prática para já uma maior inflação na Alemanha, e isso aliviaria muito o problema do ajustamento. E o BCE... Sejamos justos, a Fed também não quer admitir que os recentes acontecimentos causaram uma maior inflação. Mas é claro que a Europa precisa ainda mais do que os EUA.
Uma das coisas que se debatem aqui na Europa, é de que foi o Estado Social que causou este problema. Está agora em causa o Estado Social?
Pode estar em causa. Não causou o problema. Isso não é verdade. Vejam países europeus e classifiquem-nos por despesas sociais em função do PIB, e vemos que só a Itália está no terço superior e tem um Estado-providência ainda mais fraco que a Alemanha e muito mais fraco que o da Suécia, que está a sair-se muito bem nesta crise. Simplesmente, isso não é verdade. Não foram os Estados-providência que causaram [a crise]. Claro que as políticas de austeridade vão exercer uma grande pressão nesse Estado-providência. Mas não é necessário ir nessa direcção. Isto é um truque que a direita usa sempre. É oportunismo, e não a realidade, dizer que o Estado-providência é a causa desta crise.
Que importância tem falar sobre economia de uma forma que todos entendam?
É extremamente importante. Se tivéssemos um mundo em que houvesse um consenso de peritos e as pessoas deixassem que fossem os peritos a resolver as questões, não seria tão importante. Mas não temos. Temos alegados peritos a discutirem uns com os outros e temos de fazer esse apelo directamente ao público. Temos de explicá-lo. Os economistas sempre foram parcos em explicações simples. Sempre houve melhores comunicadores em biologia e física, do que em economia, o que é um absurdo pois a economia é algo que afecta a vidas das pessoas.
Esteve Em Portugal pela primeira vez em 1976, diria mais tarde que Portugal era na altura um lugar um bocado doido para se estar. Continua a ser? O que sente hoje em Portugal?
Não... Afecta-me muito ver a actual crise aqui, mas na altura era um lugar doido em termos políticos. Apesar de, rapidamente, estar a ficar são, mesmo em 1976, mas era um lugar estranho. Era muito retrógrado, muito mais do que agora. Mas vim cá em 2001, tivemos um reunião do grupo, e fiquei ligeiramente desapontado porque Portugal tinha-se tornado num país europeu normal (risos). Mas é isso que queremos para o povo. Um país europeu normal é um sítio excelente para se estar.
E como é a Europa vista de fora? Parece uma união de Estados ou um navio de loucos?
Esta questão do euro é uma tragédia, por terem entrado nesta moeda sem uma moeda segura, é uma autêntica tragédia porque, em muitos aspectos, a Europa está muito bem. Estudo coisas como serviços de saúde e os sistemas de saúde europeus são muito melhores do que o sistema americano. São mais abrangentes e muito mais baratos. Veja-se a tecnologia... Há 15 anos parecia haver um fosso. Isso já não existe. Neste momento, a sofisticação tecnológica europeia é igual à dos Estados Unidos.A Europa tem muitos pontos fortes e, basicamente, houve uma falha monetária. Se a Europa conseguir ultrapassar isto, de alguma forma, será uma verdadeira história de sucesso para a Humanidade.
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Paul Krugman diz que se sobrestimou o poder das agências de "rating" e desmistifica o dragão chinês. Pequim não tem qualquer poder sobre os EUA e a Europa defende o economista
Que avaliação faz da Administração Obama?
É um bom homem, com boas intenções, mas assumiu o cargo com uma crença errada sobre aquilo de que necessitamos. Ele acreditou que tinha de chegar às pessoas, ser moderado, fazer cedências e que as medidas imediatas seriam suficientes na economia. Que se contivesse a crise imediata, a economia recuperaria por si, o que se revelou errado. Assim, se for reeleito, terá de recomeçar do zero.
Acredita que ele vai ser reeleito?
Acho que sim. Não é certo se a economia claudicar. Mas a economia está um pouco melhor e os seus adversários são caricatos. É um homem de sorte, digamos assim.
A economia será o factor mais importante na eleição de Novembro?
Sim, a economia é sempre o factor mais importante.
Obama prometeu uma nova era de responsabilização. Houve alguma mudança verdadeira na regulação financeira dos EUA nos últimos quatro anos?
Tivemos uma reforma financeira. Não é estúpida. Não é uma má lei. O problema não é ser uma lei fraca, mas discricionária. Não funciona realmente, excepto se os reguladores estiverem preparados para actuar sobre práticas perigosas. E isso depende muito de quem está a comandar. Por isso, o segundo mandato de Obama provavelmente vai ser mais efectivo.
Há mesmo uma guerra entre o dólar e o euro ou isso são apenas teorias da conspiração?
As teorias de conspiração são erradas e são tolas. O que se consegue em ter uma moeda mundial? As pessoas com dinheiro fazem transacções fora do país. Não é um grande privilégio. O euro já alcançou, apesar de tudo, algumas coisas. Há muitos euros a circular fora da Zona Euro, como há muitos dólares a circular fora da zona do dólar. Não é uma grande questão.
E quanto às agências de notação e o cepticismo que reina sobre elas na Europa?
As agências de notação têm sido um total desastre. Embora pense que até certo ponto, as pessoas culpam-nas pela actual crise na Zona Euro. E isso é errado. Eu não preciso da Standard & Poors e da Moody’s para me dizerem que a Grécia é um problema. As pessoas estão a dizer que as agências de "rating" foram descuidadas e ajudaram a crise a acontecer e isso é verdade. E elas tiveram um impacto pernicioso no corte de "rating" dos Estados Unidos, por parte da S&P, e isso é ridículo e destrutivo. Além disso, sobrestimamos o seu poder.
