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A CRISE E O QUE AÍ VEM Mário Soares 1 .

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Mensagem por Vitor mango Ter Nov 25, 2008 11:05 am

A CRISE E O QUE AÍ VEM

Mário Soares
1 . A crise alastra-se e aprofunda-se em toda a parte sem ninguém saber, ao certo, onde nos leva e quando será possível vencê-la. Em todo o caso varia e tem contornos diferentes de país para país. Relativamente ao Ocidente há grandes diferenças entre os Estados Unidos, epicentro da crise, e a União Europeia. Enquanto os Estados Unidos se tornaram, após a vitória de Barack Obama e do Partido Democrático, "a terra onde tudo pode voltar a acontecer", a Europa continua paralisada e sem rumo à vista, não podendo abstrair-se da ameaça de alguma degeneração. Situação perigosíssima.

A um mês do fim da presidência francesa, que não será exagerado dizer que teve muita parra e pouca uva, e em vésperas da passagem da presidência para a República Checa, cheia de preconceitos e dúvidas quanto ao futuro da União, não parece provável que o Tratado de Lisboa seja ratificado pelos 27 Estados membros, como se previa há meses. Aliás, o Tratado perdeu importância e significado, devido ao desastre do neoliberalismo e à perspectiva de se entrar num novo ciclo político-económico. Tudo está a mudar aceleradamente. Ora as soluções para a grande crise passam, obviamente, por novos caminhos...

É preocupante que muitos dirigentes europeus pareçam não ter ainda assumido a consciência da mudança que aí vem. Julgam que o establishment pode manter-se - que os velhos rostos cúmplices de Bush podem subsistir sem mácula - e que os responsáveis pela crise podem ficar impunes. Os europeus não o permitirão. Atente-se na transformação contagiosa dos movimentos sociais e dos sindicatos nos Estados Unidos.

É certo que alguns países que pertenciam ao Bloco do Leste - e entraram na União nos últimos alargamentos (precipitados) - nunca se manifestaram, salvo honrosas excepções, muito pró- -europeístas, interessados mais na segurança da NATO (bastante teórica) do que na Comunidade Europeia, considerada como uma organização de livre comércio que aboliu as fronteiras, esquecendo que o seu principal objectivo não é esse, mas, sim, instituir a paz no nosso continente e caminhar para uma União Política. Hoje, alguns, dadas as contingências do tempo, desejam entrar no espaço euro, para melhor se defenderem da crise... Mas não sentem a União como verdadeira comunidade política...

Os partidos de extrema-esquerda, que sempre desconfiaram do que chamavam a "Europa dos trusts", nunca compreenderam a importância da Europa para operar grandes transformações políticas. E os partidos socialistas e sociais-democratas deixaram- -se, reconheça-se, colonizar um tanto pelo neoliberalismo que soprava da Administração Bush e do trabalhismo inglês, da chamada "terceira via". Hoje tudo isso surge - para alguns inesperadamente - como ultrapassado. Mas é preciso que a esquerda responsável - socialista, social-democrata, trabalhista, verde e mesmo a esquerda extrema, independente das velhas utopias totalitárias - crie um novo dinamismo para que as políticas possam mudar.

Repare-se no exemplo do velho Partido Socialista Francês - o partido de Blum e de Mitterrand - e o que foi a vergonha do recente Congresso de Reims e das lutas de líderes, incapazes de debater ideias e tão-só pessoas, esquecendo os apelos dos militantes e dando- -lhes um péssimo exemplo. A Europa, assim, não vai nada bem. Reconheçamo-lo como primeiro passo para a mudança necessária.

2. A ministra e os sindicatos. Desta vez, a ministra da Educação mostrou-se flexível. Aceitou modificações no modelo proposto de avaliação, designadamente no que se refere "aos tão criticados "tipos de burocratização" do sistema. Contudo, num primeiro tempo, os sindicatos manifestaram-se intransigentes pela voz de Mário Nogueira, em representação da Fenprof.

É possível que, nesse primeiro momento, os sindicalistas da Fenprof não se tenham apercebido do mal que fizeram eles próprios ao exigir "o tudo ou nada". A supressão total da reforma ou acabariam as negociações. O que poderia insinuar a ideia, no espírito de muitos professores de boa vontade, de que são a esmagadora maioria, que afinal eram os sindicatos - ou pelo menos a Fenprof - que não queriam a avaliação, ao contrário do que tinham afirmado sempre.

