Polícia investiga máfia chinesa

Polícia investiga máfia chinesa
Quando começou a investigar o sequestro e roubo do dono do armazém de produtos chineses no Porto Alto, Benavente, às mãos de cinco compatriotas com facas, a polícia já não tinha grandes dúvidas. O caso da noite de 25 de Novembro será só mais um de crime organizado com ligação ao jogo ilegal e agiotagem – sob o comando de imigrantes chineses, com sede no Norte do País. Entre as vítimas, viciados em jogo com empréstimos perigosos, podem estar portugueses

Em causa está um relatório do Departamento de Informações do Comando Geral da GNR, ao qual o CM teve acesso, que está a ser levado em consideração pela Polícia Judiciária. Aponta para crimes com origem nos casinos ilegais da Póvoa de Varzim e na freguesia de Varziela, concelho de Vila do Conde. Em causa estão "esquemas de empréstimos de dinheiro com juros muito altos a jogadores que se desloquem a estes casinos", segundo fonte policial.

Além da exploração do tradicional vício chinês pelo jogo, são os proprietários destes espaços que gerem os negócios de agiotagem. A impossibilidade de cumprir com os pagamentos das verbas emprestadas leva as vítimas, desesperadas, a um círculo de chantagem e ameaças. Entre os clientes deste negócio ilegal poderão estar cidadãos nacionais.

A PJ começou a investigar o crime de Porto Alto, com base neste relatório. A colaboração do dono do armazém, à semelhança da de outros imigrantes chineses, é quase nula. O receio de futuras represálias leva os comerciantes a preferirem o silêncio – o que torna o trabalho policial muito complicado.

PJ, PSP e GNR partilham informações sobre a actividade destes grupos orientais, que actuam ao estilo da máfia. O facto de o comerciante do Porto Alto ter sido encontrado no armazém com sinais de agressões e de só denunciar o furto de dois computadores portáteis e algumas peças de roupa faz os investigadores acreditar que esteja a ser alvo de chantagem.

INFORMADORES PERSEGUIDOS E DENUNCIADOS

Os crimes no seio da comunidade chinesa em Portugal raramente são denunciados à polícia. Resolvem-se ‘em família’. Quem denunciar um membro é perseguido e afastado. Por uma questão de honra e da própria cultura, nada passa para fora. Há uma imagem a defender e as traições não são perdoadas. Primeiro tira-se o apoio, depois o trabalho. A estocada final é um telefonema anónimo para o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Para um chinês não há pior castigo do que voltar ao país de origem e à opressão do regime.

DISCURSO DIRECTO

"GRUPO NÃO É BEM-VINDO" (Y Ping Chow, Pres. Associação de Chineses em Portugal)

Correio da Manhã – Que conhecimento tem sobre os casos de extorsão na comunidade chinesa em Portugal?

Y Ping Chow – Sei que têm surgido casos pontuais cometidos por pessoas que têm de arranjar dinheiro rapidamente.

– Por que razão as vítimas não colaboram com a polícia?

– Por três razões: as vezes em que se apresentou queixa à polícia, esta não deu seguimento; porque o valor era reduzido e não valia expor o caso; e devido às dificuldades da língua.

– Existe um grupo violento na zona da Póvoa de Varzim?

– Existe, mas não se pode considerar uma máfia. É um grupo de pessoas a precisar de dinheiro e que não quer trabalhar. Não está integrado na comunidade nem é bem-vindo entre nós.

SAIBA MAIS

CASINOS ATRAEM

As comunidades de chineses encontram-se próximas de vários casinos da zona norte do País.

700

é o número de chineses actualmente a viver e a trabalhar na Varziela, Vila do Conde – considerado o maior núcleo da comunidade em Portugal.

170

é o úmero de armazéns de produtos orientais existentes na zona da Varziela, em Vila do Conde.


Miguel Curado / H.M. / J.C.R.

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