A dívida dos EUA não é uma bomba-relógio?
Não. Nós temos um problema de longo prazo com os custos sector da Saúde. Mas dizer que os Estados Unidos estão perto do incumprimento é errado. Vale a pena lembrar que as agências de rating cortaram a avaliação do Japão em 2002 e quem quer que tenha acreditado nelas perdeu muito dinheiro. Mas isso são países que têm a sua própria moeda e podem ter défices durante muito tempo sem entrar em incumprimento.
A Europa e os EUA devem exigir mais respeito pelos direitos dos trabalhadores na China?
Claro. Devíamos exigir muitas coisas, mas sim. Isso faz parte do que os governos democráticos e decentes podem fazer. Se tiverem algum poder económico podem usá-lo para exigir um mundo melhor. Não podemos colocar os salários chineses ao nível dos alemães. Ainda não estão preparados para isso. Mas pode-se exigir respeito pelos direitos humanos básicos e devíamos fazê-lo.
A China, como sabe, está a investir na Europa, comprando empresas, emprestando dinheiro... Como é que um americano como o senhor vê esta relação entre a China e a Europa?
Não é um problema. Entre outras coisas, as pessoas falam muitas vezes como se o investimento chinês nos Estados Unidos, desse poder à China sobre a América. Mas a realidade é o oposto. Se deixarem de comprar a nossa dívida, tudo bem. O dólar poderá ficar mais fraco, mas isso beneficiaria as nossas exportações. Não se trata de financiar o governo federal, porque pode ser a reserva federal a pagar a dívida. Um amigo meu, Dean Baker, diz que a China tem uma pistola de água vazia apontada à cabeça da América. Não têm qualquer poder negocial sobre nós. E o mesmo é verdade na Europa.
Diz que o BCE está obcecado com a inflação e que a inflação pode ser a solução para a Europa. Porquê?
Gosto de fazer um pequeno exercício de aritmética. Se dissermos que cerca de 20 ou 30% de redução nos salários da Europa do sul em relação aos alemães terá de acontecer, faz toda a diferença saber se isso ocorre com uma redução de 3% anual nos salários do sul da Europa, com uma subida de alguns pontos percentuais na Alemanha, ou se acontece através da manutenção ou subida dos salários do sul da Europa, enquanto os salários alemães sobem 5 ou 6%. É uma enorme diferença a nível do desemprego que irá existir na Europa do sul, a nível da dinâmica da dívida... Uma taxa maior de inflação na Europa, significaria na prática para já uma maior inflação na Alemanha, e isso aliviaria muito o problema do ajustamento. E o BCE... Sejamos justos, a Fed também não quer admitir que os recentes acontecimentos causaram uma maior inflação. Mas é claro que a Europa precisa ainda mais do que os EUA.
Uma das coisas que se debatem aqui na Europa, é de que foi o Estado Social que causou este problema. Está agora em causa o Estado Social?
Pode estar em causa. Não causou o problema. Isso não é verdade. Vejam países europeus e classifiquem-nos por despesas sociais em função do PIB, e vemos que só a Itália está no terço superior e tem um Estado-providência ainda mais fraco que a Alemanha e muito mais fraco que o da Suécia, que está a sair-se muito bem nesta crise. Simplesmente, isso não é verdade. Não foram os Estados-providência que causaram [a crise]. Claro que as políticas de austeridade vão exercer uma grande pressão nesse Estado-providência. Mas não é necessário ir nessa direcção. Isto é um truque que a direita usa sempre. É oportunismo, e não a realidade, dizer que o Estado-providência é a causa desta crise.
Que importância tem falar sobre economia de uma forma que todos entendam?
É extremamente importante. Se tivéssemos um mundo em que houvesse um consenso de peritos e as pessoas deixassem que fossem os peritos a resolver as questões, não seria tão importante. Mas não temos. Temos alegados peritos a discutirem uns com os outros e temos de fazer esse apelo directamente ao público. Temos de explicá-lo. Os economistas sempre foram parcos em explicações simples. Sempre houve melhores comunicadores em biologia e física, do que em economia, o que é um absurdo pois a economia é algo que afecta a vidas das pessoas.
Esteve Em Portugal pela primeira vez em 1976, diria mais tarde que Portugal era na altura um lugar um bocado doido para se estar. Continua a ser? O que sente hoje em Portugal?
Não... Afecta-me muito ver a actual crise aqui, mas na altura era um lugar doido em termos políticos. Apesar de, rapidamente, estar a ficar são, mesmo em 1976, mas era um lugar estranho. Era muito retrógrado, muito mais do que agora. Mas vim cá em 2001, tivemos um reunião do grupo, e fiquei ligeiramente desapontado porque Portugal tinha-se tornado num país europeu normal (risos). Mas é isso que queremos para o povo. Um país europeu normal é um sítio excelente para se estar.
E como é a Europa vista de fora? Parece uma união de Estados ou um navio de loucos?
Esta questão do euro é uma tragédia, por terem entrado nesta moeda sem uma moeda segura, é uma autêntica tragédia porque, em muitos aspectos, a Europa está muito bem. Estudo coisas como serviços de saúde e os sistemas de saúde europeus são muito melhores do que o sistema americano. São mais abrangentes e muito mais baratos. Veja-se a tecnologia... Há 15 anos parecia haver um fosso. Isso já não existe. Neste momento, a sofisticação tecnológica europeia é igual à dos Estados Unidos.A Europa tem muitos pontos fortes e, basicamente, houve uma falha monetária. Se a Europa conseguir ultrapassar isto, de alguma forma, será uma verdadeira história de sucesso para a Humanidade.
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Pontos críticos ___Não há desculpa para a desigualdade na austeridade
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