Alguns acasos e coincidências nas relações russo-portuguesas
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Alguns acasos e coincidências nas relações russo-portuguesas
Alguns acasos e coincidências nas relações russo-portuguesas
Foto: wikimedia.org
Certamente que seria muito monótona e pouco interessante a história se estivesse sujeita a leis rígidas ou a determinismos, mas parece não ser o caso. É mais atrativo analisá-la à luz de acasos e coincidências.
No campo das relações entre os impérios russo e português, os acasos e coincidências tiveram um papel por vezes muito importante ou até decisivo.
A 3 de novembro de 1807, a esquadra do almirante russo Dmitri Senyavin, que regressava do Mediterrâneo onde tinha infligido uma pesada derrota à Armada turca, entrou na foz do Tejo para fugir a uma forte tempestade no mar, mas ficou aí retida durante quase um ano devido à complexa situação internacional. Por coincidência, a família real portuguesa partia do Forte de São Julião da Barra para o Brasil no dia 29 do mesmo mês e só o conseguiu fazer porque o oficial russo ousou não dar ouvidos aos comandantes franceses.
A 7 de julho desse ano, a Rússia e a França de Napoleão tinham assinado um Tratado de Paz e Amizade em Tilzit, documento que permitiu às tropas francesas se dedicarem à ocupação mais rápida da Península Ibérica. Segundo esse tratado, Senyavin devia ter impedido a família real portuguesa de partir, mas não o fez porque as suas simpatias não estavam do lado dos franceses.
Talvez por coincidência também, mas, em 1821, na viagem de regresso à Rússia depois de descobrir a Antártida, a esquadra russa, sob o comando de Fabian Gottlieb Thaddeus von Bellingshausen, volta a entrar no porto do Rio de Janeiro, tendo assistido à partida do rei D. João VI e da sua comitiva para Lisboa: “No dia 14 (26 de Abril), toda a esquadra levantou âncora. Todos os fortes, navios militares que se encontravam ancorados, os nossos navios, um barco, fragatas francesas e bricbarcas inglesas saudaram com tiros de canhão o Estandarte Real. O príncipe herdeiro, Don Pedro e a princesa acompanharam o rei até à saída da baía e regressaram num barco a vapor com o estandarte içado”.
Os navios russos deixaram o Rio de Janeiro dois dias após a expedição que transportou D. João VI, mas, coincidência ou não, chegaram antes do monarca a Lisboa, a 18 (30) de Junho, porque os navios portugueses iam muito carregados.
Foi Bellingshausen que fez chegar a boa nova à capital portuguesa e escreveu no diário de bordo: “A notícia por nós trazida sobre o breve regresso do rei provocou grande atividade nas cortes, foram tomadas imediatamente medidas para que a esquadra real não tivesse qualquer contato com a terra. Foi anunciado que, quando o rei pisar a terra, todos gritam: ‘Vivam as Cortes, Viva o Rei Constitucional!’. Se alguém ousar gritar algo contra, será considerado desordeiro da calma e paz gerais e detido”.
O almirante russo continua: “Quando o rei apareceu em terra e ao dirigir-se para a igreja, para as cortes e para o palácio, todo o povo o saudou, tal como tinha sido ordenado pelas cortes e os habitantes acenavam com lenços brancos das janelinhas nas casas.
O rei jurou, no templo, à nova lei, e, depois, na casa das cortes, assinou a constituição preparada pelas cortes e só depois se dirigiu para o palácio. A rainha, com os príncipes e princesas, desembarcaram apenas na manhã seguinte e foram recebidos com as honras devidas. Numerosos funcionários que tinham chegado com o rei do Brasil ficaram no navio sob rígido controlo. Tudo isso ocorria em conformidade com as medidas e ordens aprovadas pelas cortes. Durante as deslocações do rei e da sua família por Lisboa, não desembarcámos em terra”.
Desse modo, os oficiais e marinheiros russos viram o nascimento da Monarquia Constitucional em Portugal e, como já falámos num texto anteriormente publicado aqui: “Dezembristas russos no agitado Brasil do início do séc. XIX”, alguns deles tentaram fazer o mesmo na Rússia, mas sem sucesso.
José Milhazes
Foto: wikimedia.org
Certamente que seria muito monótona e pouco interessante a história se estivesse sujeita a leis rígidas ou a determinismos, mas parece não ser o caso. É mais atrativo analisá-la à luz de acasos e coincidências.
No campo das relações entre os impérios russo e português, os acasos e coincidências tiveram um papel por vezes muito importante ou até decisivo.
A 3 de novembro de 1807, a esquadra do almirante russo Dmitri Senyavin, que regressava do Mediterrâneo onde tinha infligido uma pesada derrota à Armada turca, entrou na foz do Tejo para fugir a uma forte tempestade no mar, mas ficou aí retida durante quase um ano devido à complexa situação internacional. Por coincidência, a família real portuguesa partia do Forte de São Julião da Barra para o Brasil no dia 29 do mesmo mês e só o conseguiu fazer porque o oficial russo ousou não dar ouvidos aos comandantes franceses.
A 7 de julho desse ano, a Rússia e a França de Napoleão tinham assinado um Tratado de Paz e Amizade em Tilzit, documento que permitiu às tropas francesas se dedicarem à ocupação mais rápida da Península Ibérica. Segundo esse tratado, Senyavin devia ter impedido a família real portuguesa de partir, mas não o fez porque as suas simpatias não estavam do lado dos franceses.
Talvez por coincidência também, mas, em 1821, na viagem de regresso à Rússia depois de descobrir a Antártida, a esquadra russa, sob o comando de Fabian Gottlieb Thaddeus von Bellingshausen, volta a entrar no porto do Rio de Janeiro, tendo assistido à partida do rei D. João VI e da sua comitiva para Lisboa: “No dia 14 (26 de Abril), toda a esquadra levantou âncora. Todos os fortes, navios militares que se encontravam ancorados, os nossos navios, um barco, fragatas francesas e bricbarcas inglesas saudaram com tiros de canhão o Estandarte Real. O príncipe herdeiro, Don Pedro e a princesa acompanharam o rei até à saída da baía e regressaram num barco a vapor com o estandarte içado”.
Os navios russos deixaram o Rio de Janeiro dois dias após a expedição que transportou D. João VI, mas, coincidência ou não, chegaram antes do monarca a Lisboa, a 18 (30) de Junho, porque os navios portugueses iam muito carregados.
Foi Bellingshausen que fez chegar a boa nova à capital portuguesa e escreveu no diário de bordo: “A notícia por nós trazida sobre o breve regresso do rei provocou grande atividade nas cortes, foram tomadas imediatamente medidas para que a esquadra real não tivesse qualquer contato com a terra. Foi anunciado que, quando o rei pisar a terra, todos gritam: ‘Vivam as Cortes, Viva o Rei Constitucional!’. Se alguém ousar gritar algo contra, será considerado desordeiro da calma e paz gerais e detido”.
O almirante russo continua: “Quando o rei apareceu em terra e ao dirigir-se para a igreja, para as cortes e para o palácio, todo o povo o saudou, tal como tinha sido ordenado pelas cortes e os habitantes acenavam com lenços brancos das janelinhas nas casas.
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José Milhazes
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