Cidade chamada Cuba vira símbolo do poder dos comunistas em Portugal
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Cidade chamada Cuba vira símbolo do poder dos comunistas em Portugal
Cidade chamada Cuba vira símbolo do poder dos comunistas em Portugal
Partido voltou ao poder no município após resultado expressivo nas eleições, nas quais se tornou terceira força política do país
Belarmino Fragoso/Opera Mundi
Cidade de Cuba, em Portugal, voltou a ser comandada pelo Partido Comunista; na foto, o "Café Cubense"
“Na Europa, poucos partidos comunistas sobreviveram. Somos um deles”, afirma com orgulho João Português, de 41 anos, prefeito eleito pelo Partido Comunista Português (PCP), atual terceira força política do país – atrás apenas do socialista PS (centro-esquerda) e do social-democrata PSD (direita). Desde meados de outubro, ele governa uma cidade lusitana cujo nome não podia ser mais sugestivo – Cuba, a 200 quilômetros a sudeste de Lisboa. O pequeno município com quase 5.000 habitantes, localizado no coração do Alentejo, uma das regiões historicamente mais pobres de Portugal, hoje é símbolo da chamada “reconquista vermelha”.
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Vila com vestígios da época romana, alguns associam seu nome à presença de cubas, grandes vasilhas de barro para armazenar vinho, um dos produtos mais tradicionais da região. Há quem diga, contudo, que Cristóvão Colombo nasceu ali, e por isso batizou a ilha caribenha em homenagem à terra natal. Fato é que as relações com a ilha ultrapassam o nome. Desde 1976, com as primeiras eleições livres após a Revolução dos Cravos, é o “partidão” quem ganha em grande parte dos concelhos (outro nome para município, em Portugal) do Alentejo, contrariando o bipartidismo do PS e PSD.
Belarmino Fragoso/Opera Mundi
João ainda fala com o entusiasmo de quem foi responsável por devolver ao PCP o poder de Cuba, há quatro legislaturas nas mãos dos socialistas – hiato que se repetiu em outros municípios da região. Formado em Serviço Social e microempresário, é admirador de Lula e Fidel Castro – apesar das “reservas” em relação a algumas políticas do regime cubano. Critica as grandes empresas – “quem gera emprego são as pequenas” – e se coloca ao lado do partido quando o assunto é a moeda única: “Não estávamos preparados para entrar no euro”.
[Detalhe de rua em Cuba]
Em alguns setores, pode-se perceber claramente a marca comunista da administração local. A gestão da água, por exemplo, é totalmente pública. “Nossa ideologia nos impede de privatizar esse bem, mesmo que seja custoso ao Estado”, afirma. O custo de defender um Estado forte é alto: mais de 80% das receitas do município vão para folha de pagamento. A dívida municipal é de € 3,5 milhões - ou 60% das receitas próprias. Uma medida ainda a ser implementada é o orçamento participativo – que, diga-se, já funciona em cidades como Lisboa, governada por socialistas.
“Contato próximo com as pessoas”
A popularidade dos comunistas, segundo o recém-empossado prefeito que exerceu o cargo de vereador por duas vezes, tem a ver com o modo de gestão do poder local, “em contato próximo com as pessoas”. Isso, em outras palavras, se reflete ao andar pelas ruas estreitas da cidade – ladeadas de casas pintadas de branco para atenuar o calor que vai a 40ºC no verão – e conversar com estudantes, empresários, agricultores.
Mas, o que explica os melhores resultados nacionais do partido em 15 anos vai muito além do tête-à-tête, que, aliás, é um traço comum em pequenas cidades. A saturação da política atual é vista como uma das chaves para entender como o PCP foi o preferido de 11% dos eleitores e o único partido a crescer em número de votos nas últimas eleições.
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Dentro da esquerda, os comunistas têm de longe a maior força de mobilização. Os eleitores do PCP já não veem os socialistas como “esquerda autêntica”. Basta lembrar que foi o ex-ministro José Sócrates que em 2011 assinou o empréstimo de 78 bilhões de euros com a troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia). O jovem Bloco de Esquerda, formado por uma miscelânea de partidos pequenos de várias tendências radicais, tem perdido apoio e representantes parlamentares desde seu auge, em 2009.
Belarmino Fragoso/Opera Mundi
Mais eleitores, menos militantes
Se os eleitores do PCP crescem, os militantes diminuem. Hoje somam pouco mais de 60 mil, menos da metade dos anos 1980. Francisco Galinha, de 34 anos, está nos quadros da militância. Ele tem uma história curiosa: é parente distante de um ex-prefeito que governou Cuba na época da ditadura. Francisco, porém, desde os 16 anos é ligado aos comunistas. “Me identifico com os valores de igualdade e partilha”, afirma.
