Ventos de mudança semeiam incerteza no Oriente Médio
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Ventos de mudança semeiam incerteza no Oriente Médio
Ventos de mudança semeiam incerteza no Oriente Médio Países que viveram as revoltas da Primavera Árabe derrubaram regimes autoritários, mas têm dificuldade para dar voz à pluralidade política e estabelecer a democracia
Rodrigo Craveiro
Publicação: 02/02/2014 06:00 Atualização: 02/02/2014 07:49
Brasília – Os ventos da Primavera Árabe arrastaram ditaduras e trouxeram ao Oriente Médio realinhamentos de poder, disputas pela hegemonia política, conflitos sectários e a ameaça de grupos fundamentalistas ávidos em formar um califado islâmico. Para especialistas, as mudanças enfrentadas pela região indicam que a transição para a democracia em países afetados pelas revoluções não será rápida, muito menos suave. Tunísia e Líbia tentam se acomodar nas bases de uma Constituição, enquanto o Egito flerta com o militarismo, depois de um golpe de Estado que lançou os islamitas na clandestinidade e acirrou as tensões no país. Na Síria, a guerra civil entornou o caldo do extremismo sobre nações vizinhas, como o Líbano e o Iraque. Irã e Arábia Saudita se aproveitam da instabilidade para reforçar a presença política e financeira, em um embate ideológico direto, com consequências imprevisíveis.
Cofundadora do Programa sobre Reforma Árabe e Democracia da Universidade de Stanford, Lina Khatib alerta para o aumento significativo das tensões sectárias no Oriente Médio, especialmente entre sunitas e xiitas. O fenômeno é mais evidente no Líbano e no Iraque. “Beirute presenciou uma série de atentados e contra-ataques em áreas sunitas e xiitas. Quanto mais embates sectários ocorrerem, menores as chances de os governos manterem a estabilidade”, afirmou por e-mail. Ela acusa as autoridades de fomentarem o caos, por meio da concessão de privilégios a determinados grupos.
Khatib crê que o Irã vem se tornando um dos principais atores regionais, ao influenciar a política no Iraque, no Líbano, na Síria e no Iêmen. "Em todos esses países, isso tem sido causa de instabilidade", comentou. De acordo com ela, os apoios do Irã ao Hezbollah, no Líbano, e ao regime de Bashar al-Assad, na Síria, insuflam as tensões sectárias. “O fenômeno é impulsionado pelo desejo de Teerã de ser visto como líder no Oriente Médio e de disseminar a ideologia da Revolução Islâmica. A Arábia Saudita rejeita a ascensão dos iranianos e se mostra desconfortável com as negociações entre o regime persa e o Ocidente.” Na opinião dela, a disputa Irã-Arábia Saudita fará com que o Oriente Médio entre em longa fase de instabilidade. Se os iranianos apoiam o Hezbollah e Al-Assad, os sauditas avalizam os militares no Egito e os rebeldes sunitas na Síria.
SINAIS POSITIVOS Para Arshin Adib-Moghaddam, presidente do Centro de Estudos Iranianos da Universidade de Londres, a Síria tornou-se uma ferida aberta. “Ela virou um ímã para terroristas da Al-Qaeda, que lançaram uma guerra transnacional contra Estados e sociedades”, disse. Ele visualiza, no entanto, sinais encorajadores no Oriente Médio. “A Tunísia fez uma transição bem-sucedida da Primavera Árabe para uma democracia funcional. A perspectiva de reaproximação entre os EUA e o Irã promete estabilizar a política internacional da região”, aposta. Khatib concorda com Arshin sobre a Tunísia. “Os tunisianos podem estar divididos entre islamitas e secularistas, mas deixam suas divisões serem canalizadas por vias políticas, como a Assembleia Constituinte, em vez de derramar as tensões pelas ruas.”
Professora de política do Oriente Médio pela Escola de Estudos Africanos e Orientais (Londres), Laleh Khalili considera que a violência na Síria, na Líbia e no Iraque terá efeitos de longo prazo. “Há mudanças menos nítidas, como os realinhamentos de poder na Tunísia e as tentativas de restauração do controle militar no Egito. O público no mundo árabe percebeu que as velhas ordens, não importa quão sólidas pareçam, podem ser derrubadas.” De acordo com ela, a linguagem sectária tem sido útil para a mobilização de círculos eleitorais. “Algumas das queixas subjacentes aos conflitos incluem a exclusão histórica de populações e a pobreza”, afirmou. A analista destaca como importante o suporte político-financeiro da Arábia Saudita e do Catar para o Golfo Pérsico. “Ambos apoiam diferentes facções na Síria e a oposição líbia. No Barein, dão aval à monarquia. No Egito, o Catar aliou-se à Irmandade Muçulmana.”
Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, avalia que as mudanças se aceleraram com a Primavera Árabe. Ele analisa com preocupação o conflito Irã-Arábia Saudita. “Isso terá repercussões sérias a longo prazo, minará a estabilidade e vai mudar, drasticamente, as condições geopolíticas do Oriente Médio”, concluiu.
Rodrigo Craveiro
Publicação: 02/02/2014 06:00 Atualização: 02/02/2014 07:49
Egípcia chora durante funeral de policial morto em atentado na cidade de Mansoura. Terrorismo islâmico ganhou mais força no país |
Brasília – Os ventos da Primavera Árabe arrastaram ditaduras e trouxeram ao Oriente Médio realinhamentos de poder, disputas pela hegemonia política, conflitos sectários e a ameaça de grupos fundamentalistas ávidos em formar um califado islâmico. Para especialistas, as mudanças enfrentadas pela região indicam que a transição para a democracia em países afetados pelas revoluções não será rápida, muito menos suave. Tunísia e Líbia tentam se acomodar nas bases de uma Constituição, enquanto o Egito flerta com o militarismo, depois de um golpe de Estado que lançou os islamitas na clandestinidade e acirrou as tensões no país. Na Síria, a guerra civil entornou o caldo do extremismo sobre nações vizinhas, como o Líbano e o Iraque. Irã e Arábia Saudita se aproveitam da instabilidade para reforçar a presença política e financeira, em um embate ideológico direto, com consequências imprevisíveis.
Cofundadora do Programa sobre Reforma Árabe e Democracia da Universidade de Stanford, Lina Khatib alerta para o aumento significativo das tensões sectárias no Oriente Médio, especialmente entre sunitas e xiitas. O fenômeno é mais evidente no Líbano e no Iraque. “Beirute presenciou uma série de atentados e contra-ataques em áreas sunitas e xiitas. Quanto mais embates sectários ocorrerem, menores as chances de os governos manterem a estabilidade”, afirmou por e-mail. Ela acusa as autoridades de fomentarem o caos, por meio da concessão de privilégios a determinados grupos.
Khatib crê que o Irã vem se tornando um dos principais atores regionais, ao influenciar a política no Iraque, no Líbano, na Síria e no Iêmen. "Em todos esses países, isso tem sido causa de instabilidade", comentou. De acordo com ela, os apoios do Irã ao Hezbollah, no Líbano, e ao regime de Bashar al-Assad, na Síria, insuflam as tensões sectárias. “O fenômeno é impulsionado pelo desejo de Teerã de ser visto como líder no Oriente Médio e de disseminar a ideologia da Revolução Islâmica. A Arábia Saudita rejeita a ascensão dos iranianos e se mostra desconfortável com as negociações entre o regime persa e o Ocidente.” Na opinião dela, a disputa Irã-Arábia Saudita fará com que o Oriente Médio entre em longa fase de instabilidade. Se os iranianos apoiam o Hezbollah e Al-Assad, os sauditas avalizam os militares no Egito e os rebeldes sunitas na Síria.
SINAIS POSITIVOS Para Arshin Adib-Moghaddam, presidente do Centro de Estudos Iranianos da Universidade de Londres, a Síria tornou-se uma ferida aberta. “Ela virou um ímã para terroristas da Al-Qaeda, que lançaram uma guerra transnacional contra Estados e sociedades”, disse. Ele visualiza, no entanto, sinais encorajadores no Oriente Médio. “A Tunísia fez uma transição bem-sucedida da Primavera Árabe para uma democracia funcional. A perspectiva de reaproximação entre os EUA e o Irã promete estabilizar a política internacional da região”, aposta. Khatib concorda com Arshin sobre a Tunísia. “Os tunisianos podem estar divididos entre islamitas e secularistas, mas deixam suas divisões serem canalizadas por vias políticas, como a Assembleia Constituinte, em vez de derramar as tensões pelas ruas.”
Professora de política do Oriente Médio pela Escola de Estudos Africanos e Orientais (Londres), Laleh Khalili considera que a violência na Síria, na Líbia e no Iraque terá efeitos de longo prazo. “Há mudanças menos nítidas, como os realinhamentos de poder na Tunísia e as tentativas de restauração do controle militar no Egito. O público no mundo árabe percebeu que as velhas ordens, não importa quão sólidas pareçam, podem ser derrubadas.” De acordo com ela, a linguagem sectária tem sido útil para a mobilização de círculos eleitorais. “Algumas das queixas subjacentes aos conflitos incluem a exclusão histórica de populações e a pobreza”, afirmou. A analista destaca como importante o suporte político-financeiro da Arábia Saudita e do Catar para o Golfo Pérsico. “Ambos apoiam diferentes facções na Síria e a oposição líbia. No Barein, dão aval à monarquia. No Egito, o Catar aliou-se à Irmandade Muçulmana.”
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