Outro Israel é possível
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Outro Israel é possível
Outro Israel é possível
By admin – 08/08/2011Posted in: Posts
Juventude desafia políticas de desigualdade, acampa em Telavive e
promove manifestação gigante. “Outras Palavas” lança coluna sobre
judaísmo progressista
Despejada de sua casa, em meados de julho, pelo aumento do aluguel,
inflacionado pela perspectiva de uma nova lei imobiliária, a jovem
israelense Daphne Liff decidiu que não valia a pena permanecer calada.
Armou uma barraca no Bulevar Rotschild
(uma das avenidas mais famosas e elegantes do centro de Telavive) e um
barraco nas redes sociais. Em poucas horas, centenas de jovens
juntaram-se a ela. Três semanas depois, o movimento é um dos fatos
promissores de um ano já cheio de surpresas, esperanças e riscos. O
Bulevar Rotschild transformou-se, curiosamente, numa versão israelense
da Praça Tahrir. Está tomado por jovens
que acampam, ultrapassam a vida medíocre que o sistema lhes oferece,
planejam ações. Neste sábado (6/, ao menos 250 mil pessoas
participaram de uma marcha gigante
pelas ruas da capital. Exigiram construção de moradias alugadas a
preços acessíveis, aumento do salário mínimo, educação gratuita. Em
Jerusalém, houve protestos diante da residência do primeiro-ministro
Benyamin Netanyahu.
A grande novidade revela algo que pode parecer surpreendente. Israel é
muito mais que a opressão sistemática contra a Palestina, praticada há
décadas por seus overnos. Em sua origem, o país foi marcado com
experiências sociais inovadoras e avançadas, como os kibutz – espécies
de comunidades agrícolas coletivistas (a ponto de instituírem o cuidado
comum das crianças e de inguém possuir conta bancária própria), de
democracia participativa avançada e intensa vida cultural.
Karl Marx argumentou certa vez que as nações opressoras estão
condenadas a viver sem liberdade. Aos poucos, a lógica da ocupação
permanente sobre a Palestina dominou
a própria sociedade de Israel. Os militares e os partidos religiosos de
ultra-direita passaram a exercer poder sufocante. O Parlamento
(Knesset) vota atualmente leis abertamente autoritárias, que estimulam a
delação e chegam a proíbir o uso de palavras – Nakba, a expressão árabe que designa a expulsão de centenas de milhares de famílias palestinas, no processo de criação de Israel.
Nestas circunstâncias difíceis, é muito animador observar a retomada de lutas sociais por igualdade e democracia em Israel. Outras Palavras tem acompanhado de perto o surgimento, na Palestina ocupada, de um novo movimento de resistência pacífica. Impulsionado principalmente pela juventude, ele está promovendo acordos entre facções políticas antes em disputa fratricida. Poderá resultar, em setembro, numa enorme pressão pela independência, que deverá ser aprovada pela Assembleia Geral da ONU.
É com enorme satisfação que o site passa a acompanhar mais
atentamente também os movimentos democráticos em Israel e entre a
cultura judaica. Eles serão relatados e analisados por um novo
colaborador: Sérgio Storch.
Consultor em Planejamento, ativista de diversas causas ligadas à
transformação social, Sérgio está convencido de que o Brasil pode – por
sua cultura de diversidade e acolhimento – estimular a pacificação do
Oriente Médio. Tem agido para articular brasileiros, judeus e árabes em
favor desta ideia. Sua primeira contribuição está abaixo (A.M.).
Israel: contradições de um sistema político
Por Sérgio Storch
As impressões do Estado de Israel de décadas atrás trazem a imagem de
um país igualitário e democrático. Com exceção da população árabe nos
territórios ocupados por Israel há já 44 anos, que não gozam de direitos
de cidadania, a democracia israelense é inclusiva. Para muitos leitores
talvez seja novidade que a minoria árabe de 20% da população que está
dentro das fronteiras de Israel não só vota e é votada, em vários
partidos políticos e nos seus próprios, como também tem juízes na
Justiça israelense, e até mesmo professores que pesquisam nas melhores
universidades temas que desafiam frontalmente a própria natureza judaica
do Estado de Israel (ver texto do professor As´ad Ghanem, da Universidade de Haifa, que é ativista por um estado único binacional, não mais judaico).
Entretanto, três décadas de prevalência de governos de direita
mudaram drasticamente o cenário. As manifestações dos acampamentos
urbanos nas últimas semanas, cujo significado é brilhantemente
expressado por artigo de Amos Oz (considerado o maior escritor israelense), que Outras Palavras reproduz, mostram
o cansaço da sociedade com um sistema político que vem não apenas
aumentando a desigualdade social, como também perdendo a legitimidade. É
eloqüente nesse sentido o que aconteceu há alguns dias na votação do
projeto de lei para instituir o casamento civil (sim, em Israel, entre
outros arcaísmos, só há casamento religioso). Embora a liberdade de
opção para se casar seja apoiada pela enorme maioria da população, a
proposta perdeu por 17 votos contra 40, tendo se ausentado os restantes
dos 120 parlamentares.
