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Entrevista a Manuel João Vieira-"'Um Mundo Catita' é uma série do futuro"

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Mensagem por Socialista Trotskista Dom Nov 09, 2008 3:30 pm

Entrevista a Manuel João Vieira
"'Um Mundo Catita' é uma série do futuro"

A propósito da estreia na RTP 2, no dia 16, da série que relata uma versão ficcional da sua vida, Manuel João Vieira fala sobre TV, política , religião e música. No seu estilo peculiar.


Até que ponto colaborou no processo criativo da série?

Eu acho que.... Eu acho que não me lembro muito bem, mas parece que a ideia foi do Felipe Melo e do João Leitão. A minha única participação, e do Fernando Brito, foi falar com eles sobre acontecimentos reais que poderiam ser utilizados para a série. Alguns dos acontecimentos baseiam-se em situações reais, outros não. O regresso do fantasma por exemplo é um facto real. Os fantasmas existem. Outro personagem que é real é o Pai Natal.



Houve lugar para o improviso?

Foi tudo completamente ensaiado e não houve absolutamente improviso nenhum. Nós não brincamos. Nós não inventamos, somos iguais aos outros. Inventar em Portugal é mau sinal. Quem não vai comprar coisas lá fora é estúpido. Foi por isso que comprámos este formato a uma televisão Argentina.



E qual é esse formato?

Nós estávamos a pensar em algo para o quadrado, mas ficou um bocado arredondado nos cantos. Os ângulos foram escamoteados. Usámos muito o pantógrafo, um instrumento que já os romanos usavam para copiar as estátuas, para fazer uma série igualzinha ao original mexicano.



A maioria dos personagens são interpretados por pessoas que na realidade são seus amigos?

Não, isso é mentira. Eu não gosto dessas pessoas. E estão-me a dever dinheiro. E já agora gostava de lhes perguntar quando é que mo devolvem? Não, na realidade só tenho a dizer bem de toda a gente que participou na série. Todo o pessoal que veio de Venezuela são profissionais incríveis e gostaria também de agradecer à minha tia este Óscar.



‘Um Mundo Catita’ contém a sátira social a que nos habituou enquanto autor de letras?

Eu não faço sátira social, as minhas letras são completamente estúpidas, porcas e infantis e não têm qualquer tipo de sátira. Não têm qualquer profundidade. E se fosse uma sátira não seria nunca do povo português, seria do povo da República Democrática do Congo, porque esta série passa-se na República Centro-Africana, uma ex-colónia de Moçambique e de Portugal. Mas apesar disso eu gosto muito de Portugal, desde que me reformei da indústria dos queijos que vivo cá. Fazíamos queijo com leite humano, mas desde que a maior parte das mulheres foram trabalhar para ramos mais produtivos ficámos sem pessoal e eu reformei-me.



Se não há sátira, há pelo menos ousadia?

Qualquer criança insulta os seus colegas com as mesmas palavras e seria capaz de fazer aquilo que eu faço. E fazem-no, de facto.



Embora ‘Um Mundo Catita’ não seja assumidamente uma produção de humor é inevitável encontrá-lo lá...

Eu nunca percebi se era de humor ou não. Eu faço aquilo que me dizem e depois recebo o dinheiro.



O personagem principal desta série chama-se Vieira e é músico. Até que ponto é que a figura se aproxima do real?

É a história de um personagem que é baseado noutro personagem, criado nos palcos pelos Irmãos Catita. É um personagem baseado noutro personagem, um espelho de um espelho. Mas um espelho disforme, como aqueles da Feira Popular.



Então o Vieira da série é inspirado no vocalista dos Irmãos Catita. Se fosse o vocalista dos Ena Pá 2000 seria algo diferente?

Sim, o vocalista dos Ena Pá 2000 teria algumas coisas diferentes. Seria, sobretudo, um novo guarda-roupa.



Por isso a série tem o nome de um álbum dos Irmãos Catita?

Foi uma infeliz coincidência. Neste momento os meus advogados estão a travar com os advogados da série uma luta sem quartel por causa do nome, que estava já registado.



Voltando ao formato, é ou não uma série de humor?

Seria uma série de humor se fizesse rir.



O público pode achar que faz rir.

Acho que o público português hoje está mais maduro e exige e determina uma muito maior mobilização de massa cinzenta da parte dos criadores. O público português de agora não é o mesmo de há 50 anos. Já não é enganável, as pessoas estão muito mais exigentes. ‘Um Mundo Catita’ vem precisamente responder a essas expectativas. É uma série do futuro.



O conceito de ‘Um Mundo Catita’ é tão similar a ‘Calma, Larry!’ como a sinopse faz parecer?

Tenho muito respeito pelo doutor Santana Lopes e pelo actual primeiro-ministro, mas neste momento preferia não comentar o assunto.



