Três razões para não votar Marcelo
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Três razões para não votar Marcelo
Três razões para não votar Marcelo
Os anos de exposição televisiva conferiram-lhe uma popularidade que vale mais do qualquer máquina eleitoral, mas há razões fortes para não votar em Marcelo nas próximas eleições.
16 de Dezembro, 2015 - 10:55h
Adriano Campos
A mais longa incursão eleitoral da democracia portuguesa aproxima-se da prova final. Os anos de exposição televisiva conferiram a Marcelo Rebelo de Sousa uma popularidade que vale mais do qualquer máquina eleitoral; Marcelo sabe-o e alimenta o distanciamento: quer uma campanha morna, sem apoios financeiros, "diferente das outras". Mas esta que se apresenta como uma candidatura larga e ecuménica, não deve fazer esquecer um percurso marcado por opções políticas claras. Há razões fortes para não votar em Marcelo nas próximas eleições.
1. Marcelo é o candidato da direita. O eterno candidato decidiu terminar a sua jornada até às presidenciais com uma campanha ao centro. Nesse exercício, todos os fogachos mediáticos são previamente trabalhados - a ida à festa do Avante, o comício na Voz do Operário, a menção a Francisco Louçã como seu substituto para os comentários na TVI - e cada tentativa de enfeitiçar o eleitorado do centro e da esquerda procura distanciar Marcelo, o candidato presidencial, de Marcelo, o político e dirigente partidário.
Aquele que liderou o PSD entre 1996 e 1999, enfrentando internamente tudo e todos para fazer uma aliança pré-eleitoral com o CDS (ao ponto de perder a liderança do partido) é o mesmo que agora desvaloriza os apoios de Paulo Portas e Passos Coelho. O Marcelo candidato, que agora defende uma acrescida "sensibilidade social", quer fazer esquecer o Marcelo dirigente, que no passado foi o rosto da oposição a medidas como o Rendimento Mínimo Garantido (o PSD de Marcelo votou contra a medida em 1997). O presidenciável que fala da necessidade de projetar Portugal no mundo, não quer a sombra do líder partidário que chegou a defender publicamente a privatização da RTP e da RDP (proposta chumbada pela AR em 1998).
2. Marcelo é o candidato dos velhos interesses. O distanciamento de Marcelo em relação ao PSD e ao CDS é também uma tentativa de blindar a sua candidatura a ataques que exponham a porta-giratória entre a política e os negócios. Nesse campo, Marcelo segue a mesma estratégia de Cavaco: defender uma imagem de respeitabilidade apesar de todos os que o rodeiam não a terem. Basta recordar alguns dos nomes da direção nacional do PSD escolhidos por Marcelo no final do século passado: Joaquim Ferreira do Amaral (Lusoponte), Manuela Ferreira Leite (Santander), Carlos Horta e Costa (CTT), Álvaro Dâmaso (Montepio), Marques Mendes (Abreu Advogados), Jorge Bleck (Semapa), entre tantos outros.
Mais recentemente, a amizade de longa data mantida com Ricardo Salgado revelou a proximidade de Marcelo aos círculos do poder económico. Um percurso iniciado no governo de Sá Carneiro - onde Marcelo assumiu a pasta dos Assuntos Parlamentares e foi um elemento ativo na primeira revisão constitucional - e ao lado de Daniel Proença de Carvalho, na fundação do Semanário, o primeiro jornal de direita a tratar com mais apreço a informação económica num tempo que abriria o campo às privatizações.
3. Marcelo é o candidato do campo conservador. "Em termos gerais, [Marcelo Caetano] era um homem excecional. No quadro histórico em que viveu, não é fácil encontrar figuras com projeção e qualidades semelhantes" (Marcelo Rebelo de Sousa, Expresso: 14.02.2009). Este elogio dirigido ao ex-ditador e amigo íntimo da família é também revelador da veia conservadora que sempre condicionou a militância de Marcelo. Um tradicionalismo ultramontano enrustido de quem liderou a campanha pelo NÃO à despenalização das mulheres que abortem nos dois referendos e é presidente da principal fundação monárquica do país, a Casa de Bragança (que até 2012 recebeu fundos públicos). A isto Marcelo soma uma defesa pública e praticante do voto matrimonial católico, indissolúvel e irreversível; um envolvimento ativo nas instituições Salesianas; e uma participação constante em sessões públicas de diversas IPSS pelo país a fora.
Até 24 de janeiro, Marcelo continuará a fingir que não é nada com ele. A dar a entender que terá uma convivência pacífica com o governo de António Costa, apesar de todos os jogos políticos de que foi protagonista no passado. Marcelo não falará do seu apoio à vinda da troika ou da sua visita a Passos Coelho na própria noite eleitoral de 2011. O candidato da direita, dos velhos interesses e do campo conservador continuará a negar a sua missão e a natureza da sua candidatura. Mas os eleitores que em outubro derrotaram o governo da direita devem saber com o que contam.