Esse fato, que mostra o peso da minoria de religiosos ultraortodoxos
no arco de forças da política israelense, é acompanhado por diversos
outros acontecimentos que, no seu conjunto, revelam uma clara
direitização do Estado: a lei que, ferindo a liberdade de expressão,
proíbe o uso do termo Nakba, que em árabe significa catástrofe (Nakba é a
celebração dos palestinos concomitante ao Dia da Independência
israelense); a lei que proíbe, com sanções significativas, os boicotes
contra produtos dos territórios ocupados; o projeto de lei que pretende
criar uma Comissão de Investigação das fontes de recursos das ONGs
pacifistas, caracterizando um macartismo israelense (vale dizer que esse
projeto foi vetado até pelo primeiro ministro Netanyahu, de direita);
as ações de intimidação de professores e pesquisadores, pela ONG de
direita Im Tirtzu, que faz patrulhamento do que é ensinado e pressiona
as fontes para que sequem os seus recursos para pesquisa (uma réplica do
“Brasil Ame-o ou Deixe-o” da ditadura brasileira).
Ao mesmo tempo em que acontece essa direitização, os setores que
apóiam o reconhecimento do Estado Palestino (majoritários na sociedade,
embora não no Parlamento) mostram criatividade em ações de desobediência
civil tais como o que foi noticiado nesta semana no New York Times: mulheres israelenses vão buscar mulheres palestinas na Cisjordânia para passearem juntas e tomarem banho de mar.
Fato pitoresco, mas longe de ser único. Apesar do governo, há inúmeras
ações de grupos israelenses que buscam apoiar os direitos e a autoestima
dos palestinos. Mas isso é assunto para o próximo artigo.
By admin – 08/08/2011Posted in: Posts
Juventude desafia políticas de desigualdade, acampa em Telavive e
promove manifestação gigante. “Outras Palavas” lança coluna sobre
judaísmo progressista
Despejada de sua casa, em meados de julho, pelo aumento do aluguel,
inflacionado pela perspectiva de uma nova lei imobiliária, a jovem
israelense Daphne Liff decidiu que não valia a pena permanecer calada.
Armou uma barraca no Bulevar Rotschild
(uma das avenidas mais famosas e elegantes do centro de Telavive) e um
barraco nas redes sociais. Em poucas horas, centenas de jovens
juntaram-se a ela. Três semanas depois, o movimento é um dos fatos
promissores de um ano já cheio de surpresas, esperanças e riscos. O
Bulevar Rotschild transformou-se, curiosamente, numa versão israelense
da Praça Tahrir. Está tomado por jovens
que acampam, ultrapassam a vida medíocre que o sistema lhes oferece,
planejam ações. Neste sábado (6/, ao menos 250 mil pessoas
participaram de uma marcha gigante
pelas ruas da capital. Exigiram construção de moradias alugadas a
preços acessíveis, aumento do salário mínimo, educação gratuita. Em
Jerusalém, houve protestos diante da residência do primeiro-ministro
Benyamin Netanyahu.
A grande novidade revela algo que pode parecer surpreendente. Israel é
muito mais que a opressão sistemática contra a Palestina, praticada há
décadas por seus overnos. Em sua origem, o país foi marcado com
experiências sociais inovadoras e avançadas, como os kibutz – espécies
de comunidades agrícolas coletivistas (a ponto de instituírem o cuidado
comum das crianças e de inguém possuir conta bancária própria), de
democracia participativa avançada e intensa vida cultural.
Karl Marx argumentou certa vez que as nações opressoras estão
condenadas a viver sem liberdade. Aos poucos, a lógica da ocupação
permanente sobre a Palestina dominou
a própria sociedade de Israel. Os militares e os partidos religiosos de
ultra-direita passaram a exercer poder sufocante. O Parlamento
(Knesset) vota atualmente leis abertamente autoritárias, que estimulam a
delação e chegam a proíbir o uso de palavras – Nakba, a expressão árabe que designa a expulsão de centenas de milhares de famílias palestinas, no processo de criação de Israel.
Nestas circunstâncias difíceis, é muito animador observar a retomada de lutas sociais por igualdade e democracia em Israel. Outras Palavras tem acompanhado de perto o surgimento, na Palestina ocupada, de um novo movimento de resistência pacífica. Impulsionado principalmente pela juventude, ele está promovendo acordos entre facções políticas antes em disputa fratricida. Poderá resultar, em setembro, numa enorme pressão pela independência, que deverá ser aprovada pela Assembleia Geral da ONU.
É com enorme satisfação que o site passa a acompanhar mais
atentamente também os movimentos democráticos em Israel e entre a
cultura judaica. Eles serão relatados e analisados por um novo
colaborador: Sérgio Storch.