De regresso ao humor, qual a sua opinião sobre que se faz na televisão na área da comédia?

São todos bons humoristas. Gosto muito do humor na televisão. É incrível como a televisão portuguesa tem bons programas de humor. Eu não páro de rir sempre que ligo o televisor. As televisões estão cada vez com mais qualidade. As telenovelas, por exemplo, têm uma qualidade que eu diria do futuro. Parece que vivemos no planeta Marte. É o admirável mundo novo. Às vezes sinto-me velho.



Podia dar alguns exemplos dessas séries?

São todas. E gostava até de recordar alguém que está esquecido, Canty, o Cantinflas português. Sendo ele o precursor de toda uma série de humoristas finos e vivazes, o Canty é sem dúvida um grande homem. Ele e o grande Parafuso.



A história de ‘Um Mundo Catita’ decorre no Natal. Há algum motivo para a escolha desta época?

Houve uma clara tentativa da parte dos escritores de se associarem ao fenómeno natalício. E isto pela natureza do enredo. O momento do Natal é especial na nossa sociedade porque une as temáticas religiosa e do consumo e, ao mesmo tempo, é aquela altura do ano em que se questiona o que se devia questionar sempre. A solidariedade social e familiar, por exemplo. No resto do ano as pessoas põem os pais em lares e, provavelmente, no Natal algumas pessoas até vão visitá-los. Há muito calor humano.



E o enredo está ligado a esses sentimentos?

O que quer dizer em relação à série é que as revoluções sentimentais e interiores do protagonista são enquadradas no contexto da época natalícia. Porque se fosse no Verão seria uma história completamente diferente e tinha que se arranjar imensas miúdas em bikini e não havia dinheiro para isso.



A propósito da cena de homenagem a Ingmar Bergman na série, o Manuel João é um apreciador da obra do cineasta?

Há várias homenagens a grandes cineastas. Bergman, mas também Fritz Lang e alguns realizadores franceses da Nouvelle Vague. Mas eu sou totalmente imbecil, não vejo cinema, não tive nada a ver com isso. A última vez que vi um filme foi o ‘Rocky’, mas não percebi nada do enredo, é demasido complexo.



Agrada-lhe ter sido a RTP 2 o canal que vai emitir ‘Um Mundo Catita’?

Eu acho que a RTP 2, enquanto órgão de comunicação, é muito... Televisiviso. Não sei, não costumo ver a RTP 2, prefiro o Canal Vénus. Mas depois da TV Galiza era o canal que eu preferia. Já na cabeça dos realizadores não sei o que se passará.



E já que se fala em televisão, é um telespectador frequente?

Não, eu só leio a revista Gina e o Pato Donald.



Nem vê os filmes e séries em que participou, como ‘Bocage’?

Tive uma grande honra em participar no ‘Bocage’ e tenho uma grande admiração pelo poeta. E tenho pena de nunca ter visto a série porque o meu televisor só apanha alguns canais mais esquisitos.



O Manuel João já protagonizou um filme, foi actor secundário em diversos outros, participou na série ‘Bocage’. Considera-se um actor?

Não sou actor. Se eu fosse um actor estava neste momento a fazer telenovelas.



Acha que não tem vocação para a representação?

Acho que tenho vocação para vendedor de seguros.



Mas nas várias bandas onde toca, quando foi pré-candidato à presidência, o Manuel João surge sempre na pele de um personagem diferente...

O que é a representação? Não seremos todos actores no palco da vida? Mas cantar, interpretar uma canção, não é totalmente a mesma coisa que interpretar um personagem.



No entanto, em palco, para além de interpretar canções, interpreta também personagens.

Acho que é um estado de espírito. Como na religião, quando se está a rezar. Quando rezamos também nos transfiguramos e passamos a ser uma ovelha do Senhor. Serão as pessoas que estão a rezar na igreja personagens diferentes daquilo que são na vida real? Não será a personalidade humana tão multifacetada que todos temos em nós vários personagens diferentes? Sou tão actor e tão músico como qualquer outro português.



Todos os portugueses são músicos também?

Sim, o português tem muita musicalidade. Na Batalha de Alcácer-Quibir foram recolhidas pelos mouros mais de 12.500 violas e guitarras do acampamento português. Todas feitas em eucalipto.



Então há um verdadeiro Manuel João Vieira, ou todos são personagens?

O meu verdadeiro eu é um grande ponto de interrogação. É o sopro divino que faz com os kamikazes se despenhem nos porta-aviões Americanos.



Depois das duas pré-candidaturas à presidência da República ainda pensa regressar à política?