Ora se os sindicatos representam os professores - ninguém deve negá-lo, porque os sindicatos são um elemento essencial da democracia -, a maioria dos professores não estão sindicalizados e todos pensam pela sua cabeça, como cidadãos conscientes, avaliando, em consciência, qual o caminho que mais lhes interessa trilhar do triplo ponto de vista: nacional, dos alunos e deles próprios, na defesa da sua própria dignidade e da classe profissional a que pertencem, e que interessa a todos prestigiar.

Deve ter havido uma reponderação e, num segundo momento, Mário Nogueira e os seus camaradas afirmam que "não querem que haja um vazio na reavaliação dos professores".

Ainda bem. O mais importante é que os sindicatos e a sr.ª ministra (que tem demonstrado firmeza e, ao mesmo tempo, abertura e boa vontade) retomem as negociações, marcadas para a próxima sexta-feira, abandonem "os braços-de-ferro" - tão inconvenientes no momento grave de crise que o mundo e Portugal atravessam - como é do interesse de todos.

3. O Festival Arte Mare. É um festival das culturas mediterrânicas que há já alguns anos se realiza em Bastia, na belíssima ilha da Córsega, onde nasceu, como se sabe, Napoleão Bonaparte. Fui um dos convidados deste ano. Lá estive, no passado fim-de-semana (alargado), e não me arrependo de ter ido, apesar das difíceis viagens e das mudanças de avião e de companhias - para lá e para cá -, porque foi uma experiência interessantíssima.

O festival este ano foi inteiramente dedicado a Portugal, intitulava-se A Córsega Convida Portugal, de algum modo para que as brisas do Atlântico chegassem ao Mediterrâneo, berço de civilizações.

Diga-se que a Córsega, de cerca de 260 mil habitantes - que continua a ser uma província de França, com relativa autonomia, embora não se compare com as nossas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira -, acolhe com muito carinho cerca de 13 mil portugueses, que lá residem e trabalham, há longos anos e que são muito considerados e respeitados. Numa palavra, estão excelentemente integrados, sem perderem os laços fortíssimos que os unem a Portugal. Estiveram obviamente presentes e participaram no festival, no domingo, com os seus grupos folclóricos, danças e cantares, que aliás fizeram enorme sucesso.

O festival teve uma parte dedicada ao cinema português, com a apresentação de filmes nossos, obviamente de Manoel de Oliveira, João César Monteiro, João Botelho, Teresa Villaverde e Joaquim Leitão, entre outros. E uma exposição fotográfica muito interessante da nossa compatriota Luísa Ferreira. Mas a estrela que esteve presente, com o seu filme Capitães de Abril, foi Maria de Medeiros. Regressada, há dias, do Brasil, apresentou-se com o seu grupo de excelentes músicos, dois franceses e um brasileiro, na sua nova "encarnação" de cantora - aliás, excelente - de música brasileira, portuguesa, francesa e italiana, num concerto que decorreu no grande teatro de Bastia, completamente cheio de uma assistência conhecedora e entusiasta de franceses e portugueses.

Houve também um colóquio intitulado "O 25 de Abril, a Descolonização e a Moderna Democracia Portuguesa", em que participei e fui interrogado por dois professores, grandes especialistas da língua e cultura portuguesas: um, francês, Jean-Yves Merian, da Universidade de Rennes, e um, brasileiro, Saulo Neiva, da Universidade de Clermont- -Ferrand. Infelizmente, Jean Daniel, director do Nouvel Observateur, e o nosso grande ensaísta Eduardo Lourenço, também convidados, à última hora, não puderam estar presentes. Foi a única falha.
Vitor mango
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A CRISE E O QUE AÍ VEM  Mário Soares 1 . Empty Re: A CRISE E O QUE AÍ VEM Mário Soares 1 .

Mensagem por RONALDO ALMEIDA Ter Nov 25, 2008 11:09 am

POLITICOS E DINHEIRO DO ESTADO, so complicam, NAO RESOLVE!!
RONALDO ALMEIDA
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