Consultor em Planejamento, ativista de diversas causas ligadas à
transformação social, Sérgio está convencido de que o Brasil pode – por
sua cultura de diversidade e acolhimento – estimular a pacificação do
Oriente Médio. Tem agido para articular brasileiros, judeus e árabes em
favor desta ideia. Sua primeira contribuição está abaixo (A.M.).
Israel: contradições de um sistema político
Por Sérgio Storch
As impressões do Estado de Israel de décadas atrás trazem a imagem de
um país igualitário e democrático. Com exceção da população árabe nos
territórios ocupados por Israel há já 44 anos, que não gozam de direitos
de cidadania, a democracia israelense é inclusiva. Para muitos leitores
talvez seja novidade que a minoria árabe de 20% da população que está
dentro das fronteiras de Israel não só vota e é votada, em vários
partidos políticos e nos seus próprios, como também tem juízes na
Justiça israelense, e até mesmo professores que pesquisam nas melhores
universidades temas que desafiam frontalmente a própria natureza judaica
do Estado de Israel (ver texto do professor As´ad Ghanem, da Universidade de Haifa, que é ativista por um estado único binacional, não mais judaico).
Entretanto, três décadas de prevalência de governos de direita
mudaram drasticamente o cenário. As manifestações dos acampamentos
urbanos nas últimas semanas, cujo significado é brilhantemente
expressado por artigo de Amos Oz (considerado o maior escritor israelense), que Outras Palavras reproduz, mostram
o cansaço da sociedade com um sistema político que vem não apenas
aumentando a desigualdade social, como também perdendo a legitimidade. É
eloqüente nesse sentido o que aconteceu há alguns dias na votação do
projeto de lei para instituir o casamento civil (sim, em Israel, entre
outros arcaísmos, só há casamento religioso). Embora a liberdade de
opção para se casar seja apoiada pela enorme maioria da população, a
proposta perdeu por 17 votos contra 40, tendo se ausentado os restantes
dos 120 parlamentares.
Esse fato, que mostra o peso da minoria de religiosos ultraortodoxos
no arco de forças da política israelense, é acompanhado por diversos
outros acontecimentos que, no seu conjunto, revelam uma clara
direitização do Estado: a lei que, ferindo a liberdade de expressão,
proíbe o uso do termo Nakba, que em árabe significa catástrofe (Nakba é a
celebração dos palestinos concomitante ao Dia da Independência
israelense); a lei que proíbe, com sanções significativas, os boicotes
contra produtos dos territórios ocupados; o projeto de lei que pretende
criar uma Comissão de Investigação das fontes de recursos das ONGs
pacifistas, caracterizando um macartismo israelense (vale dizer que esse
projeto foi vetado até pelo primeiro ministro Netanyahu, de direita);
as ações de intimidação de professores e pesquisadores, pela ONG de
direita Im Tirtzu, que faz patrulhamento do que é ensinado e pressiona
as fontes para que sequem os seus recursos para pesquisa (uma réplica do
“Brasil Ame-o ou Deixe-o” da ditadura brasileira).
Ao mesmo tempo em que acontece essa direitização, os setores que
apóiam o reconhecimento do Estado Palestino (majoritários na sociedade,
embora não no Parlamento) mostram criatividade em ações de desobediência
civil tais como o que foi noticiado nesta semana no New York Times: mulheres israelenses vão buscar mulheres palestinas na Cisjordânia para passearem juntas e tomarem banho de mar.
Fato pitoresco, mas longe de ser único. Apesar do governo, há inúmeras
ações de grupos israelenses que buscam apoiar os direitos e a autoestima
dos palestinos. Mas isso é assunto para o próximo artigo.
_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118212
Re: Outro Israel é possível
Karl Marx argumentou certa vez que as nações opressoras estão
condenadas a viver sem liberdade. Aos poucos, a lógica da ocupação
permanente sobre a Palestina dominou
a própria sociedade de Israel. Os militares e os partidos religiosos de
ultra-direita passaram a exercer poder sufocante. O Parlamento
(Knesset) vota atualmente leis abertamente autoritárias, que estimulam a
delação e chegam a proíbir o uso de palavras – Nakba, a expressão árabe que designa a expulsão de centenas de milhares de famílias palestinas, no processo de criação de Israel.
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Re: Outro Israel é possível
o cansaço da sociedade com um sistema político que vem não apenas
aumentando a desigualdade social, como também perdendo a legitimidade. É
eloqüente nesse sentido o que aconteceu há alguns dias na votação do
projeto de lei para instituir o casamento civil (sim, em Israel, entre
outros arcaísmos, só há casamento religioso). Embora a liberdade de
opção para se casar seja apoiada pela enorme maioria da população, a
proposta perdeu por 17 votos contra 40, tendo se ausentado os restantes
dos 120 parlamentares.
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