Estou a estudar o assunto. Neste momento estou numa travessia do deserto. Não renunciarei nunca a servir o meu país se tal for necessarário e se houver uma vaga de fundo que o justifique. Neste momento estou a pensar escrever um livro de reflexões sobre o actual momento político. Atravessamos um momento particular da vida política nacional, nem mau, nem bom, antes pelo contrário.



Acha que o humor e as letras dos Irmãos Catita e Ena Pá 2000 são incompreendidos?

As minhas letras e do Fernando Brito que têm algo a ver com escatologia e o atraso mental em geral vêm numa linha que se inicia na Idade Média com as canções de escárnio e maldizer, algo tradicional, que passa pelo Bocage. Não me parece que seja original.



Hoje em dia qual das suas várias actividades toma mais do seu tempo?

Preferia não dizer. Tenho vergonha.



Em relação a ‘Um Mundo Catita’ há alguma coisa que gostaria de acrescentar?

‘Um Mundo Catita’ vai ser um ponto de encontro entre as pessoas sensíveis e que estão preocupadas com o aquecimento global e que ao mesmo tempo querem conhecer novos parceiros sexuais e que se interessam pelas energias alternativas e pelo sexo em grupo.



PERFIL


POLÉMICO E VERSÁTIL




Um artista multifacetado, Manuel João Vieira é pintor, músico, compositor e vocalista dos Ena Pá 2000, Irmãos Catita e, mais recentemente, da banda jazz Corações de Atum. Já experimentou a representação, tanto no pequeno como no grande ecrã, escreveu crónicas on-line e deu nas vistas ao apresentar a pré-candidatura às presidenciais em 2001 e 2006. Tem 46 anos.



PROJECTOS MUSICAIS



ÁLBUNS PARA BREVE



Está a preparar algum álbum?

Estou a acabar o primeiro álbum de uma banda de jazz chamada Corações de Atum. Que não tem nada a ver com o disco gravado com o mestre Segunda Galarza que se chamava ‘Corações de Atum’. Nós ainda estamos a pensar qual será o título deste álbum, mas não será Corações de Atum.



É um álbum de originais?

Sim, meus e do Fernando Brito.



O facto de estar a apostar num projecto de jazz significa está num momento diferente da sua carreira musical, menos humorístico, mais sério?

A seriedade é uma coisa que me irrita profundamente. A seridade neste país é uma coisa muito triste.



E quanto aos Irmãos Catita e Ena Pá 2000?

Neste momento já há material suficiente para novos álbuns, mas como não posso fazer tudo ao mesmo tempo têm que esperar. As músicas estão feitas, registadas, mas ainda não estão gravadas. Neste momento os Irmãos Catita estão a abarrotar de canções e os Ena Pá gravaram há menos tempo, por isso diria que o próximo álbum será dos Irmãos Catita.



E é apenas falta de tempo ou porque prefere as actuações ao vivo ao trabalho no estúdio?Simplesmente porque não há tempo. A minha secretária despediu-se e ela é que me tratava dos dossiês.



PERFIL

POLÉMICO E VERSÁTIL

Um artista multifacetado, Manuel João Vieira é pintor, músico, compositor e vocalista dos Ena Pá 2000, Irmãos Catita e, mais recentemente, da banda jazz Corações de Atum. Já experimentou a representação, tanto no pequeno como no grande ecrã. Foi um dos fundadores, na década de 80, do movimento de pintura Grupo Homeoestético e apresentou-se como pré-candidato às presidenciais em 2001 e 2006. Tem 46 anos.

Miguel Ângelo Ribeiro

http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=105207D3-FF91-4634-84C0-ABB8129C1977&channelid=00000017-0000-0000-0000-000000000017

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Mensagem por Socialista Trotskista Dom Nov 09, 2008 3:31 pm

ESte artista ao pé do maior artista cá da casa, é um PLANETA comparado ao pó.

RON amigo o pueblo está contigo.

Socialista Trotskista

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Mensagem por RONALDO ALMEIDA Dom Nov 09, 2008 11:20 pm

quem e esse gajo? Shocked
RONALDO ALMEIDA
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Mensagem por Admin Seg Nov 10, 2008 1:43 am

‘Um Mundo Catita’ contém a sátira social a que nos habituou enquanto autor de letras?

Eu não faço sátira social, as minhas letras são completamente estúpidas, porcas e infantis e não têm qualquer tipo de sátira. Não têm qualquer profundidade. E se fosse uma sátira não seria nunca do povo português, seria do povo da República Democrática do Congo, porque esta série passa-se na República Centro-Africana, uma ex-colónia de Moçambique e de Portugal. Mas apesar disso eu gosto muito de Portugal, desde que me reformei da indústria dos queijos que vivo cá. Fazíamos queijo com leite humano, mas desde que a maior parte das mulheres foram trabalhar para ramos mais produtivos ficámos sem pessoal e eu reformei-me.

gosto disto
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