[O novo prefeito de Cuba, João Português]
Ao longo dos anos, esse partido – o único a sobreviver, clandestino, durante o regime salazarista –, passou por mudanças. O fim da Guerra Fria e a adesão de Portugal à União Europeia (UE) tiveram no começo um impacto negativo, explica a cientista política. “As perdas de votos e a redução da representação parlamentar refletiam em parte a dificuldade de adaptação do partido às transformações da sociedade portuguesa”, diz.
Retirou-se do estatuto a meta de “uma revolução democrática e nacional”, mas, nem por isso, se abandonou o marxismo-leninismo. Esse caminho mais soft do chamado eurocomunismo foi a opção escolhida pela maioria dos homólogos europeus após a queda do Muro de Berlim.
Em Portugal, o “partidão” segue firme no sul, mas enfrenta resistências no norte. O campesinato pobre do Alentejo, região dominada pelo latifúndio, e o operariado da Grande Lisboa e arredores foram os terrenos mais férteis para a penetração da ideologia marxista. “A pequena-burguesia rural do norte era (e continua a ser) tradicionalmente mais conservadora”, diz Isabella, que lembra também a influência da Igreja Católica como fator determinante ainda hoje para bloquear o avanço dos vermelhos.
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Os desafios em época de crise não são fáceis – em Cuba e no resto do país. O alto endividamento público e o corte nos repasses de verbas do governo central aos municípios podem comprometer as promessas de campanha dos comunistas, especialmente preocupados com a área social e em como estimular o sistema produtivo do país para gerar empregos. “Não se pode medir tudo em termos de lucro e prejuízo”, defende o prefeito cubense – que ainda tem pela frente a tarefa de compor o cada vez mais minguado orçamento da cidade.
Partido voltou ao poder no município após resultado expressivo nas eleições, nas quais se tornou terceira força política do país
Belarmino Fragoso/Opera Mundi
Cidade de Cuba, em Portugal, voltou a ser comandada pelo Partido Comunista; na foto, o "Café Cubense"
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Vila com vestígios da época romana, alguns associam seu nome à presença de cubas, grandes vasilhas de barro para armazenar vinho, um dos produtos mais tradicionais da região. Há quem diga, contudo, que Cristóvão Colombo nasceu ali, e por isso batizou a ilha caribenha em homenagem à terra natal. Fato é que as relações com a ilha ultrapassam o nome. Desde 1976, com as primeiras eleições livres após a Revolução dos Cravos, é o “partidão” quem ganha em grande parte dos concelhos (outro nome para município, em Portugal) do Alentejo, contrariando o bipartidismo do PS e PSD.
Belarmino Fragoso/Opera Mundi
João ainda fala com o entusiasmo de quem foi responsável por devolver ao PCP o poder de Cuba, há quatro legislaturas nas mãos dos socialistas – hiato que se repetiu em outros municípios da região. Formado em Serviço Social e microempresário, é admirador de Lula e Fidel Castro – apesar das “reservas” em relação a algumas políticas do regime cubano. Critica as grandes empresas – “quem gera emprego são as pequenas” – e se coloca ao lado do partido quando o assunto é a moeda única: “Não estávamos preparados para entrar no euro”.
[Detalhe de rua em Cuba]
Em alguns setores, pode-se perceber claramente a marca comunista da administração local. A gestão da água, por exemplo, é totalmente pública. “Nossa ideologia nos impede de privatizar esse bem, mesmo que seja custoso ao Estado”, afirma. O custo de defender um Estado forte é alto: mais de 80% das receitas do município vão para folha de pagamento. A dívida municipal é de € 3,5 milhões - ou 60% das receitas próprias. Uma medida ainda a ser implementada é o orçamento participativo – que, diga-se, já funciona em cidades como Lisboa, governada por socialistas.
“Contato próximo com as pessoas”
A popularidade dos comunistas, segundo o recém-empossado prefeito que exerceu o cargo de vereador por duas vezes, tem a ver com o modo de gestão do poder local, “em contato próximo com as pessoas”. Isso, em outras palavras, se reflete ao andar pelas ruas estreitas da cidade – ladeadas de casas pintadas de branco para atenuar o calor que vai a 40ºC no verão – e conversar com estudantes, empresários, agricultores.
Mas, o que explica os melhores resultados nacionais do partido em 15 anos vai muito além do tête-à-tête, que, aliás, é um traço comum em pequenas cidades. A saturação da política atual é vista como uma das chaves para entender como o PCP foi o preferido de 11% dos eleitores e o único partido a crescer em número de votos nas últimas eleições.
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Retirou-se do estatuto a meta de “uma revolução democrática e nacional”, mas, nem por isso, se abandonou o marxismo-leninismo. Esse caminho mais soft do chamado eurocomunismo foi a opção escolhida pela maioria dos homólogos europeus após a queda do Muro de Berlim.
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