Adriano Campos
Sociólogo, activista precário.
Os anos de exposição televisiva conferiram-lhe uma popularidade que vale mais do qualquer máquina eleitoral, mas há razões fortes para não votar em Marcelo nas próximas eleições.
16 de Dezembro, 2015 - 10:55h
Adriano Campos
A mais longa incursão eleitoral da democracia portuguesa aproxima-se da prova final. Os anos de exposição televisiva conferiram a Marcelo Rebelo de Sousa uma popularidade que vale mais do qualquer máquina eleitoral; Marcelo sabe-o e alimenta o distanciamento: quer uma campanha morna, sem apoios financeiros, "diferente das outras". Mas esta que se apresenta como uma candidatura larga e ecuménica, não deve fazer esquecer um percurso marcado por opções políticas claras. Há razões fortes para não votar em Marcelo nas próximas eleições.
1. Marcelo é o candidato da direita. O eterno candidato decidiu terminar a sua jornada até às presidenciais com uma campanha ao centro. Nesse exercício, todos os fogachos mediáticos são previamente trabalhados - a ida à festa do Avante, o comício na Voz do Operário, a menção a Francisco Louçã como seu substituto para os comentários na TVI - e cada tentativa de enfeitiçar o eleitorado do centro e da esquerda procura distanciar Marcelo, o candidato presidencial, de Marcelo, o político e dirigente partidário.
Aquele que liderou o PSD entre 1996 e 1999, enfrentando internamente tudo e todos para fazer uma aliança pré-eleitoral com o CDS (ao ponto de perder a liderança do partido) é o mesmo que agora desvaloriza os apoios de Paulo Portas e Passos Coelho. O Marcelo candidato, que agora defende uma acrescida "sensibilidade social", quer fazer esquecer o Marcelo dirigente, que no passado foi o rosto da oposição a medidas como o Rendimento Mínimo Garantido (o PSD de Marcelo votou contra a medida em 1997). O presidenciável que fala da necessidade de projetar Portugal no mundo, não quer a sombra do líder partidário que chegou a defender publicamente a privatização da RTP e da RDP (proposta chumbada pela AR em 1998).
2. Marcelo é o candidato dos velhos interesses. O distanciamento de Marcelo em relação ao PSD e ao CDS é também uma tentativa de blindar a sua candidatura a ataques que exponham a porta-giratória entre a política e os negócios. Nesse campo, Marcelo segue a mesma estratégia de Cavaco: defender uma imagem de respeitabilidade apesar de todos os que o rodeiam não a terem. Basta recordar alguns dos nomes da direção nacional do PSD escolhidos por Marcelo no final do século passado: Joaquim Ferreira do Amaral (Lusoponte), Manuela Ferreira Leite (Santander), Carlos Horta e Costa (CTT), Álvaro Dâmaso (Montepio), Marques Mendes (Abreu Advogados), Jorge Bleck (Semapa), entre tantos outros.
Mais recentemente, a amizade de longa data mantida com Ricardo Salgado revelou a proximidade de Marcelo aos círculos do poder económico. Um percurso iniciado no governo de Sá Carneiro - onde Marcelo assumiu a pasta dos Assuntos Parlamentares e foi um elemento ativo na primeira revisão constitucional - e ao lado de Daniel Proença de Carvalho, na fundação do Semanário, o primeiro jornal de direita a tratar com mais apreço a informação económica num tempo que abriria o campo às privatizações.
3. Marcelo é o candidato do campo conservador. "Em termos gerais, [Marcelo Caetano] era um homem excecional. No quadro histórico em que viveu, não é fácil encontrar figuras com projeção e qualidades semelhantes" (Marcelo Rebelo de Sousa, Expresso: 14.02.2009). Este elogio dirigido ao ex-ditador e amigo íntimo da família é também revelador da veia conservadora que sempre condicionou a militância de Marcelo. Um tradicionalismo ultramontano enrustido de quem liderou a campanha pelo NÃO à despenalização das mulheres que abortem nos dois referendos e é presidente da principal fundação monárquica do país, a Casa de Bragança (que até 2012 recebeu fundos públicos). A isto Marcelo soma uma defesa pública e praticante do voto matrimonial católico, indissolúvel e irreversível; um envolvimento ativo nas instituições Salesianas; e uma participação constante em sessões públicas de diversas IPSS pelo país a fora.
Até 24 de janeiro, Marcelo continuará a fingir que não é nada com ele. A dar a entender que terá uma convivência pacífica com o governo de António Costa, apesar de todos os jogos políticos de que foi protagonista no passado. Marcelo não falará do seu apoio à vinda da troika ou da sua visita a Passos Coelho na própria noite eleitoral de 2011. O candidato da direita, dos velhos interesses e do campo conservador continuará a negar a sua missão e a natureza da sua candidatura. Mas os eleitores que em outubro derrotaram o governo da direita devem saber com o que contam.
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Adriano Campos
Sociólogo, activista precário.
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