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A escola secreta de Nasreen

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A escola secreta de Nasreen Empty A escola secreta de Nasreen

Mensagem por Vitor mango Qui Fev 14, 2013 1:21 am

A escola secreta de Nasreen

(Uma história verdadeira do Afeganistão)

A
minha neta Nasreen vive comigo em Herat, uma antiga cidade do
Afeganistão, onde outrora floresceram as artes, a música e a educação.
Mas depois chegaram os soldados e tudo mudou. As artes, a música e a
educação desapareceram. Nuvens negras pairam agora sobre a cidade.


A
pobre Nasreen fica em casa todo o dia, porque as raparigas estão
proibidas de frequentar a escola. Os talibãs não querem que as
raparigas estudem, como eu e a mãe de Nasreen fizemos quando éramos
crianças.


Uma
noite, vieram eles e levaram o meu filho, sem qualquer explicação.
Esperámos dias e noites pelo seu regresso. Cansada de esperar, a mãe de
Nasreen pôs-se, finalmente, a caminho, à procura dele, embora fosse
proibido às mulheres e raparigas andar sozinhas pela rua.


Muitas
luas passaram à minha janela enquanto eu e Nasreen esperávamos.
Nasreen nunca falava nem sorria. Ficava sentada, à espera que o pai e a
mãe aparecessem.


Eu sabia que tinha de fazer algo.

Ouvi
rumores sobre uma escola secreta para raparigas que ficava por detrás
de um portão verde, num caminho perto da nossa casa. E queria muito que
Nasreen frequentasse essa escola. Queria que ela conhecesse o mundo,
que estudasse, como eu tinha feito. Queria que ela falasse de novo.
Assim, um dia, Nasreen e eu apressamo-nos a chegar ao portão verde.
Felizmente, nenhum talibã nos viu. Bati ao de leve. A professora abriu o
portão e corremos para dentro. Atravessamos o recreio da escola – uma
sala numa casa particular cheia de raparigas. Nasreen sentou-se ao
fundo da sala. Quando a deixei rezei: “Por favor Alá, abre-lhe os olhos
para o mundo.” Nasreen não falou com as outras raparigas. Também não
falou com a professora. E em casa manteve-se em silêncio.


Eu
receava que os talibãs descobrissem a escola. Mas as raparigas eram
espertas. Entravam e saíam a diferentes horas para não levantar
suspeitas. E quando os soldados se aproximavam do portão, alguns
rapazes desviavam a sua atenção. Ouvi falar de um talibã que bateu
ameaçadoramente no portão, exigindo que o abrissem. Mas tudo o que
encontrou foi uma sala cheia de raparigas a lerem o Corão, o que era
permitido. As raparigas tinham escondido os seus trabalhos, enganando
assim o soldado.


Uma
das raparigas, Mina, sentava-se junto de Nasreen todos os dias. Mas
nunca falavam uma com a outra. Enquanto as raparigas aprendiam, Nasreen
vivia fechada em si mesma. A minha preocupação agravava-se. Quando a
escola fechou para as longas férias de inverno, Nasreen e eu
sentávamo-nos junto ao fogão. Alguns familiares poupavam comida e lenha
para nos dar.


Mais do que nunca, tínhamos saudades da mãe de Nasreen e do meu filho. Alguma vez viríamos a saber o que tinha acontecido?

No dia em que Nasreen regressou à escola, Mina sussurrou-lhe ao ouvido:

Tive saudades tuas.

E eu também respondeu-lhe Nasreen.

Com
aquelas palavras, as primeiras desde que a mãe fora à procura do pai,
Nasreen abriu o seu coração a Mina. E sorriu pela primeira vez desde
que o pai fora levado à força. Pouco a pouco, dia após dia, Nasreen
finalmente aprendeu a ler, a escrever, a somar e subtrair. Todas as
noites mostrava-me o que descobrira naquele dia. Abriam-se, para
Nasreen, as janelas naquela sala de aula. Conheceu e estudou os
artistas, os escritores, os sábios e os místicos que, muito tempo
antes, tinham tornado Herat importante.


Nasreen
já não se sente só. O conhecimento que vai acumulando estará sempre
com ela, como um bom amigo. Agora ela pode ver o céu azul para lá das
nuvens escuras.


Quanto
a mim, tenho a consciência tranquila. Continuo à espera do meu filho e
da sua mulher. Mas os soldados nunca poderão fechar as janelas que se
abriram para a minha neta.


Insha’ Allah.


Nota da Autora

O Fundo Internacional para as Crianças,
uma organização sem fins lucrativos que se dedica a ajudar crianças de
todo o mundo, contactou-me para escrever um livro baseado numa
história verdadeira. Senti-me imediatamente atraída por uma organização
no Afeganistão que fundou e apoiou escolas secretas para raparigas
durante a ocupação Talibã, entre 1996 e 2001. O fundador destas escolas
que pediu anonimato partilhou comigo a história de Nasreen e da sua avó. O nome de Nasreen foi alterado.


Antes de os Talibãs controlarem o Afeganistão:

70% dos professores eram mulheres;

40% dos médicos eram mulheres;

50% dos estudantes de Cabul eram do sexo feminino.


Depois da ocupação Talibã:


as raparigas estavam proibidas de frequentar a escola ou a universidade;

as mulheres estavam proibidas de trabalhar fora de casa;

as mulheres estavam proibidas de sair de casa sem um familiar do sexo masculino;

as
mulheres eram obrigadas a usar a burca que cobria toda a cabeça e o
corpo, deixando apenas uma pequena abertura para os olhos;


não
era permitido cantar, dançar ou lançar papagaios. As artes e a cultura
foram banidas na terra natal do famoso poeta Rumi. As esculturas
colossais de Bamiyan Buddhas, esculpidas na montanha, foram destruídas.



Tinham
começado anos e anos de isolamento e de terror. Mas também havia atos
de coragem de cidadãos que desafiavam, de muitas formas, o regime
Talibã, incluindo o apoio a escolas secretas de raparigas.
A sua coragem nunca vacilou.

Jeannete Winter
Nasreen’s Secret School – A true story from Afghanistan

New York, Beach Lane Books, 2009
(Tradução e adaptação)

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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
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